Até que a Morte nos Una escrita por Nuwandah


Capítulo 19
Meu amigo


Notas iniciais do capítulo

Adivinhem quem viajou e quando voltou estava cheia de textos (LIVROS) da faculdade acumulados e não pôde postar logo que voltou?? Pois é, a fofa aqui não é bem organizada pros estudos e isso alguma hora reflete as outras coisas... gomen ne. Até mesmo agora eu devia estar começando dois trabalhos (um enorme e o outro nem sei como fazer, kill me now) mas escolhi revisar o capítulo para postar fjknfkwk Mamãe ama vocês, viram?
O lado bom é que terminei de escrever o capítulo que estava produzindo há MESES e... ele ficou bem grandinho~ digamos que o dobro do maior capítulo que já havia produzido até então, isso porque eu vi que ele estava ficando grande demais e cortei pela metade o roteiro, então vocês terão em breve um capítulo duas vezes maior que o normal mas que, na verdade, é a metade de um :v E tudo se deve a como meu modo de escrever evoluiu (ou só mudou? Não posso garantir qualidade, mals ae -q) após o hiatus que começou quando passei para a faculdade... Pela narrativa ter ficado mais detalhada, o tempo de produção de cada capítulo pode aumentar, mas o lado bom é que estarão maiores e um tanto melhores ♥
Mas não se assustem achando que cada capítulo agora vai sair a cada seis meses. Boa parte do tempo livre que tenho para dedicar à fanfic foi para revisar o que já foi escrito para postar aqui, além do mais, não foi lá um capítulo muito fácil de se produzir (na verdade, esses próximos também não serão lá lá lá lá~).



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O som contínuo e sem fim do telefone sumia aos poucos de minha mente. Parecia que eu estava perdendo os sentidos, mas era apenas o extremo nervosismo tomando conta de mim cada vez mais. Afastei o celular da minha orelha com as mãos quase trêmulas e fitei a tela, não acreditando em minha audição, tentando desmentir o que eu acabara de ouvir, mas a tela não estava mais em modo de ligação, havia apenas o papel de parede com a hora.

— Sasuke-kun? O que houve? – Sakura aproximou-se um pouco, encarando com preocupação o meu rosto assustado.

— Naruto está com problemas. – Foi tudo o que eu disse antes de devolver o meu celular ao bolso e sair em disparada pelas ruas.

A gravidade da situação não permitia que eu tivesse educação ou pensasse na minha própria segurança em primeiro lugar, e saí abrindo caminho entre as pessoas que me bloqueavam, esbarrando e empurrando várias delas; cheguei a atravessar sinais verdes, isso quando eu passava pela faixa de pedestres, porque, na maioria das vezes, eu me aventurava mesmo entre os carros em movimento. Tudo para conseguir cortar o máximo possível do caminho e chegar até onde Naruto estava mais rápido. Cada segundo ganho era precioso, sabe-se lá o que estavam dispostos a fazer com ele.

O que eu pudesse fazer para salvar Naruto das garras daquela gárgula faria, e não seriam gritos e xingamentos de pedestres e motoristas que iriam conseguir me parar. Ele era o meu amigo, jamais perdoaria Toya se ele machucasse Naruto, nem que fosse por arrancar um fio de cabelo dele. Já tive muitas pessoas importantes para mim machucadas ao decorrer da minha vida, não iria mais permitir que essa maldição continuasse.

Já estava bastante cansado de ter andado o dia inteiro procurando por Sakura, mas a dor e leve dormência nas minhas pernas estavam desaparecendo com a descarga de adrenalina somada à minha determinação em tirar Naruto daquela situação.

Correr no frio era terrível, mesmo com toda a minha vontade, não conseguia evitar o inevitável. Meus pulmões ardiam e meus dentes pareciam que iriam cair junto com a gengiva. Não estava usando luvas, já que estava contando com a proteção térmica dos meus bolsos do sobretudo, mas já que não dava para correr desse jeito, tive que expor minhas mãos ao frio rigoroso do inverno no vai e vem de meus braços durante a corrida. Meus dedos pareciam que estavam congelando e poderiam quebrar ao meio caso eu os batesse em algum lugar. Mas toda aquela dor era ignorada facilmente, logo que o meu desespero e determinação eram muito maiores.

À medida que eu ia avançando para dentro do bairro, o número de pessoas transitando na rua ia diminuindo consideravelmente. Por um momento, fiquei feliz por poder me locomover com menos obstáculos à minha frente e, assim, poder correr mais rápido, mas logo notei que o que parecia uma vantagem era, na verdade, uma desvantagem. Toya não tocaria em Naruto em meio a muitas testemunhas. Chamariam a polícia na hora e o pequeno “reinado” dele cairia por terra. Mas o caso seria diferente se estivessem passando poucas pessoas na rua. E além do mais, Naruto disse que o restaurante que ele estava perto não estava aberto, ou seja, nada de clientes ou funcionários que poderiam ajudar Naruto. Estava tudo contra nós.

Não, não... Tinha eu tirar esses pensamentos negativos da cabeça. O Naruto poderia muito bem ter gritado pedindo ajuda. Afinal, uma rua em Tokyo pode estar com pouca gente, mas jamais vazia. Alguém o ouviria e, com certeza, o ajudaria. Ou talvez não, já que a palavra “desvantagem” não existia no vocabulário de Naruto. Aquele idiota poderia querer muito bem bater de frente com meia dúzia de caras mais velhos que ele e ainda achar que sairia vitorioso. Mas essa talvez fosse uma situação à parte. Algumas raras, raríssimas vezes, felizmente nas horas mais necessárias, Naruto era mais racional. Ele sabia muito bem que Toya estava irado com ele, até o ameaçou: “Você já era, Uzumaki!”, foi o que ele disse naquele dia do festival. Naruto estava em grande desvantagem numérica, deviam ser cerca de seis contra apenas um. Naruto, provavelmente, tentaria bater em retirada depois de ver que a situação não era a das melhores, mas claro que Toya, querendo se vingar dele, não deixaria uma chance de ouro como essa escapar. Se isso aconteceu, Naruto provavelmente teria apelado para pedir ajuda. Mas se ele tentasse chamar atenção de outras pessoas, Toya o calaria imediatamente... Meu corpo estremeceu apenas em pensar no modo que Naruto seria silenciado.

Uma caminhada normal que duraria cerca de vinte e cinco minutos do ponto onde eu estava – na rua do prédio que morava – até o restaurante Okonomiyaki, foi transformada em uma corrida de uns cinco ou seis minutos. Finalmente tinha chegado à rua que Naruto estava. Mas ainda não chegara até ele.

O lugar já não tinha tantos comércios que abrem à noite – era mais uma rua tomada por empresas e as residências próximas já eram casas, ou seja, menos gente por metro quadrado –, e a neve também não ajudava em nada. O resultado não poderia ser diferente: havia pouquíssimas pessoas na rua. Mau sinal...

Acelerei mais ainda a corrida ao final do percurso. Já conseguia ver a placa do restaurante a poucos metros. Eu sempre fui veloz e ágil nos esportes, mas nunca cheguei a pensar que poderia correr tanto em tão pouco tempo. Alcancei-a rápido, mas nem sinal de Naruto em frente ao restaurante. Fiquei parado ali, olhando freneticamente para todos os lados, tentando recuperar um pouco de fôlego. Meu peito subia e descia muito rápido, meus pulmões pareciam que iam explodir. Todo o ar que saía de minha boca e minhas narinas formava uma fumaça esbranquiçada em frente ao meu rosto.

Depois de uma breve busca visual, encontrei um lugar suspeito logo ao lado do restaurante: um beco que, provavelmente, era usado nas descargas de suprimentos nos fundos do restaurante. Um lugar isolado, sem trânsito de pedestres constante e escuro. Era ali.

Corri para lá sem pensar duas vezes, pouco me importando se Toya estava ali ou não, pronto para me receber em uma emboscada.

Acho que o único ponto positivo em tudo aquilo – se é que pode ser chamado assim – é que aquele maldito já tinha fugido, porque o que eu vi quando mergulhei na escuridão parcial daquele beco ferveu o meu sangue até a última gota.

O beco sem saída estava coberto de neve também, o chão todo branco. Exceto por um pedaço, que estava maculado por um corpo atirado no chão, inerte. A cabeleira loira e o de sangue escarlate respingado na neve contrastavam com a roupa de uniforme negro e a mochila azul-escura jogada longe. Reconheci Naruto imediatamente, para o meu pesar. Meu coração se apertou e corri até ele, jogando-me de joelhos ao seu lado, levantando neve com o choque contra o chão. Os olhos dele estavam fechados, a boca, entreaberta com a mandíbula totalmente mole. Entre os lábios levemente feridos, vi os dentes ainda manchados de sangue. O cachecol, que deveria estar protegendo o pescoço de Naruto do frio, estava amassado em baixo do corpo dele, com as pontas para fora, à mostra. Os primeiros botões da blusa do uniforme estavam desabotoados e, em algumas partes, nem havia mais botões, o que me fez ter alguma noção da brutalidade daquela briga.

— Ei, Naruto! – Sacudi o peito dele com certo desespero para tentar acordá-lo. O corpo apenas balançou com moleza, o que me levantou uma dúvida.

Será que ele estava mesmo desmaiado?

Não, Toya não chegaria ao ponto de matar alguém. Não por algo tão bobo. Não, ele não teria feito isso...

Coloquei rápido minha cabeça contra o peito de Naruto. Sentia que minhas mãos já tremiam, mas não era só por tensão ou nervosismo, era também por raiva. Meu corpo parecia que estava queimando de dentro para fora. Mas, para grande alívio meu, senti a respiração e ouvi os batimentos cardíacos dele. Estava boa, apenas um pouco mais lenta do que o normal.

Ainda bem, ele estava vivo.

— Naruto, acorda! – Voltei a sacudi-lo. Ele podia estar vivo, mas enquanto não estivesse em pé normalmente ao meu lado, fazendo e falando besteiras como sempre (apenas sendo Naruto), eu não teria paz.

Então finalmente obtive uma reação. Os olhos de Naruto se apertaram e logo se abriram com lentidão. A mão que apertava sem dó o meu peito se soltou, e deixei escapar uma expiração mais pesada com a quase total aniquilação da angústia. Os olhos azuis de Naruto, que estavam perdidos no momento em que se abriram, logo me encontraram.

— Desgraçado... – Ele falou com a voz um pouco rouca. – Eu falei para você não vir... – Ele realmente parecia estar falando sério, mas seu rosto e sua voz denunciavam também certo alívio ao saber que eu não o tinha abandonado.

Ele se apoiou devagar nos cotovelos, tentando levantar-se. O rosto dele contorceu-se em dor e tentei ampará-lo, dando-lhe apoio nas costas com uma mão e a outra pondo sobre um dos ombros.

— Como se eu fosse obedecer você. – Retruquei. Mesmo em uma hora como aquela, nós não deixávamos de nos tratar como sempre. – Procure não se mexer, se você fraturou alguma coisa, pode ser que o osso quebrado fure algum órgão. – Mas claro, em um momento como esse, também demonstrávamos o quanto um realmente se preocupava com o outro.

Naruto balançou a cabeça negativamente.

— Não se preocupe, não estou com nada quebrado. Toya sempre toma cuidado para que isso não aconteça. Um gesso chama atenção demais.

O “sempre” de Naruto me levantou questões, mas decidi deixar os esclarecimentos para mais tarde. Socorrer Naruto era prioridade.

— Vou chamar uma ambulância. – Disse, tirando o celular do bolso para ligar para a emergência.

Antes que eu conseguisse discar o segundo número, a mão de Naruto veio rápida e fechou o aparelho. Olhei para ele totalmente desentendido.

— Eu não preciso ir pro hospital, sério. – Ele falou, com uma seriedade que eu jamais imaginaria ver nele. – Se você chamar a ambulância, vão chamar o meu padrinho, e isso não vai prestar.

Um argumento tão fraco como aquele não me convenceu, afinal, qualquer responsável ficaria irado se o protegido fosse espancado até perder os sentidos. E que mal teria em contar o que aconteceu ao padrinho dele, afinal? Toya seria denunciado às autoridades e ele seria expulso da escola. Seria o fim daquele pequeno inferno onde o Satã era ninguém menos do que o próprio Toya.

Mas dava para perceber, pelo modo que Naruto agiu, que não era apenas aquilo e pronto. Tinha mais coisa. Seria melhor então não agir por impulso e seguir o que Naruto pediu, já que ele parecia estar mais familiarizado com situações como essa do que eu.

— Tudo bem, nada de hospital. – Só então que eu percebi que o corpo de Naruto estava tremendo. Como não havia me ligado antes? Ele devia estar morrendo de frio por ter ficado deitado na neve apenas com a roupa do uniforme. – Você está tremendo... – Falei, já tirando o meu sobretudo e o pondo por cima dos ombros de Naruto. Procurei não me importar com o súbito frio que tomou meu tronco e braços com a retirada da peça. – Imagino que você também não quer que seu padrinho te veja nesse estado, certo? – Falava enquanto puxava as pontas do sobretudo para que ele tapasse melhor o corpo frio de Naruto. – Vou chamar um táxi e vamos para o apartamento do meu irmão dar um jeito nessas feridas.

— Valeu... – Naruto agradeceu enquanto eu me afastava.

— Só espere um pouco, vou ali na rua chamar um táxi. – Disse já me levantando e caminhando para fora do beco.

Não demorou nem um minuto para que um táxi vazio passasse. Pedi para o taxista esperar um pouco e fui buscar Naruto.

— Consegue andar? – Perguntei enquanto o ajudava a se levantar com um pouco de dificuldade.

— Consigo... – Naruto respondeu, mas não me convenceu muito. A confirmação de que eu estava certo veio logo que soltei o braço de Naruto e ele cambaleou, só conseguindo se safar de uma queda porque o segurei a tempo.

— Você tá muito ferrado, não tente dar uma de durão logo agora. – Naruto rosnou alguma coisa que não consegui entender, talvez estivesse me xingando como sempre.

Levei-o até a parede e o deixei apoiado nela para poder pegar os pertences dele que ainda estavam no chão. Pus a mochila em um ombro, e só então tomei noção do quão pesados eram os livros de faculdade de Itachi. Voltei até onde Naruto estava e passei um de seus braços por cima de meus ombros, dando-lhe apoio o suficiente para praticamente se arrastar ao meu lado. Ele estava com o corpo meio encurvado, e a mão livre sobre o estômago, em sinal de que doía.

— Ei, Sasuke. – Naruto começou a falar um pouco antes de alcançarmos a saída do beco. Apenas olhei para ele como sinal de que o estava ouvindo. – Quando perguntarem, não conte que apanhei.

Por aquela eu não esperava, mas antes que eu contestasse, veio-me à cabeça que aquele pedido seria pelo orgulho de Naruto, então deixei passar, apenas concordando com ele.

— Tente se recompor um pouco, Naruto. Do jeito que está, vai chamar a atenção do taxista e acabar dando em merda. – Falei baixo para ele, parando antes que entrássemos no campo de visão do motorista.

Naruto assentiu, e me vi na liberdade de poder soltá-lo. Sem pressa, fui tirando o apoio dele. Senti seu braço tremer com o esforço em ficar com o corpo ereto, mas ele persistiu. Porém, a força de vontade dele não foi o suficiente apenas para mantê-lo de pé, e logo senti seu corpo perdendo novamente para a dor, e segurei o braço dele mais firme para que não caísse.

— Ok, esquece o que eu disse. – Falei para ele. – Ande segurando no meu ombro, então. Acho que você consegue andar assim.

Naruto assentiu e pôs uma mão sobre o meu ombro. Senti seu corpo estável e finalmente pudemos voltar a andar para o automóvel.

Por sorte, o taxista estava esperando de dentro do carro, e não do lado de fora, onde poderia ver facilmente o jeito que Naruto contorcia o rosto ao andar. Mas aquela sorte não durou muito tempo, claro. O rosto de Naruto estava praticamente intocado, exceto por um pequeno corte no canto dos lábios, e foi exatamente esse detalhe que o motorista notou ao olhar para nós pelo espelho-retrovisor quando entramos no veículo.

— O que houve com o seu rosto, rapazinho? – Ele perguntou, erguendo mais a cabeça para ter uma visão mais ampla de Naruto pelo espelho.

Naruto e eu gelamos ao ouvir aquilo. Naruto tentou reagir, mas gaguejou, não tendo ideia do que dizer. Aquilo por si só causaria mais suspeitas sobre nós, e eu não tinha noção do que aquele taxista de meia-idade poderia fazer se achasse que estávamos fazendo besteira, então cortei Naruto logo:

— Ele escorregou por causa da neve e bateu com o rosto na parede, nada de mais.

Pelo olhar do homem, ele havia acreditado no que eu disse.

— S- Sim! Foi isso mesmo, dattebayo... – Naruto concordou comigo, nervoso.

— É mesmo? Devia tomar mais cuidado quando anda na neve. É perigoso. – O motorista o advertiu.

— É que ele é meio retardado, mesmo. – Falei sem querer, foi força do hábito.

— Entendo. De qualquer jeito, tome mais cuidado. – Foi a última coisa que o homem disse antes de dar a partida no carro.

— S- Sim, senhor. – Naruto disse, ainda meio exasperado, e quando o homem tirou os olhos de nós para prestar atenção no trânsito, ele me fuzilou com os olhos. Apenas dei de ombros para ele. Até apenas com o olhar nós discutíamos, era inacreditável.

Em poucos minutos, paramos em frente ao famoso prédio que agora era intitulado “meu lar”. Paguei rápido o taxista e ajudei Naruto a sair do automóvel. Ele já tinha se esforçado demais, e os minutos sentado no táxi não foram o suficientes para que se restabelecesse um pouco. Portanto, Naruto andou apoiando-se no meu ombro só até o elevador, onde tive que segurá-lo para que não caísse, de tão bambas que as pernas dele estavam.

Praticamente arrastei Naruto pelo pequeno corredor que separava o elevador da porta de entrada de onde eu morava.

Apesar de tarde, para o meu alívio, Itachi não chegara ainda. Encontrei o apartamento vazio, como sempre estava quando eu chegava da escola. Ele às vezes atrasava-se um pouco por sair com os amigos ou com a namorada para se divertir em algum lugar – coisa de universitário –, e ainda bem que esse era um daqueles dias, porque explicar o porquê de eu estar trazendo um amigo machucado daquele jeito para casa seria complicado. Enganar Itachi era uma tarefa impossível, ainda mais depois que ele começou a cursar Direito e aprendeu umas técnicas novas...

Conduzi Naruto até o meu quarto e deixei que ele deitasse na minha cama. Ele soltou um suspiro de alívio misturado com dor quando o fez.

— Vou pegar um antibiótico para dor para você. – Disse a ele. – Enquanto isso, veja um pouco de tevê para relaxar um pouco. – Liguei a televisão e dei o controle na mão de Naruto, e logo depois deixei o quarto para procurar o remédio.

Fui para o banheiro do quarto de Itachi. Lá era o lugar mais provável de ele guardar os remédios. Abri o armário e me surpreendi com a quantidade de medicamentos que havia ali. Não sabia que ele era tão precavido assim, ali tinha mais antibióticos do que no armário de remédios da minha casa em Nakai. Não sabia se pensava em Itachi como um paranóico ou como um cara que realmente assumiu o papel de mãe ao ficar com a minha guarda. – Bem, mães são paranóicas de qualquer jeito, então resolvi ficar com a primeira opção.

Fucei todos aqueles potes e embalagens, mas nenhum deles era o que eu procurava. Como diabos aquilo era possível? Tinha uma farmácia na minha frente e não havia um simples remédio para dor? Acho que Itachi trocou a lista de compras com a de um velho doente.

— Não tem...  – Disse, já tentando lembrar onde seria a farmácia mais próxima, ao mesmo tempo em que contestava se seria prudente deixar Naruto sozinho.

— Quer uma ajuda? – A voz de Sakura veio de repente. Ela tinha chegado a tempo de me ouvir falando sozinho, estava encostada no portal e de braços cruzados.

— Tem alguma ideia em mente? – Perguntei-a.

Aqueles grandes olhos verdes no tom de uma esmeralda piscaram e, logo em seguida, reviraram-se.

— Hellooo, esqueceu daquela vez que te ajudei com aquelas feridas horríveis nas suas costas? Tenho ainda outros conhecimentos medicinais acumulados.

Aquele suporte não poderia vir em melhor hora. Sorri, grato por Sakura querer ajudar o Naruto.

— Muito bem, diga-me o que fazer.

Sakura sorriu de volta e desencostou do portal do banheiro.

— Vem comigo. – Ela deu meia-volta e caminhou para fora da suíte, sendo seguida por mim.

Mais uma vez, estávamos nós dois na cozinha, com Sakura me dando instruções específicas e chamando a minha atenção a cada erro causado pela minha inexperiência na culinária. Apesar de cozinhar não ser uma das minhas maiores habilidades, terminei de fazer o remédio com facilidade – já que era algo surpreendentemente simples –, e logo já estava levando-o para o Naruto.

— Que isso? – Naruto indagou, fazendo careta ao encarar a caneca que eu o estendera.

— Cura para a burrice. O que você acha? Bebe logo!

— Tá bom, ttebayo... – Ele desfez a cara de nojo e pegou a caneca com ambas as mãos e cheirou o seu conteúdo. Ele torceu o nariz imediatamente e o afastou o rosto. – Gengibre?! Qual é, esse troço tem um gosto horrível.

— Ah, para de agir como criança! Olha, tem mel e limão para deixar o gosto melhor. Agora bebe tudo. – Eu disse para ele parar de agir como um pirralho, mas eu acabei por parecer que estava falando com um.

— Hm... Não, valeu. Vou passar essa. – Naruto disse, estendendo-me a caneca de volta.

Uma sobrancelha minha levantou automaticamente e cruzei os braços. Naruto olhou para mim como uma criança olha o pai irritado.

— Naruto, você pode beber isso de duas formas: tapando o nariz e colocando tudo para dentro ou se afogando nele. Você que escolhe.

Aqueles olhos tão azuis que me encaravam aumentaram consideravelmente com a minha fala e, provavelmente, por causa da aura negra que emanou de mim naquele momento. Ele ficou em silencio, ainda me encarando por alguns instantes, e quando finalmente constatou que eu estava falando sério, olhou triste para o remédio de gengibre em sua mão e, tomando um último fôlego, tomou tudo de uma vez só.

Quando a caneca deixou a sua boca, ele soltou o ar preso de uma vez pela boca, fazendo careta, e tossiu forçadamente, esfregando a boca.

— O gosto é pior que o cheiro!

— Aah, para de ser dramático. – Revirei os olhos, e então tirei a caneca da mão dele. – Vou buscar água, se isso fizer você ficar quieto.

Quando retornei com a água e um saco de gelo, Naruto tinha a atenção tomada pelo noticiário que passava na tevê.

— Não sabia que você via essas coisas. – Comentei enquanto passava um copo com água para ele.

— Às vezes eu vejo. De vez em quando, tem alguma coisa interessante passando.  – Ele tirou os olhos dos repórteres para olhar para olhar para mim. – Mas acho que hoje não vai ter mais reportagem sobre moda de biquíni, dattebayo... – Ele completou, desenhando um traço triste na boca. Não teve como eu não rir dele.

— Seu pervertido desgraçado, estamos no inverno. – Ria ainda enquanto puxava a cadeira de rodinhas da minha escrivaninha para perto da minha cama e me sentava nela.

— Eu sei disso! Foi só um exemplo... – Naruto tentou se explicar logo.

— Aham, claro. – Disse sarcástico, com um sorriso de canto nos lábios.

Quando Naruto terminou, muito satisfeito, o copo d’água, entreguei para ele o saco de gelo que ainda carregava. Foi um pequeno sacrifício fazê-lo acostumar-se com aquele saco gelado sobre o tórax – mesmo com a blusa do uniforme por cima. Porém, com o tempo, a pele dele se acostumou com a baixa temperatura e Naruto sossegou de vez.

Naruto acabou por se distrair novamente com o noticiário, enquanto eu refletia sobre o que acontecera a ele aquela tarde. Precisava ainda tirar algumas dúvidas.

— Hein, Naruto... – Comecei a falar, e ele voltou a sua atenção da tevê para mim.

— Que foi?

— Você disse antes que o Toya sempre toma cuidado para não provocar uma fratura quando bate em alguém.

— E?

— Você disse “sempre”. Quer dizer que o Toya espancar alguém como fez com você hoje não é nenhuma novidade?

— Ah... Isso... Nunca te disseram?

— Disseram o quê?

— Ah, então você não sabe... – Ele deu uma pequena pausa enquanto encarava o saco de gelo que segurava em cima de si. Quando seu olhar voltou a focar nos meus olhos, ele estava sério, como quando tentei chamar a ambulância e ele me impediu. Sua boca era uma linha sem expressão. – Vou te contar como tudo começou, como o Toya começou a sua gangue... e como nós começamos o nosso grupo de resistência.

 

Continua...


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