Arborescente escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 11
Capítulo onze




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/673569/chapter/11

― Fala sobre a sua família ― Reilly deu de ombros, sem saber o que perguntar.

― Ela deve estar morrendo de saudade deles, e você a pergunta desse assunto ― repreendeu Mischa.

― Se ela falar, talvez se sinta mais próxima deles ― Karen disse, dando de ombros.

― “Ela” está aqui ― reclamei.

Karen esticou a mão e derrubou a pasta que eu segurava.

― Descansar ― ela disse ― Sabe o que isso significa?

― Ser interrogada? ― brinquei.

― Você pegou rápido o espírito da Franqueza ― observou Reilly ― Ainda mais sendo da Amizade.

― Os da Abnegação acham que somos mal educados por falar o que pensamos ― Karen revirou os olhos.

― São muito pendentes aos outros ― disse Petal.

― Eu não sei o que dizer... ― disse, dando de ombros ― Meu pai é agricultor, minha mãe é pintora. Ela vai para a cidade volta e meia, vender os quadros dela para a Erudição.

― A arte deve ser apreciada ― concordou Petal ― Embora nós prefiramos comprar do que pintar...

― Só de comprarem já ajudam a minha mãe e outros da Amizade ― eu disse ― Deixe-me ver... A minha tia por parte de pai vem com ela normalmente.

― Por que? Pintora também? ― perguntou Karen.

― Não, ela tem problemas para engravidar, eu acho ― respondi.

― Eu nunca vi algo como isso ― confessou Petal, com o cenho franzido.

― Parece que é bem raro ― eu disse ― Então, ela vem sempre para tentar encontrar um jeito de conseguir.

― É muito raro ver um casal sem ter ao menos um filho ― disse Reilly ― Quero dizer, a sociedade segue por causa disso.

― Mas, se um casal tivesse apenas um filho, seria uma desvantagem ― disse Petal ― Tipo, duas pessoas criando apenas uma. Teria de ser ao menos duas para poder repor.

― Então, você não tem irmãos nem primos? ― perguntou Karen ― Que solidão!

― Pois é... ― eu disse.

― Reilly já perguntou, agora é a Petal ― declarou Karen, apontando o dedo para ela.

― Hum... ― ela murmurou, tentando pensar em algo ― Conte sobre o seu teste de aptidão.

― Eruditos ― murmurou Mischa, revirando os olhos.

― O que quer saber? ― perguntei.

― Rapidinho! ― interrompeu Reilly― Sabiam que teve uma pessoa que surtou com a injeção? Ela tinha fobia!

― Deve ser a Elspeth ― zoou Karen, e todas rimos.

― E aí? ― perguntei, curiosa.

― Bem, tiveram que segurá-la para poder aplicar. Tenho a pequena sensação de que não vai ser mais uma agulha nos próximos anos ― disse Reilly, dando de ombros.

― Sorte dos próximos... Nós tivemos que aguentar aquela picada ― lamentou Karen, fazendo bico.

Ficamos em silêncio por um tempo, até nos lembrarmos do que fazíamos.

― Tudo ― Petal deu de ombros ― O que apareceu, as suas escolhas e o resultado que deu...

― Você pode me ajudar! ― quase gritei, e recebi olhares estranhos delas ― Eu estou super em dúvida desde que o teste aconteceu... Quero dizer, eu dei Amizade, mas como isso pode ser?

― Calma! ― Karen tentou me acalmar e puxou meu braço, já que eu tinha me levantado repentinamente ― Conta o que aconteceu primeiro...

― Tá bem ― concordei ― Tinha uma mesa com um pedaço de carne e faca. Uma voz pediu para eu escolher e, sem pensar, eu peguei a carne.

― Eliminando a Audácia ― disse Petal.

― O que? ― perguntou Mischa, virando-se para ela.

― Cada etapa do teste elimina uma facção, de acordo com suas escolhas ― explicou Petal ― Você escolheu não usar a faca, então foi descartada a Audácia e deu mais força para a Amizade. É um conceito um pouco complicado...

― Certo ― interrompi ― Eu dei a carne para o cachorro que apareceu. Então, uma garotinha apareceu e o cão correu atrás dela. Eu me joguei na frente dele, fazendo um escudo entre eles.

― Eliminada Erudição. Não foi uma escolha nem um pouco inteligente ― Petal debochou, mesmo não tendo intenção ― Você podia tê-lo distraído.

― Continue ― pediu Karen, ignorando a garota completamente.

― Eu apareci em um ônibus ― tentei lembrar-me ― Tinha um cara segurando um jornal.

A cena da simulação de mais cedo veio à minha cabeça, o homem me acusando.

― Ele perguntou se eu conhecia o cara, e eu sentia que o conhecia, mas eu... ― fiquei incômoda para continuar ― Eu menti. Disse que não.

― Descartou Franqueza ― disse Petal, mesmo sem ser necessário.

― Ele insistiu, disse que corria perigo ou coisa do tipo. Eu não... Eu continuei negando ― terminei.

― Descartou Abnegação ― concluiu Petal.

― Quem aqui mentiu para o homem? ― perguntou Karen, um pouco perturbada.

Todas, exceto ela, levantamos a mão. Ela bufou, cruzando os braços.

― Você não entende ― disse Mischa, negando com a cabeça ― Tinha algo muito estranho com aquele cara. Ele... Parecia que nos mataria se contássemos a verdade.

― Isso não é verdade! ― protestou Karen ― Ele sorriu para mim.

Olhamos para ela, incapazes de acreditar que aquele homem poderia sorrir para alguma de nós.

― É sério! ― ela exclamou.

― Não importa. Depois da Revelação Completa, não teremos que desconfiar umas das outras ― disse Petal.

― Revelação Completa? ― perguntei.

― Do manifesto da Franqueza ― ela explicou.

― “A vida adulta será definida como um tempo em que cada membro da sociedade será capaz de lidar com os piores segredos uns dos outros e, como qualquer outra pessoa, cada membro será submetido à Revelação Completa, em que cada parte de sua vida será exposta aos seus companheiros” ― Karen começou a recitar, em uma só respiração. Parou tempo suficiente para recuperar o ar e finalizar ― “Eles, também, verão cada segredo da vida dos outros membros. Dessa forma lidaremos com os segredos uns com os outros. Dessa forma seremos unidos”.

― A quinta fase que Holden disse ― disse Reilly.

― Certo! ― exclamou Karen, batendo as palmas uma vez, para chamar nossa atenção dispersa ― Reilly e Petal já foram. Sua vez, Mischa.

― Dispenso ― ela deu de ombros.

― Ei! Vamos lá! ― pediu Karen ― Todas perguntaremos a todas. Aproveitem a oportunidade!

― E quando todas formos interrogadas? Acabou? ― perguntei.

― Fazemos de novo! ― disse Karen ― Será mais fácil para vocês formularem perguntas, com o tempo. Conforme vamos nos conhecendo...

― Você já teve alguma queda por alguém? ― perguntou Mischa, por fim.

― Eu não sei. Quero dizer, eu achava alguns garotos bonitos, mas sentir o que os livros dizem... Eu acho que não ― respondi, tentando me lembrar.

― Os livros podem ser exagerados ― disse Petal.

― Não acredita no amor? ― Mischa perguntou a Petal.

― Ela acha que devemos procriara para completar a sociedade ― disse Reilly, como se isso respondesse a pergunta.

― Ela foi criada para acreditar nisso ― Karen defendeu-a.

Mischa apenas bufou. Pensei que Karen ia dizer algo sobre guardar perguntas para quando interrogássemos Petal, mas ela apenas se virou para mim.

― Por que escolheu a Franqueza? ― perguntou. Provavelmente, ainda ressentida por eu ter mentido ao “pobre” homem do ônibus.

― São várias razões ― desabafei ― Quando eu era menor, era mais uma questão de profissão que eu iria seguir para a minha vida. Audácia e Abnegação nunca foram uma possibilidade.

― Mas Erudição sim? ― perguntou Petal, surpresa.

― Eu quis ser professora e médica, em tempos diferentes. Só os da Erudição podem ― sorri fracamente ― Então, quis ser pintora, musicista e cantora, profissões da Amizade. Meus pais tinham certeza que eu ficaria por lá.

― O que mudou? ― perguntou Reilly.

― Eu me senti mais identificada com a Franqueza ― dei de ombros ― A liberdade de poder falar o que eu quiser, ajudar as pessoas, fazer justiça... Não viver com a corda no pescoço, controlando tudo o que sinto em nome da paz... Eu me cansei.

Sentia um grande peso sendo tirado de meus ombros ao falar tudo aquilo, era como se Karen tivesse adivinhado e perguntado, para que eu pudesse me livrar.

Naquele pequeno jogo, que não devia ter durado sequer 15 minutos, eu fiquei mais próxima delas do que estive nos outros dias.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Arborescente" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.