Arborescente escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 20
Capítulo vinte


Notas iniciais do capítulo

Projeto misterioso concluído haha



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Fingir que nada tinha acontecido seria a pior coisa que teríamos que fazer.

Se estivéssemos em qualquer outra facção, que não fosse a Franqueza.

Reilly correu dos braços paralisados de Mischa, sem se importar com nada, e não podíamos julga-la por isso.

― Reilly! Espere! ― gritei, correndo atrás dela.

Não olhei para trás, ver se Mischa nos seguia, ou coisa do tipo. Eu só queria esquecer o que escutei, eu só queria ter certeza de que Reilly não se mataria... Eu só queria esquecer que aquela noite tinha acontecido.

Ela passou como um raio pela porta do dormitório, indo direto para o banheiro.

― Rey! ― gritei, sem me importar com as pessoas dormindo, tentando abrir a porta trancada do banheiro ― Reilly!

Não importa o quanto ou o quão alto eu gritasse, ela não queria me escutar. Ela não queria me ver. Nem a mim, nem a ninguém.

― Ei! O que aconteceu? ― perguntou Karen.

Ela não parecia estar com sono, parecia estar nos esperando desde que saímos. Olhei para trás dela, e vi Todd na mesma posição. Mischa ainda não tinha nos alcançado, e Nolan e Jesse tinham um sono bem pesado, aparentemente.

― Não me obriguem a falar sobre isso ― murmurei, evitando seus olhares ― Reilly! Abra!

― Inferno! Calem a boca! ― ouvi Steven resmungar.

― Cale a boca você! Não está vendo que é algo sério? ― repreendeu Todd.

― Ele está de olhos fechados ― disse Karen, sem conseguir se conter.

― Não é disso que estou falando  ― disse Todd.

― Deixe-a em paz! Você não vai conseguir nada assim ― disse Karen, com a mão em meu braço ― Onde está Mischa?

― Eu não sei! Ela estava conosco até a praça ― respondi.

― Vou atrás dela ― Todd saiu, sem esperar por uma resposta.

***

― Eu tenho sido complacente demais com vocês. Sair da sede sem a permissão de um instrutor ou líder, é contra as regras. E já transgrediram esta regra duas vezes.

Eu nunca tinha visto Trudie falando tão sério. Não conseguia olhar em seus olhos, ela não mostrava decepção, mas estava cansada. Reilly ficava trancada no dormitório e ninguém conseguia tira-la de lá, acho que termos descoberto o que houve com Petal irritou profundamente a ela. Por não ter sido ela a dar a notícia.

― Só queríamos ajudar... ― Karen murmurou.

― Por que pensam que não queria que elas se encontrassem? Petal estava fraca demais, os médicos tinham poucas esperanças ― disse Trudie ― Eu queria poupa-la.

― E mentiria sobre sua morte? ― ousei perguntar.

― É claro que não o faria ― Trudie defendeu-se, mas não consegui acreditar no que ela dizia, por mais que quisesse.

― Você mesma diz que não há formas de suavizar a verdade ― argumentei.

― Isso não justifica sua saída ― Trudie parecia a ponto de explodir ― Quem deu a ideia?

― Mischa ― disse Todd.

― Chame-a, quero conversar com ela ― pediu Trudie, virando-se.

Pensei em perguntar o que aconteceria conosco, mas resolvi ficar calada.

― A verdade deveria existir para ajudar as pessoas, não machucá-las ― murmurei, sentada em um pufe da sala de estar ― Eu nunca pensei que fosse tão difícil ser da Franqueza.

― Aeryn, você não está pensando em desistir, certo? ― Karen perguntou, alarmada.

― É claro que não! ― respondi ― Eu só queria... Entender.

Fiquei em silêncio por um tempo, antes de voltar a pensar em voz alta.

― Ela deveria encorajar a Mischa a contar a verdade, não aceitar a fofoca do Todd.

― Todd disse a verdade! ― defendeu-o Karen.

― Sim, mas Mischa não. E nem sempre as fofocas são verdade...

― Você deveria parar de tentar entender, e simplesmente aceitar. As coisas sempre foram assim e sempre serão.

― Eu já ouvi falar que a Audácia era uma facção completamente diferente da que é hoje em dia. As coisas mudam, sim.

― O valor da Franqueza nunca será deturpado.

Mischa entrou na sala, jogando-se em uma cadeira.

― O que ela te fez? ― perguntei.

― Deu aquele sermão... ― ela não parecia se preocupar ― Disse que fez vista grossa conosco porque gostava de nós, e tal...

― Hoje vai ser decretado dia de luto pela Petal ― disse Karen.

― Como as coisas são aqui? ― perguntou Mischa.

― Não tenho a menor ideia ― Karen deu de ombros ― As pessoas não mentem, não guardam sentimentos para si, então elas não se suicidam ou coisa do tipo.

― Petal não se suicidou! ― protestei.

― Eu sei ― Karen disse ― O que quero dizer é que não temos muitas doenças e tudo isso... Mortes acontecem por velhice ou acidentes. Os parentes quem cuidam do luto e essas coisas. Não declaramos dia de luto a cada morte que acontece, e na minha família isso nunca aconteceu.

― Entendi ― respondeu Mischa.

― Eles devem fazer uma homenagem a ela... ― supôs Karen.

Mischa suspirou, e levantou-se.

― Vou fazer as coisas do meu jeito ― disse, antes de sair.

― Bebidas? ― perguntou Karen.

― Bebidas ― confirmei.

***

Eu não prestei atenção em uma palavra que o líder da Franqueza disse, pude notar que havia um representante da Erudição ali, e a família de Petal estava lá também.

Eu não tinha derramado uma lágrima desde a notícia que Reilly deu, na noite anterior. Sentia-me péssima por isso, mas, talvez, eu ainda não tivesse me tocado de que Petal não voltaria.

Senti que o ar estava claustrofóbico demais, e afastei-me daquela multidão de pessoas, que sequer conheciam-na direito para poder ficar ali, lamentando por sua morte.

Encontrei Mischa com Nolan e Jesse, os três bêbados, perto da porta de entrada no hall. Ignorei-os e fui para o lado de fora, mesmo sabendo que Trudie poderia me punir por isso, acreditava que a paciência dela já estava se esgotando. Eu não podia evitar, aquele ar fresco todo, a praça me chamava a atenção. Se tivesse alguma praça dentro da sede, certamente eu não sairia tanto.

Sentei-me em um dos bancos, sentindo o vento forte em meu rosto. Talvez chovesse, isso seria bem adequado ao momento. Eu só iria chorar quando tudo estivesse, realmente, desmoronando em cima de mim. E isso nunca era algo bonito de se ver.

― Aeryn Mitchell.

Evan, o sem facção, me encarava. Ele estava com roupas inteiramente da Abnegação, talvez para não chamar a atenção. Novamente, perguntei-me qual era sua história e, principalmente, de qual facção teria vindo.

― Você é uma garota difícil de encontrar ― ele disse, olhando para as paredes de vidro da Franqueza.

― O que quer? ― perguntei.

― Tem duas pessoas que querem te ver ― ele virou de costas.

Amaldiçoei a todas as pessoas que não podiam ser um pouco mais claras. Ao mesmo tempo, amaldiçoei a mim mesma por ser tão curiosa, e ter seguido Evan, sem pensar nas possíveis consequências.


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