Até que a Morte nos Una escrita por Nuwandah


Capítulo 10
Maldito festival




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O resto da noite foi acompanhada por uma insônia revoltante. Se as madrugadas seguintes fossem iguais a essas duas ultimas, estaria com problemas.

— Ah! – Sakura gritou de susto ao entrar no meu quarto um pouco antes do amanhecer e se deparar com uma das minhas piores expressões: um misto de sono, impaciência, raiva e olheiras. – S-Sasuke-kun, o que aconteceu?

— Falta de sono.

— Ah... Bem, já está na hora de você se arrumar, não? Vamos, vamos! – Ela tentou me empurrar da cama, mas suas mãos passaram por dentro de mim sem nenhuma resistência. – Er... O que conta é a intenção, certo? Vá tomar banho!

Encarei-a sem vontade de seguir mais ordens dela.

Garota irritante.

Desviei o olhar para o relógio. É, já era hora de “acordar” mesmo. Dessa vez ela tinha ganhado. Mas só dessa vez. Arrastei-me para fora da cama quase sem forças. Estava acabado.

Demorei mais tempo no banho do que o comum, torcendo para que a água quente arrancasse o sono de mim, mas não ajudou muito. Refiz o curativo, passando um pouco da pasta de mostarda que Sakura me ensinara a fazer no dia anterior. Tive a impressão de que ela realmente estava fazendo efeito, não havia sentido dor durante o banho dessa vez. Pelo menos, uma coisa de útil ela fez para mim.

Fiz tudo o que devia fazer e fui para a escola.

— Sasuke-kun, você não dormiu nem um pouquinho? – Sakura me perguntou, visivelmente preocupada.

— Dormi alguma coisa. – Respondi, talvez, na esperança de que aquilo fosse o suficiente para ela, que acabou entortando o nariz.

Acho que não.

— Por que será isso?

Estreitei os olhos inconscientemente. Dizer a verdade estava longe das minhas opções de resposta.

— Não faço ideia.

— Bom dia, Sasuke! – Suigetsu e os outros me encontraram no caminho para o metrô.

— Hm... Bom dia.

Suigetsu chegou mais perto mim e analisou meu rosto.

— O que aconteceu com você? Está cheio de olheiras.

Ah, de novo? Dessa vez, teria que inventar uma desculpa. Se eu dissesse a verdade, que estava com insônia, eles pegariam no meu pé direto para que me cuidasse direito. Nunca fui bom em inventar mentiras, mas consegui fazer uma plausível.

— Perdi a noção do tempo enquanto estudava.

Naruto me olhou incrédulo e com um tique nervoso no olho.

— ... Nerd.

— Babaca. – Retruquei automaticamente. Brigas e discussões entre Naruto e eu já tinha virado rotina.

— Vocês vão mesmo brigar logo de manhã? – Neji interveio, como sempre.

— Você devia tratar melhor o Naruto. – Sakura repreendeu.

Dei uma pequena risada debochada como resposta. Naruto era muito retardado para que um dia o tratasse com algum respeito.

— Hoje não vamos ter parte da primeira aula. – Neji comunicou. Sendo ele um integrante do grêmio estudantil, recebíamos algumas notícias antes da maioria dos alunos. – O diretor vai comunicar sobre as preparações do festival de inverno. – Aquilo me pegou de surpresa, tinha esquecido completamente dos festivais escolares. – Parece que esse ano vai ser um “pouquinho” – Ele fez um sinal de aspas com os dedos. – diferente do que costumamos fazer.

— Hmm... Por que isso não está me cheirando bem? – Suigetsu suspeitou.

— Também estou achando que isso não vai prestar, mas só vamos saber quando chegarmos à escola.

O suspense ficou pairando no ar todo o trajeto de ida, abrindo espaço para as mentes férteis de Kiba e Naruto criarem suas teorias: “Uma banda vai vir!”; “O festival vai ficar no lugar das provas!”; “Vai valer mais pontos esse ano” e blá, blá, blá...

Chegamos à escola e os professores já foram pedindo para que fossemos para o ginásio e formássemos fila de modo crescente de altura. Fiquei entre os últimos.

— Bom dia, alunos. – O diretor começou quando subiu no palco. – Como todos já sabem, estamos perto do festival de inverno. Estou contando com o esforço de cada um, ainda mais esse ano, que será especial.

É agora...

— ... Competiremos no desfile com as escolas da região.

Vários comentários ecoaram pelo ginásio, mas logo desapareceram diante da mão do diretor pedido por silêncio.

— Eu sei que isso é diferente do que estamos acostumados, mas o objetivo dessa competição é conseguir mais entrosamento entre vocês e que conheçam pessoas de outras escolas. Alguma pergunta? – O silêncio instalou-se no recinto. Ninguém queria se pronunciar. – Muito bem, o tema do desfile será passado para o representante de cada turma e vocês vão escolher o que cada turma fará de atração para arrecadar fundos para o final do ano. – O diretor fez uma reverência para nós. – Espero que se esforcem e mantenham a integridade desta escola. – Ele fez uma pequena pausa. – Sendo assim, estão dispensados.

Os alunos dispersaram-se organizadamente, mas fazendo mais barulho do que o normal, graças às infinitas conversas que não cessavam.

Fomos todos para suas respectivas salas, ainda sob alguns comentários. Já quase chegando à sala de nossa turma, uma pessoa chamou a atenção de Suigetsu e a minha. O vice-diretor caminhava acompanhado de uma mulher. Aquilo foi realmente inusitado para a nossa escola, sendo que todos os funcionários de lá eram do sexo masculino.

O vice-diretor e a mulher passaram por nós, indo para a direção oposta. Seus passos foram seguidos por olhares de todos os alunos. Além de ser uma mulher, ela tinha uma boa aparência, o que fez muitos olharem mais tempo do que poderia ser chamado de “discreto”. Mesmo em uma situação estranha e tensa como aquela, a mulher e o vice-diretor continuaram andando, provavelmente, para a sala dos professores.

— Soube que tiveram que contratar uma professora por causa do festival. – Pessoas desconhecidas que estavam perto de mim sussurraram entre si.

Que maldito tema era esse?

— Bem... – O representante começou quando todos sentaram. – Primeiro, o tema do festival que todos estão querendo saber, certo? – Todos continuaram quietos, esperando que ele prosseguisse. – Dessa vez, iremos abordar os tipos de danças.

Dança? Ele tinha dito “dança”? Já tinha entendido tudo, quem escolheu esse tema sabia que as escolas masculinas na região teriam uma chance de vencer menor do que as escolas femininas ou mistas.

— Ei, como podem dar esse tema pra gente? Esqueceram que somos homens?! – Kiba ficou alterado.

— Não vejo no que isso nos impede de dançar. – O representante respondeu calmamente.

— Como pode dizer isso?! Nós não sabemos dançar! O diretor já fez a sua cabeça?

— Não se preocupem, apenas alguns alunos vão apresentar na prática. E, para isso, - Ele olhou para a turma inteira, dando um ar de suspense. – foi contratada uma professora para dar aula de dança aos alunos selecionados.

Hun, boa tática. Como eu já havia dito, garotos de escola masculina têm muita falta e, tendo uma mulher para ensinar, eles topariam até fazer pole dance para ficar algum tempo no mesmo lugar que ela.

— Hm... De repente, dançar não me pareceu má ideia. – Alguém da sala comentou alto o suficiente para que a maior parte da turma ouvisse e concordasse.

— Então, como já se conformaram com a dança, vamos decidir qual vai ser a atração que nossa turma fará para arrecadar fundos.

— Quando vamos discutir qual será o fim do dinheiro que arrecadarmos esse ano? – Suigetsu, que ficava uma carteira á minha frente, perguntou.

— Logo após o festival, que será quando vamos saber quanto dinheiro teremos exatamente para gastar.

— Ah...

— Então, alguém tem alguma ideia para a nossa atração?

Pouco tempo depois, as ideias foram apresentadas e consideradas ou descartadas. Votamos e, no final, foi decidido fazer um Café, mas não foi pela praticidade, pelo que eu notei. A maioria dos que votaram pelo Café estavam, visivelmente, mais interessados na parte de recepcionar as freguesas que iriam lá. É muita falta, mesmo...

Quando a turma estava quase terminando de decidir alguns detalhes, o professor que estava conosco informou que o tempo da aula dele já havia se esgotado. Ia começar o auto-estudo.

Shikamaru abaixou a cabeça para dormir e Naruto, Suigetsu e Kiba começaram a conversar. Como podiam depois, com tanta desfaçatez, reclamar de suas notas? Passei a concentrar-me em minhas anotações, o que foi logo quebrada pelo vice-diretor abrindo a porta da sala:

— Uchiha-san, acompanhe-me, por favor. – Ele disse ao encontrar meu rosto em meia a tantos que o encaravam.

Olhei para os outros de relance, achando aquela atitude suspeita. Sem dizer nada, segui o vice-diretor até a sala dos professores. Fiquei incomodado todo o trajeto. Aquela pequena frase não parava de latejar e remoer na minha cabeça:

Ele sabia. Sabia do incidente do metrô. Mas como? Será que o Toya... Não, ele não cavaria a própria cova. Quem, então? Não conseguia pensar em mais alguém. Mas um coisa eu sabia: o vice-diretor e muito menos o diretor iriam gostar de saber que um de seus alunos resolveu “brincar” nos trilhos do metrô de Shibuya. Eles iriam querer tirar a limpo toda aquela história. Nada bom.

O vice-diretor abriu a porta da sala dos professores, era a primeira vez que entrava naquele lugar.

Uma mulher, que logo reconheci como sendo a que tinha visto mais cedo, estava sentada em uma cadeira. Ao ver a mim e o diretor, ela levantou-se. Olhando mais uma vez, pude reafirmar sua beleza. De olhos claros destacados pelo cabelo negro repicado, tinha uma impressão bem jovem, o que era reforçado pela maquiagem.

— Uchiha-san, esta é a Yuuhi Kurenai.

Ela abaixou a cabeça em reverência.

— É um prazer conhecê-lo. – Disse, já com a cabeça erguida, fiz uma reverência também.

Mas o que diabos era aquilo? Por que ele estava me apresentando àquela mulher?

— Ela será sua tutora de dança. – Ele completou, quase que lendo meus pensamentos.

— Hm? – Não sabia o que era maior: a minha surpresa ou o meu alívio. Logo depois ficou claro que era a surpresa.

— Aconteceu algo, Uchiha-san?

— Ah... Nada. – Forcei meu rosto assumir uma expressão neutra, mas eu realmente me sentia quase que em estado de choque. – Só não consigo entender por que justamente eu fui escolhido para apresentar a dança.

O vice-diretor sorriu para mim, em uma tentativa frustrada de reconfortar-me.

— Selecionamos os alunos de acordo com o desempenho motor observado nas aulas de educação física e que também tivessem uma boa aparência.

Aquela resposta tinha sido tão idiota que nem soube o que responder. Fiquei encarando-o com uma expressão de você-é-retardado-ou-o-quê? Ele deveria ser isso mesmo, pois nem dessa forma ele se tocou.

— Não dá para pedir para outro aluno assumir o meu lugar? Há outros alunos que realmente querem dançar.

— Não, os nomes dos escolhidos já foram mandados para a lista oficial dos concorrentes à dança, sinto muito.

Sim, espero que sinta muito mesmo.

— As suas aulas de dança serão durante o tempo livre que será reservado para as preparações do festival. Os escolhidos para a dança estarão dispensados da maioria dos trabalhos. – Tentei ver aquilo como uma forma de conforto, mas em nada funcionou. – Bem, é só isso. Está dispensado.

Curvei levemente minha cabeça para ele e a nova professora e saí da sala duro como um robô.

— Olha que legal, Sasuke-kun! Você, pelo menos, não vai precisar trabalhar um bocado.

O que ela estava dizendo? Eu não queria dançar. Trabalharia por dez alunos nesse festival para não precisar dançar em público. Mas que droga! Droga! Droga! Droga!

Entrei na sala, certa pessoa inconveniente já tinha notado minha expressão.

— O que o vice-diretor queria com você? – Suigetsu perguntou-me ao se levantar de sua carteira.

— Dar minha sentença de morte. – Disse sem pensar direito, ainda estava agindo como um robô.

— Como é?

Notando o que tinha falado anteriormente, acordei do meu “transe”.

— Ele me informou no quê eu iria trabalhar no festival.

— Isso não tem nada de mais para ser uma sentença de morte. O que tem de tão ruim nisso?

Senti meu rosto esquentar de vergonha, estava ficando um pouco vermelho. Virei o rosto para o lado para tentar disfarçar, mas não funcionou. Suigetsu me encarou com suspeita e sacou tudo. Sua boca caiu em surpresa.

— Sério?! Você foi escolhido para dançar??! – Então, começou a rir descaradamente. Os outros do grupo o ouviram dizer a última frase e começaram a rir junto.

— Isso é verdade? – Shikamaru me perguntou, era o único que não ria de mim. Nem fiz questão de respondê-lo, fui para o meu lugar como uma expressão não muito agradável.

— Então é verdade mesmo? – Ele insistiu comigo.

— Esqueça esse assunto idiota. – Disparei contra ele. Mas aquilo serviu apenas para confirmar sua pergunta.

— Hun. – Shikamaru soltou uma risada curta e freada. – Sua situação é de dar pena, mas ela só vai parecer ruim se você ligar para o que os outros vão pensar. E você não é desse tipo, é? Apenas faça o trabalho que lhe foi empregado e pronto.

Seria demais dizer que aquilo me travou? Mas foi apenas por um intervalo de tempo muito curto.

Virei minha atenção para o material sobre a minha mesa, buscando fugir logo daquele assunto e da atenção de Shikamaru.

— Tanto faz.

Ouvi Shikamaru respirar um pouco mais fundo do que o normal e sair.

— Ele disse algo certo, Sasuke-kun. – Sakura comentou ao meu lado.

— E você, quieta. – Disse para ela, e dessa vez, apenas com o movimento dos lábios. Ela entendeu na hora e grudou bem os lábios, prometendo pelo olhar que não falaria mais.

Novamente, voltei minha atenção ao auto-estudo, tentando ignorar a zoeira de alguns idiotas.

Passei o resto do dia e da tarde tentando esquecer o infeliz fato do festival e não ouvir comentários sem pudor das pessoas que insistem em ficar perto de mim o tempo inteiro.

Quando o último sinal tocou, não tive permissão para sentir nenhum alívio de finalmente poder ir para casa. Ainda tinha a maldita aula de dança. Mas ninguém me forçaria a fazer algo que não quisesse. Decidi, então, não ir à aula e falar com o diretor no dia seguinte.

Quando Sakura notou que estava me direcionando à saída, ela logo se pôs na minha frente, talvez esquecendo que eu poderia tranquilamente passar por ela.

— Você vai embora? Esqueceu aula de dança? – Ela pôs ambas as mãos na cintura.

— Não irei dançar, então vou para casa.

— Como pode estar desistindo tão fácil?

— Não estou desistindo, só não vou fazer algo que não quero. – Falei já a circundando para seguir em frente, como se desviar fosse necessário.

Sakura correu novamente para minha frente, agora mais agitada.

— Mas você nem sabe que estilo irá dançar! Vai fugir da guerra sem mesmo saber quem é o seu inimigo? Pode ser que você deva dançar wakashu (N/A: Dança para rapazes.).

— Não. E ponto final. – Desviei-me dela pela segunda vez.

Sakura jogou os braços para frente de mim em gesto para que eu parasse.

— Se você pelo menos for à aula e ver qual vai ser o estilo e, ao menos, pensar a respeito, eu fico sem falar um dia inteiro!

Parei com o andar na hora. Aquela proposta me pareceu irresistível. Olhei-a atentamente. Ela sabia que eu a encarava como um estorvo e, mesmo assim, se preocupava com o fato de eu não querer assumir um compromisso? Essa garota era realmente estranha.

— Tudo bem, mas apenas isso.

Conforme suas mãos, que ainda tentavam me parar, levantadas inutilmente, começavam a abaixar, seu sorriso aumentava.

— Ótimo! Você é incrível, Sasuke-kun! – Revirando os olhos, dei meia-volta para ir à sala onde a dança seria ensinada.

No caminho, Sakura deve ter notado que não ela tinha falado muito o dia inteiro e resolveu compensar naquele momento dizendo algo bem idiota.

— Tomara que a dança seja Ryukyu Buyou... Eu sou apaixonada por ela.

Virei para Sakura um pouco perplexo.

— Esso é uma dança feminina.

Ela parou em uma pequena reflexão, seu olhar denunciando que tinha se dado conta do que tinha dito.

— Hahaha! Claro que é, né? Foi só uma brincadeirinha! – Com a mão em frente à boca, ela a jogou para os lados várias vezes enquanto ria sem graça.

— ... Claro.

Cheguei à sala destinada e olhei para Sakura.

— Se eu não gostar do tipo de dança, não irei dançar, entendeu? E não se esqueça de ficar sem falar.

— Certamente! – Ela piscou e sorriu. Revirei os olhos novamente. A animação dela me era muito estranha.

Entrei na sala. Alguns alunos já estavam nela, juntos a Kurenai.

— Ah, que bom que veio, Uchiha-san, estava faltando apenas você. Entre.

Fechei vagarosamente a porta atrás de mim, um pouco receoso.

— Fico feliz que todos tenham topado em fazer uma apresentação de dança. – Ah, ela achava isso mesmo? – Por favor, levem esses ensinamentos da dança com vocês por quanto tempo for necessário.

— Antes de qualquer coisa, sensei, qual vai ser o estilo da dança? – Interrompi-a, parando com toda aquela enrolação.

— Será uma dança que todos vocês conhecem, a valsa.

— Valsa?!

Continua...


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