Obscure Grace escrita por Ahelin


Capítulo 8
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Hey, pudim!
Como vão as coisas na Terra?

Antes de mais nada, perdão pela demora em postar :c eu fui ao neurologista hoje e tava até agora. Mas tudo bem, foi só rotina mesmo!
E hey, 90 pessoas acompanhando??? Querem me matar do coração???
Obrigada! É muito importante pra mim :3
Ah, e leiam as notas finais!
~Eu JURO que não vou mendigar recomendações fslksks mas vocês não têm noção do quanto eu tô amando esses reviews lindos de vocês~ ♥
Bom, sem mais delongas, aqui o capítulo :3 Espero que goste.
Até lá embaixo o/



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Enquanto corro por entre as outras pessoas junto com Miguel o mais discretamente que é possível, não consigo evitar esse pensamento. Ele passa por mim como um raio que clareia o céu azul escuro durante uma tempestade.

Por que tenho que fugir de um anjo? Durante toda a minha vida, e por incrível que pareça essa é a coisa mais irônica que eu já disse, aprendi que anjos eram bons, que o céu era bom. Quando Leo se foi, tudo que eu ouvi da maioria das pessoas foi que ele "estava em um lugar melhor que tudo que conhecemos". Bom, talvez seja verdade, em parte.

Meu cérebro trabalha a mil por hora, e não consigo freiá-lo, mas acho que não faria isso nem se conseguisse. Talvez me leve a alguma conclusão que me faça entender o que há para ser entendido. As cadeiras azul-escuras vão ficando para trás e agradeço mentalmente a sabe-se lá quem pelo carpete no chão, que abafa todo o nosso barulho, porque minhas sapatilhas de plástico fariam uma algazarra enorme. Quando morri, meu céu foi exatamente o que eu queria, foi minha vida perfeita tomando rumo. Seria diferente se eu quisesse outra coisa? Se meu sonho fosse ser astronauta para reencontrar o amor da minha vida na lua como vi em um joguinho muito fofo? Não sei, talvez fosse. Existe uma lógica nisso.

Seu céu é um lugar que te faz sentir bem, Will me disse. E ele também disse que, para se tornar um ceifeiro, é necessário ter cometido um crime considerado sem perdão para os anjos. Tentar escapar. Se o céu é um lugar construído pra fazer você se sentir bem, então por que Will teria tentado escapar? Será que isso tem algum tipo de relação com ele usar mangas compridas ou eu sou louca, e não há nada demais nisso?

Aquela voz no fundo da minha cabeça começa a sussurrar, guinchar, e gritar logo depois. Talvez o objetivo principal não seja esse, diz ela, e talvez Will soubesse disso.

Há tantas perguntas... O que há de tão secreto que William quer que eu descubra, e por que diabos ele está me ajudando? Pela forma como fala comigo, até parece que ele já me conhecia antes, e isso nem é o mais estranho. Para começar, eu nem deveria tentar fugir, o que estou fazendo? Talvez devesse aceitar... Mas não consigo. Era pra tudo isso ser algo bom.

Agora, a pergunta que não cala, que fica martelando sem parar como aquela dor de cabeça chata que às vezes vem com a TPM... E se não for bom? Não sei se é algum tipo de paranoia minha, mas tenho certeza que quando Will tentou me explicar o que é o céu ele usou a palavra "cela". Será que é realmente isso, então? Uma forma de cárcere...

Mas por quê? Qual seria a finalidade de manter um monte de gente morta num lugar só?

Logo que consigo chegar à entrada, sinto como se algo estivesse queimando minha nuca. Sei que é o olhar do homem de cabelo grisalho, e que ele me encontrou. Algo começa a puxar todo o meu corpo pra baixo, como se a força da gravidade ficasse mais forte a cada bater de asas dos pombos acima da minha cabeça.

— Por aqui! — Corro com Miguel até o estacionamento, lutando contra isso da melhor forma que posso, logo encontro seu carro azul que ele provavelmente vai passar a vida toda pagando e entro freneticamente. Se prestar atenção, caro gafanhoto, poderá ouvir ao fundo a adorável música de suspense do filme do Batman, ironiza meu cérebro, mas não é hora de dar atenção a ele. — Corre, corre!

— Pra onde? — Ele está aterrorizado, dá pra ver, porém não posso pensar nisso agora. Há coisas mais importantes em risco, e nada aqui é real, então... De que importa se eu pareço uma louca?

Há um grito lá fora, alguém nos mandando parar, e vejo de relance a mão dele alcançar o smartphone. Coloco a minha sobre ela, e ambas estão trêmulas.

— Precisamos chamar a polícia — ele fala, protestando, tão baixo que quase não posso entender as palavras.

Além disso, seus lábios estão pálidos e ele está com a cara de quem vai vomitar, o que me faz esquecer por um momento do perigo e ficar preocupada. Mas é claro que isso passa em uma fração de segundo.

— Pra longe — estou praticamente implorando. — Por favor, você precisa me tirar daqui agora... Por favor, Miguel.

Ele não diz mais nada, apenas liga o motor e acelera tanto que me sinto em Velozes e Furiosos 8. Como se não batesse, aparece aquela luz tão intensa que faz meus olhos doerem, e é parecido com o que acontece quando mudo de memória.

Se você vir uma luz muito forte, apenas se esconda dela a todo custo.

Obedeço, me encolhendo no espaço entre o painel e o banco; nunca fiquei tão feliz por ser pequena, assim posso recostar a cabeça no porta-luvas e fingir que não estou aqui.

— Que droga é essa? — Miguel grita, de olhos arregalados, quando a luz invade as janelas do carro como um farol de buscas e quase toca as pontas dos meus dedos, que estavam repousados sobre o banco, e isso me faz tirá-los dali tão logo quanto se os tivesse queimado.

— Dirige pra longe dela — peço, e minha voz sai mais irregular do que eu imaginava que iria. — Por favor, a gente precisa escapar dela.

Que parte disso é normal? Meu cérebro parece não aceitar que eu estou morta, leva tudo que acontece na brincadeira. Merda, Melissa, não entende que precisa sair daqui? Está no céu, com um anjo malvado querendo te pegar e fazer sei lá o quê, a única pessoa — que a propósito não é uma pessoa, ao menos não uma pessoa viva — que tem o poder de te ajudar e sabe as respostas para minhas perguntas sobre esse mundo caótico não está aqui. Quero gritar, chorar, qualquer coisa que faça Will aparecer, estou desesperada e essa parece ser a única saída. Ainda assim, consigo manter a aparência de que tudo está normal. Bom, não exatamente... Só se você não contar o fato de que estou tremendo e escondida embaixo do painel do carro.

Um estrondo se faz ouvir lá fora, e muitos gritos o seguem. Acho que Miguel quer olhar pra lá da mesma forma que eu; ou seja, ele não quer.

Tão rápido quanto tinha surgido, a luz desaparece, e com isso posso observar os ombros dele relaxarem um pouco. Ele vira mais duas esquinas e para o carro, contornando-o pra abrir a porta para mim.

— Mel, o que há com você? — Pergunta, enquanto me ajuda a sair do pequeno espaço no qual me enfiei com tanta facilidade. O couro falso do assento range, fazendo um barulho desagradável. — Não me diz que tá tudo bem, porque eu te conheço e sei que não tá. O que foi aquilo?

— Eu... Não sei te explicar — minha voz está tão insegura quanto todo o resto em mim, e ele percebe isso. Mesmo sem entender, ele abraça minha cintura e começa a andar comigo em direção ao portão azul de uma casa que não reconheço, talvez seja a dele. Já lá dentro, me faz sentar no sofá laranja que parece saído de uma revista e prepara um copo de água com açúcar pra mim, mas volta rindo pra cozinha quando percebe minha expressão diante daquilo e traz no lugar um copo da boa e velha água gelada.

É ótimo, e eu não tinha reparado o quanto estava com sede até agora.

— Vai querer me contar o que aconteceu? — Ele se senta perto de mim. — Vamos lá, não deve ser tão difícil.

— Eu não posso contar — respondo, simplesmente. Ele me acharia maluca.

— Tudo bem... — Sua expressão fica triste e por um momento eu me arrependo de não ter contado a ele. — Eu entendo. Mas você sabe que eu tô aqui pra te ajudar, não sabe?

Assinto, e beijo sua bochecha num gesto rápido.

— Obrigada. Eu só preciso descansar.

Ele me lança um sorrisinho e se levanta, me deixando sozinha. Levo alguns minutos pra me recuperar, e no fim me sinto calma e racional de novo. Vai dar certo, vai dar certo.

Daí, a ideia mais genial de todas me ocorre.

— Miguel, posso usar seu computador? — Grito, e ele mostra o rosto da cozinha.

— Claro que pode, Mel. Se sente melhor?

— Aham — lanço para ele um sorriso brilhante, obviamente falso, e procuro algum computador, encontrando o notebook em cima da estante, que levanto para pegar e logo depois retorno ao sofá. Ligo-o, abrindo direto na página do Facebook, e surpreendentemente minha senha é a mesma que eu lembrava. Meus dedos entram no piloto automático e, antes que eu possa fazer algo contra isso, eles digitam o nome completo de Cibele na barra de pesquisa. Se eu nunca a conheci, o que será que houve com ela?

Perfil desativado, a página dela diz. Estranho, não imagino Cibele vivendo sem redes sociais. Rolo a página e encontro o perfil de sua mãe, que está cheio de palavras tristes que fazem um sinal vermelho soar em minha mente. Apenas quando encontro uma foto do rosto sorridente da minha amiga e leio a legenda, o sinal explode. Poucas palavras se ressaltam do texto enorme e chamam minha atenção: depressão. Recaída. Clínica. Cometeu suicídio. Saudade. Luto.

Suicídio, meu cérebro ecoa. Ela cometeu suicídio.

De repente, perco toda a noção do que é real ou e do que não é. Simples e rapidamente, as lágrimas começam a escorrer e os cantos de meus lábios são puxados para baixo sem que algo em mim tente reagir a isso. Cibele, alegre e extrovertida, se suicidou. Não consigo entender por que teria feito isso... Como ela pôde? Eu precisava dela, como ela pôde me deixar?

Mas agora a ficha caiu. Ela nunca me conheceu, nem ao menos sabia quem eu era.

Não é real, posso ouvir a voz de Will dizendo em algum lugar, mas ele não está lá quando olho em volta. Ela tá bem, e esperando por você. Resiste.

Porém isso não me faz relaxar, nem o fluxo de lágrimas diminui. Elas continuam escorrendo ao mesmo tempo que continuo ouvindo a voz de Will sussurrando que não é real, que preciso lutar. Uma pequena parte de mim tenta ouvir isso, mas todo o resto está afundado numa sensação horrível de perda. É um pouco irônico dizer que me importo mais com a morte de Cibele do que com a minha.

Resiste, Melissa.

A qualquer momento, imagino que Miguel pode aparecer e achar que estou ficando louca, mas isso não acontece. Talvez o "paraíso" seja isso, afinal: solidão. Você, completamente sozinho no seu próprio céu. Chega a ser deprimente.

Por favor, resiste. Eu tô chegando, só resiste.

A voz continua a sussurrar, com urgência, no fundo da minha mente. Quero dar atenção, mas não consigo... Tudo em mim apenas grita que quer sair desse lugar, mas não consigo mexer um músculo para que isso aconteça. Então, quando consigo abrir os olhos e ver algo além de um borrão por conta das lágrimas, ele está ajoelhado à minha frente, no chão. A camisa de mangas compridas está amassada e um pouco suja, e tudo em seu rosto parece puro cansaço.

— Vem aqui, Lis — Will tira o notebook do meu colo e me puxa pra seus braços devagar. Os nós de seus dedos estão vermelhos, a única forma que eu conheço de isso acontecer é bater em algo ou alguém. Não protesto, nem tenho forças pra isso, apenas me afundo em seu abraço e tento esquecer que tudo isso está acontecendo. — Chorando outra vez? Já disse que não gosto quando você chora.

— O quê? — Tento perguntar, mas minha voz sai aguda demais. Mesmo assim, estou certa de que ele entendeu o que eu disse, e fico esperando uma resposta que não vem.

— Agora eu tô aqui.

E, de uma hora para a outra, sinto os ombros de Will estremecerem enquanto o mundo à nossa volta desaparece por completo.


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Notas finais do capítulo

E aí? Por favor, deixa sua opinião :3 vou amar saber o que você tá achando.

Ah, e um aviso importante: estou, até dia 18, atolada de ensaios para o ballet, além do trabalho extra de quem esse ano entrou no Ensino Médio ~~
Então, se eu atrasar algum capítulo, é porque não consegui terminar... Sabem, prefiro fazer algo que me deixe satisfeita, mesmo que demore alguns dias a mais, a postar algo escrito de qualquer jeito... Vocês me perdoam?
Não foi o caso desse, fiquei muito feliz com ele. E hey, fiquem ligados: Só digo que vão sentir falta da Lis nos próximos capítulos ;)

E era isso. Beijinhos ♡