Minha jornada... escrita por eduarda14


Capítulo 1
Um sonho real...


Notas iniciais do capítulo

Este primeiro capítulo é como se fosse uma apresentação da personagem principal. É ela quem narra a maioria da história : )
Todo capítulo terá uma frase : )
Frase do capítulo: "A felicidade não está num ideal a ser atingido... Está na jornada que leva até ele." (Zig Ziglair)



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Era um sonho. Mas não  como qualquer outro. Era um sonho bem real, eu tinha a sensação de saber que estava sonhando, mesmo assim não controlava meus movimentos. Tudo ia acontecendo automaticamente e a única coisa que eu fazia era andar. Isso é bem estranho, bem esquisito realmente... 

 

No sonho, eu andava por uma longa estrada, não sabia se era de terra, se era asfalto ou pedra, (parecia ser asfalto). A impressão que eu tinha era de que aquele caminho era infinito. O sol se encontrava sempre em minha frente, distante, brilhante, porém se pondo. Estava confusa. Não sabia como tinha começado a andar por ali. Não sabia onde estava, para onde ia, de onde vinha. Que raiva! Não estava entendendo nada. Olhei para os lados e parecia que haviam imagens projetadas. Projetadas não sei como, mas elas pareciam bem reais...Não era qualquer imagem. Eu via nelas uma garota. Esta, se encontrava muito feliz. Aparentava ter uns 16 anos, seus cabelos eram castanhos, assim como o meu, porém mais brilhosos, mais vivos! Ah...Mas os seus olhos, os seus olhos possuíam um brilho intenso, transmitia facilmente uma boa expressividade. 

      Ao decorrer do caminho, novas imagens iam aparecendo. Nessa estrada não haviam árvores, nem casas. Parecia que eu estava em um grande nada, pois não se podia ver nada ao meu redor. Mais parecia um deserto. Só via projeções de uma jovem sorrindo. A mesma jovem conversando. Ela era tão graciosa. 

      Poderia ver mais pessoas, estas pareciam ser familiares. Sim, tenho certeza que eram familiares.  

      Já fazem dias que eu venho tendo esse mesmo sonho. Sempre a mesma coisa. O caminho infinito, as projeções, os familiares, o deserto a garota... Essa não...Será que eu preciso de um psiquiatra? 

     ...Mãe, sabe, eu estava pensando, a vida é tão inexplicável, o tempo passa tão rapidamente e para mim passa mais rápido ainda. Mãe, eu vou morrer!... 

       Depois que falava estas palavras, a  menina começava a chorar. Ela sempre falava as mesmas palavras e sempre começava a chorar.

      O sonho sempre chegava a esse ponto. Sempre terminava aqui.  Mas por que ela estava chorando? Por que disse que iria morrer? 

      Mas parece que desta vez o sonho não termina por aqui. Desta vez eu também podia ver aquela mulher consolando a garota. Não conseguia ver seu rosto, só sabia que ela seria a mãe da jovem.  

      Os olhos que outrora eram reluzentes, agora estavam tristes, com raiva, abatidos e úmidos. Quanto mais pronunciava algo que não era tão claro, mais lágrimas eram derramadas pela pobre moça que estava completamente diferente de antes. Sua felicidade se tornara angústia.  

      Finalmente, em um certo momento eu pude ver o rosto daquela que consolava a moça. Espera. Eu conheço essa mulher. Essa mulher que possuía um olhar profundo, mas ao mesmo tempo tenso. Que tinha uma pele pálida, seus trajes delicados e com gestos suaves que visavam tranquilizar a outra. Aquela era a senhora Gessy. A minha mãe. E por um momento eu reparei mais ainda nos traços daquela moça que invadia minha mente. Sim. Aquela era eu. Malu Marquesi. Essa sou eu.  

      E esse não era um simples sonho. Não passava nada mais nada menos, que a realidade. Agora tudo faz sentido. Eu, uma pessoa que um tempo atrás era feliz, agora não tenho a mesma alegria de viver. Pois é. Não queria que fosse assim. Mas em um momento tudo mudou.  

Uma coisa transformou minha vida: AIDS.  

Por isso faz sentido. A Malu do sonho pensava como eu. "Nós" iríamos morrer. Eu não queria pensar assim, mas para a sociedade em que estou inserida, essa doença é sinônimo de morte. E eu já me contentei com essa ideia, porque se isso ocorrer, é o melhor que pode acontecer. Assim, eu não preciso continuar vivendo e escutando: "Não tenho pena desta garota, ela só está recebendo o que merece, quem mandou brincar com a vida!" Não aguento mais. 

       Desde o dia em que descobri que era uma soropositiva não gosto muito em falar sobre isso pra ninguém. Por incrível que pareça, o que mais me afeta, não são os sintomas e sim o que os outros falam de mim. Não quero ser mal vista por aí e também que a discriminação é muito grande. Se fossem apenas os problemas de saúde... Mas existem aqueles indivíduos que não medem esforços, dizem que quem tem esse vírus é porque merece, merece sofrer! Bem. Eu fui inconsequente, é essa a verdade. Mas as consequências vieram. Realmente, mudou tudo na minha vida... 

       Se fossem unicamente as limitações no organismo, as febres, as dores... Mas também existem aqueles problemas sociais, de convivência. Tenho medo, pior, tenho vergonha. Por causa do preconceito, da discriminação social, que vem principalmente da família.  

      É... Minha vida é como aquela estrada, não sei mais o que fazer. Não sei para onde vou, nem se vale a pena continuar. Sinceramente. Não tenho mais esperança. Antes o sorriso doce. Agora a lágrima salgada.  

      Os profissionais de saúde são importantes, vivem me animando, os coitados acham que isso adianta alguma coisa, mas as febres e o preconceito são maiores que qualquer apoio. Minha mãe também é super importante, sempre tão otimista. Ela é um dos meus maiores motivos para continuar seguindo, neste longo caminho que parece ser impossível. Ela sempre está ao meu lado, e não me azucrinou quando soube e sim, sofreu junto comigo. 

        Eu nunca imaginei que isso iria acontecer. Esse é um dos maiores defeitos do ser humano, achar que essas coisas não podem acontecer com ele, só com os outros. Que ideia boba! Dantes me fez perceber que as coisas não ocorrem apenas com os outros. Eu não precisava conhece- lo para perceber isso, não precisava. Mas fui pelo pior caminho, esse que parece ser enorme e complicado. Nesse que agora eu vejo uma alegria que já foi minha. O caminho que mais parece uma galáxia, que de acordo com os estudos, vive se expandindo a cada segundo.  

 


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