Arborescente escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 3
Capítulo três


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu me inspiro tanto nos filmes quanto nos livros para escrever essa fanfic, então pode ter algumas coisas que sejam do filme em vez do livro.
Afinal, eu gostaria de entender onde a Verônica tava com a cabeça para colocar um queijo para dar pro cachorro. O filme faz bem mais sentido: as carnes lá.



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― Relaxe ― disse uma mulher da Abnegação, enquanto eu tentava me ajeitar na cadeira dura de metal.

― Não é tão simples assim ― murmurei.

Ela aproximou-se com uma agulha enorme nas mãos. Contive um gemido ao ver o tamanho daquilo. Não tinha medo de agulhas, mas aquela era terrorífica.

― Relaxe ― repetiu a mulher, passando um pano úmido em um ponto de meu pescoço  ― Não doerá.

― Sempre dizem isso ― choraminguei, antes da ponta entrar por minha pele.

A mulher sumiu, assim que separou-se de mim. Seguia sentada na cadeira, mas rodeada de espelhos. Levantei-me, levemente confusa. Olhei em volta, só vendo meu reflexo. Quando me virei novamente, a cadeira tinha sumido. Provavelmente, ficaria tonta por tanto dar voltas, mas virei-me novamente.

À minha frente, tinha duas bandejas. Uma com um pedaço de carne e outra com uma faca.

― Escolha ― uma voz disse.

Olhei em volta, mas não vi ninguém.

― Escolha ― a voz insistiu, urgente.

Senti uma sensação de pânico e peguei a carne, apressadamente, sem parar para pensar no quão ridícula foi minha escolha. Mas não iriam pôr algo que me machucasse, certo?

Logo que peguei o pedaço, as bandejas sumiram. Virei-me, sentindo-me observada, e dei de cara com um grande cachorro. Ele aproximou-se de mim, mostrando os seus dentes com ferocidade. Instintivamente, mostrei-lhe o pedaço de carne, erguendo-a na frente de meu rosto, longe o suficiente dele.

Ao ver a comida, ele fechou a boca, mantendo os olhos nela, sentando-se como um cão adestrado. Contive um sorriso, sempre gostei de cães.

― Fique sentado! ― mandei, aproximando-me dele aos poucos.

Ele parecia querer pular, mas manteve-se como estava. Não quis arriscar muito mais, então dei-lhe na boca. O seu dente canino roçou em meu dedo polegar, rasgando a pele levemente. Afastei-me no mesmo momento, mas ele estava ocupado demais para notar.

Não queria saber o que aconteceria quando ele perdesse sua distração, mas esperava que isso criasse uma empatia entre nós. Não tive tempo para descobrir o que aconteceria.

― Cachorrinho! ― ouvi a voz de uma criança gritar.

― Não! ― gritei para ela, procurando-a com o olhar.

O cachorro esqueceu-se da carne, rosnando e correndo para a direção dela. Corri o mais rápido que pude, ultrapassando-o. Joguei-me na frente da criança, ficando vulnerável ao cachorro, uma verdadeira burrice.

Senti o hálito dele em meu pescoço e, então, tudo sumiu ao meu redor. Não senti mais a criança em meus braços e nem o cão por trás de mim. Fui levada para a frente, e entendi que estava em um ônibus.

― Você conhece a este homem? ― perguntou um homem, seu rosto escondido pelo jornal que segurava. a capa mostrando um rosto familiar, para mim ― O conhece?

Sua raiva alertou-me imediatamente. Eu não queria briga e, revelar que o conhecia de algum lugar, pioraria a situação.

― Não ― respondi.

― Mentira! Por favor ― agora ele suplicava, mas não conseguia ver seu rosto, então não sabia se era real ― Ele fez coisas ruins para mim. Você o conhece?

― Já disse que não o conheço ― insisti.

Tudo ao meu redor sumiu, e eu estava novamente sentada na cadeira.

― Muito obrigada ― agradeceu a mulher, recolhendo alguns fios ― Espere pelo seu resultado na sala de espera.

Levantei-me, zonza. Procurei por um sinal em seu rosto, mas ela permanecia impassível, preparando tudo para a chegada do próximo. Fechei a porta silenciosamente atrás de mim. Olhei pelo corredor, mas ele estava vazio e quieto. Segui para a porta de onde entrei, e fui para junto dos meus.

― Como foi? ― perguntei a Austin, ele parecia decididamente pálido.

― Bem ― respondeu ― E você?

― Bem ― repeti, sorrindo fracamente.

― Quantas pessoas você pensam que restam para podermos ir? ― perguntou Eleonore, sentando-se ao meu lado.

― Acho que várias ― respondi.

― Não estou me sentindo muito bem... ― murmurou Austin, mas não era necessário ele dizer isso para perceber.

― Calma! Vai ficar tudo bem! ― disse Eleonore, ajeitando-se para passar a mão nas costas dele.

Com o carinho repentino, ele pulou na cadeira, alerta. Eleonore corou, afastando sua mão, imediatamente.

― Desculpe, estou nervoso ― ele disse, sem olhar para nós.

Olhei para a fileira de cadeiras na frente, estava se esvaziando. A porta não parava de abrir; fosse para as pessoas irem, fosse para elas voltarem.

Depois do que pareceu um século, as pessoas que aplicaram os testes, inclusive a mulher da Abnegação que aplicou o meu, apareceram no espaço entre a fileira de espera e a porta do corredor.

― Diremos os seus resultados em voz alta ― avisou um homem da Erudição ― Cada um de nós dirá o nome dos que testamos.

― Mischa Altreider ― um homem da Abnegação começou ― Franqueza.

― Arley Oppitz ― seguiu uma da Audácia ― Audácia.

Assim, a lista seguiu. Ouvi os nomes de Austin, Soren e Eleonore serem ditos. Só Soren deu Abnegação, mas Austin e Eleonore deram Amizade. Apesar disso, Austin permaneceu olhando para o chão. Teria pensado melhor nisso, se meu nome não tivesse sido chamado.

― Aeryn Mitchell ― a mulher, que me testou, disse ― Amizade.

Soltei um suspiro pela boca aberta. Era um sentimento estranho de conforto e decepção. Eu queria sair da minha própria facção? O resultado já dizia a quem eu pertencia, mas eu tinha o direito de escolher. Todos tinham esse direito, todos podiam escolher na Cerimônia de Escolha.

***

Naquela noite, nenhum garoto ou garota de 16 anos foi obrigado a fazer serviço, fosse nas cozinhas, plantações ou mesmo em suas casas. Aproveitei este tempo em paz para tomar uma chuveirada. Não por calor, mas para ter tempo para pensar, sem que ninguém viesse me incomodar. Infelizmente, a Amizade acreditava em economia de recursos naturais. Portanto, os chuveiros só ficavam ligados por 5 minutos. Mais um motivo para me sentir excluída daquele lugar, eu nunca conseguia terminar a tempo.

― Certo ― murmurei para mim mesma, sem mover um braço para começar a me lavar ― Audácia, Amizade, Erudição, Franqueza e Abnegação...

“Audácia: eu não sou corajosa o suficiente, embora seja impaciente e impulsiva. Abnegação: é muito parecida com a Amizade, e não consigo viver apenas para os outros” comecei a refletir, duas facções foram eliminadas com facilidade. O problema era as três restantes.

Eu não me sentia parte da Amizade. Talvez tivesse uma parte hesitante dentro de mim porque eu tinha nascido lá, peguei algumas características, isso fazia com que a Cerimônia de Escolha fosse difícil para todos.

A Erudição não me desagradava ao todo, a busca pelo conhecimento... E me irritava de verdade quando eu dizia algo e as pessoas não me entendiam, me irritava quando as pessoas eram preguiçosas quanto aos deveres.

Senti o coração bater mais forte. Essa seria a minha facção para o resto de minha vida? Eu escolheria a Erudição? E, então, comecei a imaginar a minha vida e percebi que não poderia estar lá. Eu respondendo errado a uma pergunta, a professora me bronqueando e os meus colegas rindo de mim, debochando. Nunca consegui aguentar a pressão... E sabia que, se não fosse inteligente o suficiente, seria obrigada a trabalhos braçais ou mesmo virar uma sem facção. Nenhuma das duas opções me agradava. Erudição descartada.

Então, percebi que somente uma tinha sobrado.

A água parou de cair, deixando-me com o braço apoiado na parede.

Franqueza.


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