Arborescente escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 1
Capítulo um


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada a Coffee e Kermillian, por terem me alertado dos erros que deixei passar (mania de não querer revisar o texto...), além de terem me apoiado enquanto escrevia.
Essa fanfic, basicamente, é dedicada a vocês, suas lindas ♥



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Eu abri os meus olhos. Estava em uma sala, até então, desconhecida para mim. Pelos espelhos ao redor, a cadeira de metal (onde estava sentada) e o monitor ao lado, supus que se tratava de uma das salas usadas para os testes de aptidão.

Entretanto, tinha algo que não se encaixava. Como eu tinha parado ali? Estive tão nervosa que, sequer, lembrava do começo daquele dia? Ou o teste fazia com que esquecêssemos da nossa vida para, assim, a troca de facções fosse menos dolorosa?

A porta da frente se abriu e uma mulher, que nunca vi na vida, entrou por ela; segurava uma prancheta. Tentei me levantar, então percebi que minhas mãos e pés estavam amarrados na cadeira. O teste era tão doloroso a ponto de precisarem deste método?

A mulher observou meus movimentos atentamente, como se estivesse me estudando, sem sentimentos em seu olhar.

― Vamos ao resultado de seus testes ― disse, desviando o olhar para a folha em branco em cima da prancheta.

O que ela veria em uma folha branca? Por que meus resultados seriam divulgados em privado? Eles sempre faziam uma lista e divulgavam do lado de fora do corredor. Eu nunca participei disto antes, nem tive irmãos que participassem, mas já ouvi falar sobre algumas coisas. Apenas coisas, nada sobre o que teria que enfrentar no teste.

― Sem facção ― ela disse, dando um sorriso.

― O quê? ― consegui fazer a minha voz sair, embora ela parecesse estranha para mim ― Deve haver algum engano.

Eu sabia que era impossível haver enganos com aquela máquina, mas olhei para o monitor, esperando algum sinal de que estivesse quebrado. Então vi um reflexo nos espelhos que me rodeavam, eram os meus pais me olhando acusatoriamente.

― Sem facção.

― Sem facção.

― Sem facção.

Levou apenas um segundo para eu perceber que não estava mais sentada, mas, sim, deitada sobre um tecido. Levantei-me rapidamente, abrindo os olhos no ato. Demorou um pouco para que eu entendesse que aquilo tinha sido apenas um pesadelo, que eu estava deitada na rede de casa, a salvo.

O raios de sol batiam diretamente em meu rosto. Olhei para baixo e vi um livro caído. Devia ter caído no sono enquanto lia, tentando dispersar meus pensamentos do teste de aptidão; coisa que, claramente, não deu muito certo.

― Aeryn, o que faz aí fora? ― a voz de minha mãe soou pela janela aberta ― Venha se trocar!

Deixei escapar um gemido, antes de me ajeitar na rede, algo um pouco difícil por conta da saia longa. Eu era muito baixa, a prova disso era o elástico que ia até embaixo de meus seios, mas uma das regras da Amizade era usar roupas confortáveis, e aquela saia era bem confortável para mim, apesar das escorregadas da barra e dos meus tropeços ocasionais.

Desci para os chuveiros e tomei um banho gelado, a única temperatura, na realidade. Seria loucura instalar aquecedores quando a Amizade passava a maior parte do tempo morrendo de calor. Troquei a saia amarela por uma verde, e a regata vermelha por uma laranja. Eram as únicas cores que podíamos usar. Cada facção tinha as suas, mas a Amizade era a que tinha mais variedade. A minha bota marrom era minha única companheira, nós não tínhamos muitas opções de calçados, por trabalhar no campo. As bainhas das saias eram sujas de terra, apesar de terem sido lavadas tantas vezes.

Quando desci as escadas, entendi porque minha mãe tinha parado de me chamar: ela já tinha ido. Peguei a minha mochila e apressei-me para o refeitório. Onde comíamos era ao ar livre; desagradável no verão, por causa das moscas.

A fazenda era um lugar agradável para se viver; havia paz, a principal característica de nossa facção. Infelizmente, havia algo dentro de mim que dizia que aquele não era o meu lugar, e esse pensamento cresceu durante as últimas semanas, com a aproximação do teste.

Peguei a bandeja e caminhei junto com a fila, pedindo o que queria comer e sendo servida pelos voluntários. Assim que já tinha meu café da manhã, procurei meus pais pela multidão e me juntei a eles, assim que consegui encontrá-los.

― Dorminhoca ― riu meu pai, levantando-se para me dar um abraço.

― Deve estar nervosa com o teste de aptidão ― disse a minha mãe ― Mas não se preocupe, querida, vai dar tudo certo.

Pensei em lhes contar o meu pesadelo, mas era um medo idiota. Cada fase do teste existia para eliminar uma facção, seria impossível serem eliminadas todas. Ou não? Decidi não pensar aquilo por ora, me concentrando em minha tangerina.

― Não quis comer o pão? ― perguntou meu pai. Seu tom de voz sugeria casualidade, mas o cenho franzido mostrava preocupação.

― Não estou com tanta fome ― respondi, sem entender a sua reação ― Quem vai dar carona hoje?

― Nicholas se ofereceu ― respondeu minha mãe ― Não se esqueça da sua identidade. Sem ela...

― Eu sei! Preciso dela para voltar ― disse, revirando os olhos.

Terminei de comer, me despedi dos meus pais com um abraço e fui caminhando junto com alguns outros garotos da minha idade, esperando pela passagem da caminhonete de Nicholas.

Nossa comunidade era afastada das outras, e isso era um empecilho para, por exemplo, ir ao colégio, que dividíamos com as outras facções. Ele não era tão longe, mas estava do outro lado do muro. Por isso, algumas pessoas se ofereciam para nos levar. Carros eram raros naqueles dias, mas nós precisávamos deles. De qualquer forma, o modelo mais famoso por ali era a caminhonete, bem mais espaçosa e resistente à terra do que os mais atuais designados pela Erudição.

Paramos de caminhar próximos à estrada de terra que se estendia até a barreira, que nos separava da cidade de Chicago. Nicholas não demorou a nos alcançar, dentro de seu tão amado transporte.

― Quem vem na frente? ― perguntou, abrindo a porta sem grandes dificuldades, já que não tinha tranca. Quando se vive na Amizade, ninguém se preocupa de ter algo roubado.

― Eu passo ― disse, trocando um olhar com os meus colegas.

Assim que disse isso, apoiei-me na cerca, que nos impedia de cair dali de trás, e peguei impulso para subir, tentando não deixar a minha saia subir demais e expor coisas que não se deve expor. Sentei-me no banco improvisado e os outros logo me seguiram, sendo Soren obrigado a sentar-se ao lado do motorista.

Não era preconceito com ele, nós gostávamos muito dele, mas sentar-se atrás era mais emocionante. Sentir o vento nos cabelos, o cheiro das plantações, ter a visão da enorme fazenda onde morávamos... Era algo insubstituível, e me fazia esquecer do embrulho no meu estômago por andar de carro.

― Então... Está chegando, né? ― Austin tentou puxar assunto, e eu entendi que ele se referia ao teste.

― Pois é... ― murmurei.

O assunto não se estendeu para além disso. Era patético isso estar acontecendo, éramos da facção da amizade, mas mal conseguíamos manter uma conversa. O problema era que o teste de aptidão estava bem fresco em nossas memórias, embora ainda não tivesse acontecido. Apostaria que não tinha sido a única a ter pesadelos...

Quando o silêncio se tornou insuportável demais para ser sustentado, Eleonore começou a cantar uma música acústica. A letra me lembrou das noites em que passávamos todos em volta da fogueira, cantando e dançando. Noites que, agora, eram distantes para nós. Embora fingíssemos muito bem, ninguém estava no clima para isso.

A caminhonete parou por um momento, e não foi preciso olhar por cima do teto para saber o que tinha acontecido. Era apenas a verificação que os membros da Audácia faziam todas as vezes que saíamos e entrávamos na cidade, algo desnecessário. As portas foram abertas e Nicholas voltou a dirigir na velocidade em que estávamos antes, agora não demoraria muito para chegarmos ao colégio.

Olhei para as portas se fechando novamente, a tranca invisível para os desse lado, talvez para evitar fugas. As paredes que nos dividiam eram grandes, mas não maiores que as que cercavam toda Chicago. O que tinha do outro lado? Mais uma cidade dividida por facções? Ou não tinha nada além da nossa cidade?

Não fiquei perdida em pensamentos por muito tempo, Eleonore parou de cantar, assim que alcançamos a rua do colégio. Ela o fazia muito bem, mas pensava que isso perturbava a paz das pessoas de outras facções, algo inaceitável para a nossa.

Como fui a primeira a entrar, fui a última a sair. Austin me ajudou a descer, e eu dei-lhe um abraço de agradecimento, antes de seguirmos até o edifício.

― Obrigada, Nick ― agradeceu Eleonore, antes que a nossa carona seguisse caminho.

Às vezes eu sentia falta de ter algum irmão. Na Amizade, éramos todos como irmãos, mas não era a mesma coisa. Seria um peso a menos em meus ombros, considerando que, se eu escolhesse outra facção, ele poderia escolher a Amizade. E, então, eu não me sentiria tão culpada, e meus pais não estariam tão sós. Mas, é claro, tinha a opção de ele tomar outra decisão...

― Tem aula de que agora? ― perguntou Soren.

― História das Facções ― respondi sem precisar olhar meus horários.

― Boa sorte ― disse Austin.

Nenhum deles me acompanhava nessa, então eu segui pelo corredor sozinha.


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