Arborescente escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 9
Capítulo nove




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― Há algo que eu deveria saber?

Nos reunimos junto a Trudie, no corredor, logo de manhã. Ao parecer, os remédios de ressaca não deram muito efeito com Todd, já que bastou apenas um olhar para ficar desconfiada.

― Comemoração pós primeiro dia ― brincou Jesse, batendo nas costas do garoto, que resmungou.

― Certo, vou deixar passar dessa vez ― ela deu um último olhar repreensor, antes de se virar ― Venham! Vamos dar continuidade à primeira e segunda fases do treinamento.

― Tenho medo do que virá ― murmurou Karen, coçando o olho, embora eu suspeitasse de que ela dormiu assim que deitou na cama, no dia anterior.

Caminhamos pelos corredores, e eu senti que demoraria muito para conseguir me acostumar àqueles caminhos. Entramos em uma sala ampla, até então desconhecida por mim. A metade dela era separada por uma parede de vidro, e tinha um homem próximo da parede.

― Lembram-se do soro que lhes foi aplicado durante o teste de aptidão? ― perguntou Trudie, assim que entramos ― Digamos que vão... Relembrar. Claro, será um soro com modificações.

― Do que ela está falando? ― perguntei a Karen, confusa, que deu de ombros.

― Certamente Jesse e Nolan estarão familiarizados com essa forma de prova ― disse Trudie, olhando para os meninos ― Na Audácia, o objetivo é preparar o físico, mental e emocional, isso envolve enfrentar seus medos. É usado esse mesmo soro, criando uma simulação de seus medos. Mas, este aqui, irá apresentar diversas situações pré-programadas. O objetivo é claro: dizer a verdade. Vocês não terão muita consciência da situação, então só poderão seguir quando completarem o objetivo.

Aquilo soava bem complicado, mordi o lábio com nervosismo.

― A ordem foi feita por sorteio. A simulação acontecerá lá dentro ― ela apontou para a parede ― Enquanto o resto de nós permanece aqui, monitorando ou esperando a sua vez. Holden é o instrutor dos iniciandos Franqueza, e estará aqui para me ajudar.

Ela aproximou-se da parede e tocou no vidro, fazendo um painel aparecer. Ela deu mais uns toques com os dedos, antes de se afastar, mostrando uma lista de com vários nomes.

― Karen, você é a primeira ― disse Trudie, sorrindo.

Ela me olhou nervosa, antes de ir para perto da porta. Holden abriu uma caixa, em cima de uma mesa de vidro, e retirou uma seringa de lá.

― Espero que não tenha medo ― ele deu um sorriso, antes de aplicar no pescoço de Karen.

Trudie abriu a porta, dando passagem para ela. Observamos como Karen falava com pessoas invisíveis, mas não conseguíamos escutar o que dizia.

― O compartimento é à prova de som ― explicou nossa instrutora.

― Bem, isso evitaria constrangimentos ― brincou Todd, com uma voz e sorriso fracos.

― Todd ― Trudie fez voz de sermão.

― Só queria descontrair ― ele defendeu-se, antes que ela começasse.

― Ela não terá nada a esconder quando chegarmos à quinta fase ― disse Holden, em seu lugar, os olhos fixos em Karen.

Não era a primeira vez que mencionavam a última fase. Afinal, o que aconteceria conosco?

Karen finalizou rápido, embora tenha hesitado em várias situações, ao que parecia, perigosas. O que podíamos fazer? Era nossa facção! A verdade acima de tudo... Não importava o que acontecesse.

― Steven! ― chamou Trudie.

― Quer apostar quanto que a próxima será Mischa? ― ele sussurrou ao passar do meu lado.

― Os nomes já estão escolhidos ― lembrei-lhe.

― Ah é! ― ele murmurou, envergonhado.

Neguei com a cabeça, enquanto Karen voltava ao meu lado.

― Parece tão bêbado quanto Todd ― ela debochou.

― Não quero conversas ― alertou Trudie, assim que a escutou.

Troquei um olhar com Karen, e demos de ombros, voltando nossa atenção para Steven, já do outro lado do vidro.

O fato de que as pessoas voltavam para esse lado do vidro me fez perceber que, talvez, nossa missão naquela sala não se baseasse apenas na simulação. Ou, talvez, fossemos todos para outra sala desconhecida depois disso.

― Aeryn ― fui chamada.

Holden aplicou o soro em mim, como fez com Steven e Karen. Assim que a porta se fechou, o cenário ao meu redor se modificou. Eu estava em pé em um lugar, que supus ser um quarto, já que tinha uma cama no canto e vários objetos pessoais. Era pintado em preto e branco, deixando claro que era dentro da sede da Franqueza, mas um quarto particular.

A porta, que devia ser do banheiro, abriu-se e Karen entrou no quarto. Por sorte, ela usava um roupão que lhe cobria completamente, ou eu morreria de vergonha.

Ela pareceu perceber meu incômodo, pois começou a rir. Nesse instante, eu esqueci completamente o que estava fazendo ali, que estava em uma simulação. Dei uma risada nervosa como resposta e olhei para o outro lado.

― Senta aí! ― ela apontou para a cama dela, indo para o guarda-roupas.

― Vai a algum lugar? ― perguntei, curiosa.

― Todd me chamou para a gente sair ― disse Karen, com tranquilidade.

Antes que eu pudesse dizer mais algo, ela pegou algumas peças de roupa e voltou para dentro do banheiro.

Peguei o porta-retratos de cima da cabeceira dela e sorri com a foto, era todo o nosso grupo de “amigos”, se é que eu podia dizer assim, e parecia ter sido tirada há bastante tempo.

― O que acha?

Virei-me e derrubei o porta-retratos.

― Ai, meu Deus! ― exclamei, contendo o impulso de me levantar.

As roupas que ela usava não tinham nada a ver. Uma camiseta colada, um suéter velho e as calças bem largas.

― Nossa! Tá tão ruim assim? ― ela perguntou, parecendo magoada.

― Não é isso, é que... ― eu tentei dizer.

― É isso sim! Tá na sua cara ― ela acusou-me, desviando o olhar.

Respirei fundo. Pior que dizer a verdade, seria mentir.

― Se fosse para usar algo colado, deveria ser a calça! Nem parece que está indo a um encontro! ― exclamei e puxei levemente a manga do suéter ― E... O que é isto?

― Suéter, para dar sorte ― ela tentou se defender, puxando a manga para si

― Cara, se olha no espelho! Tá horrível! ― exclamei ― Outra coisa: desde quando tu vem com essa de sorte?

― Tá bem! Ele me deu... ― murmurou, envergonhada.

― Coloca um vestido preto. Divide a maquiagem entre preta e branca, vai ficar linda ― aconselhei.

Karen sorriu e, antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ela sumiu, assim como o seu quarto.

Agora eu estava em um tribunal, o homem do meu teste de aptidão olhava para mim, sentado na primeira fileira de várias. Ele levantou-se, apontando para mim.

― Ela me disse que não o conhecia! ― acusou.

Arregalei os olhos, não esperava vê-lo novamente.

― Você o conhece? ― Trudie estava ao meu lado, perguntando e apontando para um homem sentado na cadeira no centro da sala.

― Sim, mas eu não sei de onde ― respondi, não conseguiria mentir para Trudie, por mais que tentasse.

― Então, você mentiu ― seu olhar me censurava.

― Sim, sinto muito por isso ― eu disse, olhando para o homem ― Qual crime cometeu?

― Ele matou toda a família dele ― explicou Trudie, e eu me senti péssima.

Vi dois guardas o levando para fora da sala, ele permanecia impassível.

Eu estava andando pela rua, quando vi Steven erguer uma arma e atirar em uma sem facção. Arfei, afastando-me da rua, em choque. Virei para olhar de novo para o lugar, um cara da Audácia pegou por trás e me viu, aproximando-se com ele para perto de mim.

― Foi ele? ― perguntou.

Senti as lágrimas querendo sair de meus olhos. Eu não podia acreditar no que estava acontecendo.

― Foi ele? ― perguntou novamente.

Eu assenti com a cabeça, mas ele não pareceu satisfeito.

― Diga! ― gritou.

Dei um passo para trás, assustada.

― Sim ― sussurrei.

Eu estava de volta para a sala de vidro, com a visão embaçada.


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