A sala de Jantar d’A Toca estava mais lotada do que de costume. Reunindo forças e deixando a vergonha que sentiam em segundo plano, Ron e Hermione desceram juntos as escadas. Contra a vontade de todos da família, não desciam de mãos dadas, nem ao menos estavam tão próximos, ainda se encontravam demasiado trêmulos para isso. Hermione sentia que talvez aquela noite fosse ainda mais difícil que a anterior. Ao olhar os novos rostos que preenchiam a sala, os olhos de Hermione encontrou com os de uma senhora que estava sentada em uma poltrona próxima a lareira, segurando em seus braços o pequeno Fred II, mantendo seus olhos azuis em Hermione. Seu olhos, como Hermione logo notou, eram idênticos aos de Ron e ela sentia que eles a perfurariam a qualquer instante. Ron, que segundos atrás estava ao seu lado, desceu rapidamente os três degraus restantes e correu para abraçar a senhora . Depois de sua mãe e junto a Gina e Hermione, ela era uma das mulheres mais importantes de sua vida.

— Vovó, que saudades eu senti. A senhora está uma beleza, como sempre. – Deu-lhe um beijo na bochecha e tomou as mãos enrugadas entre as suas.

— E você o mesmo puxa saco de sempre. – respondeu sorrindo. Desviou mais uma vez os olhos até Hermione e arqueou a sobrancelha. – Não pretende me apresentar a bela garota que desceu com você?

— Eh.. sim, claro. – Ron voltou-se para Hermione e notou como o tom rosado já tomava conta de suas bochechas. Estendeu a mão para ela e entrelaçou seus dedos de uma forma um pouco tensa. – Vó, esta é minha... namorada, Hermione. Amor, esta Norallie Prewett, minha avó materna.

— Conseguiu conquistar Norallie. – disse a mulher de cabelos castanhos aproximando-se dos dois com um sorriso largo e simpatico. – Ela só me deixou chama-la de vovó quando eu lhe dei a segunda bisneta. Prazer, sou Jane, esposa de Carlinhos.

— Hermione, e o prazer é todo meu. Suponho que a sr. Prewett seja um pouco... Exigente.
— Não exatamente, apenas protege demais os netos. Principalmente o Ron – a mulher loura que a pouco conversava com Dominique, uniu-se a eles. – Sou Fleur, prazer.

Fleur era uma linda mulher. Tinha cabelos louros prateados e um sotaque francês quase esquecido. Ao todo, era uma mulher muito elegante.

— Hey, parem de difamar a minha avó. – desse Ron ainda sorrindo. Antes que pudessem dizer qualquer coisa, foram interrompidos pela entrada brusca e barulhenta de mais uma mulher. Gina ficou tão perplexa que teria caído do sofá, não fosse por Harry que a segurava pela cintura. Os olhos dela, assim como os de todos, estavam arregalados.

— UON-UON! Que saudades eu senti de você, ursinho. Até perdoou você por ter me esquecido dessa maneira. – Lilá aproximou-se como um furacão e atirou-se no colo de Ron. Hermione, que estava ao lado, apenas observava tudo boquiaberta. Não sabia porque seu corpo se enrijecera e nem porque aquilo a irritava tanto. – Agora o que importa é que nada irá nos separar nesse jantar. Ah que alegria.

Repentinamente, em um piscar de olhos, Lilá deu um beijo em Ron que deixou não só ele, mas todos os outros, sem reação. Todos estavam perplexos com a ousadia da garota e isso a animava ainda mais. Hermione sentiu todo seu corpo formigar e sua respiração ficou tão pesada que ela sentia dificuldades de capturar oxigênio. Antes que seu cérebro pensasse em algo pra fazer, seu corpo já tomava atitudes por conta própria e ela, com uma força e rapidez que ela não reconhecia em si mesma, puxou Ron afastando-o de Lilá, lançou-lhe um olhar severo como se ele fosse o culpado pelo ocorrido e se posicionou na frente dele como se quisesse impedir um novo ataque.

— Lavender, o que diabo você faz aqui? – perguntou Gina levantando-se do sofá. Durante alguns minutos, havia se esquecido de que a própria Lilá havia se convidado para o jantar, quando se encontraram a tarde. – Isso é um jantar é família. – colocou-se ao lado de Hermione que se sentia paralisada e incapaz de dizer qualquer coisa considerada comum diante do caso. Por que aquilo a deixava tão nervosa?

— Ah eu sei bem, Gininha. Não sabe o quando me deixa feliz em saber que me considera um de vocês. Sei o quanto esse conceito de família é importante para os Weasley. Vovó!! – gritou quando viu Norallie, que viera ver o que estava acontecendo. – Veja só, ainda continua viva.

— E você continua sendo uma impertinente e mal educada, além de se vestir como uma... Que faz aqui? Este jantar é para família. E eu já lhe disse para não me chamar de vovó.

— Ai vovó, acho que já esta mal da memória. Mas pensa, não seria maravilhosos sermos família? Imagina só, vovozinha.

— Não, eu morreria só de imaginar. – disse arrancando risinhos debochados de Fred e Jorge. – Parece que ainda não sabe, mas meu neto já está muito bem comprometido. Quem sabe não sejam os próximos a se casar. Pena ter que ser eu a te avisar.

— SE CASAR? Ginevra, não me disse nada sobre se casarem. – Lilá virou-se furiosa para Gina que a essa altura era segurada por Harry, impedindo-a de avançar em Lilá. Os outros Weasley olhavam de Lilá para Ron e Hermione. Ambos, como se quisessem comprovar o que havia dito a avó de Ron, se aproximaram e entrelaçaram as mãos. – Eles nem se quer tem um anel. – Observou Lilá. – Não é um compromisso verdadeiro sem nem ao menos tem um anel.

— Amanhã de manhã, assim que eu acordar, eu comprarei um anel pra você. – sussurrou Ron de modo que apenas Hermione o ouvisse. – A boa noticia é que a vovó gosta de você.

— Ora, cale a boca menina. Os dois se amam e não precisam de nenhum anel para provar isso. – Norallie aproximou-se do neto e de Hermione, entrelaçando seus braços nos da garota. – Venha querida, vamos dar uma volta, quero saber mais sobre você. Quem foi que convidou essa desmiolada? Deve ter sido você, não Molly? Eu sempre disse que não devia ser boa demais com quem não merece.

— Ganhou na loteira com Hermione, irmãozinho. – disse Fred. – Talvez até te perdoemos pela burrisse de ficar com Lilá.

— Não pense que me esquecerá assim Uon-Uon. Estou decepcionada com você. – disse antes de sair batento os pés com a mesma rapidez em que chegou.

Após alguns minutos, todos, incluindo a própria Gina que agora Harry se sentia seguro para soltar, riram da cena de minutos antes. Norallie que ainda olhava para o neto caçula, voltou seu olhar para Hermione, que parecia a única a não achar a menor graça no que ocorrera, e apenas acenou com a cabeça para que esta a acompanhasse. Deixando os demás se divertindo com o assunto dentro da casa, as duas saíram para o jardim na parte detrás d’A Toca. Fazia uma noite tranquila, o céu estava claro e forrado por estrelas cintilantes e uma lua perolada. Hermione ajudou a sra. Prewett a sentar-se em um banquinho de pedra branco e a senhora indicou o lugar vago ao lado para que a garota se sentasse. Não sabia exatamente o que dizer a avó de Ron, principalmente depois de sua atitude, ou falta de atitude em relação a Lilá. O problema é que ela desconhecia a capacidade da Sra. Prewett de ver a verdade mesmo quando está sendo polidamente escondida. Hermione de fato a agradou muito e ela logo percebeu o quão boa aquela moça seria para o seu mais novo neto; algo que na verdade, nenhum dos dois haviam seriamente levado em conta. Diante do silencio Norallie apenas soltou um suspiro teimoso e olhou o céu. Havia sete anos desde que seu querido esposo Bilius havia deixado-a sozinha, mas ela prometeu que não iria antes de ver seus sete netos casados e felizes.

— Se sente bem, sra. Prewett? – perguntou Hermione preocupada. Seu coração acelerou quando os olhos azuis de Norallie voltou a perfura-la com um sorriso ampliado.

— Sim querida. Apenos me lembrado do meu velho Bill, ele adorava noites como esta. Ronald leva seu segundo nome em lembraça a ele, você sabia? É um ótimo garoto, o nosso Ron, mas acho que disso você já sabe. – ela segurou carinhosamente a mão de Hermione. – Se ainda não vai me chamar de vovó, ao menos diga Norallie, por favor. Agora me diga, em que rolo o meu neto te colocou?

— N-não... Não sei a que se refere. – desviou seus olhos para o chão.

— Você é ma ótima amiga, e pelo que vejo, é muito fiel também. Mas, não é a namorada do meu neto... não ainda. – as palavras da Sra. Prewett atingiram Hermione como um tapa e esta ergueu a cabeça tão de pressa que teve que respirar fundo alguns segundos para que a visão turva de tontura voltasse ao normal. A senhora seguia com o mesmo sorriso amplo nos lábios e não parecia nada ofendida com a mentira descoberta. – Essa viagem vai mudar sua vida, querida. Não tenha medo de se permitir olhar para o que há além dos simples gestos.

— C-c-como... C-como a senhora sabe?

— Ah, eu já estou velha, meu anjo. Mas uma coisa lhe digo, você é muito importate para o meu neto, ou ele não a traria em circunstancia alguma para conhecer sua família. É a primeira que o faz. Bom, também essa mal criada, mas aquela foi uma intrusa, nunca foi apresentada como algo. – Norallie apertou as mãos de Hermione. – Pare de tremer querida, eu não direi nada a ninguém. Sei que ambos devem ter motivos para estarem fazendo isso. Mas por hora, é melhor arranjarem uma historia mais convincente e... O anel.

— O anel parece muito importante por aqui. – Observou Hermione, sentindo-se mais calma.

— É sim. Mas conte-me algo sobre você, querida. Eu realmente falava serio quando disse que queria saber tudo.

— Bom, sou advogada e trabalho com o seu neto. Eu amo o que eu faço e eu me empenho muito. Eu gosto de ler, adoro ler... É o que eu faço nos raros momentos livres. Não tenho nada de muito extraordinário a dizer, sra. Prewett... Norallie – corrigiu-se. – Eu sou uma garota comum.

— Uma garota inteligente e cultivada, mas não uma garota comum, ou o meu neto nunca a traria aqui. E sua família?

— Perdi os meus pais na adolescência e era filha única. Morei por três anos em Cambridge com minha tia-avó Elinor até entrar para a universidade, mas faz sete anos que ela morreu. Então, eu sou sozinha. – inevitavelmente, a tristeza invadio, embargando-lhe a voz.

— Sinto muito querida. – disse pegando-lhe novamente as mãos. – Mas isto de que está sozinha não está certo, você tem ao Ron, que gosta muito de você, e consequentemente você tem a todos nós também. Não somos uma família muito convencional mas sempre iremos acolher a quem queremos bem. Mas agora, acho que é melhor entrarmos ou perderemos toda a diversão. É uma pena que meu querido Percy não tenha vindo com sua esposa Audrey. A pequena Julie adoeceu na ultima hora. – Hermione ajudou-a a se levantar e entrelaçando os braços no da senhora a acompanhou para dentro d’A Toca.

Hermione ajudou-a a se levantar e entrelaçando os braços no da senhora a acompanhou para dentro d’A Toca.
Na cozinha, todos já se encotravam na mesa. A Sra. Weasley, com ajuda de Fleur e Gui, terminava de colocar a mesa e já começara a servir os primeiros pratos. Ron levantou-se de sopetão ao ver Hermione entrar acompanhada de sua avó, aproximou-se das duas mas apenas ficou parado diante da amiga, sem saber como agir diante da avó. Norallie olhou da garota para o neto.

— Obrigada pela companhia querida. Ela é adorável Ronald, você mostrou ter um ótimo gosto para garotas, como seus irmãos. – Norallie largou o braço de Hermione e ao passar por Ron, sussurrou-lhe de modo que só ele ouvisse. – Aconselho que beije a moça, nem que seja apenas na bochecha.

E saiu para sentar-se na cadeira vaga em uma das pontas da mesa.

— Venham jantar, queridos. – chamou a Sra. Weasley

O restante da noite ocorreu tranquilamente como na noite anterior. Hermione ficou sentada entre Ron e Norallie, compartilhando confidencias com esta ultima, para a surpresa de todos. Nunca ninguém havia agradado tão rapidamente a Sra. Prewett; era uma garota inteligente, culta, sensível e linda. Era fato que ela adorava todas as companheiras de seus netos, mas a preferencia por Hermione se destacou tanto quanto sua preferencia por Ron.

A sra. Weasley, mais tarde veio desculpar-se com Hermione pelo comportamento constrangedor de Lilá.

Ao termino do jantar, Ron e Hermione subiram e deitaram-se cada um em sua respectiva “cama” e apenas sussurraram um “Boa noite”. Mas Hermione demorou muito até pegar no sono. Por algum motivo infeliz, a única coisa que lhe vinha em mente era como teria sido beijar Ron se Gina não tivesse chegado?