Visão Desobstruída escrita por Karis


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Bom, olá.
Essa OS, primeiramente, faz parte de uma pequena promessa que fiz para mim mesma. De algum modo ela é especial tanto por ser a primeira que eu escrevo nesse fandom, quanto pelos motivos que me fizeram posta-la.
Espero que vocês gostem.
Boa leitura ♥

PS.: Postada também no Social Spirit.



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No começo para Yoongi da minha boca só saíam mentiras, mas ele sabia que eu não falava nada além de verdades. No fundo ele sempre soube, entretanto se recusava a aceitar, como um medroso. E eu o entendi como eu nunca poderia entender a mim mesmo. Amar doía no final de tudo, quando todos os caminhos levavam ao famoso "acertar de contas".

E eu me sentia tão pequeno. De modo algum isso se encaixava na minha baixa estima, é só que as coisas eram fáceis demais para serem compreendidas quando se tratava de Yoongi e sua perfeição. Nada perto de si parecia ser grande o suficiente, nada. Então antes mesmo de perceber o que acontecia ao meu redor, eu já o admirava. Cada uma de suas cores, eu podia cita-las de olhos fechados. Seu espectro, seu caleidoscópio.

E tudo isso se trata apenas do começo e do fim. Porque não havia um “meio”, nem “furos”, nem “becos”, nem alternativas. Eu conheci Yoongi para depois vê-lo ir, vê-lo sendo levado pelo câncer pouco a pouco. Isso não fazia parte das memórias felizes que eu mantinha nos post-its na minha parte da parede que dividíamos, essa era a parte mais dolorosa delas. Estava marcado no meu cérebro, cravado na minha pele. E eu ainda sentia o seu peso enquanto esperava a minha hora.

— Yoongi hyung, você está vendo isso? O céu está chorando, no fim você tinha razão. Eu não precisava derramar mesmo minhas lágrimas, olhe só quantas você tem agora.

A grama não impedia o chão de se tornar cada vez mais lamacento, mas eu não me importava. Não quando a única pessoa que eu possuía se mantinha debaixo dela, por isso eu ficaria sentado ali, olhando o seu nome gravado naquela lápide sem graça. Ele realmente a odiaria.

— Eles tentaram me levar para sua cama. Por Deus, eles sabiam que eu não conseguiria deitar no mesmo local que um dia o seu corpo repousou.

Em um gesto involuntário passei a mão na minha cabeça quase careca, como se ainda houvesse qualquer vestígio dos antigos fios. Um hábito antigo que nunca mudaria. Mas eu esperaria cada fio crescer de novo com paciência, para pintá-los da sua cor favorita. O laranja que ele sempre dizia gostar em mim.

— Eles disseram que tinham limpado tudo, que não havia mais nada ali, mas eu só sentia o seu cheiro. Eu não consegui. Eu estou livre hyung, eu desisti.

Dois idiotas entre quatro paredes com seus bipes irritantes, assim nos encontramos. E eu tinha certeza que nada no mundo poderia me fazer esquecer seus cabelos verdes e sua pele tão branca a ponto de derreter.

 

“ Quanto tempo?”

“Eles não sabem dizer.”

“Seu nome?”

“Min Yoongi.”

“Prazer, Jimin.”

 

E eu ainda sentia seus dedos entre os meus. O calor transmitido por sua mão entrelaçada a minha entre nossos leitos. O ritmo da sua respiração a cada abraço cheio de fios.

Eu o amava tanto.

Eu o amo tanto.

Tanto.

 

“Eu vou morrer.”

“Ainda amo você.”

“Você vai morrer.”

“Sim, hyung. Nós morreremos, mas eu ainda amo você.”

“Se eu acreditasse em você eu diria a mesma coisa.”

 

E ele me amava também.

Ele me ama.

— Um ano, quem sabe mais um pouco, foi o que eles falaram ontem, é o que eles preveem para mim. Não é nem tanto tempo assim quando já se passou nove meses que você se foi, né? Talvez eu faça uma lista, consiga inventar alguns desejos. Eu espero conseguir, hyung. Isso lhe faria feliz? Você disse que ficaria. Afinal, somente isso importa.

Mas só havia o silêncio e uma manhã sem sol sustentada por um guarda-chuva acima de mim. Eu não estava cobrando nada, não estava esperando nada diferente. Eu só queria um alívio, alguma coisa que fizesse sentido. Porque Deus o havia levado antes de mim, mesmo depois de tantas orações, tantas madrugadas sussurrando, clamando, implorando, pedindo baixinho a sua salvação, não a minha.

Eu não estava me lamentando, não. Yoongi sempre fora mais que isso, mais que um simples lamento. Yoongi estava em paz, até que fim em paz. Feliz, sem dor. Eu sabia disso do mesmo jeito que tinha a plena certeza que uma hora o céu se abriria para que todos pudessem ver e contemplar sua beleza.

Pois Yoongi pertencia a aquela imensidão azul. Yoongi pertencia as coisas eternas, ao imutável. Yoongi era as estrelas mais brilhantes da noite e o verão mais bonito que eu já vira, ele e seu sorriso. Ele era tudo, meu único sol, único em todo mundo, e se Yoongi prometera ele iria cumprir.

 

“Eu vou lhe esperar, Jimin.”

 

Então eu iria ser dele e ele iria ser meu, finalmente.

— Feliz aniversário, hyung.

 

 

"Não há nada no céu

Nenhuma visão desobstruída

Sem verdades perfeitas

Só o nosso amor"


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Notas finais do capítulo

Então, é isso. Obrigada ;-; Caso queriam o link da música acima, nas últimas linhas, aqui está: https://www.letras.mus.br/death-cab-for-cutie/1892914/traducao.html Bai, bai. Até logo.



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