Capítulo DEZESSETE

Chegar Chegando

Ψ Annabeth Ψ

Pela manhã os exercícios entre os chalés estavam a toda novamente. A arena de treinamento estava tendo mais confrontos como o que eu e a caçadora tivéssemos. Um filho de Apolo estava lutando com uma filha de Afrodite. Você pode até pensar que a filha de Afrodite já perdeu, mas as filhas de Afrodite são cheias de truques. E os filhos de Apolo são os mais suscetíveis ao charme delas. A minha atenção estava apenas parcialmente nisso.

Eu estava muito ocupada seguindo o meu surfista com os olhos. Ah! Quando ele balançou a cabeça para tirar uma mexa de cabelo que estava sobre os olhos, eu pude até sentir cheiro dele, mesmo ele estando a uma boa distancia de mim. Ele não falou comigo hoje. E quando eu fui procurar por ele ou eu não consegui encontrá-lo ou ele estava ocupado demais com outros campistas para reparar em mim. Eu estou com a sensação de que ele está me evitando. Tudo bem eu mereço isso, mas isso não quer dizer que eu goste disso.

Luke puxou assunto comigo na hora do almoço, mas eu estava ocupada demais tentando chamar a atenção do meu surfista para dar atenção a ele. É. Talvez eu esteja evitando Luke. Assim como o Percy está me evitando. E sim, talvez seja meio tarde para isso porque eu já fiquei com um na frente do outro e tals. Mas oras! O senhor Perseu é um deus! Eu nem preciso dizer mais nada sobre isso. Ok. Então porque eu ainda estou me sentindo péssima?

Ah, claro. Talvez seja porque a Thalia está fingindo que eu não existo? Ela passa por mim como se não pudesse me ver, como se eu fosse um fantasma ou como se a névoa tivesse me escondido. Quando eu vi o meu surfista me evitando eu pensei que era a pior coisa que podia me acontecer, até eu esbarrar com a Thalia e ela xingar uma pedra por fazê-la tropeçar. Como se eu literalmente não existisse. Mas também não é isso o pior de tudo, porque eu também mereço isso por catar o cara que ela é afim.

O maior problema de todos é a Della. Essa criatura pode ser muito chata quando quer. E mais chata ainda quando tem razão.

Eu tive que agüentá-la passando na minha cara o "tipo de amiga que eu sou", o "tipo de ficante que eu sou", o "tipo de filha de Atena que eu sou" e coisas do tipo. Além disso o clima está bem tenso entre a Della e a Lizzie. Tudo o que a Lizzie fala a Della dá uma cortada grosseira e genial ao mesmo tempo nela. E quando eu perguntei qual era o problema a Della me deu o mesmo tipo de resposta curta e grossa que estava dirigindo à Lizzie mais uma doze de o "tipo de irmã que eu sou" que me deu vontade de me esconder no meu quarto.

O dia estava caminhando para aqueles que entrariam para a minha vida como um dos dias mais chatos de todos. Ele provavelmente entraria se não fosse por uma visitinha inesperada, ou talvez eu devesse de chamar de "susto digno de Hades!" quando eu voltava sozinha e deprimida para o meu chalé depois do jantar sem ter animo para as fogueiras.

Um vulto saiu diretamente das sombras e eu teria gritado, saído correndo ou simplesmente sacado minha faca se eu não estivesse tão deprimida para fazer outra coisa além de querer abraçar o meu travesseiro.

- Annabeth Chase?

Eu olhei para onde o vulto tinha saído e reconheci o garoto que tinha interrompido o primeiro amasso que eu e Percy tínhamos dado na floresta. Suspirei com a lembrança.

- Você é Nico, não é? O deus da tortura?

- Eu mesmo – ele abriu um sorriso enorme como para me dizer que se orgulhava muito disso. E depois o seu sorriso murchou. – Ah... Eu posso falar com você por um instante? É sobre a Della.

Ow. Será que ela deu uma corada nele também?

- Ãn, claro.

- Ótimo.

Eu fiquei esperando ele começar a falar, ou me levar para outro lugar para não sermos interrompidos, mas ele apenas continuou me encarando e se balançando sobre os próprios pés. Eu levantei uma sobrancelha para ele se tocar. Ele corou, pigarreou e disse em um fôlego só:

– Então. Eu meio que estou querendo conhecer melhor a sua irmã, mas ela parece ser um pouco fria e calculista, como todos os filhos de Atena. Não que eu esteja te ofendendo claro, é apenas a verdade. Não que isso também seja uma ofensa, sinceramente. Eu quero chamá-la para sair, para darmos uma volta. Qualquer coisa! Mas eu não sei bem como fazer isso então eu pensei que nós poderíamos trocar algumas dicas. Eu sei que você não deve estar tendo muita facilidade com o Percy, o cara muda de uma hora para outra. Com o tempo você acostuma, mas mesmo assim achei que talvez você quisesse uma ajuda com ele assim como eu quero com a Della e... É isso.

Ok. Preciso de um minuto para deliberações.

A Della tem um admirador secreto? O cara é louco.

Nico, o deus da tortura gosta da Della? Só podia ser masoquista.

Um cara está me pedindo ajuda com a Della? Bem compreensível, a garota não é normal.

Nico, um dos melhores amigos do Percy, está me oferecendo ajuda com o meu surfista? Uau.

Uau. Meeesmo.

- Chega nela e a chama para sair.

- O quê?

- Chega chegando. Aí está a sua oportunidade.

- O quê? – a voz dele estava histérica. Por um instante eu achei que ele iria sumir em fumaça, mas ele é o deus da tortura e sado masoquista. É claro que ele não vai fugir.

- Annabeth. – disse Della me encarando de uma forma que me fez sentir frio até na alma. Ow. Ela gosta do cara também. Será que ele já falou com ela? Porque ela parece estar bem irritada por eu estar no escuro com ele. – Por que você saiu sem comer?

- Eu estou sem fome.

- Tem certeza? Você parece estar insaciável nos últimos dias. – eu corei porque notei que ela não estava falando de comida, mas sim do Luke. E agora do Nico. Acho que Nico deve ter percebido a tensão, apesar de achar que ele não devia saber a origem da tensão, porque ele disse:

- Uhm, oi Della.

- Oi. – ela respondeu ainda me encarando.

- Você quer dar uma volta na praia comigo?

Della finalmente tirou o olhar de mim e encarou o Nico. Eu senti que meu corpo tinha ficado frio. Muito frio. Eu estava tremendo. A brisa parecia estar muito quente na minha pele.

- Claro. – ela respondeu depois de um minuto de deliberação e com um sorriso enorme. Ela segurou a mão dele e puxou-o para a praia e saiu sem olhar para mim.

Nico me olhou por cima do obro e disse na minha cabeça: "Chega chegando no Percy. Aí está a sua oportunidade."

Eu queria pelo menos falar um "o quê?" histérico mas ele e a Della já tinham saído de vista. E qualquer motivação se perdeu quando o meu surfista entrou em foco.

Ele estava de chinelos de couro, bermuda jeans, e uma camiseta verde. Ele caminhava distraidamente em direção ao chalé de Poseidon. Bem estranho um deus ficar no chalé de outro, mas eu não estava nem aí. Eu só queria bater nele por ter me ignorado o dia todo. Queria que ele brigasse comigo por eu ter ficado com o Luke. E mais do que tudo: eu queria beijá-lo, beijá-lo e beijá-lo mais um pouco.

Ele entrou no chalé e fechou a porta atrás de si. Eu caminhei às cegas até o chalé três e entrei sem bater. Eu poderia ter entrado em combustão instantânea se eu já não estivesse.

O meu surfista estava de pá no meio do chalé me encarando. Ele sabia o porquê de eu estar aqui. Talvez ele não estivesse tão distraído vindo para cá quanto e achei que ele estava.

A minha boca estava seca, eu umedeci os lábios com a língua e vi os olhos dele acompanharem o movimento. Eu não sabia o que eu estava esperando para pular nele até que ele abriu os braços para mim. Eu queria muito o Percy. Mas eu queria ainda mais que ele também me quisesse.

O beijo foi calmo. O beijo mais calmo que nós já tivemos até hoje. Nós nos deitamos em uma das camas apenas para ficarmos nos beijando enquanto eu me desculpava entre um beijo e outro. Minhas desculpas saiam em suspiros. Eu dormi nos braços dele enquanto ele passava as mãos pelos meus cabelos extremamente ciente de que para mim esta relação estava passando de uma atração física para uma atração emocional.