Renegados escrita por Elentiya


Capítulo 4
Capítulo 3 - Espavento


Notas iniciais do capítulo

Olá amores! Antes de dar uma informação sobre o ritmo de postagem dos capítulos, gostaria de agradecer imensamente a todos vocês que leem Renegados! De coração, muito obrigada pelo voto de confiança. Escrevo por prazer, mas saber que o que escrevo agrada pessoas é muito satisfatório!
Agora, sobre as postagens dos capítulos: Gostaria de avisar que os capítulos sairão aos domingos! Comecei esse ano meu pré-vestibular e durante a semana vou me dedicar aos estudos já que o curso que quero tem uma nota de corte MUITO alta. Como já tenho o rascunho dos capítulos prontos, só preciso desenvolver e betar nos sábados; por isso os capítulos sairão aos domingos. Se acabar atrasando alguma semana, até terça-feira eu posto! Bom, era apenas isso que gostaria de dizer. Espero que gostem do capítulo. Boa leitura!



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As cartas foram expostas e o jogo começava. Axell sabia que não poderia deixar a mulher escapar, precisava prende-la a algo, prende-la a um objetivo se quisesse continuar com aquilo. Caso se recusasse a informa-la, a fuga da mulher quando eles fizessem a pausa noturna seria certa. Escolhendo cada palavra como se sua vida dependesse delas, ele a respondeu. 

— Temos um desejo em comum. 

Knight o encarou, mirou-o nos olhos. Os olhos verde oliva da mulher chocavam-se com os olhos amendoados de Axell. Mesmo que ela estivesse impassível, ele conseguia sentir a profundidade de sua alma sendo estudada por aqueles olhos. Sentia-se invadido pela ronda silenciosa e vulgar que aqueles olhos faziam. A garganta do homem ficava seca a medida que ela rebatia suas indagaçôes. 

— Isso ainda não responde minha pergunta. Mas me deixa um tanto quanto... intrigada. O que você presunçosamente diz ser de comum desejo? — Sem retirar os olhos de Axell, ela se ajeitou no assento. Sua replicação foi lenta e preguiçosa, como se as palavras de Axell não merecessem sua energia. 

A garganta de Axell abriu novamente. Conseguira mudar o foco da pergunta dela. De maneira alguma poderia dizer quem era ou quem lhe mandara até ali. Quando o momento chegasse, Lucien que seguraria o fardo; ou parte dele. Um pequeno sorriso, inundado com um desafio sutil, surgiu nos lábios dele. Quase como um sussurro, Axell respondeu. 

— Baryel. 

A mão de Knight que repousava em uma de suas coxas, fechou-se. A expressão da mulher teve uma leve mudança; as rugas da testa apertaram-se.  

— Você tem cinco segundos para me dizer como sabe sobre isso. Cinco segundos — A calma forçada da mulher desfez-se e sua voz começava a se aproximar do sibilo de uma cobra. 

— Como sei não importa. Eu tenho informações e aliados, sou a pessoa que te levará ao seu objetivo.  

Uma faísca de ódio saiu do oliva dos olhos dela. Uma de suas mãos deslizou para dentro da calça imunda que a cobria e dela retirou algo branco e fino. Antes que Axell tivesse os reflexos ativados, a mulher estava por cima dele. Sua respiração parou apenas para voltar exasperada no segundo seguinte. Um objeto amarelado, fétido e sujo estava sendo pressionado contra sua garganta. Após um momento de compreensão, percebeu que não era um objeto, mas sim um osso. Um fragmento de osso antigo e afiado. Um osso pequeno o bastante para se guardar em lugares onde ninguém suspeitaria. Manual, porém letal. 

— O que diab... — Axell tentou rebater a atitude, mas foi interrompido por uma voz grotesca. 

— Diga! 

Ele não respondeu, não sabia qual informação ela queria. Seu coração batia como nunca antes e sua respiração ficava mais pesada a cada segundo. 

— Diga! — Knight gritou perante ao silêncio dele; um som gutural. 

O fragmento ósseo apertou-se ainda mais contra sua garganta. 

— Eu vou enterrar essa porcaria de osso na sua garganta se não me disser exatamente como descobriu minha relação com os Baryel. 

— Tudo bem, tudo bem! — Axell precisava acalma-la, ao mesmo tempo que precisava se acalmar. 

— Eu conheci um homem — O osso perfurou sua garganta quando fora pressionado ainda mais forte — Em uma taberna! — Gritou ao sentir a dor chegar mais intensa — Eu procurava informações para um trabalho quando um homem me contou sobre você. Ele me disse que camuflava os assassinatos pessoais nos trabalhos pagos, e que achava isso brilhante.  

Aqueles olhos sedentos ainda o encaravam. 

— Eu venho há meses procurando informações sobre os Baryel, então quando observava um homem em uma vila há algum tempo, ouvi ele falar de você. Ele comentava sobre a ameaça que você representava. Apenas juntei os fatos e decidi te procurar. Tenho uma dívida eterna e preciso que me ajude a paga-la. Como pôde ver, não tenho experiência — Um sorriso nervoso estampou sua face — Sei que quer o mesmo que eu.  

Era uma mentira. Não fora assim que descobriu sobre ela, Axell nunca teria a coragem de procura-la por conta própria. Mas para o momento, a mentira servia. 

A face da mulher ainda estava tensa, mas o ódio que emanava dela diminuiu.  

— Você é um tolo por vir atrás de mim. 

Ela retirou o objeto cortante de perto de Axell e guardou-o na calça novamente. Instantaneamente, Axell tocou sua garganta. Um alívio percorria seu corpo. Knight afastou-se dele e sentou aonde antes estava. 

— Você tem dois dias. Irá me mostrar o que tem e só então decidirei se vou usar suas informações — Usar suas informações. Ela não havia dito que trabalharia com ele, mas que usaria de seus artifícios. Axell havia percebido esse jogo de palavras. Entretanto, tinha uma carta na manga. Ele tinha Lucien. 

— Pensei que seria mais pertinente — Um comentário perigoso. Por sorte, ela não mordeu a isca. 

— Sou mais astuta que você. Consigo ver minhas opções sem precisar gastar um dia inteiro com isso. É um bônus que inteligentes possuem.  

Axell sorriu. 

— Temos um acordo, então? 

— Não. Nem de perto isso é um acordo.  

Ela havia mudado da água para o vinho, mas ele não se importou com sua bipolaridade quando a viu se acalmar e mirar o exterior da carruagem. Os olhos oliva fixos na paisagem mostrada pela janela. Ele aprenderia a lidar com ela. 

O dia deu lugar à noite conforme as horas passaram. Só chegariam em Klantes no dia seguinte e precisavam de uma pausa para o cavalo — e eles — descansar. Axell não dormiria, não... ficaria de olho em Knight. Dormiria quando tudo estivesse estável. 

A lua iluminava os céus, assim como as estrelas que a rodeavam. Axell observou a mulher dormir recostada em um caule de árvore enquanto pensava no que aquela noite significava para ela. Foram seis meses enjaulada, como ela estava se sentindo ao estar livre após o confinamento? Ele a observou por tanto tempo e tão fixamente que adormeceu. Não planejava, mas o cansaço o superou. 

As horas passaram e o sol surgiu no horizonte, iluminando a paisagem. Axell despertou assustado, não podia acreditar que havia caído na tentação do sono. Imediatamente olhou para a direção que Knight adormecera na noite anterior. 

Nada. 

Ele levantou de súbito. Knight havia fugido. Sem a alma sádica dela, não conseguiria atingir seu objetivo. Tudo havia terminado. A depressão o atingia, mas concentrado em não desistir, começou a correr para procura-la. 

— Fique aqui, vou encontra-la — Ordenou a Demanclo que havia acabado de despertar. 

— Vá rápido, menino. Saqueadores gostam dessa rota. 

Acenando com a cabeça, Axell pôs-se a correr. Não queria chamar a atenção de saqueadores, então preferiu prosseguir em silêncio, não se atreveria gritar por Knight. Uma intuição percorreu seu corpo e ele disparou na direção do barulho de água corrente. Se bem recordava, havia um pequeno lago perto de onde acamparam.  

Lá estava ela. Com apenas a cabeça acima da linha d'água, Knight entrava no campo de visão de Axell. O desespero logo esvaiu-se dele. Graças aos Deuses, pensava. 

Knight o avistou, porém não se importou. Continuou a se banhar com a mesma naturalidade. Axell, percebendo que ela não fugiria, sentou-se em uma pedra próxima a margem e esperou. Ele sabia que era uma atitude vulgar observar uma mulher se banhar sem ter um vínculo maior com ela, mas não se importava com isso no momento. Ele a viu imergir e emergir enquanto cada partícula negra de sua pele desaparecia. E na última vez que ela recuperou o fôlego, começou a nadar em direção a terra. Próxima da margem, ela não mais nadava, mas caminhava. O corpo nu da mulher apareceu e Axell sentiu seu rosto queimar. As curvas marcadas pela magreza, as costelas nítidas e as coxas finas eram as provas de que ela esteve com escassez de comida. Mas o que chamou a atenção de Axell não fora seu corpo magro ou seus seios surpreendentemente fartos, mas seu rosto. Antes, a poeira negra não deixava suas expressões faciais serem claras, mas após a limpeza... Não eram apenas os olhos verde oliva que surpreendiam. Era a face de um demônio, a face da mulher que iria te encantar para então apreciar sua alma. Os cabelos negros como a noite caíam molhados em suas costas, contrastando com a pele pálida adquirida nos meses de prisão. 

Axell, ao notar que a encarava com cobiça, virou o rosto para o outro lado.  

Uma risada sarcástica. 

— Nunca viu uma mulher nua, é?  

— Não se importa de alguém te ver nessas condições? 

Axell ainda olhava para a paisagem à sua esquerda, preferia não vê-la nua. 

— É apenas pele e osso.  

— Conheço homens que não pensam assim. 

— E eu conheço homens que morreram por pensar diferente. 

Ele precisava sempre se lembrar da ameaça em potencial que Knight representava. Ao vê-la despida, imaginou que talvez ela não fosse tão ameaçadora quanto parecia, mas estava errado. Ouvi-la falar das mortes que conquistou parecia ser um blefe, porém ele sabia que era apenas a história de vida da mulher. Era ele quem blefava, não ela. 

— Pode olhar agora, loirinho — Axell finalmente retornou a olhar para ela — Dois dias, lembra? Vamos voltar à viagem. 

Demanclo os esperava no mesmo lugar de antes. O cavalo estava aparentemente disposto e se os cálculos estivessem certos, em cinco horas chegariam em Klantes. 

 

♞ 

 

Era quase meio-dia quando chegaram em Klantes. A cidade embrulhava o estômago de Axell. Uma concentração das piores parcelas da sociedade residiam naquele lugar. Jogatinas, prostíbulos, guildas e a maior quantidade de lixo do reino. As ruas eram infestadas de ratos e lixo em decomposição, o odor era pavoroso. A poluição sonora completava a paisagem de Klantes. A carruagem pulava a todo momento, a estrada era ridicularmente mal construída. Um pesadelo de cidade. 

— Klantes... quase tão deplorável quanto você. 

Axell ignorou o comentário de Knight. Não morderia as iscas. Não a rebateria, não sabendo que Lucien a aguardava. Que a fúria dela recaísse sobre ele. 

O veículo parou de se mover e Axell respirou fundo antes de empurrar a porta e pular para fora da carruagem. Knight saiu logo em seguida, e ao perceber que Axell apontava para um beco menos iluminado, acompanhou-o.  

A cabeça da mulher trabalhava em teorias e Axell podia sentir isso. Alguns segundos após entrar no beco, uma porta de madeira velha, já conhecida por Axell, surgiu. 

Duas batidas, depois mais três, e então outras quatro. Knight olhou-o com prepotência. Uma mulher de cabelos castanhos abriu a porta, e ao ver Axell, sorriu. 

— Você está vivo — Ela parecia aliviada. 

— Não por muito tempo se continuar a me ignorar. 

Só então a mulher notou Knight. Uma seriedade repentina tomou sua face, assim como seu corpo. 

— Entrem. 

E eles o fizeram. Entretanto, ao passar pela mulher, Knight pausou e percorreu seus olhos pelo corpo dela. Desde o topo da cabeça ao solado do sapato. Deu uma última olhada no rosto dela e continuou seu caminho atrás de Axell. 

Chegaram em uma segunda porta; a última de um corredor. Axell mirou Knight, respirou o mais fundo que pôde e abriu a porta. Era Lucien quem estava sentado na poltrona almofadada do escritório, e quando viu Axell, tratou de largar o livro que lia e levantou-se imediatamente. A pele ligeiramente bronzeada e os cabelos castanhos caídos em seu ombro invadiam a vista de Axell. 

— Axell! Você conseg... — Qualquer que fosse a frase que Lucien fosse proferir, foi interrompida quando Knight caminhou para dentro do cômodo. O coração dele parou e a nostalgia tomou-lhe conta.  

Quando percebeu quem a esperava, Knight arregalou os olhos. Seja por ódio ou por surpresa, não se tinha certeza. Ela olhava de Lucien a Axell enquanto seus finos lábios contraiam-se de raiva. A pouca cor que seu rosto tinha adquirido havia sumido. 

Axell se preparou para a explosão.


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Notas finais do capítulo

Bom, obrigada por chegarem até aqui! Sei que parece que agradeço automaticamente, mas eu realmente fico grata por lerem! Fiquem a vontade para comentar e criticar, tenho a mente aberta, então não se preocupem, falem o que quiserem! Feedback me ajuda a crescer, nem que seja um "Oi, gostei" ou um "Oi, não gostei". Ajuda a saber se posso manter o padrão ou se precioso me esforçar mais. Um beijo enorme para todos!