O quarto era simples. A cama estava encostada ao lado direito da parede. Tinha um edredom em tom azulado com listras em lilás e grandes travesseiros brancos. Havia também um criado-mudo com um vaso e alguns poucos livros na parte de baixo e um armário. Na outra extremidade do quarto havia uma porta que dava para o banheiro recém criado, e um pequeno sofa de dois lugares que mais parecia uma poltrona. Nada mas. Mas os olhos de Ron e Hermione ainda permaneciam fixos na única cama daquele local. Não haviam previsto esse pequeno incidente. Mas por outro lado, sendo um casal, seria considerável que em uma casa cheia, devesse dormir juntos. O coração de Hermione começou a bater com mais forças e ela chegou a pensar em uma maneira de fazer qualquer barulho a fim de abafar as batidas. Desvio seus olhos da cama para olhar Ron e esse fez exatamente o mesmo. Ambos tinham expressões de culpa e desculpa. Ron abriu varias vezes a boca a fim de dizer algo, mas as palavras lhe falhavam. Uma garota ruiva e outra loira (“Que milagre alguém diferente”. Pensou Hermione) apareceram repentinamente e se puseram a abraçar e beijar o tio. Hermione que estava ao lado limitou-se a sorrir. Estava gostando daquele jeito caloroso dos familiares de Ron.

— Tio Ron, que bom que chegou, nós estávamos sentindo sua falta. Oh o que dirá Florência quando souber que está aqui. – disse a loura dando saltos ao redor do tio. – Acho que ela está louquinha por você.

— Não parou de falar em você desde que dançou com ela no casamento do Tio Jorge. – confirmou a ruiva. – Oh, mamãe quer saber se gostou do ultimo livro. Ela dedicou a você sabia? Os tios Fred e Jorge ficaram enciumados e a obrigou a dedicar o próximo a eles.

— Quanta coisa eu perdi por estar fora. Mal pude vê-las crescer e olha só, estão duas lindas moças. Estou de olho. – as advertiu sacudindo o dedo indicador.


— Ah Tio Ron ...– começou a loura que só agora reparara em Hermione, que havia colocado sua mala em um lado da cama e os olhava. – Olá, acho que não lhe conheço. Sou Victorie e ela é minha irmã Dominique.

— Nick. – corrigiu a outra.

— Hermione. – A disse cumprimentando-as com um beijo. Ambas eram garotas muito bonitas e Ron tinha razão em querer ficar de olho. – Sou a... hum, n-namorada do Ron.

— Oh verdade. – emocionou-se a Dominique. Esta pegou uma das mãos de Hermione e a fez sentar-se ao seu lado na cama, sendo seguida por Victorie. – Que bom que tio Ron te encontrou, já não agüentava mais a Lilá.

— Insuportável. – Victorie girou os olhos e logo deu uma palmadinha nos ombros de Hermione. – Mas você parece muito legal. E normal.

— Ah, obrigada... eu acho.

— Quando conhecer Lilá saberá do que estamos falando. – disse Dominique dando uma piscadela. –Deixa mamãe a beira da loucura.

— Eu... – Hermione não sabia o que dizer. Sua curiosidade sobre a tal Lilá agora havia aumentado assim como o bem estar que os membros daquela casa lhe transmitiam. Mas antes de qualquer conversa, tinha que esclarecer as coisas com Ron, coisas que só seriam esclarecidas estando a sós. Olhou para ele dissimuladamente e este logo entendeu o recado.

— Bem garotas, Mione e eu tivemos uma longa viagem e gostaríamos de descansar um pouco antes do jantar. Mais tarde vocês podem falar mal da Lilá. – disse Ron acompanhando as sobrinhas até a porta. – É maravilhoso poder vê-las.

— Até logo. – despediu-se Dominique.
— Até Hermione. – disse Victorie.

E as garotas deixaram saíram do quarto e desceram as escadas aos risos. Ron fechou a porta e se apoiou nela para olhar Hermione. Ela estava sentada na cama com os braços cruzados. Olhava o quarto com curiosidade fixando-se em cada detalhe que a primeira vista passou despercebidos. Corou quando seus olhos se viram nos de Ron. Ele se sentou lentamente na cama ao lado dela e segurou uma das mãos tremulas de Hermione.

— Enfim, sós. – disse com um sorriso amável.

— Sim. Enfim sós – suspirou ela deixando cair a cabeça sobre o ombro do amigo. – O que vamos faze Ron? Eu... eu não.. não estou acostumada a dormir com outra pessoa... Eu...

— Não se preocupe Mione, eu fico com o sofá.
— Ora, de jeito nenhum Ron, não pode dormir no sofá na sua própria casa. Se alguém tem que dormir nele, esse alguém sou eu.

— E o que te leva a pensar que eu permitiria isso Mione? – Ele sorriu beijando o topo de sua cabeça. – Vamos achar uma solução.

— Gosto deles, da sua família. São todos tão... Família, unidos entre si;

— E você ainda nem conheceu todos. Acho que não diria isso se conhecesse Percy. É o mais afastado da família ainda que seja uma boa pessoa. La no fundo, claro.

— Tenho uma semana pra avaliar, não? – Ela levantou a cabeça e sorriu.

— Exato. – ele disse acariciando-lhe a bochecha. – Isso costumava ser um gesto normal entre eles em New York. Mas ali, em Londres, quando Hermione instintivamente fechou os olhos ao toque do amigo, ambos sentiram o ainda não conhecido formigamento. Um golpe momentâneo, e a porta do quarto se abriu dando espaço a Gina, que os fez se separar.

— Opa, desculpe. Só queria saber se estavam bem e se precisavam de algo. – disse suavemente. Atrás dela surgiu a cabeça de Harry que a abraçava pela cintura.

— Sim estamos bem. – resmungou Ron. – Entrem, não fiquem parados aí. – ele se levantou e abriu mais a porta permitindo o casal a entrar. Estes olharam ao redor para verificar se não haviam interrompido nada mais comprometedor.

— Desculpe por interromper. – desculpou-se Harry. Sentou-se em uma poltrona junto a Gina e abraÇo-a novamente. Parecia que não podiam tirar as mãos um do outro. – La em baixo está uma bagunça. Sua mãe está gritando com as crianças, as crianças com os gêmeos que não os deixam correr por todos os lados...

— Virou um hospício, mas eu ainda adoro. – sorriu Gina. Olhou Hermione que permanecia calada. – Sua família é tão grande quanto a nossa, Hermione?

— Não eu... não tenho família. Fui filha única e perdi meus pais ainda muito nova. Tinha quinze anos. Desde então sou sozinha. – respondeu Hermione, e Gina logo pôs-se a abraçá-la em consolo. Hermione, surpreendida, retribuiu o abraço.

— Sinto muito Hermione. – disse Gina. – Mas agora não está mais sozinha, você tem a todos nós. – Ron sentiu-se orgulhoso de Gina. Sabia o que custava a Hermione falar sobre sua família. – Acho melhor irmos então. Só viemos mesmo para ver...

—... Se estava tudo em ordem. – concluiu Ron por ela que em seguida os acompanhou até a porta.

Os dois saíram e deixaram Ron e Hermione sozinhos de novo. A garota se levantou pegando sua mala e colocando-a em cima da poltrona e ali abriu. Começou a desfazê-la com movimentos pausados e mecânicos, envergonhada com os olhares de Ron. Este não entendia a repentina vontade de ir abraçá-la que se apoderou dele. Balançou a cabeça espantando os pensamentos e optou por um bom banho. Ao ouvi-lo fechar a porta, Hermione suspirou em voz alta e jogou-se sobre a cama. A ultima vez que pisara em Londres, foi no velório de seus pais.