Arborescente escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 23
Capítulo vinte e três


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a lizzie por estar me apoiando tanto com a fanfic ♥



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“Minha vida era um conjunto de momentos entediantes intercalados por momentos ruins”.

Não existia explicação maior para a minha vida.

Voltamos para a mesma sala que Trudie nos mostrou há tempos atrás, o tribunal. Nossa instrutora deixava claro que seríamos meros espectadores e, portanto, não poderíamos atrapalhar, deveríamos nos manter calados. O primeiro impulso de um membro da Franqueza era dizer o que lhe vinha à cabeça, ser sincero, mas a autoridade máxima do tribunal seria o juiz, deveríamos nos manter calados quando ele mandasse.

Karen soltou uma exclamação abafada, olhava fixamente para a cadeira mais alta daquela sala, o lugar do juiz. Onde, pude reconhecer, sua mãe estava sentada, parecendo discutir com alguns advogados. Não sabia que sua mãe ocupava um cargo tão importante na hierarquia judiciária. Isso explicava a paixão dela pela facção, e o conhecimento profundo das leis.

Um bater do martelo poderia condenar um inocente ou libertar um culpado. Era muita responsabilidade.

Trudie nos posicionou nas cadeiras mais longe do centro, onde os espectadores ficavam. Repetiu as recomendações, mas nós não escutávamos mais. Os outros, pela empolgação; eu, pelo receio.

― Demos início ao julgamento ― a senhora Cumming bateu o martelo na mesa, ajeitando os óculos na ponta de seu nariz.

O local permaneceu em silêncio, enquanto a juíza lia as folhas em cima da mesa. De longe, eu pude ver uma das apostilas que Trudie nos fazia resolver. A cada década, a capa tinha uma cor diferente. Aquela apostila era roxa, o que significava que vinha de uns 30 anos atrás.

Eu não conseguia me lembrar a ordem das cores, e me surpreendia com a organização dali. Afinal, quantos anos eles documentavam os casos?

Dirigi meu olhar rapidamente, de novo para a cor da pasta. Roxa. 30 anos atrás. O que um caso de 30 anos tinha relação com o julgamento que seria feito?

― Estranho, não? ― Karen murmurou para mim, parecia ter a mesma linha de pensamentos.

― É de 30 anos? ― perguntei, para confirmar.

― Sim ― ela respondeu ― As amarelas são as mais recentes, as azuis vêm de 10 anos atrás, as roxas são estas, e as vermelhas são de 40 anos.

― Pelo menos, 40 anos de arquivamento ― murmurei, ela não pareceu entender o que eu disse.

O tribunal já estava ficando cheio de sussurros, a juíza deveria ter iniciado após ler as folhas. Ela levantou o olhar, aérea, e logo bateu o martelo novamente.

― Ordem! Ordem! ― ordenou e, aos poucos, o silêncio voltou. Ela fechou a apostila, e ajeitou-se em sua cadeira ― Certo! Primeiramente, tragam a réu Rachel Ward.

Tive certeza que toda a cor em meu rosto tinha desaparecido. Karen engoliu em seco, ao meu lado. Olhando de soslaio, pude perceber Nolan e Jesse arregalarem os olhos, indiscretamente, enquanto Mischa ficava ereta.

― Meu Deus! Fomos cúmplices de uma criminosa... ― gemeu Karen, apertando meu braço com força.

― Deixe de ser dramática ― murmurei, nervosa ― Não sabemos se ela é mesmo uma criminosa.

― Mas ela está sendo julgada!

― Ela é uma sem facção... Qualquer coisa pode ser motivo para uma intimação.

Diante disso, Karen ficou quieta. Ela jamais admitiria que a justiça tinha algumas falhas... Ou melhor, preconceitos.

Rachel entrou sendo escoltada por dois homens, que pareciam ser da Audácia, mas ela não levava algemas. Os homens pararam de caminhar, e ela foi obrigada a continuar, indo para o centro, sozinha.

A mãe de Karen fez um sinal para uma mulher, que aplicou uma agulha no pescoço de Rachel, tão rápida que ela mal poderia se defender.

― Qual é o seu nome? ― perguntou a juíza.

― Vocês sabem o meu nome ― ela resmungou, ofegante.

― É horrível tentar lutar contra o soro ― Karen disse, calmamente ― Causa dor.

Um calafrio percorreu minha espinha ao pensar que passaríamos por isso em poucas semanas, na Revelação Completa.

― Qual é o seu nome? ― repetiu a juíza, imparcial.

― Rachel Ward ― ela soltou, como se estivesse aliviada ao revelar aquilo.

― Quantos anos você tem?

― Dezesseis.

― Você passou pelo teste de aptidão?

― Não.

― Você desertou?

― Não.

― Então, você nasceu sem facção?

― Sim.

Houve murmúrios na sala, a juíza permanecia impassível, analisando Rachel com seus olhos, iguais aos da filha.

Eu gostava da ideia de saber sobre ela, mas não daquela forma, era obrigar a pessoa a dizer. Quando seus olhos pararam em mim, eu congelei. Se Rachel estava ali, a outra pessoa seria Evan. Não era nenhum mistério isso...

― Qual o nome de seus pais? ― a juíza voltou a perguntar, sem se incomodar em bater o martelo.

Rachel não respondeu, e pude notar a rigidez em seu pescoço e uma gota de suor escorrendo de sua testa.

― Laney Wright ― ela murmurou, logo mordendo o lábio com força.

― E o de seu pai? ― insistiu a juíza.

― Dereck Warren ― ela fez uma careta, como se as palavras escapassem de sua boca, sem consentimento.

― Certo... Os dois são sem facção?

― Sim.

― Mas eles nasceram sem facção?

― Não. Minha mãe era da Abnegação. Meu pai, eu não sei...

A juíza demonstrou um leve desconcerto, abrindo discretamente a apostila, e minha ficha caiu.

O caso de desaparecimento dos Wright.

― Sua mãe fugiu da Abnegação, antes de fazer o teste de aptidão. Por livre e espontânea vontade? ― perguntou.

― Ela praticamente foi expulsa de lá ― cuspiu Rachel, seu olhar era feroz.

― Explique-se ― exigiu a juíza.

― Ela nasceu ruiva. E ruivos chamam a atenção. Na Abnegação, não é permitido chamar a atenção. Os governantes fizeram uma votação, e ela se sentiu compelida a sair.

Mais murmúrios, a juíza não hesitou em bater o martelo, parecia impaciente.

― Os pais de Laney Wright registraram desaparecimento ― disse a juíza, parecendo descolocada.

― Para que ninguém suspeitasse ― disse Rachel ― Se a encontrassem entre os sem facção, concluiriam que ela desertou.

― Sabe por que está aqui, não sabe?

Rachel levantou o olhar, negando com a cabeça, mas o soro parecia induzi-la a dizer as respostas, em vez de gesticular.

― Não ― disse, agoniada.

― Os seus negócios, Rachel ― disse a juíza ― O que você vende...

O olhar dela escapou para mim e Karen, que paralisamos. Ela sabia que tínhamos ido atrás dela para bebidas. Por isso estava ali? Como castigo pelo que Karen, sua filha, fez?

― Você já viu alguém que está nessa sala? ― essa pergunta nos deixou mais nervosas ― Do grupo de iniciadas?

― Sim ― disse Rachel.

― Quantos?

Ela olhou para a nossa direção rapidamente.

― Cinco.

Por sorte, ela não pediu nomes, embora a suspeita estivesse evidente. Trudie nos observava, a reprovação evidente, seu olhar fixava mais no trio da antiga Audácia. Os caras que trouxeram Rachel também olhavam divertidos para os três.

― Onde você consegue as bebidas? ― a juíza foi direta, desviando do assunto, mais uma vez.

― Com meus avós ― disse Rachel, rapidamente.

Na Amizade, responder rápido seria um claro sinal de mentira. Mas, pelos sintomas do soro da verdade, parecia que era o contrário, a pessoa era forçada a dizer. Confessar seria livrar-se daquela tortura mais rápido.

― Os que você disse odiar? ― a juíza parecia incrédula.

― Não os odeio ― retrucou ― Mas eles foram injustos com minha mãe. Acho que queriam recompensar-me... Sei lá!

― Então você nunca roubou? ― insistiu.

― Nunca.

A juíza suspirou, parecendo decepcionada.

― Obrigada por sua sinceridade ― disse.

― Obrigada por sua sinceridade ― todos ao nosso redor repetiram.

Karen me acotovelou por não dizer, mas eu não tinha como saber.

Rachel pôs-se de pé ao lado de nossa fileira, em vez de sair, ninguém disse algo sobre isso.

― Tragam o réu Evan Dieter.


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