Sempre Ao Seu Lado escrita por Blood Roses


Capítulo 3
Capitulo 3




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O pequeno estava deitado calmamente na cama. O sol que vinha da janela batia diretamente em seus olhos causando um forte desconforto, porém ele ignorava isso e continuava ali olhando para o teto.

Um leve barulho na porta fez Adrien virar à cabeça em direção à mesma, vendo no relógio que eram dez da manhã e que em um dia normal ele já deveria estar de pé indo em direção a sala reservada para as suas aulas, porém era sábado e os professores não viriam naquele dia nem no dia seguinte.

Três batidas leve fizeram Adrien remexer-se na cama. Sem receber resposta a empregada abriu a porta e empurrou um carrinho para dentro do quarto, em seguida ela curvou-se levemente e saiu, deixando o carrinho ali.

Adrien observou atentamente o carrinho, vendo que sobre ele havia uma bandeja com comida, do lado esquerdo da bandeja, Adrien pode ver um sanduíche em um prato decorado com dourado, ao lado um grande copo de suco de coloração laranja, do lado direito havia um pequeno pirex com três pílulas e ao lado do pirex um grande copo de água.

O pequeno sabia o que eram aquelas pílulas, pois as tomava desde que se lembrava, tanto ele como sua mãe, que sempre lhe dizia que eram as pílulas que os mantinham vivos e bem, e que tinham que tomá-las todos os dias, uma vez ao dia.

Adrien se lembrava que não conseguia tomá-las por serem muitos grandes e difíceis de engolir, por isso sua mãe fazia vitamina de variadas frutas e colocava o conteúdo das pílulas na bebida para que o pequenino pudesse ingerir com mais facilidade.

Relembrar isso trouxe um pequeno sorriso aos seus lábios, algo que tonou-se raro desde que chegou ali a quase seis meses. Adrien olhou novamente para as pílulas lembrando-se do que sua mãe lhe disse e decidiu não tomar as pílulas, afinal ele já não tinha mais um motivo para viver.

O pequeno voltou sua atenção para o teto, relembrando o episódio com Natalie, fazia quase quatro meses desde o acontecimento e Adrien percebeu que não era somente Natalie que pensava e agia daquela forma: até mesmo os empregados evitavam tocá-lo assim como falar muito próximo ao menino, tratavam-no como uma espécie de vírus mortal.

Certa vez, o pequeno ouviu algumas empregadas conversando entre si, dizendo que sua amada mãe era uma irresponsável ao ter se envolvido com outras mulheres e ter contraído aquela doença e contaminado Adrien. Diziam coisas muito cruéis, falando que naquele momento ela deveria estar no inferno devido a essas ações impensadas, e que sentiam pena no menino, que nada havia feito e já nascera condenado a morrer.

Adrien não entendia muito bem o significado daquelas palavras e preferiu guardar isso para si, mais ele sabia que eram palavras cruéis e maldosas, e principalmente infundadas, mas não havia motivo para fazer alarde, afinal não havia para quem contar aquilo, já que ninguém parecia se importar consigo, e só lhe davam comida e um lugar para dormir por obrigação.

Adrien então levantou-se da cama e andou em direção ao carrinho, pegou o sanduíche e deu uma mordida, mastigou e engoliu, porém a comida parecia ter perdido o sabor; era como comer areia.

O menino então largou o sanduíche pela metade no prato e voltou a se deitar, sem vontade alguma de fazer qualquer outra coisa. A empregada veio pegar o carrinho alguns minutos depois, percebendo que o menino não havia tomado os seus remédios e nem comido corretamente.

 Porém ela nada disse, afinal aquilo não era problema seu e com esse pensamento ela levou o carrinho em silêncio de volta para a cozinha. Obviamente Natalie ficou sabendo desse fato, mais ela também nada disse, pois isso também não era problema dela.

Porém o final de semana passou rápido, e logo era hora de voltar à rotina, às horas exaustivas de estudo intenso e ensinamentos de etiqueta. O pequenino acordou no mesmo horário de sempre, levantou-se e colocou qualquer roupa e de qualquer jeito, afinal era uma criança e não sabia vestir-se corretamente, porém ninguém ali estava disposto a ajudá-lo.

Ele desceu as escadas em direção à copa, vendo a mesa farta de comida como era todos os dias, o pequeno sentou-se na cadeira da ponta e ficou observando os diversificados pratos, mais ele não sentia fome alguma.

Adrien ficou os dez minutos que eram reservados para a sua alimentação observando a comida. O pequeno também viu próximo a si os remédios que deveria tomar, colocados cuidadosamente ao seu lado, porém o pequeno nada fez, apenas ficou ali observando.

Quando o seu professor chegou, o pequeno se levantou e seguiu em direção a sua sala de estudo, sem dizer uma única palavra, o que já havia se tornado rotina, tanto para ele como para os empregados.

Os dias seguiram-se da mesma maneira: Adrien pouco comia e por isso tornou-se extremamente magro e com fundas olheiras, porém as pessoas pareciam não ver isso, na verdade elas evitavam perceber o que estava acontecendo com o garoto, e antes que pudessem perceber, um ano já havia se passado.

Naquele dia Adrien fez pela primeira vez um pedido a Natalie: ele pediu para visitar o túmulo de sua mãe no dia do aniversario de sua morte. A morena obviamente recusou o pedido, dizendo que seria inútil leva-lo lá, mais o garoto insistiu e sem muita escolha ela acabou cedendo.

Foi um voo de poucas horas e, após uma hora de carro, eles chegaram ao cemitério aonde ela havia sido enterrada. Adrien veio o caminho todo em silêncio, os seguranças sentaram-se afastados do menino e apenas observavam a paisagem. No caminho Adrien fez o motorista parar em uma floricultura e comprar o maior buquê de rosas brancas que o local pudesse vender, e assim ele o fez, voltando com um buquê enorme de belas e bem cuidadas rosas brancas.

Após dez minutos eles chegaram ao cemitério. Adrien andou calmamente pelos caminhos do local até chegar a lapide. O menino percebeu que a lapide estava mal cuidada, com grama crescendo sobre a pedra antes branca, mais que agora encontrava-se acinzentada.

O loiro ajoelhou-se no chão, ignorando o fato de estar com um terno caríssimo e começou a arrancar a grama, ele então passou a mão sobre a pedra e retirando os fiapos da grama, Adrien então pegou o buquê que ele havia colocado cuidadosamente no chão antes de começar a retirar o mato e colocou em frente à lapide, tomando cuidado para que todas as flores ficassem viradas para cima.

O pequeno então ficou ali, em silêncio, apenas observando a pedra que continha o nome de sua mãe. Ele de fato queria chorar, gritar e espernear, porém simplesmente não tinha forças para isso, então ele ficou ali observando a pedra acinzentada por aproximadamente uma hora, pois foi após esse tempo que um dos seguranças avisou que já estava na hora de voltar.

Adrien atrapalhou-se um pouco na hora de levantar, pois ficou muito tempo ajoelhado na mesma posição, mais nenhum dos homens fez menção de ajudá-lo e ficaram apenas olhando o pequeno vacilar enquanto andava, mais Adrien já estava acostumado a isso, e por isso nem se importou, apenas andou a passos vacilantes até o carro.

O caminho de volta passou rápido de mais para o gosto de Adrien, que chegou a mansão extremamente cansado e por tanto foi direto para o quarto. Lá Adrien deitou-se na cama e abraçou o travesseiro, e ficou pensando em sua mãe, tentando lembrar-se dela, tentando lembrar-se da voz, do rosto, do cheiro, porém para o seu desespero, suas lembranças estavam bagunçadas, o pequeno já não conseguia mais se lembrar da voz e nem do rosto de sua mãe, ele a estava esquecendo.

Então ele gritou, chorando em desespero, desejando que alguém viesse ajudá-lo, mais ninguém veio, e o pequeno dormiu ali, encolhido na cama, abraçado em um travesseiro chamando o nome de sua mãe.

No dia seguinte, Adrien acordou não se sentindo muito bem e quando uma das empregadas veio chamá-lo para se levantar, pois o professor do dia o esperava, o pequeno respondeu com uma voz extremamente fraca, dizendo que não conseguia se levantar.

Preocupada a moça abriu a porta do quarto e bastou um olhar para ela perceber que o garoto realmente não estava bem. Natalie então chamou um médico de confiança, não por que queria ter certeza do diagnostico, mais para não causar um escândalo, já que o pai de Adrien era não apenas um homem rico, mais extremamente famoso.

O médico não demorou a aparecer, este fez um exame rápido e diversas perguntas assim como brincadeiras com o menino, que riu um pouco com as piadas e leves cócegas que o médico fazia em si.

Adrien sentiu-se um pouco feliz, coisa que ele não sentia a muito tempo. Depois de examinar o garoto e lhe dar um remédio para febre, o médico foi conversar com as empregadas da casa, e descobriu com horror crescente que o menino mal se alimentava e que não tomava os remédios prescritos a pelo menos um ano.

O homem então foi falar com Natalie que estava responsável pelo garoto, o homem deu-lhe uma bronca, brigou com a morena durante uma hora sobre os cuidados que deveriam ter com o garoto, porém ele percebeu com infelicidade que não importava o que ele dissesse a mulher, nada mudaria em relação à atitude dela com o menino, para ela não fazia diferença o que acontecia com Adrien, e infelizmente ele não conseguiria ter nenhuma atitude em relação a isso.

O homem então mandou Adrien fazer uma bateria de exames de todos os tipos, e exigiu os resultados em uma semana, pelo menos isso ele tinha autoridade para fazer, afinal, bastava três palavras com o pai do garoto e Natalie estaria com problemas, pelo menos era isso o que ele acreditava.

Uma semana depois e os exames estavam completamente feitos e os resultados entregue em sua mão. O médico começou a olhar os resultados, e suas piores suspeitas se concretizaram: Adrien estava começando a ter falência nos rins, não apenas isso, Adrien estava desnutrido e com uma forte anemia. Enquanto olhava os resultados o médico estava impressionado com o fato de Adrien conseguir levantar.

O homem então passou uma sessão de cuidados que eles deveriam ter com o garoto, e disse que o menino deveria fazer um acompanhamento com um psicólogo ou psiquiatra. Natalie então marcou o psciquiatra para Adrien, preferiu uma médica mulher a um homem, pois imaginou que o menino teria resultados mais rápidos com uma mulher.

Adrien foi até a médica sem muitas expectativas, porém surpreendeu-se completamente ao chegar lá. A médica com o nome de Aria, mostrou-se ser uma mulher muito jovem e cativante, sempre sorrindo e olhando com carinho para Adrien.

No começo eram duas sessões por semana, aonde eles mais brincavam no que conversavam, Adrien sentia-se mais feliz ao ter alguém que se importava com ele, que não se importava de tocá-lo e chegar perto de si.

Porém isso durou pouco, perto de um mês. Aria, ao descobrir sobre a doença de Adrien, afastou-se do menino, procurando fazer sessões aonde Adrien ficasse o mais longe de si quanto possível, e quando o jovem a tocou ela discretamente passou álcool em gel no local e encerrou a sessão logo em seguida.

Adrien ficou em um estado de choque, pois pelo menos os médicos nunca haviam agido com ele daquela forma, eles simplesmente o tocavam e falavam consigo, e por isso ele nunca esperou aquela atitude por parte de Aria.

Após isso Adrien começou a se recusar a ir as sessões, mais Natalie o obrigava, assim como o obrigava a comer, mas depois do acontecimento Adrien apenas olhava para a comida, e quando comia, vomitava logo em seguida, eram raras as ocasiões aonde o menino conseguia comer.

Naquele momento Adrien estava sentado de frente para aquela que um dia foi sua amiga. Ela estava com um pequeno caderno na mão e parecia anotar algumas coisas, após terminar o que queria anotar, ela sorriu para o menino.

—Então, Adrien – falou ela, tentando ser amigável – A sua mãe, ela costumava sair com outras mulheres?

—Não – respondeu Adrien, sem encarar a mulher a sua frente.

—Entendo – falou ela – E algum homem frequentava a sua casa? Algum homem… diferente do comum?

Adrien apenas a encarou em silêncio, enquanto ela sorria com os olhos verdes cheios de expectativa, mais Adrien manteve-se quieto.

—Adrien, você me escutou? – perguntou ela, ficando um pouco seria, Adrien então balançou a cabeça positivamente – Então, por que não me responde?

Silêncio, Aria então soltou um suspiro.

—Olha, eu só quero ajudar você – falou ela, ajeitando-se melhor na poltrona que usava e apoiando o rosto jovem na mão – Mais para ajudar você, eu preciso que me responda isso.

—Você não quer me ajudar – falou Adrien, a encarando nos olhos – Você tem medo de mim.

Aria arregalou os olhos, sem saber o que dizer.

—Isso não é verdade – falou ela, sorrindo – Eu não tenho medo de você.

—É mesmo? – falou Adrien com certa ironia, o que é simplesmente incomum para uma criança de apenas cinco anos – Então por que está tão longe?

Silêncio por parte de Aria.

—Você é como eles – falou Adrien, enquanto pequenas lágrimas enxiam seus olhos – Eu sou como veneno.

Culpa, essa foi a primeira coisa que Aria sentiu, afinal não era culpa de Adrien, ele não havia pedido por nada daquilo, ela sabia disso, mais não conseguia evitar de agir daquela forma. Adrien estava certo, ela tinha medo dele.

Ao ouvir essa frase, Aria encerrou a sessão e deu alta para o menino, dizendo que não conseguiria tratar o caso dele. Adrien nunca mais a viu.

Adrien agora estava deitado na cama sem se mover, sentia-se fraco e qualquer menção de se levantar parecia incrivelmente difícil, fora um forte mal estar que dominava seu corpo, Adrien acabou desmaiando ali, sem ninguém para notar sua falta.

Duas horas, esse foi o tempo que os empregados demoraram para encontrar Adrien, e não o encontraram por que sentiram falta do menino, mais sim por que era a hora em que geralmente levavam um lanche para ele.

A empregada responsável por levar o lanche bateu à porta e como sempre não recebeu resposta, ela então abriu a porta e entrou no quarto, vendo Adrien deitado na cama completamente pálido e magro, porém suas bochechas estavam muito rosadas, mostrando que algo estava errado.

Ela saiu chamando por Natalie que chamou uma ambulância, pois a respiração do garoto estava muito fraca. Ao chegarem lá, Adrien foi colocado para tomar soro e diversos aparelhos foram conectados ao seu corpo, assim como vários exames foram pedidos, para ver a situação do garoto.

Bastou dois exames para que eles percebessem que os rins do menino haviam parado de funcionar, e que o pequeno estava com uma forte anemia. Os médicos foram para cima de Natalie, exigindo uma explicação da morena, porém ela apenas passou um pequeno registro médico que mostrava que o garoto não estava bem a algum tempo, e que já estava em tratamento.

Os médicos se acalmaram e passaram para ela as novas recomendações e o programa de tratamento de hemodiálise, assim como as reuniões de crianças com diversas doenças e problemas promovidas pelo próprio hospital.

Natalie matriculou Adrien nos dois programas para retirar as suspeitas infundadas dos médicos de maus tratos físicos, assim abafando qualquer caso que envolvesse o nome de seu amado chefe.

Adrien acordou dois dias depois sentindo-se um pouco melhor, o pequeno ficou no hospital por mais dois dias em observação até receber alta. Ali o pequeno foi obrigado a comer e tomar os médicamentos, porém assim que comia Adrien vomitava, e por isso o hospital o manteve no soro, para evitar a desidratação do menino.

Adrien voltou para casa já ciente de que teria que ir no hospital duas vezes na semana fazer hemodiálise e participar do grupo de crianças que realizavam algum tipo de acompanhamento médico.

No dia seguinte Adrien foi para o hospital realizar sua primeira hemodiálise consciente. A agulha foi dolorida e o barulho razoavelmente alto da máquina o incomodou no início, porém as enfermeiras falaram que ele logo se acostumaria e que possivelmente dormiria nas próximas sessões.

Na primeira sessão do grupo de apoio para crianças, realizada na semana seguinte, Adrien foi introduzido no grupo, aonde lhe apresentaram e contaram sobre a sua doença, e assim como no condomínio, as crianças se afastaram de si, seja por ordem dos pais que ouviram a cuidadora falando, ou por si mesmas com medo do garoto, isso Adrien não sabia dizer, mais já estava acostumado com aquele tratamento.

Então o pequeno ficou ali, sentando em um dos bancos vendo as outras crianças brincando, rindo e gritando enquanto corriam atrás de uma bola, ou umas atrás das outras.

—Não quer brincar? – perguntou a cuidadora, sentando-se ao seu lado. Adrien balançou negativamente a cabeça, tanto por estar fraco como por medo de contaminar as crianças, já que ele mesmo pouco sabia sobre sua própria doença – Entendo.

A moça então virou-se e pegou um tabuleiro com várias linhas que se conectavam umas as outras, haviam quatorze peças achadas, sendo sete brancas e sete pretas.

—Vamos jogar trilha? – perguntou ela, sorridente. Adrien ficou um pouco receoso, tanto por não conhecer o jogo como por medo de tocar a moça – Ah vamos! Não seja tímido! – ela falou rindo, então ela se aproximou e sussurrou para que somente o menino ouvisse – Prometo que te deixo ganhar.

Vendo que ela não iria desistir o pequeno acabou cedendo e começou a jogar com a moça, que ele descobriu que se chamava Marinette. A garota participava do programa apenas um dia da semana, que coincidiu de ser um dos dias que Adrien iria lá, porém para a sua tristeza, Marinette iria viajar em breve e não havia data para o seu retorno.

Adrien buscava aproveitar cada minuto que passava com a morena, pois somente quando ela estava ali era que ele se divertia, e graças a isso o pequeno começou a comer, logo sua aparência havia melhorado e seu sorriso se tornado cada vez mais presente.

Porém quando a jovem viajou e Chloe passou a ser a cuidadora dos dois dias, Adrien voltou ao seu estado antigo, sem conseguir comer e agora seus sonhos eram recheados de pesadelos, principalmente com Chloe sempre o tratando mal e o descriminando na frente das outas crianças, agora Adrien sentia-se mais sozinho do que nunca e não havia ninguém disposto a ajudá-lo.

***

Um jovem alto no auge de seus dezoito anos vinha viajando em silêncio dentro de uma enorme limusine, os cabelos loiros penteados para trás davam a ele uma aparência mais velha, assim como o terno preto perfeitamente alinhado.

Ele suspirou pesadamente ao sentir seu celular vibrar pela centésima vez dentro de seu bolso, ele então o retirou vendo o nome de Nino, seu executivo pessoal, escrito na tela, o jovem então desligou o aparelho e afrouxou a gravata verde que usava, numa tentativa de relaxar.

—Estaremos no aeroporto dentro de alguns minutos – falou o motorista através do alto-falante. O jovem suspirou aliviado e recostou-se melhor no banco, mal podia esperar para voltar para casa.

Há mais de um ano ele vivia viajando para diversos países, fechando acordos ou vendo novas tecnologias criadas para seu ramo de trabalho, pelo menos o ramo que seu pai lhe entregou quando tinha apenas quatorze anos. Lembrar-se do desespero que sentiu ao saber que toda a divisão de pesquisas médica da grandiosa Indústrias Agreste ficaria sobre seu comando, fez o jovem dar um pequeno sorriso, de fato ele havia amadurecido.

Mas por mais que ele fosse jovem e já tivesse se acostumado, ele ainda era humano e precisa de um descanso, coisa que não acontecia desde que recebeu tal posto. Por isso naquele momento ele basicamente fugia de seus assessores e de possíveis reuniões que seu pai havia marcado de ultíma hora, para evitar seu retorno para a casa aonde foi criado.

O loiro retirou um tablet da maleta que trazia e o ligou, acessou a rede remotamente e começou a olhar os balanços tanto financeiros como de resultados da empresa. Bastava um passar de olhos para perceber qualquer erro que pudesse existir ali, mais para a sua alegria não havia nada errado, na verdade a empresa estava surpreendentemente bem.

Ele deu uma olhada em sua possível agenda que Nino havia atualizado, vendo novas reuniões completamente inúteis para si marcadas para as próximas horas de seu dia, porém ele já havia adiantado tudo que precisava ser feito naqueles dias e deixado ordens explícitas para a vice-presidente do que precisava ser feito. E com isso em mente ele entrou no jato particular, preparando-se para a longa viagem de volta a Paris.

O voo foi mais longo do que ele esperava e muito turbulento para o seu gosto, assim que o avião pousou o loiro já avistou uma Mercedes preta para com dois seguranças ao lado, esperando a sua chegada. A aeromoça andou em sua direção, perguntando com um sorriso nos lábios pintados de vermelho se ele desejava mais alguma coisa, porém o loiro nem a ouviu e seguiu em direção a porta, aonde a escada já estava colocada.

—Senhor Felix – cumprimentou o segurança, com um leve aceno de cabeça.

Felix nada disse, apenas entrou na Mercedes ajeitando-se confortavelmente no banco enquanto o outro segurança pegava suas malas e colocava no porta-malas. Após quarenta minutos de viagem Felix avistou o familiar portão da mansão da família Agreste.

O motorista abriu o portão com seu cartão de identificação e manobrou o carro, parando-o na porta de entrada, rapidamente o outro saiu do carro e abriu a porta para que o loiro pudesse descer.

Felix desceu do carro e andou em direção a mansão, abriu a porta e entrou enquanto os seguranças pegavam as malas e levavam para dentro. Felix foi em direção à copa, pois era aonde geralmente havia alguma empregada, porém ao chegar lá percebeu surpreso que havia três empregadas lá, começando a colocar a louça na mesa para o almoço.

O loiro estranhou, afinal não havia avisado ninguém para aonde estava indo, e seu pai jamais mandaria preparar a casa para a sua chegada. As empregadas ao notarem a sua presença soltaram gritinhos de susto, e logo Natalie apareceu em seu campo de visão, descendo as escadas.

—O que significa isto? – perguntou Felix para a morena, que ao ver o jovem ali quase soltou seu inseparável tablet.

—Senhor Felix… – falou ela, ajeitando-se – Seja bem-vindo.

—Obrigada, Natalie – falou ele, afinal a boa educação sempre vinha primeiro – Agora, responda minha pergunta.

Natalie ficou em silêncio, como se lutasse internamente sobre contar a verdade ou inventar uma mentira de ultíma hora. Porém a morena nem teve tempo de formular uma resposta, pois atrás de si uma criança vinha descendo as escadas.

Felix arregalou levemente os olhos azuis, surpreso não somente pelo fato da criança estar ali, mais também pela sua aparência. A criança de no máximo cinco anos, vinha descendo a escada a passos lentos, o corpo extremamente magro cujo qual Felix podia ver quase que claramente a forma dos ossos, e profundas olheiras envolta dos olhos.

Os olhos verdes miraram a sua figura, e Felix percebeu a profunda tristeza que estes mostravam, Felix notou com surpresa que aqueles olhos eram muito parecidos com os seus quando sua mãe morreu em um acidente de carro.

Natalie, percebendo que não adiantaria mentir, resolveu falar a verdade, mesmo que seu chefe e pai de Felix, tenha deixado claro que ninguém deveria saber da existência do menino, ninguém importante pelo menos.

—Este é Adrien – falou a morena, dando mais espaço para que Felix pudesse enxergar perfeitamente a forma do menino – Ele é um filho bastardo do seu pai.

A ultíma frase foi quase desnecessária para Felix, pois era possível perceber a impressionante semelhança entre eles, como por exemplo o formato do rosto e olhos, o desenho dos lábios, até mesmo o tipo de cabelo, Adrien parecia uma versão criança de Felix, porém havia uma única diferença, Adrien possuí belos olhos verdes, já Felix possui os olhos azuis, iguais o do pai.

—Filho… bastardo…  – repetiu Felix, digerindo a notícia.

—Seu pai deu uma ordem explicita de que ninguém deveria saber da existência dessa criança – falou Natalie, suspirando em seguida – Por isso ele resolveu criá-lo aqui, já que a mansão é pouco utilizada e a maioria dos assuntos empresariais são tratados nas filiais europeias.

—A mãe dele? – perguntou Felix, porém este já imaginava o que havia acontecido com a mãe do menino.

—Morreu de câncer – falou Natalie – Há um ano.

O silêncio pairou no ar por alguns instantes, até que uma senhora um pouco acima do peso e vestida toda de branco entrou na sala a passos rápidos.

— O que diabos você estão fazendo! – falou ela, dirigindo-se as empregadas – O almoço já está pronto! E a mesa… .

A frase morreu pela metade ao ver Felix parado ali, olhando para ela, envergonhada a mulher pediu desculpas e saiu do local, sendo acompanhada pelo resto das empregadas que ia buscar o resto das louças.

Em poucos minutos a mesa estava posta e Felix e Adrien estavam sentados, um de frente para o outro. Adrien estava chocado com a noticia assim como Felix, porém diferente de Felix, Adrien não esboçou nenhuma reação, preferindo ficar em silêncio.

Felix fora ensinado desde pequeno a lidar com as situações da melhor maneira, e principalmente aceitar os fatos como eles são, então não havia motivo para ficar chocado por muito tempo, afinal o garoto já estava ali.

—Então, Adrien – falou o jovem, buscando puxar assunto com o menino, pois o silêncio estava o sufocando aos poucos – Quantos anos você tem?

—Cinco – respondeu Adrien sem encarar o meio-irmão nos olhos. Felix buscou em sua memória as atitudes e reações das crianças que tinham cinco anos e comparou com as de Adrien até aquele momento, nenhuma das reações do garoto havia sido parecida com as das crianças em sua memória, na verdade Adrien parecia muito mais velho do que cinco anos.

Felix observou com o canto de olho a agitação de algumas empregadas, viu quando elas pegaram uma bolsa preta e retiraram três caixas de médicamentos de dentro, com a sua visão superior, Felix conseguiu ler o rotulo de uma das caixas, se surpreendendo ao perceber que era um coquetel para pessoas portadoras do vírus HIV.

Poucos segundos depois a empregada veio com um pirex colocado em uma bandeja de prata junto com um grande como de água. Ela foi em direção a Adrien e colocou o pirex e a água próximo ao garoto, Felix percebeu os três comprimidos coloridos colocados cuidadosamente no pirex.

E naquele momento muitas coisas fizeram sentido para Felix, principalmente ao ver o menino apenas observar a comida e após poucos minutos levantar-se da mesa e sair. Ninguém, nem mesmo Natalie fez algum comentário, o que significava que aquilo acontecia bastante, mais o que mais surpreendeu Felix foi o fato de ninguém parecer ter se importado com aquilo.


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