Até que a Morte nos Una escrita por Nuwandah


Capítulo 16
A razão


Notas iniciais do capítulo

Estamos chegando numa parte preocupante da fanfic, que é a que alcança o que já foi produzido ehiufhwifçwemw Além desse capítulo que estou postando agora, há apenas mais quatro prontos (que só precisam ser revisados). Quando as postagens aqui alcançarem o material já pronto, peço encarecidamente que tenham muita paciência com a minha pessoa ;o; Já comentei em algumas respostas de reviews que tenho certa dificuldade para escrever, ainda mais por causa da faculdade, que ocupa muuuito do meu tempo. Eu coloquei a fanfic num hiatus que durou praticamente dois fucking anos, que foi quando comecei o ensino superior, e voltei a escrever apenas no início desse ano, que foi quando eu comecei a postar aqui à procura de leitores que me inspirassem e me animassem para escrever e... vocês são uns amores ♥ (apesar de tantos leitores fantasmas huehue mas isso é normal)
Mas mesmo com o novo apoio, minha escrita permanece lenta e estou há meses escrevendo um único capítulo (com o primoramento da minha escrita, os capítulos acabaram aumentando também já que fiquei mais detalhista, e isso só contribui para uma maior demora), então parece que vocês vão ter que ficar esperando um tempinho entre cada atualização. Mas eu JURO que sempre estou escrevendo um pouco, fico empacada em algumas cenas, mas leio alguma outra coisa para me inspirar e logo volto à história.
Bem, eu só deixei essa nota aqui para explicar porque dentro de um mês as atualizações não vão ser esse mamão com açúcar todo, para vocês irem se preparando e não quererem me matar logo de cara :') Peço mil desculpas por ser tão lenta, mas vou me esforçar para produzir um material descente para vocês.
Ah, quem sabe a faculdade entre em greve de novo com toda essa confusão política. Isso não é bom pros meus estudos, mas sempre penso positivo, então... mais tempo para escrever! haha



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/673321/chapter/16

Sakura já me encarava há um tempo. Parecia ainda não ter entendido completamente por que eu havia dito do nada que iríamos à antiga sua casa – que, a propósito, é coincidentemente e inconvenientemente na mesma cidade que vivi e que pretendia voltar nunca mais.

— Quando? – Ela finalmente perguntou.

— Agora. – Respondi sem rodeios, já indo pegar outra muda de roupa no guarda-roupa.

— Hã? Mas e a escola? – Ela perguntou bastante surpresa quando eu já estava praticamente dentro do banheiro para trocar de roupa.

— Posso faltar um dia. – E fechei a porta atrás de mim.

— Acha isso mesmo necessário? Podemos ir quando você estiver livre. – Ouvi a voz de Sakura no outro lado.

— Por que continua contestando? O que estou fazendo é para você poder se libertar desse mundo. Você quer partir logo, não quer? – Falei seco, já colocando outra blusa no lugar da parte de cima do uniforme.

— Hã? E-eu quero, mas acho que você não precisa abrir mão de um dia inteiro de aula só para fazer algo que poderia fazer no domingo ou em um feriado.

— Ah, preciso, sim.

— Mas... – Fechei o zíper da calça jeans logo quando Sakura começou a falar novamente. Já totalmente vestido outra vez, abri a porta do banheiro, interrompendo-a.

— Já chega, Sakura. Eu já decidi e pronto. Eu vou a Nakai agora, e seria muito bom se você fosse comigo para me ajudar a ajudar você mesma. – Disse em um tom extremamente ríspido, fazendo com que Sakura endurecesse o corpo como um soldado em posição de sentido.

Suspirei com a resposta vazia dela, a garota apenas me olhava assustada. Andei até minha cama, onde havia jogado minha carteira. Peguei o objeto de couro, guardando-o logo em seguida no meu bolso, já caminhando para saída.

— Você vem? – Perguntei a ela, pronto para fechar a porta do quarto.

Sakura demorou relativamente pouco, mas assentiu e veio andando até mim sem dizer nada.

Ainda me lembrava muito bem do que uma antiga vizinha de Sakura me dissera dias atrás, de que ela morava em um lugar de Nakai que tinha vista para um lago e um templo. Parece uma descrição um pouco genérica e vazia demais, mas eu tinha certeza absoluta que sabia onde era aquele lugar. Como? O lago e o templo também são vistas de uma praça muito frequentada, principalmente por crianças. Digamos que uma boa parte da minha infância passei lá brincando ou apenas passeando.

Omamori, esse era o nome da praça. Praça Omamori. O único lugar que poderia ser a casa de Sakura era por aquela região. E foi perto de lá que eu saltei do trem-bala.

Quando saí da estação, um pouco hesitante, fui bombardeado de lembranças daquele lugar, momentos que já tinha parado de pensar a respeito há tempo vinham me dar as boas-vindas. Foi conturbador, a propósito. Aquele era um detalhe que eu realmente não fazia questão de estar incluso no pacote de visita a Nakai. Cada rua, cada esquina, cada loja, tudo me trazia lembranças de bons momentos, de antigos amigos que abandonei, de minha própria família. Cada metro daquele lugar agradável aos olhos de qualquer um que gosta de natureza era uma tortura na minha mente.

Naquele momento, eu lembrei por que estava fazendo tanto caso em não ir para Nakai e só ter mudado de ideia por ter tido uma certa raiva de Sakura por um momento e me senti um grande idiota impulsivo por isso. Sentia como se cada lembrança e emoção tivesse me golpeado internamente e desequilibrado minha linha de raciocínio. Tudo isso e eu nem tinha começado a andar pelas ruas, mas que ótimo. Realmente ótimo. Teria que me controlar melhor se quisesse terminar o “serviço” naquele mesmo dia.

— O meu ponto de referência não é muito longe daqui, então sua casa deve estar por perto também. Consegue se lembrar de alguma coisa? – Perguntei a Sakura, ainda parado em frente à escadaria da estação de metrô.

A garota ao meu lado olhava ao seu redor devagar e com atenção, distinguindo cada silhueta daquele ambiente.

— Aqui é muito familiar... Eu já estive aqui. – Ela quase sussurrou. Seus olhos mexiam-se como os de um gato curioso.

Finalmente! Algo útil de que ela se lembrou. Isso era realmente algo excepcional. Pelo menos aquilo serviu para me estimular em continuar em Nakai apenas para poder ajudá-la.

— Ótimo. Se você reconhecer a sua casa ou alguém, me avise. – Disse, enquanto começava a caminhada em direção à Praça Omamori.

As ruas estavam muito pouco movimentadas, já que, naquele horário, a maioria das pessoas estava trabalhando ou estudando. Porém, aquilo ainda era desvantajoso para mim, já que minha família ainda era bastante conhecida pela região. Seria um grande inconveniente se alguém me reconhecesse ali, tanto pelo desperdício de tempo, quanto o assunto infeliz que o indivíduo provavelmente iria tocar.

Já estava quase chegando à praça, e eu ainda era perturbado pelos fantasmas do meu passado passando bem diante dos meus olhos. Naquele momento, era a lembrança de uma corrida de bicicletas que eu participei com meus antigos amigos. Devia ter a faixa de dez anos ali.

Sacudi a cabeça um pouco para me livrar daquelas miragens quando notei que estava perto de me afundar nelas. Meu foco ali era outro, não podia me desviar dele, muito menos por um motivo desses.

— Eu me lembro daqui. – A voz de Sakura invadiu a minha cabeça e me arrancou de meus pensamentos.

Quando olhei em volta, já estávamos na entrada da praça. Aquele lugar possuía um ar extremamente melancólico. As árvores floríferas, o lago, os bancos, os postes, estava tudo do mesmo jeito, nada mudou, tudo estava como sempre foi.

— E você consegue lembrar onde era a sua casa?

Sakura ficou quieta por um tempo, olhando ainda em volta, analisando cada detalhe que via para poder se lembrar de mais coisa.

— Eu já me lembrava de muita coisa daqui... – Ela comentou, mais consigo mesma do que comigo. – Mas não tinha certeza se o que eu lembrava era só fruto da minha imaginação. – Sua mão ergueu-se lentamente, junto ao dedo indicador levantado, e ela apontou para frente. – A minha casa era para lá, um pouco além do templo.

Olhei para a direção que o dedo dela apontava. Atrás das copas das árvores enfileiradas, era possível ver o telhado do templo budista. Estávamos perto.

Atravessei a praça, vendo duas mães passeando com carrinhos de bebê. Uma delas cochichou algo para a outra ao notar minha presença. Provavelmente, eu tinha sido reconhecido. Acelerei a caminhada, temendo que elas me chamassem. Logo, já estava abaixo das árvores que bloqueavam a visão da entrada do templo.

— Para onde? – Perguntei a Sakura, lembrando-me de todas as ruelas que se ramificavam após o templo.

— Para a direita. – Ela falou.

Segui a coordenada e entrei no labirinto de ruas. Ali foi cenário de inúmeros esconde-esconde que brinquei. Só parei de andar e lembrar de coisas inúteis quando o caminho que percorria me proporcionou mais de uma opção de rota.

— E agora?

— Siga reto.

E voltei a andar. Já estava começando a me questionar se não estávamos nos distanciando demais da praça e do templo, ou se apenas estávamos circulando a praça ou estávamos levando uma peça da memória de Sakura e simplesmente estávamos andando sem rumo. Mas então Sakura parou de andar quando olhou para uma casa que passávamos. Seus olhos estavam arregalados.

— Okaa-san... – Ela sussurrou.

Segui o olhar dela, ainda descrente de seu comentário. Meus olhos passaram pelos cantos da casa a minha frente até encontrarem uma mulher loira agachada, mexendo na terra do jardim com uma pequena pá própria.

Era difícil estipular uma idade para ela. Mesmo um pouco longe, pude ver que seu rosto estava visivelmente envelhecido precocemente. Se ela realmente fosse a mãe de Sakura, provavelmente seria por causa do estresse e de muitas horas de choro. Seus olhos não tinham tanta vida e, ao redor deles, já havia marcas que só deveriam aparecer daqui a dez anos.

— Tem certeza? – Perguntei a Sakura baixo, não queria chamar a atenção da pessoa errada.

— Absoluta. – Ela disse, com convicção e abalo misturados na voz.

Nesse momento, a mulher a nossa frente ergueu a cabeça e acabou me vendo. Seus olhos aumentaram de tamanho consideravelmente.

— Não acredito... – Ela disse. – Uchiha Sasuke.

Como qualquer outra pessoa, principalmente de Nakai, a mãe de Sakura sabia quem eu era, e sabia sobre a minha família. Ela me viu antes do que supus, e acabei ficando sem saber o que falar por um instante.

— Ah... Bom dia. - Tentei ser amigável. Ainda precisava tirar muitas informações dela, e aquele seria o melhor início.

— Não esperava mais vê-lo por aqui. – Ela falou, levantando-se e se aproximando do muro de grades braças. – O que o traz de volta a Nakai? Se me permite saber, claro.

“A sua filha” foi o que eu quase respondi, mas claro, não podia dizer a verdade.

— Vim ajudar um amigo. – Montei uma resposta bem bolada e joguei a isca. – Mas ele não chegou em casa ainda, então estou matando o tempo andando por aí.

— Ah, você deve estar cansado... Não gostaria de entrar e beber alguma coisa? – A mãe de Sakura reagiu exatamente como eu esperava.

— Sim, obrigado. – Para ganhar mais confiança dela, dei um sorriso enquanto e mesma puxava o portão. Ela sorriu de volta e abriu passagem para mim. Lembrava-me do nome dela, eu o ouvi quando fui à antiga casa da Sakura em Tokyo. Era Mebuki.

Adentrei ao jardim satisfeito. A primeira fase da “missão” estava concluída.

— Como andam os estudos?  - Ela perguntou quando começamos a atravessar o jardim.

— Estão bem. – Respondi sem dar muita brecha ao assunto, já que ela ainda parecia não ter notado que eu estava matando aula.

— Ah, que bom. – Ela abriu um sorriso, mas logo o desfez quando parou para pensar. – Que dia é hoje?

A minha esperança de não ser descoberto durou pouco, mas reagi rápido.

— Sexta, mas hoje eu não tenho aula porque minha escola está passando por uma dedetização.

— Ah, claro. – Ela pareceu aceitar minha desculpa, pois ficou um pouco sem graça por ter suspeitado de mim. – E como está o seu irmão? – Ela mudou de assunto já no genkan (N/A: Aquela entrada das casas japonesas que eles usam para trocar de sapato.) enquanto tirava as sandálias dos pés e colocava as surippas (N/A: Surippa é o nome das pantufas que eles colocam para usar dentro de casa.), dando-me um par semelhante logo em seguida.

— O Itachi está bem.

— Oh, que bom... E ele continua na faculdade?

— Sim, ele está fazendo Direito. - Terminei de trocar meus tênis pelas surippas e já acompanhava a Mebuki pelo corredor de paredes cobertos de fotos.

— Que bom saber que vocês dois estão bem... – Ela desacelerou o passo gradativamente, até parar em frente a um butsudan– muito bem limpo, a propósito, alguém certamente rezava ali constantemente – e olhar para seu interior (N/A: Butsudan é um oratório budista que boa parte dos japoneses tem em suas casas. Ele é usado para rezar para os antepassados.). Em meio a tantos utensílios, havia um porta-retrato que guardava uma imagem que me chamou a atenção. Reconheci Sakura na hora graças ao cabelo rosa, era apenas uma foto que ela tirou de si mesma, estando com um sorriso singelo e uma maquiagem discreta. – A Sakura também deve estar feliz por isso... – A voz dela quase sumiu na última frase, fazendo-me pensar que ela estava prestes a chorar, mas logo ela se voltou para mim, meio exaltada. – Ah, desculpe. Não devia falar dessas coisas para você.

Estávamos no caminho certo da conversa, eu não podia deixá-la parar de falar da Sakura.

— Não tem problema algum. E eu gostaria de saber mais sobre a Sakura.

Mebuki me encarou por um momento, estranhando o que eu disse e, depois de um tempo, sorriu, mas o gesto me pareceu absurdamente triste ao fundo.

— Você é mais maduro do que eu pensava. Achei que não fosse querer saber dela.

Não entendi o porquê de ela achar isso, mas deixei passar. Não queria que o assunto fosse eu, tinha que ser Sakura e somente ela, para que eu descobrisse o motivo da garota ainda estar neste plano.

— Pelo contrário, Mebuki-san. Sua filha é... quero dizer, era uma boa pessoa. Merece ser lembrada sempre que possível.

A mulher à minha frente pareceu estar ainda mais impressionada comigo, e então seu sorriso se tornou mais meigo.

— Que amor de menino você é. – Ela estendeu a mão e fez um breve cafuné no topo da minha cabeça.

Ela voltou a andar e logo entramos na sala de estar. O lugar tinha um tamanho razoável, mas parecia ter mais enfeites do que precisava. Notei, após uma rápida análise, que eram todos feitos a mão, indo desde desenhos emoldurados a amuletos pendurados nas janelas. Andei até uma montagem de estrelas de papel suspensas por fios de nylon. Até que era bastante bonito aquele arranjo.

— Gostou? Foi a Sakura quem fez. Os outros também. – A mãe de Sakura apontou para o resto do cômodo.

— Ela fez todos esses? – Surpreendi-me. Não imaginava que Sakura tivesse esse tipo de dom.

— Sim, ela adorava dar vida aos lugares. – Ela respondeu com um ar melancólico.

— Há outros trabalhos dela? Gostei deles. – Joguei verde, torcendo para que colhesse maduro.

— Sim, tem mais no quarto dela. Quer ver? – Bingo.

— Se não for incomodar. – Sorri de praxe para ela. Estava tudo correndo melhor do que eu pensara.

Segui a mãe de Sakura novamente, dessa vez, para uma escadaria, após o término desta, começava um corredor, onde paramos em frente à segunda porta, a que tinha um pingente de flores de cerejeira pendurado na maçaneta.

— Este é o quarto da Sakura. – Ela falou e logo abriu a porta. O lugar possuía paredes brancas, mas tinha vários desenhos de flores e pássaros levantando vôo feitos à mão.

Em termo de móveis, o quarto também não era tão simples. Havia uma cama de solteiro encostada à lateral do guarda-roupa e, nossa, nunca tinha visto um quarto com tantos quadros; havia também até uma planta pendurada na parede. Sakura realmente era do tipo de pessoa que gosta de dar um toque pessoal em tudo que possuía.

Antes que eu pudesse notar mais detalhes, Sakura, que estava quieta até o momento, saiu quase correndo na minha frente, olhando as estantes e a escrivaninha que ficava bem em frente à cama, que possuía uma coberta branca de renda nas pontas.

— Está tudo do jeito que deixei...! – Ela exclamou.

— Ah, quase me esqueci. Quer tomar um suco agora? – Mebuki disse, atraindo minha atenção para ela.

— Claro. – Sorri para ela. Se ela me deixasse sozinho ali por um tempo, teria a chance de encontrar algo importante sobre Sakura.

— Já volto. – Ela caminhou até a saída do quarto e a perdi de vista, mas esperei não poder mais ouvir os passos dela para entrar em ação.

— Ok, Sakura, vejo que você já se lembra de bastante coisa. Você escrevia algum diário?

Sakura se assustou com a minha pergunta e logo depois suas bochechas tomaram um tom mais rubro.

— U-Um diário? Eu escrevia em um...

— Ótimo. – Comecei a abrir as gavetas de escrivaninha procurando pelo caderno. – Onde ele está?

— Mas... – Ela tentou falar. – Um diário é algo pessoal.

Não tinha tempo para manha feminina, continuei procurando.

— Não temos muito tempo, não me venha com essa agora, ok? A partir do momento que você pediu minha ajuda para descobrir por que você ainda está aqui, sua privacidade não existe para mim. – E então encontrei o diário na parte mais funda de umas gavetas. A capa estava escrita com as palavras My Dear Diary em branco com um fundo azul com algumas figurinhas coladas de modo equilibrado.

Abri logo nas últimas páginas escritas, procurando algum último grande desejo que Sakura tivesse escrito.

— S-Sasuke-kun! – Sakura tentou me repreender.

Ignorei-a, não havia nada que ela pudesse fazer para me impedir e, assim, comecei a ler.

Não encontrava nada de mais. Todas as anotações contavam como Sakura havia passado o dia, o que um professor falou de diferente ou um acontecimento fora da rotina. Coisa boba de garota.

— Não sei por que você se envergonha de eu ler seu diário. Ele não tem nada de mais. – Zombei dela, virando já uma das páginas.

Aquela chamou um pouco mais a minha atenção. Sakura havia escrito que o professor pedira uma lista de metas para a vida, mas que ela não havia escrito tudo com vergonha de que alguém lesse, e ali estava a verdadeira lista:

1- Ganhar algum concurso de artes plásticas.

2 - Arranjar um emprego nas férias para conseguir bastante dinheiro.

3 - Ir ao show de alguma banda famosa.”

Mas que droga era aquela? Não tinha nenhum sonho que fosse importante de verdade. E a lista não era pequena, havia mais de quinze tópicos ainda, e todos eram to gênero “adolescente fútil”.

— Afe... – Suspirei. – Você podia ser mais focada. Isso ajudaria. – Reclamei com Sakura, virando outra página.

Sakura ficou mais envergonhada ainda, tendo as bochechas, que já tinham voltado ao tom normal, voltando ao estado avermelhado.

Querido diário,

 Hoje eu percebi que as possibilidades para uma pessoa se machucar por causa do amor são bem maiores do que imaginava.

 O meu avô morreu, e parece que ele levou parte da alma e do coração da vovó junto. Todos nós estamos tristes, claro, mas ela está inconsolável. Fica apenas sentada no sofá que ela o vovô costumavam ficar juntos para tomar chá e não quer sair mais de lá. As poucas vezes que ela abre a boca são para cantarolar alguma música antiga. Parte o meu coração vê-la daquele jeito.

E isso me fez perceber que eu não quero passar por isso e muito menos fazer a pessoa que amo sofrer assim, e só encontrei uma forma de fugir disso, e é morrendo junto com a pessoa que amo. Eu sei que é estranho, mas é bastante romântico, não? Já vi alguns filmes com o final assim, e o casal não ficava triste mesmo estando à beira da morte, isso porque eles estavam juntos. Acho que esse seria um final ideal para minha vida. Eu não deixaria o homem que amo sozinho sofrendo e nem ele faria isso comigo.

Deve estar parecendo bobo... Não sei se estou afetada pela morte do vovô ou é isso mesmo. Vou esperar o tempo de luto passar para eu conseguir pensar melhor.”

Aquilo chamou bastante a minha atenção, mas não encontrei nada ali que me ajudasse de fato. Apenas que Sakura devia usar alguma droga quando estava com os nervos à flor da pele. Ela não tinha nenhuma noção da realidade, mesmo... que sonhadora.

 Continuei passando as páginas e lendo.

Hoje vamos para Tokyo com a vovó, lá tem um hospital com a ala reservada só para pessoas no estado dela. Ela está muito debilitada. É como se ela estivesse querendo partir também, tenho quase certeza disso. Ela quer se encontrar com o vovô.

Como se não bastasse tudo isso, otou-san disse que talvez peça transferência para lá, assim vai ficar mais fácil cuidar da vovó. Fico contente por podermos ajudar ela mais, mas(...)”

Notei que aquela parte da página estava enrugada, como se tivesse sido molhada. A julgar pelo tamanho e formato arredondado das marcas, deviam ser lágrimas. Sakura estava chorando quando estava escrevendo aquele trecho?

(...) mas eu não quero ir. Nakai é o meu lugar. É aqui que estão as pessoas que amo. O que vai ser de mim naquele lugar inóspito para alguém como eu? Não sei como vou conseguir ficar longe do meu Anjo da Guarda, como vou suportar isso... Eu não sei o que fazer em relação a isso, não sei de mais nada.

Ah... ok, conheci um lado mais desesperado e sentimental da Sakura. Mas ainda não era o que eu queria.

Continuei lendo o diário e, à medida que eu ia passando as páginas, notava um maior foco e diminuições das escritas de Sakura. O espaço entre as datas passava a ser de vários dias, e ela só relatava o quanto estava estudando para passar em uma boa faculdade de Medicina e poder voltar para Nakai e um pouco da sua adaptação a Tokyo.

Poucos parágrafos depois ela passou a falar mais nas expectativas da vida adulta, de seus planejamentos para o casamento e quantos filhos pretendia ter e quais nomes já tinha pensado. Ela estava amadurecendo e criando objetivos.

Seria essa a frustração de Sakura que a segurava nesse mundo? Mas eu não conseguia identificar qual era o sonho que ela mais alimentava. Eram tantos... E, como Sakura não havia se pronunciado ao um lado até o momento sobre ter se lembrado do seu maior desejo, imaginava que ela estivesse tão perdida quanto eu.

Suspirei novamente e guardei o diário no mesmo lugar que achei antes que a mãe de Sakura voltasse. Já estava sem muitas ideias de como desvendar aquele mistério sobre Sakura.

Andei até a janela do quarto. Ela estava aberta e tinha uma vista bonita e bem ampla, abrangendo boa parte da vegetação e as casas da redondeza. Era interessante, porque, mesmo não estando tão próximo à Omamori, dava para ver a praça completamente, como Kizashi descrevera à sua antiga vizinha de Tokyo, a vista tinha um destaque principal no lago e no templo.

No templo... Era isso! A minha resposta estava no templo! Mais especificamente, nas tabuletas do templo, onde se pode colocar apenas um desejo para que ele possa ser realizado, ou seja, é claro que seria o desejo mais importante que uma pessoa escreveria nele. E claro, o desejo mais importante de Sakura estaria naquele templo.

— Sakura, venha!

— Sasuke-kun? – Sakura estranhou quando me viu correndo para fora do quarto.

Descia as escadas rápido, quando me encontrei com a mãe de Sakura segurando uma bandeja com uma jarra e um copo de suco.

— Sasuke-san, o que aconteceu?

— Meu amigo me ligou. Ele já chegou em casa. – Respondi rápido, desacelerando o passo para falar com ela. – Desculpa, mas não vou poder tomar o suco que a senhora fez...

Ela não esperava aquilo, muito menos a minha pressa, mas mesmo assim, sorriu para mim.

— Ah, tudo bem. Fica para a próxima.

— Desculpa ter causado esse incômodo à senhora, mas o que eu preciso fazer é urgente. – Falei já chegando ao genkan e colocando rápido os meus tênis.

— Não houve incômodo algum. – Mebuki falou amavelmente. – Volte aqui caso venha a Nakai outra vez. – Ela acenou para mim, que já estava abrindo o portão de grades.

Andei rápido, praticamente correndo, passando pelo mesmo caminho que havia usado para ir à antiga casa de Sakura. Seu trajeto já estava gravado na minha mente.

— Ei, aonde você está indo? – Sakura perguntou, correndo atrás de mim.

— Vamos achar a tabuleta com o eu nome no templo e descobrir o seu desejo. – Respondi a ela.

— O quê?! – Ela ficou tão surpresa que parou, ficou estática.

Parei de andar e olhei para trás. Os olhos de Sakura estavam enormes devido à sua surpresa.

— Qual o problema? Parece até que você não quer que eu saiba o que te prende aqui. – Ela definitivamente estava agindo de forma suspeita, girei o corpo totalmente em direção ao dela, vendo sua expressão se exaltar mais. – Sakura, o que você está escondendo de mim?

— Nada. – Ela respondeu, um pouco nervosa.

Tinha algo ali, era óbvio.

— Então, vamos continuar. – Falei já voltando a andar em direção ao templo. Ele já estava praticamente na minha frente.

Entrei no lugar já um pouco mais calmo, e fui logo direto para o lugar onde as tabuletas eram penduradas, na parte externa do templo, em uma varanda bastante larga.

Comecei a busca pelo pedaço de madeira com o nome de Sakura escrito no rodapé. Parecia uma tarefa impossível, ali havia milhares tabuletas penduradas e enfileiradas, ocupando praticamente toda a parede da varanda.

Mas não desistiria tão fácil. Estava perto demais para me dar por vencido. Procurava no lugar que achava provável que Sakura, com seu jeito romântico, colocaria o seu desejo mais importante: no lugar mais alto, para que os deuses o vissem com mais facilidade, deduzi a lógica dela. Olhava na parte mais alta que calculava que Sakura alcançaria. Ela era bem mais baixa do que eu, praticamente batia no meu ombro, então não era difícil visualizar os nomes nas placas.

Meus braços já estavam ficando dormentes e o pescoço doendo de tanto olhar para cima e tatear a tabuletas quando finalmente li no nome que procurava tão arduamente escrito com uma letra caprichada. Haruno Sakura. Respirei fundo, aliviado, apanhando a placa de madeira com cuidado para não derrubar os outros desejos.

— E-Espere... – Sakura tentou me parar, ela estava irritante demais para um dia só. Tinha feito tudo sozinho para o próprio bem dela e a única coisa que havia ela feito foi tentar me parar. Mas não deixaria que aquilo me tirasse mais do sério. Aquele era o grande primeiro passo para me livrar dela, não poderia me alegrar mais ali.

Com a tabuleta segura entre as mãos, li o que Sakura havia escrito como sendo o seu maior desejo:

Morrer junto com a pessoa que amo.

Haruno Sakura.”

O... o quê? O desejo de Sakura era realmente aquele que ela havia citado quando o avô dela morreu? O meio que ela havia encontrado para não machucar quem ama ou vice-versa?

Algo sem explicação até momento invadiu a minha mente a toda, fazendo-me ficar até um pouco tonto.

Dizem que a morte é uma libertação, mas estou presa. E só você pode me libertar... Sua vida é a jaula que me prende a este mundo.”

Era o que Sakura havia me dito no dia anterior, quando eu ouvi a conversa de Itachi escondido. Mas eu havia a interpretado de outro modo, mas, com aquela tabuleta, a fala de Sakura tomava uma forma completamente diferente. Não... não podia ser...

Sakura... O que ela havia me dito no dia anterior fora uma declaração? Ela gostava de mim? Me amava? Não... Era impossível. Não podia ser verdade.

Tirei os olhos pasmos de cima daquelas palavras e olhei para Sakura. Ela estava tremendo de leve, apertando a barra da saia entre as mãos. Quando nossos olhos se encontraram, minhas dúvidas foram tiradas. Era verdade. E Sakura entendera que eu já sabia de tudo.

Então, era por isso que ela estava tentando me parar, para que eu não descobrisse sobre os sentimentos dela.

Ainda a encarava, sem qualquer reação. Jamais pensaria que o que prendia Sakura era algo daquele tipo. Sakura não aguentou manter o contato visual e, apertando os lábios entre os dentes, seus olhos foram adquirindo mais brilho e lágrimas ameaçaram cair. Lentamente, sua cabeça foi tombando, até que eu não pudesse ver sua expressão.

— Desculpa... – Ela sussurrou, ainda segurando o choro.

A voz dela me despertou, mas ainda continuei a mirá-la um pouco. Já estava começando a sentir pena – ou até mesmo remorso – da situação daquela garota a minha frente.

De cabeça baixa, prestes a chorar, e pedindo desculpa por me amar.

— Você não tem que se desculpar de nada. – Disse, ainda abatido pela descoberta recente. – Apenas... preciso pensar um pouco.

E andei para fora do templo com a mente a mil. Se no dia anterior eu estava confuso, eu não sabia descrever como estava naquele momento. Era uma enorme mistura e conflito de sentimentos que jamais sentira antes. Ainda tentava processar tudo aquilo e organizar na minha mente:

Se ela me amava, então o desejo dela era morrer junto a mim? Se pensasse em cima do que ela havia dito, faria sentido. Ela disse que eu era a jaula que a prendia a este mundo, então...

Ela só será liberta com a minha morte?

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Até que a Morte nos Una" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.