Arborescente escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 25
Capítulo vinte e cinco


Notas iniciais do capítulo

Daqui a pouco chego a 30 capítulos... Senhor!
Capítulo dedicado à LuSweetLu, minha best que resolveu ler a fanfic ♥



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Eu não tinha ideia de como subi naquele telhado, mas o nascer do sol era lindo.

Sabia que teria que voltar em algumas horas, que logo Trudie nos chamaria para aplicar os últimos exercícios do treinamento e explicar sobre a Revelação, mas não queria ir dali.

― Hey!

Olhei rapidamente para o lado, vendo Evan sorrir para mim. Sinto o estômago embrulhar com a visão.

― Como sabia que estava aqui? ― perguntei.

― Dá para te ver, mais ou menos, lá embaixo ― ele explicou, despreocupado.

― Você seria de qual facção, se tivesse escolhido alguma? ― perguntei, como se estivesse em um jogo de verdade com meus colegas de facção, exceto que ele podia mentir.

― Eu nunca parei para pensar nisso ― ele parecia estar sendo sincero ― Acho que não me encaixaria em alguma delas.

― Por que não? ― não me contive.

― Não gosto dessa ideia de paz e amor, dizer a verdade a toda situação, ser o melhor em tudo, arriscar a minha vida ou abrir mão de mim mesmo.

― Todos temos um pouco de cada facção. Alguns mais que outros.

Ele começou a esfregar seu pulso devagar, como se fosse uma ação inconsciente, talvez fosse.

― As facções deveriam ajudar as pessoas a ficarem com quem se identificam ― ele disse, calmamente ― Mas você não pode ter características de outras facções. Ser um sem facção é ser livre...

― E passar fome ― disse, sem pensar.

Evan deu de ombros.

― A Abnegação nos ajuda, os avós de Rachel nos ajudam... Nos viramos bem ― disse, por fim.

― Vocês são completamente diferentes do que pensei que seriam ― confessei ― O meu maior medo era me tornar uma sem facção...

― O que você imaginava que éramos? ― ele pareceu um pouco magoado pelo que eu disse ― Bandidos?

― Não, mas... Vocês vivem em condições precárias ― tentei justificar-me.

― Já disse: temos ajuda. Não somos uns miseráveis.

― Eu não quis dizer isso.

― Mas foi o que disse.

Virei o meu rosto, sentindo o meu rosto queimar, o que significava que eu começaria a chorar a qualquer momento, mordi o lábio, tentando me conter.

Ouvi-o suspirar, deixando a cabeça pender para a frente, de olhos fechados.

― Eu não quero brigar com você. Provavelmente, não nos veremos depois de hoje ― ele disse.

― Do que está falando? ― perguntei, soltando o meu lábio.

― Você vai começar a trabalhar... Vai construir a sua vida ― ele deu de ombros, mas percebi que ele não estava tão despreocupado quanto aparentava.

Quase disse algo, mas preferi manter o silêncio. Meu braço roçou no dele, e fiquei arrepiada.

“São coisas da sua cabeça” pensei “É como a hipocondria, você convence a pessoa de que ela tem algo que não tem, e acaba convencendo-se de que tem”.

― Pelo que aconteceu nos anos anteriores, a Revelação Completa será durante a tarde ― disse Evan, de repente ― Não posso garantir que a sua supervisora não vá fazer algo agora, mas... Eu quero te mostrar que não somos como você pensa.

― Eu não penso mais assim ― retruquei.

― Eu só quero passar essa última manhã contigo ― ele sussurrou, mas eu escutei mesmo assim.

― Por quê? ― fiquei incomodada ― Se nos vimos quatro vezes, foi muito. Por que estamos agindo assim?

― Não tem explicação ― ele negou com a cabeça, o olhar fixo no fraco sol.

― Certo ― disse, impulsivamente ― Mas não posso voltar de tarde, ela vai desconfiar.

― Então, é melhor irmos logo ― ele esboçou um sorriso.

***

Assim que entrei nos prédios abandonados, vi Eleonore e Rachel, conversando e rindo, enquanto separavam latas de comida.

― E Austin? ― perguntei, preocupada.

― Está se adaptando na Abnegação ― disse Evan.

― Então, ele foi mesmo ― declarei, meu olhar fixo nelas.

― Aeryn! ― Eleonore percebeu minha presença, vindo para perto de mim ― Grande dia hoje, hum?

― Acho que todas as facções terminam seus treinamentos após um ou dois meses, não? ― perguntou Rachel, passando a língua no dedo.

― Não pode comer antes de dar aos outros ― Eleonore repreendeu-a.

― Alguém se habituou rápido aqui ― brinquei.

― É tão libertador... Só sinto falta de nossos amigos. E as profissões são meio ruins ― ela deu de ombros, fingindo não dar importância.

― Sempre nos dão as tarefas que o resto da sociedade não quer fazer ― Rachel fez uma careta.

― Pelo menos, temos emprego ― Evan interviu.

Como eu não vinha muito à cidade, somente para o colégio, eu nunca prestei atenção nisso, nos sem facção trabalhando. O ônibus não alcançava a cerca da Amizade, então eu sempre ia e voltava de carona ou coisa do tipo, mas sabia que os sem facções eram motoristas. Parecia uma profissão bem digna, para mim...

― Querem que eu ajude? ― perguntei, esfregando as mãos.

― Só para não se assustar: nós não temos pratos, dividimos as comidas das latas ― Eleonore avisou, voltando para perto da pilha de latas.

― Mas é cada um com uma colher, não? ― perguntei, não entendendo o vexame naquilo.

― Sim! Cada um com sua colher ― Rachel sorriu.

Quando aproximei-me para ajudar Eleonore, pude escutar Rachel sussurrando “gosto dela” e Evan rindo. Abaixei o rosto, para que não vissem a vermelhidão em meu rosto.

― Como você está, Elen? ― perguntei, preocupada.

― Sinto falta de Austin, mas ele está bem ― ela respondeu, sem me olhar ― Quem sabe, um casal não disse me ajudar também. Mas ele é o divergente, então é a prioridade.

Ela falava a palavra tão alto e tranquilo que me fazia perguntar quantos tinham por ali.

― O casal não ia adotar vocês dois? ― perguntei, confusa.

― Convenci-a de que seria incesto ― Rachel disse.

― Não somos parecidos para sermos “gêmeos”, eles disseram que em um ano, quando ele estivesse adaptado... ― murmurou Elen.

― Acho que eles enxergaram que vocês se amam, e que isso não ia dar certo ― expressei minha opinião.

― Talvez ― disse Elen, encerrando o assunto ― E você e Evan?

Olhei para trás, assustada, Evan não estava por perto, por sorte. Rachel começou a gargalhar e engasgar, ao mesmo tempo. Eleonore nos olhava arrependida, percebendo que tinha dito algo que não devia.

― Ah, meu Deus! Desculpe-me ― sussurrou ― Eu jurava que vocês dois...

― Minha mãe também ― disse Rachel, debruçando-se sobre a mesa, para aproximar-se de nós ― Estava dando umas conversas bem constrangedoras...

Eu devia parecer um pimentão, concentrei-me nas latas, enquanto escutava Eleonore gargalhar.

― Não temos muita comida fresca, mas tivemos sorte este mês. Vamos descascar alguns vegetais e colocar nas latas vazias. Vai ser mais fácil ― pronunciou-se Rachel, depois de um tempo, desfazendo o meu constrangimento.

― Certo! Fiz muito isso na Amizade ― gabei-me, indo para o balcão.

― Se quer saber, a sua avó quem trouxe ― Eleonore juntou-se a mim ― E algumas outras pessoas. Argumentaram que é democracia lá, mas não concordam com a decisão, e que nos ajudariam no que precisávamos.

― Então, você os viu ― senti inveja dela.

― Foi bem rápido, mas sim ― respondeu Elen, parecendo não perceber isso.

― Onde aquele viado se meteu? ― escutei Rachel resmungar.

― Ele me traz e me abandona ― brinquei.

― Acho que não queria ouvir conversa de mulher ― Elen deu de ombros ― Eles fogem disso como...

― Os eruditos fogem de nós? ― sugeriu Rachel, parecendo acostumada com isso.

― Os audaciosos são suicidas? ― disse.

― Evan é um ex-suicida ― lembrou-me Rachel.

― Ele não se importaria com isso, não? ― preocupei-me.

― Relaxa! ― ela deu uma piscadela para mim, abrindo uma lata com um abridor.

― As roupas da Amizade ainda tem manchas de terra na saia ― comentou Elen ― Mesmo depois de tanto usarmos...

― Nós não... ― Rachel calou-se, olhando envergonhada para o chão.

Olhando para elas, era como se os prédios abandonados não fossem tão ruins assim. Mas ainda era evidente o nível de pobreza daquele lugar. Eu não me importava com luxos, na Amizade a gente não vivia disso, mas... Era diferente.

Talvez nem tanto.

Todos se ajudavam, como acontecia na Amizade. E passavam pelos piores trabalhos possíveis. Cultivar a terra, dirigir um ônibus, limpar as ruas... Não havia tanta diferença.

Evan queria me mostrar que as coisas não eram tão ruins, mas eu não podia deixar de pensar em outra coisa. As coisas eram estranhas entre nós...

― Não foge não, Evan! ― Rachel gritou, por cima do ombro ― Você traz a garota, e depois larga ela com a gente aqui. Não que eu me importe, mas...

― Só fui conferir uma coisa ― ele apareceu, revirando os olhos.

― Vamos! Hoje você vai tomar café no estilo sem facção ― Rachel brincou, estendendo uma lata e colher para mim.

― Obrigada ― ri, pegando-as.

― Esse mês tivemos sorte, mas é melhor deixar armazenado. O próximo mês pode não ser tão bom... ― murmurou Evan.

― Deixe de ser pessimista, cara! ― reclamou Rachel ― Aproveite! Merecemos um pouco de “luxo”.

Pessoas apareciam de todos os prédios e cantos daquela parte da cidade, reunindo-se em uma roda, e dividindo as latas entre si. Era como uma família, uma enorme família... Tinha crianças correndo de um lado para o outro, adultos segurando crianças de colo, e idosos contando histórias. Todos pareciam conhecer-se pelo nome, e não havia desavenças.

― São nove horas. É melhor vocês irem ― uma mulher ruiva apareceu, dizendo preocupada a Evan.

A mãe de Rachel.

― Nove horas? Uau! ― choquei-me.

― A hora passa mais devagar quando estamos com alguém que gostamos ― Rachel provocou, fazendo sua mãe lhe repreender com o olhar.

― Certo! Já vamos! ― Evan puxou-me rapidamente.

Despedi-me com um aceno das pessoas, a maioria sorria de volta.

O resto da caminhada passou rápido, embora o silêncio fosse torturante, parecia que o assunto tinha acabado completamente.

― A gente se vê por aí ― murmurou Evan.

“Não deve ser tão difícil” pensei.

Então, eu encostei meus lábios nos seus.

Antes que ele dissesse algo, eu entrei pelo hall.

A minha escolha já estava feita.


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