Até que a Morte nos Una escrita por Nuwandah


Capítulo 5
Conversa


Notas iniciais do capítulo

Fic não betada, peço perdão por qualquer erro.



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Escuro. Tudo escuro. Não conseguia ver nada.

Ouvi passos. Alguém estava se aproximando de mim. O som ficava mais alto. Estava cada vez mais perto. Uma figura manchada pela falta de luz tornou-se visível e ficou mais distinguível à medida que se aproximava de mim.

Cabelos rosa, roupas simples... Estava de cabeça baixa e com ambas as mãos tapando o rosto. Não conseguia identificar.

Soluçou timidamente. Estava chorando, e não queria que eu soubesse.

— Quem é...? – Perguntei, num tom baixo.

Lentamente, a figura tirou as mãos do rosto e o levantou para me encarar. Seus olhos cor esmeralda fitavam os meus firmemente.

— Você é a Sakura?

— Por que você não voltou? – Tá. Agora tinha certeza que era ela – Eu te esperei tanto... Eu preciso de você.

— Por que você precisa de mim? Por que de mim? – Eu a perguntei. E planejava perguntar muito mais.

Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, seu corpo começou a ficar transparente. Ela se apressou.

— Por favor! Eu preciso de você! Vá para o hospital! Você é o único que pode... - Não pude ouvir o resto. Seu corpo sumira totalmente.

Meus olhos abriram-se rapidamente e se depararam com a luz do sol que entrava pelas frestas da janela. Eles se apertaram até que se acostumassem com a claridade e abriram aos poucos.

Sentei-me na cama e refleti sobre o que eu acabara de sonhar...

Aquela garota estava desesperada a ponto de invadir minha cabeça para cobrar uma promessa? Ou aquilo fora apenas um sonho produzido pela minha consciência? Provavelmente a primeira opção, mesmo... Sei lá. Não tinha mais certeza de nada.

Mas o que eu mais queria saber era por que ela precisava de mim. Ela deixou isso bem claro. E que papo era aquele que eu era o “único que pode...”? Eu ia descobrir isso hoje. Mesmo tendo prometido sob pressão para o pessoal que nunca mais ia chegar perto do hospital ou falar com a Sakura.

Ah, dane-se! Eu ia lá e ponto final.

Arrumei-me e tomei um café da manhã rápido. Antes de sair, passei em frente ao quarto de Itachi aberto. Sem nenhum motivo, parei para observá-lo. Como sempre, estava impecável. Nada surpreendente. O meu era a mesma coisa.

Meu olhar desviou-se para as fileiras quase que intermináveis de livros de direito na estante. Isso me fez lembrar que, neste momento, Itachi já devia estar chegando à faculdade.

Algo me chamou a atenção: entre os livros e a lateral da estante, quase que escondido, havia um porta-retrato. Aproximei-me mais um pouco.

No porta-retrato, estava a foto que tiramos no meu aniversário de treze anos. Naquele dia, Itachi matou aula na faculdade e voltou para Nakai e me esperou na saída da escola, para que pudéssemos sair para comemorar meu aniversário.

Meu pai ficou uma fera quando nos viu chegando em casa. Mas, como sempre, Itachi sempre tinha um argumento bom o suficiente par ganhar a discussão. Dessa vez, ele disse que já aprendera a matéria do semestre inteiro apenas estudando na biblioteca da faculdade e em casa, por tanto, ele poderia faltar quantas vezes quisesse, mas não iria fazê-lo. Apenas fazia questão de faltar um dia para que pudesse comemorar o meu aniversário.

Como sempre, eu dizia depois “você foi incrível, nii-san”. Eu o idolatrava.

Passamos o resto do dia em Chiba, se divertindo na Tokyo Disneyland. Itachi e eu ficamos cantando toda hora “Como pode, uma Disney na periferia?”. Minha mãe dava um murro em nossas cabeças toda vez que falávamos isso.

A foto que estava naquele retrato fora tirada lá mesmo. Fora eu quem a bateu.

Minha mãe abraçava Itachi e eu. Nós três usávamos aqueles famosos chapéus com orelha de Mickey Mouse. Eu estava, animadoramente, mostrando a língua. Minha mãe e Itachi apenas sorriam. Pelo menos, Itachi mostrava os dentes no sorriso, assim como eu. Minha mãe era tímida para tirar fotos. Meu pai estava atrás de nós, olhando, abismado, para nossas orelhas.

Pensando em tudo aquilo, acabei me lembrando... Foi por causa daquele dia, por causa daquela surpresa, da felicidade que senti, que quis retribuir, que quis fazer a mesma surpresa para Itachi no dia do seu aniversário... E foi por causa dessa minha cisma, por minha causa, que meus pais morreram.

Foi no dia em que fomos comemorar o aniversário de Itachi... Mas... não conseguia lembrar o que acontecera depois. Só sei no quê terminou.

Vi o pôster do Nightmare acima da cama de Itachi. É mesmo... Itachi é um grande fã daquela banda e, como eu imitava Itachi em tudo, acabei ficando fanático por ela também. O show no qual o Nightmare em Tokyo caiu exatamente no dia do aniversário de Itachi. Essa era a surpresa que eu queria fazer para ele, mas acabou virando um verdadeiro pesadelo.

...

Ótimo. Agora eu estava de mal humor.

Decidi ir para a escola logo, antes que perdesse a hora.

Na escola, o tempo pareceu passar mais devagar, só por causa da minha ansiedade. Mas, depois de tamanha tortura, o ultimo sinal finalmente tocou.

Voltei no caminho normal, junto minhas cinco “babás”. Mas, se eu pegasse o metrô, como sempre, estaria indo para o caminho oposto ao do hospital. Tinha que dar uma desculpa aceitável para o povo.

— Vou ficar por aqui mesmo. Marquei de encontrar com o meu irmão perto da faculdade dele pra comprarmos umas coisas.

Todos olharam para mim pasmos.

— Você tem um irmão?! – Naruto praticamente gritou.

— Cala a boca! Você chama muita atenção. – As pessoas na rua já nos olhavam repreensivas. Era incrível. Naruto era a pessoa que eu mais bem me dava no grupo, mas, ao mesmo tempo, a que eu mais brigava. – Eu tenho um irmão, sim. E daí?

— Você é sempre tão quieto. E, também, nunca fala de si mesmo. Assim, acabamos não sabendo nada de você. – Shikamaru começou. – O Naruto fica sempre fazendo especulações para explicar esse seu comportamento. Como, por exemplo, que você é de um programa de proteção a testemunhas, que é um foragido da polícia, ou até mesmo que você seja um aliem que veio para a terra em missão para nos estudar e invadir nosso planeta. – Ele apontou para Naruto enquanto dizia essas coisas totalmente absurdas.

— Shikamaru! – Naruto se desesperou, enquanto os outros riam dele. Eu apenas o olhei e disse:

— Mas isso é impossível.

— Sabemos disso. Você sabe como o Naruto é idiota e fica pensando em coisas inúteis. – Neji disse.

— Não, não é isso. O que é impossível é o Naruto conseguir pensar em algo. É mais fácil eu ser um aliem do que ele conseguir fazer o dever de casa sozinho. – Todos começaram a rir, menos, lógico, Naruto.

Ah, doce vingança.

— O que você disse, seu babaca?! – Naruto avançou para me bater, mas foi segurado pelos outros.

Ignorei os xingamentos de Naruto. Apenas dei meia-volta e fui embora.

— Uchiha. – Neji disse. Girei a cabeça sobre o ombro para poder avistá-lo. – Tome cuidado. Você sabe disso, não é?

— Claro. – Continuei andando.

Eu sabia que o aviso para eu tomar cuidado era sobre o Toya, mas isso me fez lembrar com quem eu deveria tomar mais cuidado: A tal de Haruno Sakura.

Aquela garota desejava minha morte, não? Então, como eu estava indo me encontrar com ela? Só podia estar louco.

Mas minha curiosidade superava esse meu medo.

Resolvi continuar para ver no que dava. O máximo que eu podia perder era minha vida. Não era grande coisa.

Pulei a grade de proteção e adentrei no hospital. Ainda me lembrava do caminho para a sala de cirurgia, apesar de tantos corredores e escadas.

Quando estava bem perto da sala, senti uma presença atrás de mim. Olhei, não tinha ninguém. Andei cautelosamente para onde senti a presença. Olhei para os dois corredores dos tantos que ramificavam do qual eu estava. Se alguém tivesse me seguido, teria escondido ali. Mas não vi ninguém.

— Tem alguém aí? – Perguntei, mas apenas tive como resposta minha voz em eco.

Desinteressado, voltei para o meu percurso original, mas parei. Algo estalava abaixo de mim. Quando olhei, o chão já havia rompido sob meus pés.

— Uaaah...! – Gritei durante a queda livre. Mas parei ao conseguir me segurar na borda o buraco que me jogara ali.

Olhei para baixo. Havia mais de dois metros separando meus pés do chão, não dava para eu simplesmente me soltar e pousar sem problemas.Olhei para baixo de novo, dessa vez percebi algo além da altura. Havia muitos destroços abaixo de mim, algo como vergalhões destorcidos apontando para cima e pedaços de madeira pontudos.Eu tinha que sair dali de qualquer jeito.

Tentei puxar o meu corpo para cima, mas meus braços não tinham força o suficiente para erguer meu corpo sem apoio dos pés. Busquei algo que pudesse apoiá-los, mas o que tinha de mais perto era uma estante de remédios com mais de um metro de distância. Tentei alcançá-la, jogando o corpo para frente para, assim, puxá-la. Mas minhas pernas não eram grandes o suficiente e não tiveram êxito. Com o impulso, minhas mãos deslizaram um pouco. Por reflexo, ajustei-as.

Não conseguia mais segurar. Minhas mãos estavam tremendo e com sensação de queimação. Eu ia cair.

De repente, a estante de remédios começou a deslizar sobre suas rodas, sozinha para mais perto de mim.

Fiquei paralisado, em choque. Mas uma voz me despertou, dizendo:

— Suba.

Não perdi mais tempo. Apoiei meu pé direito no armário e dei um salto. Consegui continuar o impulso com a ajuda dos meus braços e me sentei na beira do buraco. Cansado com o esforço físico e o choque de ver um objeto inanimado mover-se sozinho, deixei que meu corpo caísse para trás e permanecesse deitado até que meus braços parassem de tremer.

Foi após me levantar, então, que eu pensei: De onde veio aquela voz? Andei, quase correndo, para a sala de cirurgia que almejava desde o começo. Ao chegar à porta da sala, parei. Encarei o Ouija lá, do mesmo jeito que o havia deixado.

Aproximei-me aos poucos. Joguei minha mochila para o lado, ajoelhei-me e coloquei as pontas dos meus dedos sobre a seta.

— Você está aí, Haruno Sakura? Responda-me.

A seta foi até “Sim”.

— Foi você quem me ajudou agora há pouco?

Novamente, “Sim”.

— Por quê?

Li, surpreso, o que as letras formaram.

— Está arrependida? Pelo quê? Por ter tentado me matar quando conversamos pela primeira vez?

“Sim”.

— E por que você iria querer minha morte se eu nem te conheço? – Houve, talvez, uma hesitação da parte dela, já que demorou um pouco para me responder.

“Não posso dizer. Você tem que descobrir isso sozinho”.

Suspirei, tentando me livrar da impaciência que adquirira naquele momento.

— Vai ser assim, é?

“Terá que ser”.

Levantei-me, coloquei minha mochila sobre um ombro e caminhei para a porta.

— Chame-me quando estiver disposta a me dizer algo que eu queira saber.
Decidido a não voltar com minha decisão, fui para casa sem, ao menos, olhar para trás.

Continua...


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