Obscure Grace escrita por Ahelin


Capítulo 9
Capítulo 8 — Rafael


Notas iniciais do capítulo

Hey, pudim!
Como vão as coisas na Terra?

Man, tem 95 acompanhamentos. 95, ALGUÉM ME MATA.
Vocês são incríveis, sério.
Obrigada, espero de verdade que estejam gostando da história :3 amo vocês, seus lindos.

Ah, e um AVISO: Sim, é isso mesmo que leram no título. Esse capítulo é do Rafael. Preparem os corações de Rafaele shippers e bora lá ;)

P.S: SÁBADO É MEU ANIVERSÁRIO. Sei que não é muuuuuuito interessante, mas eu adoraria receber uma ou outra MP de parabéns fslksks brincadeira, gente. Não, sério. Só posso dizer que vão ter uma surpresa sábado :3

Sem mais delongas, aqui está. Até lá embaixo o/



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Já ouviram falar naquele ditado que diz que vermelho com vermelho não faz arco-íris? Claro que não, eu acabei de inventá-lo. Bom, que seja, era assim que eu e Cibele nos sentíamos, um em relação ao outro antes de tudo acontecer. Não nos odiávamos, como sei que Lis achava, mas apenas não conseguíamos combinar pelo simples fato de sermos parecidos demais. Confuso, eu sei, mas é a verdade.

Depois do acidente, tudo passou como um borrão. Ainda me lembro de chamar uma ambulância e ficar gritando para que Lis acordasse, lutando pra tirá-la da grama enquanto seus olhos se fechavam bem devagar.

— Ela bateu a cabeça no vidro do carro — foi o que me disse o médico da emergência depois que fiquei incontáveis horas encarando a parede branca e deprimente da sala de espera. — Sofreu um trauma grave... — Ele parecia estar escolhendo bem as palavras. — Houve uma hemorragia cerebral, e logo em seguida morte cerebral. Não podemos fazer nada... Eu sinto muito.

A notícia me devastou de um jeito que nada mais conseguiria.

— E onde ela está?

Não sei ao certo o que esperava ver, mas com certeza não era o corpo de Lis descansando tranquilamente na cama, seu peito subindo e descendo com a leveza de quem está tendo um sonho muito bom. Já tinha lido muito sobre o assunto, uma vez que minha colega da faculdade que curso acordou de um coma de seis meses que seu médico acreditou ser morte cerebral. Péssimo médico, estado vegetativo prolongado.

Não que cursar História na faculdade estadual de onde moro seja assim tão agitado, porque não é.

Me lembro de ter sentado na poltrona ao lado de sua cama, observando todos os hematomas e cortes em seus braços e rosto, a máscara de oxigênio que lhe cobria o nariz e a boca, os cabelos soltos espalhados como uma cortina negra no travesseiro. Na testa, um curativo maior, cheio de sangue. Apesar de tudo isso, ela parecia incrivelmente calma, como se dissesse "é só isso, vida?".

Vida. Que irônico.

Não deixei que desligassem os aparelhos. Seu coração bate, eles disseram, mas não temos certeza se fará isso sozinho.

Então, me fixei ao lado da cama e esperei. Esperei que ela acordasse, que algum milagre acontecesse, que alguém a trouxesse de volta. Isso foi por tanto tempo que chegaram a colocar uma segunda cama — para mim — no quarto. Observava as idas e vindas desesperadas de meus pais, consolava minha mãe e recebia tapinhas no ombro do meu pai, mas nada me tirava de meu posto. A partir dali, busquei minhas roupas e praticamente vivia no hospital, ao lado dela. Todos os dias, alguém trazia flores e um cartão de condolências, que eu jogava fora assim que a visita dava as costas. Não era por mal; é que Lis sempre odiou flores.

E eu também falava com ela, o tempo todo. A chuva tinha voltado com força total, batendo no vidro da janela sem piedade, e aquele era o que minha irmã chamaria de "clima perfeito para fazer nada".

— Você ia adorar toda essa chuva, Lis — falei para ela, no oitavo dia depois do acidente, sem conseguir evitar um meio sorriso. Quando éramos pequenos e a chuva ficava muito intensa, ela me pedia para correr lá fora com a língua para fora. Porque é engraçado, era sua resposta quando eu questionava o motivo. Eu vou também se você for. Claro que nunca tinha feito isso, até aquele dia. — Tudo bem, tampinha.

Assim, saí até o quintal e abri os braços, girando com a língua para fora enquanto a água caía nela, e me certifiquei de ficar bem na frente da janela do quarto. Quando voltei, a enfermeira quase não me deixou entrar por causa do meu estado, até que por fim me deu uma toalha e aceitou minha loucura.

— Eu já fui... Agora é sua vez — pedi a Lis, baixinho. Mas ela não abriu seus olhos, nem naquele dia nem nos próximos.

— Parece que ela está dormindo — Cibele me surpreendeu ao entrar no quarto, já no décimo terceiro dia. Seus olhos estavam vermelhos e dava pra ver que ela desabaria a qualquer momento se parasse de tentar ficar bem.

— Parece — minha voz saiu carregada de tristeza. Mas não está.

Eu não podia dizer isso a ela.

— Mas não está — as palavras saíram de sua boca, não da minha, enquanto ela se sentava ao meu lado na cama, mantendo a cuidadosa distância de alguns palmos. Por incrível que pareça, tinha sido até ali nossa conversa mais longa sem nenhum dos dois soltar uma frase irônica.

Depois disso, descobri que vermelho com vermelho pode formar um lindo arco-íris unicolor. É um jeito bobo de pensar, mas acabei vendo que as coisas que Cibele e eu tínhamos em comum eram até bem legais: ela é tão teimosa quanto eu, o que só significa que nossas conversas são sempre interessantes. Ela pensa o contrário de mim em praticamente tudo, mas defende suas ideias com a mesma paixão que eu defendo as minhas, o que faz as horas correrem. Ela acabou se hospedando em minha casa e passou a vir ao hospital todos os dias, me trazendo comida e roupas. Por mais que doa admitir isso, meus pais desistiram há uma semana.

— Você tá bem? — Ela estala os dedos na frente do meu rosto, me tirando do devaneio. Levanto da cadeira, ainda sem responder, e marco no calendário o trigésimo dia, suspirando.

— Tô, eu só cochilei — esfrego os olhos pra afastar o sono e chamo a enfermeira para ver se está tudo certo com Lis. — Nosso prazo acabou, Cibele.

Ela parece demasiadamente cansada hoje, talvez pelo peso que esse dia carrega consigo. O hospital está com problemas no financeiro e não podem continuar mantendo alguém que os médicos já disseram ser impossível se recuperar por mais de um mês.

— Eu sei... — Os ombros frágeis dela perdem toda a postura. — Eu preciso perguntar. Você realmente acreditava que ela pudesse voltar?

— Sim! — Arregalo os olhos involuntariamente. — Você não?

Consigo saber a resposta assim que ela desvia o olhar para a janela, em silêncio.

— Como pode ter tanta certeza? — Diz, simplesmente, e não posso deixar de notar uma ponta de irritação em sua voz. — Realmente acha que ela tem alguma chance de ficar bem?

— Mais do que isso — recosto na parede atrás de mim e fecho os olhos por um momento, desejando ver Lis de pé ao abri-los, mas isso não acontece. — Como você disse, eu tenho certeza.

— Ela tá morta, Rafael — sua voz fica levemente irregular e seu lábio inferior treme, como se ela fosse chorar ali mesmo. Ouvindo isso, não consigo evitar outro suspiro, e me aproximo.

— Isso não a impediu da última vez — pego sua mão, tentando passar o máximo possível de confiança.

É claro que não a culpo por seu olhar de "meu Deus, esse cara é louco", e sou poupado de dar explicações quando dois médicos entram no quarto.

— Está pronto, senhor Oliveira? — Diz um deles, o baixinho. Deve ser algum parente do Frodo.

Cadê a enfermeira? , quero dizer. Ao menos ela sabe meu nome.

— É OlivIEra — corrijo, com um sorrisinho. Não gosto quando me chamam de Oliveira.

— Desculpe, senhor Oliviera... — diz o careca, no lugar do outro. Esse, em compensação à falta de cabelo, tem nariz suficiente para umas seis pessoas. — É um sobrenome bem incomum. É espanhol?

— É italiano, na verdade — eles estão protelando, outra coisa que detesto. — Já sei por que estão aqui.

— Sim, senhor — o baixinho, que vejo pelo crachá se chamar Fred, retoma a compostura. As suspeitas sobre ele ser algum primo distante do Frodo só aumentam. — Vocês querem dizer algumas palavras?

— Eu quero! — Cibele, que estava observando quieta até agora, seca uma lágrima e se aproxima. Seus olhos ainda estão vermelhos como no primeiro dia em que ela veio visitar a Lis. — Será que podem nos deixar com ela? — Suplica, fazendo os dois médicos se entreolharem. Como não têm escolha, o maior (que não tem crachá) responde:

— Certo. Estaremos de volta em vinte minutos — e, assim, ambos saem, nos deixando sozinhos.

— Não acho que esteja me ouvindo — Cibele solta uma risadinha, ajeitando numa trança o comprido cabelo ruivo. — Você lembra que gostava de trançar o meu cabelo? Porque dava pra puxar e descontar a raiva. Isso, Lis, foi uma das coisas que me salvou. — Ela faz uma pausa, mordendo o lábio inferior e literalmente arrancando pedaços de pele seca. Deve ser um tique, já a vi fazer isso várias vezes.

— Quer que eu saia um pouco? — A última vez que saí de verdade desse quarto foi quando estava praticamente morrendo de fome, e a gororoba servida ali parecia viva demais para um prato de purê. Isso resultou em pegar emprestada a moto de Cibele, que ela só dirige por ter um ano a mais que Lis, comprar os dois maiores hambúrgueres que encontrei e comer na praça em frente ao hospital.

— Não, relaxa... — Ela para de arrancar pedaços de si mesma e me encara. — Só é um pouco estranho, como se eu estivesse falando sozinha.

— Então conta pra mim — sento na cama e recosto na parede, fechando os olhos. — Pronto, tô preparado.

— Besta — ela solta um riso leve, mais relaxada. — Eu não sei se estaria aqui se não fosse por ela, só isso. Lis me ajudou muito nos últimos anos, mesmo sem saber.

— Como assim? — Abro os olhos de novo, prestando atenção.

— Eu tive um episódio de depressão — ela estala os dedos. Outro tique? — Minha mãe não me suportava mais em casa, e fazia questão que eu soubesse disso. Num belo dia, decidiu que eu ia embora e não se importou de me dizer pra onde. Ao contrário da Lis, eu não sou bolsista — um suspiro triste acompanha sua história. — A senhora Mercedes, já que não sinto liberdade pra chamar essa mulher de mãe, pagou pra que eu saísse da vida dela. Fiz o tratamento, e o episódio teve seu fim. Mas tudo isso foi graças à Lis... Eu sempre a tive comigo, sabe? Esses anos me trouxeram de volta, e eu tenho certeza que jogaria minha vida no lixo se ela não estivesse comigo.

— Uau... — É tudo que posso dizer. Nunca imaginei que Cibele tivesse essa história.

— Ela é muito especial — um mar de lágrimas inunda seus olhos e ameaça transbordar. — E merecia tudo de melhor, mas isso aconteceu. Vou sentir falta dela.

Os médicos nos interrompem nesse momento, entrando na sala com a expressão contrariada.

— Perdão, senhor Oliviera, mas não podemos esperar por mais tempo — diz o careca.

— Temos outros compromissos — Fred completa. Arrumar a toca com túneis seria um deles? Talvez receber Gandalf para tomar chá junto com o tio Bilbo.

Assinto, despreocupadamente.

— Tudo bem, então — dito isso, levanto e me fixo ao lado da cama de Lis.

— Você nem se despediu — Cibele sussurra, alarmada.

— Eu não preciso — sussurro de volta.

O doutor Fred faz toda a cerimônia de desligar os aparelhos enquanto o outro toma notas, verificando se tudo está sendo feito da forma correta. Quando a última máquina é desativada, há uma tensão geral no quarto, e a pergunta paira no ar:

E se...?

O monitor cardíaco apita continuamente por alguns longos segundos, indicando que o coração não bate. Vamos lá, Lis, vamos lá...

E o bip normal volta, me aquecendo por dentro. Minha esperança de estar certo acaba voltando com força total por causa disso.

— Como... — Ambos os médicos parecem assustados, mas é Fred quem se pronuncia. — Fizemos os testes! O cérebro não respondia a nenhum estímulo.

— Ela tá respirando — Cibele parece ainda mais pálida do que o normal enquanto se aproxima da cama. A máscara de Lis continua ficando embaçada, o que comprova esse argumento.

— Não, é impossível — o médico mais alto me puxa para um canto. — Ela tem algum histórico estranho?

— Quase isso, doutor. — Lhe conto quase a história de catorze anos atrás, afinal ele é o médico e precisa saber. Alguns detalhes estão confusos, faz tanto tempo... Mas tento manter a compostura e contar tudo da melhor forma que posso, sem ferir a privacidade da minha irmã. Me sinto mal contando, mas preciso...

Quando retorno, percebo que as lágrimas voltaram a escorrer do rosto da moça debruçada na cama. Ela o vira para mim, em desespero.

— Me explica o que tá acontecendo — diz, e isso me atinge como uma facada no peito.

— Não posso... Perdão.

Ela me lança um frio olhar antes de voltá-lo a Lis novamente. Outra facada. Claro, não tiro sua razão... Ela não sabe de tudo que eu sei, e quer entender. Mas não é um segredo meu para que eu possa contar a ela, por mais que eu possa querer.


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Notas finais do capítulo

EU JÁ CONTEI PRA VOCÊS QUE SÁBADO FAÇO 15???
Fslksks parei.

Gostou? Não? Sim? Conta aí a sua opinião, vou adorar.
E era isso. Não, pera, tem mais uma coisa:
FELIZ DIA DA MULHER!
Feminista aqui falando sz

Tu já deu uma passada na página da fic? Tem tudo, desde dreamcast até pôsteres divos e curiosidades ♡

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Corre lá!

Agora sim, era isso.
Beijinhos ♡