Desajustadas escrita por KitKatie


Capítulo 1
Complexos


Notas iniciais do capítulo

Olá! Bem-vindos a minha primeira long-fic ^^
O objetivo dessa fic, além de fazer um fan-service basico, é trazer questões sobre a aceitação de si próprio, o amor, o ódio e acima de tudo o amor, estejam cientes disso ao ler a história ^^
Espero de coração que gostem e apreciem ^^

Beijos e boa leitura a todos ♥



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Naquela segunda feira cinzenta não foi o despertador que acordou Thalia Grace, o aparelho nem mesmo estava funcionando após os constantes surtos de violência da garota. O que acordara a menina foram os gritos dos seus pais, ou melhor do seu pai e da sua madrasta maligna, Hera. Essa mulher mostrava o que má-drasta realmente significava.

Hera berrava com Zeus, seu pai. O motivo até então desconhecido por Thalia, mas provavelmente era algo sobre a ausência dele pelo trabalho ou algo a ver com os casos de seu pai, casos fora do casamento, quero dizer. E acredite não eram poucos, o apelido de vaca, dado a Hera por Thalia, fazia jus ao nome.

Thalia se revirou na cama e suspirou pesadamente, se levantando com dificuldade. Estava com olheiras gigantes, devido á noite mal dormida, cortesia de seu pai que chegou bêbado, cheio de marcas de batom, as 3:00 da madrugada.

Já no banheiro, Thalia encarava seu reflexo com uma careta; os cabelos pretos repicados estavam tão embaraçados que seria possível fazer um ninho de pássaros, suas mechas azuis se descavam bastante por entre os nós. O estado do seu rosto não era superior, tinha olheiras profundas, algumas espinhas salpicadas por entre suas sardas e seu rosto estava tão oleoso que seria possível fritar um ovo ali, não que Thalia fosse o tipo de pessoa que ligasse para a oleosidade da pele ou coisas similares, mas aquilo já era sacanagem.

Ignorou a vontade de fazer um transplante de rosto e seguiu para o chuveiro. Ao fundo ela conseguia ouvir a briga de Hera e seu pai, de longe ela também conseguia ouvir a empregada da casa, Héstia, preparando o café. Thalia sentiu pena dela, ela era uma pessoa muito boa, talvez a única ali.

Saiu do chuveiro e seguiu para o seu armário, pegou sua fiel camiseta do Green Day, sua banda favorita e levou-a até seu nariz, fungando algumas vezes, estava aceitável o cheiro. Vestiu-a e pegou uma calça preta com rasgos no joelho e tachinhas na lateral, calçou-a e pegou seu amado companheiro, seu coturno favorito. Seguiu para sua estante e pegou seu cinto favorito, era todo prateado entrelaçado com correntes e a fivela era a cabeça da medusa, pegou algumas pulseiras e anéis variados. Ajeitou-se e pegou uma jaqueta preta qualquer, seguiu para a sua penteadeira, cortesia de Zeus que ainda tentava a transformar em uma patricinha digna de filmes, fez sua característica maquiagem preta carregada, maquiagem que descava magnificamente seus olhos azuis elétricos e por fim pegou seu Ipod e sua mochila e saiu do seu único refúgio de paz naquela casa.

Desceu as escadas preparando-se mentalmente para o sermão sobre ser mais feminina que com certeza ouviria. Mas por sorte, ou milagre divino, conseguiu passar pela sala despercebida, bom, qualquer um conseguiria no meio daquela discussão matinal que mais parecia a terceira guerra mundial. Já na cozinha Thalia sorriu para Héstia que logo retribuiu e terminou de pôr a mesa.

Thalia colocou seu café com pressa na boca, engolindo quase sem mastigar apenas para evitar que Zeus e Hera chegassem a cozinha a tempo de vê-la. Mas os esforços dela foram inúteis, pois no momento em que estava se levantando Zeus atravessou a porta da cozinha com uma Hera carrancuda ao seu enlaço.

—Ah meus deuses. –Zeus murmurou ao analisar as vestimentas de sua primogênita. –Tenha dó, Thalia. Você está indo a escola não ao um enterro.

—Eu gostaria de ir ao seu. –Hera murmurou baixinho, mas Thalia conseguia ler os lábios da sua odiosa madrasta.

—Acho que os chifres não passariam pela porta da igreja, Hera, querida. –Thalia disse exibindo um sorriso venenoso, que quase sempre estampava a fase de Hera.

—Olha aqui sua.... –Hera começou já avançando em Thalia, ela tinha uma intenção maldosa e só não bateu em Thalia porque Zeus entrou na frente.

—Pelo amor, não são nem 7:00 ainda, controlem os ânimos. –Zeus disse autoritário.

Hera abaixou a cabeça e obedeceu o marido, indo se sentar. Thalia apenas revirou os olhos e seguiu para a porta.

—Onde pensa que vai? –Zeus pediu entre os goles de seu café.

—Para a escola. –Thalia respondeu após controlar a vontade imensa que tinha de dar uma resposta malcriada.

—Após suas aulas quero você em casa, sem saidinhas, sem atrasos. Receberemos um investidor em potencial para a empresa e preciso de você aqui, entendeu? –Zeus perguntou com a voz firme.

—Claro. –Thalia murmurou e saiu batendo a porta com força.

Mais uma vez aquela merda de empresa. Sempre era aquela droga de empresa. Seu pai nem mesmo se importa como ela se sentia com relação a isso, apenas ignorava qualquer resquício de opinião própria que Thalia possuía, isso a irritava em um nível que nem mesmo podia ser descrito.

Suspirou pesadamente e olhou os movimentos dos carros pela avenida. Nunca seria a filha perfeita que Zeus sonhava, nunca seria a garota que usa rosa, se comporta bem, tem notas altas, é submissa e será um dia uma ótima esposa. Thalia é exatamente o oposto disso e sabia o quanto seu pai a repudiava por isso.

Sentiu uma lágrima solitária escorrer, ela não conseguia ser aceita nem na própria família ridícula, uma família de bonecas, isso dava nojo em Thalia. Ignorou seu bom senso e tirou um maço de cigarros de sua bolsa, logo levou um a boca e o acendeu, aspirando com força. Eram esses os poucos minutos que tinha de prazer. Continuou tragando despreocupadamente enquanto caminhava para o colégio, pegou seu Ipod e selecionou sua playlist favorita, colocou os fones e ignorou o mundo da mesma forma que o mundo a ignorava.

Em outro ponto da cidade, a jovem Silena Beauregard olhava para seu guarda-roupas com o cenho franzindo, não conseguia decidir qual roupa usar. Depois muito meditar chegou à conclusão de que um vestido florado vermelho com preto era a melhor escolha para o dia, pegou o vestido que queria e analisou sua estrutura, era justo até a cintura e rodado na parte inferior, tinha as alças trançadas que passam em V pelas suas costa, tinha um belo corte e valorizaria seu corpo. Silena sorriu e deixou a toalha em que estava enrolada cair, mas antes que pudesse colocar o vestido seu olhar vagou para o espelho e sentiu seus olhos marejarem, estava gorda, horrivelmente obesa. Silena passou seus braços pela barriga e apertou as gorduras imaginarias que apenas existiam em sua cabeça paranoica.

—Viu, Silena? –A menina murmurava para si mesma enquanto se analisava. –Você está obesa, menina.

Silena sentiu lágrimas quentes molharem o seu rosto, ela era um fracasso. Tinha dezessete anos e o máximo que já havia feito era algumas fotos para revistas aleatórias de sua cidade, na sua idade sua mãe, Afrodite, já estava em Milão, desfilando para as grandes marcas de moda do mundo.

Silena abraçou a si mesma e começou a chorar compulsivamente, sua mãe era o motivo de todo o ódio de Silena para com o seu corpo. Afrodite era uma modelo muito famosa, conhecida no mundo todo como a “deusa da beleza” era linda, magra, poderosa e muito glamorosa, tudo que Silena não era.

Silena tinha o sonho de se tornar modelo, trazer orgulho para a mãe, mas o máximo que conseguia era trazer desgosto, ela não era bonita o suficiente, não era magra o suficiente, não tinha um namorado, não tinha nada além do seu ódio para com si mesma.

Lentamente as lágrimas param de rola e Silena levantou-se com brusquidão, logo vestiu-se e colocou um salto que combinava perfeitamente com o seu vestido e seguiu para sua penteadeira. Começou arrumando seus cabelos negros, penteou delicadamente, desembaraçando os poucos nós que havia ali, passou seu creme favorito, e optou por deixar os cabelos soltos.

Em seguida passou para a maquiagem, fez toda a preparação da pele, de uma forma que a deixasse perfeita, exatamente como a pele de uma boneca. Trabalhou com cuidado nos olhos azuis, passou sombra, esfumou, passou delineador, máscara, aplicou tudo com extremo cuidado e paciência. Os olhos ainda estava um pouco inchados pelo choro, por isso tomou um grande cuidado para disfarçar. Por fim passou um blush e um batom vermelho claro. Sorriu para o próprio reflexo, suspirou e conteve a vontade de chorar. Nunca seria tão bonita quanto sua mãe.

Levantou-se enquanto passava um pouco de perfume. Pegou sua mochila e saiu de seu quarto, descendo as escadas e seguindo rapidamente, ou o mais rápido que seus saltos permitiam, para a porta, mas antes que pudesse sair ouviu a voz de seu pai na cozinha.

—Não vai tomar café, Si? –Perguntou de longe, concentrado em seu celular.

—Estou atrasada, pai. Juro que como alguma coisa no colégio. –Respondeu no mesmo tom que seu pai.

—É bom comer mesmo, não quero que fique doente, está muito magrinha. –Seu pai murmurou enquanto mastigava um pedaço de bolo ou algo similar.

Silena sentiu vontade de ir conferir se seu pai precisava de óculos ou se internar em uma clínica psiquiátrica, ela magra? Que piada.

A menina saiu apressadamente, ignorando os roncos de seu estômago, ela já estava a um dia e meio sem comer, não estragaria tudo isso agora. Suspirou e seguiu para a rua, caminhando despreocupadamente. Ela podia pedir carona para seu pai ou mesmo pegar carona com o motorista particular, mas decidiu por caminhar, afinal queimava calorias e isso era algo que Silena definitivamente precisava. Ela iria ficar bonita, seria um orgulho para sua mãe, não importando o preço.

Annabeth Chase nem mesmo precisou que seu despertador apitasse para que estivesse de pé, fora uma das piores noites de sua vida, teve pesadelos, crises de choro e uma insônia sem fim que chegou pela madrugada. Estava com enormes olheiras, não que se importasse com isso.

Respirou fundo e fechou o registro do chuveiro, aquela preciosidade quente que antes caia era cara e Annabeth não podia esbanjar, não depois daquilo. Suspirou, tentando ignorar as lembranças e mandando seus pensamentos profundos para um lugar nada agradável.

Secou-se e seguiu para o seu quarto, pegou a roupa que já havia separado antes em sua cama, uma blusa branca simples, uma calça jeans de lavagem clara, um moletom creme com desenhos de coruja e uma sapatilha da mesma cor do moletom. Vestiu-se e seguiu de volta para o banheiro, penteou os cabelos e os prendeu em um coque firme, sem nenhum fio fora do lugar, exceto os poucos que caiam pela lateral da sua cabeça.

Olhou um pouco seu reflexo e revirou os olhos, ela era a adolescente mais patética existente. Ignorou as lembranças dos xingamentos que já havia escutado e seguiu para a cozinha, onde seu pai já estava, apreciando um café forte e o seu jornal.

—Bom dia, Beth. –Murmurou concentrado em seu jornal. Seu pai tinha a irritante mania de chamar Annabeth de apenas Beth, apesar da menina já ter dito mais de um milhão de vezes que preferia ser chamada de Annie. Por fim desistiu de colocar algo naquela cabeça fechada e apenas sorriu para o pai.

—Bom dia. –Respondeu e pegou um pão, passou geleia nele e o levou até a boca, apreciando a geleia doce e extremamente saborosa.

—Beth, querida, eu vou ficar até mais tarde no trabalho hoje. –Comentou distraidamente, enquanto tomava mais um gole de café.

—Sem problemas. –Annabeth respondeu depois de terminar seu pão. –Estou indo.

—Tome cuidado. –Seu pai murmurou.

Annabeth concordou e saiu, fechando a porta com cuidado. Já na rua permitiu-se ficar com raiva, mais uma vez seu pai ficaria até tarde no trabalho, ele estava se matando lentamente com todo esse trabalho, Annabeth percebia isso.

E tudo isso era culpa de sua mãe, uma grande arquiteta chamada Atena. Seus pais nunca foram realmente casados, mas moravam juntos. Nunca entendeu o que Atena viu em seu pai, ele era um homem humilde de origem simples, nem um pouco rico como Atena ou tão inteligente quanto.

Eles ficaram juntos por aproximadamente 12 anos, seis anos antes de Annabeth nascer e seis depois da menina. Quando Annabeth tinha 6 anos eles tiveram a pior briga de todas, Annabeth nunca soube o motivo, era apenas uma criança que viu sua mãe ir em embora sem mais nem menos, levando consigo a alegria de sua pai, o coração de Annabeth e deixando instalada uma tristeza sem fim. Sua mãe nem mesmo quis sua guarda, a deixou com seu pai, nunca a visitou ou pagou pensão, era como se não tivessem nenhum laço. Annabeth suspeitava que ela nunca a realmente a quis ou amou.

Annabeth sentia raiva, por causa dela, por ela ter levado quase todos os bens de seu pai eles começaram a viver em dificuldades constantes, tinham contas que nunca terminavam, a casa estava aos pedaços, mal conseguia pagar tudo em dia e seu pai quase não conseguia mais trabalhar.

Era por isso que Annabeth estudava tanto, sem nunca descansar, ela queria dar uma vida digna para seu pai, compensaria tudo pelo que ele passou, mas acima de tudo queria faze Atena se arrepender, faze-la ver o quanto seu filha era brilhante, queria faze-la chorar de raiva e arrependimento. Queria a ver desolada do mesmo jeito que ela foi.

Por isso, Annabeth se matava estudando. Não tinha amigos, não saia e mal se divertia; sua única companhia era os livros e ela estava satisfeita assim, estava em seu último ano, precisava se concentrar no vestibular, ela precisa de uma bolsa em uma faculdade, de preferência na melhor.

Ela conseguiria fazer sua mãe ver o quanto Annabeth era superior, ela roubaria o título de sua mãe de “a melhor arquiteta viva”, seria a melhor. Mesmo que para isso ela tivesse que colocar sua juventude ao lado e concentrar-se apenas nos livros.

 Katie levantou-se meio cambaleante, embriagada pelo sono. Caminhou até o banheiro, tropeçando nos moveis pelo quarto, e seguiu direto para o chuveiro. Tomou uma ducha rápida e seguiu para o quarto. Analisou as roupas em seu guarda-roupas e depois de pensar alguns segundos pegou uma blusa branca com pequenas flores bordadas, uma saia florida e uma sapatilha combinando com a blusa, vestiu-se totalmente e olhou-se no espelho.

Seu olhar parou nos pulsos e a menina levantou-os e observou com uma careta, havia vários curativos ali dos cortes recentes que havia feito, ela devia mudar os curativos mas não faria isso agora. Suspirou e foi até a caixa em cima de sua estante, pegou de lá várias pulseiras diferentes e as colocou de modo que escondessem todos os curativos e machucados.

Antes de terminar de se arrumar, Katie pegou o pequeno regador que havia no canto de seu quarto e o encheu com água, seguiu até sua janela e regou as pequenas flores que nasciam ali.

—Estão cada dia mais lindas. –Katie disse para elas, sorriu e acariciou as pétalas de todas, uma por uma. –Vocês são as coisas que eu mais amo aqui, talvez sejam as únicas. –Katie terminou com um sorriso triste.

Andou mais uma vez ao banheiro e penteou os cabelos, prendeu-os em uma trança lateral e por fim colocou uma coroa de flores variadas. Não passou nenhum tipo de maquiagem apenas borrifou um pouco do seu perfume favorito. Sorriu para o seu próprio reflexo e suspirou.

—Hora de encarar a fera. –Katie murmurou para si mesma enquanto se dirigia para a cozinha.

Antes de mesmo de chegar ao seu destino Katie viu seu pai deitado no chão da sala em uma situação deplorável. Estava mal cheiroso e sujo, a camisa manchada por, provavelmente, vômito do próprio, estava sem as calças e abraçava uma garrafa de bebida qualquer. Katie suspirou e seguiu até cozinha, não era louca de mexer com ele, não nesse estado; o pai de Katie se transformava totalmente quando bebia, virava uma pessoa nervosa e agressiva, Katie possuía péssimas recordações disso, surras, tapas, xingamentos e castigos desumanos compunham a lista da pequena Gardner.

Katie pegou uma garrafa de suco na geladeira e a bebeu quase até metade, guardou novamente e pegou uma maça na fruteira. Mordeu um pedaço e seguiu até a porta, desviando do pai desacordado, porém antes de sair conseguiu ouvir ele murmurar dormindo.

—Porque, Deméter? Miranda, você era a melhor. –Falou com a voz arrastada e se atrapalhando na pronuncia. –Eu não queria a Katie.

Aquilo foi como um tapa na cara da garota. Deméter era sua mãe e Miranda sua irmã perfeita, elas estavam longe agora, Katie havia ficado e ela sabia que seu pai preferia Mirada, era obvio, mas ainda doía ouvir.

A menina sentiu seus olhos enchendo-se de lágrimas e saiu correndo, sem se importar em fechar a porta silenciosamente para não acordar aquele monstro alcoolizado que ela chamava de pai.  Lágrimas escorriam por seu rosto, ela sentia vontade de pegar sua única amiga, a lâmina, mas teve que se controlar, afinal estava na rua, indo para o colégio, precisava pensar nisso.

Mas isso não afastava a dor, as lágrimas não corriam mais mas isso não significava que não doía, doía sim e muito. Saber que seu pai preferia sua irmã, saber que ninguém a amava, saber que não teria amigas para a confortarem e nem um namorado para abraçar. Todos preferiam Mirada. Até mesmo Katie preferia Mirando. Katie nem sabia porque continuava lutando, era claro que ninguém a queria por perto.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, não se esqueçam de expressar sua opinião ^^
Beijo ♥