Egoísta escrita por Mi, Shauna


Capítulo 2
II - Chocolate, não você.




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Eu estou me segurando, você não sabe o quanto isso é difícil.

II

E novamente eu não consegui dormir. Tentei pensar em chocolate, jujuba, pudim, ou qualquer outra maravilha que o universo nos proporcionou, mas não! Nada funciona! Dessa vez, eu acordei antes do despertador. Entrei no chuveiro gelado e fiquei ali, por um bom tempo. Minha mãe com certeza reclamaria depois.

Sai do chuveiro, coloquei meu uniforme mas não penteei o cabelo. Meu rosto deve estar horrível. Me olhei no espelho. Por que sou tão branco? Isso é muito sem graça. Definitivamente, sem graça. Preciso de um bronze, mas não é tão fácil assim. Eu vou na praia e tudo que eu ganho é um rosto vermelho.

Desci as escadas correndo e a Isa já estava lá, conversando com a minha mãe.

— Acordou, bela adormecida? — Ela provocou, minha mãe deu risada.

 — Acordei, ogra! — A Isa é minha amiga. Estava viajando no feriado, aí resolveu faltar na segunda porque ela quis e a mãe dela é legal.

— Vamos? — Chamei. 

— Não vão não. — Minha mãe protestou. — Da última vez você se atrasou e não comeu nada. Pode sentar. Eu estou de saída, vou resolver umas coisas. Até mais tarde querida.

Resolver umas coisas = Ato de ir na casa da vizinha fofocar.

Minha mãe chama os filhos dos outros de ''Querido'' mas me chama pelo nome?!  Babação de ovo.

— E aí? O que eu perdi? — A morena olhou para mim, com seus olhos brilhantes. Deveria ser lindo, mas na verdade, ela quer saber do Daniel.

— Ele tá namorando. — Sorri e ela bufou.

— Droga. Perdi minhas chances. — Fez biquinho. Quem vê pensa que ela é uma garota completamente apaixonada... não. Ela é uma pegadora. Negra, olhos grandes que parecem duas jabuticabas, com essa corpo escultural aí. Nunca pensei que veria alguém mais magro que eu, mas... Ela é do mesmo tipo daquele idiota do Daniel. Delinquente. 

— Vamos logo. — Puxei ela para fora de casa se não ela ficaria ali, roubando todas as comidas da geladeira. Quando saímos de lá, depois de alguns passos, alguém pulou nas minhas costas, me fazendo cair.

— Ahh! — Daniel. — Eu queria vir buscar você... por que resolveu acordar cedo?

Ele consegue me deixar nessas situações constrangedoras...

— Sai de cima de mim!! Quer morrer?

Nós dois levantamos. Ele deu risada.

— E aí, Isabela. — Falou com ela e depois voltou sua atenção para mim. — Vamos, bebê? A Elisa tá esperando na frente da escola.

Ah sim. Tem ela. Caminhamos até a escola, com ele falando bobagem e ela rindo igual uma hiena com problemas. Mal chegamos no portão e a garota voou em cima do Daniel.

— Amooor! — Cantarolou, com a sua voz fina.

— E aí. — Sorriu em resposta. Só que seu sorriso não é o mesmo de antes, é tão fraco. Deve ser impressão.

— Amiga do amiguinho do meu amor. — Ela estendeu a mão para a Isa, que olhava para ela como eu olho para um fígado de bife. Eu odeio isso.

— Amiga do melhor amigo do seu amor. — Ela corrigiu, e a cumprimentou.

Esqueci de falar pra Isa que ela não pode arrumar confusão tão cedo. Ops. 

— Na verdade, eu sou tanto a namorada quanto a melhor amiga dele, então ele não pode ter nenhum outro ''melhor'', se não essa palavra perderia o significado. — Ela continuou falando e sorrindo, com aquela voz docemente irritante.

Eu vou dar o meu melhor soco na cara dela. — Isa sussurrou no meu ouvido, mas deve ter dado pra ela escutar, porque a outra deu meia volta e puxou o Dan junto.

Ele olhou pra mim como se pedisse desculpas, mas ainda sim não falou nada como ''Ele é meu melhor amigo desde a infância e você não passa de uma garota que eu conheci a dois meses''. Tanto faz. Não é como se eu me importasse.

— Ei, Lucas, você vai arrancar seu cabelo se continuar mexendo nele com tanta violência... — Ela riu. — Mas ainda é muito fofo quando você faz isso!

— Droga. — Que mania horrível! Não é como se eu pudesse controlar as minhas mãos quando estou nervoso...

— Também não fui com a cara dela. Querendo roubar o nosso homem. — Ela bateu os pés.

— Hã?!

— Tudo bem, seu homem.

— Haaãã?!

Melhor ignorar...

Subi pra sala de aula e me separei da Isa. Tinha uns cinco alunos fora o Daniel e a porta peitos, porque ainda é cedo.

 A namorada dele sentou no meu lugar, atrás dele. Tanto faz. É só um lugar. Ela pode ficar com ele. 

Depois de umas três aulas sem falar comigo, ele enviou um pedaço de papel.

''Desculpa, bro. Releva. É o jeito dela. Todos sabem que você é meu amor número um.''

Eu também mandei um pra ele.

''Pau no seu cu.''

Ele fez um biquinho e depois deu risada. Como eu odeio esse cara. Ele está mandando um coração, agora mesmo?!

Depois das três aulas de física, eu passei o intervalo todo na biblioteca, dormindo. Que ótimo. Quando eu estiver com insônia, é só vir para a escola.

Ah, não tô com animo nenhum pra essa noite...

As ultimas aulas se passaram normalmente. Ele estava tentando se desculpar de todas maneiras possíveis, mas claro, escondido da donzela. Dei o dedo do meio e logo depois o sinal da saída tocou. Eu corri para o portão e ele ficou para trás, falando com ''a garota dele''. 

A Isa iria pra casa de alguma amiga e, antes da noite, eu precisava comprar besteira pra comer. 

— Ei, me espera! — O Daniel gritou e veio em minha direção, sorrindo. — Eu vou contigo. 

— E a Elisa? 

— Ela foi procurar roupa pra hoje a noite. 

— Como assim, roupa?! Vai ter uma festa lá e eu não sei? 

— Não, mas garotas são assim, você tá ligado, né? — Ele bagunçou meus cabelos. Essa é a melhor sensação do mundo. Não! Não posso me render a isso! — Você parece um cachorrinho. 

— Vai a merda! 

— Até xingando é fofo, awn. — Provocou. 

— Você quer morrer, não é? 

— Tudo bem, tudo bem. Vamos logo no mercado. Tô com fome. — Ele foi na frente, eu logo atrás. Incrível, nesse bairro tudo é perto! Em alguns minutos estávamos lá. Acho que quando se trata de doce, eu ando mais rápido. 

— Deveria por essa velocidade em prática na aula de educação física. — Ele comentou, rindo. — Porque você é horrível. 

— Eu não fui feito para jogar bola. — Respondi, também dando risada.

Abri a porta do mercado e logo vi a minha prateleira preferida. A dos... chocolates!

— Ei, Lucas. — Ele me chamou.

— Hum? — Retribui seu olhar.

— Por que seus olhos brilham tanto? — Foi uma pergunta inocente. Que fez meu coração disparar.

— Deve ser por causa do chocolate... com certeza. — Claro, chocolates. Não foi seu sorriso idiota que me causou isso. Foi o chocolate.

— Mas não é só quando você vê chocolate. — Ele se aproximou e olhou no fundo dos meus olhos. Eu vou morrer. — São incríveis! São negros e brilham... 

Essa proximidade ainda vai me matar. 

— Deve ser... normal? O seu também é assim! — Se ferrar. Esses olhos azuis me encarando. Ele quer que eu elogie? Não vou fazer isso! 

— Legal. — Se afastou e sorriu. Não foi igual ao sorriso de mais cedo. — Pega logo, eu quero logo te derrotar no vídeo game. 

— T-tudo bem... como se isso fosse acontecer! — Peguei tudo que precisava e nós fomos embora. — Até mais tarde. 

— Até! — Acenou e continuou seu caminho.

Nesse momento, minha ansiedade voltou. Três vezes mais forte. Só uma parte de mim quer aquela garota lá, porque se ela não aparecer... minha sanidade vai desaparecer. 


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