Obscure Grace escrita por Ahelin


Capítulo 7
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Hey, pudim!
Como vão as coisas na Terra?

Aqui está o capítulo de vocês, quentinho e saído do forno :3
Obrigada pelo feedback incrível, seus lindos!

IMPORTANTE: Nesse capítulo é apresentado um novo personagem.
Vocês vão notar que o conflito começa a se desenvolver. Deu treta? A Lis ferrou tudo?
Bora descobrir!
Até lá embaixo o/



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— Vem logo, seu animal! — Cibele gargalha, me puxando. Estou fazendo de cabeça a conta de quantas vezes seu cabelo ruivo preso num rabo de cavalo já bateu no meu rosto e, acidentalmente, quase entrou na minha boca. Até agora, foram seis.

— Qual condicionador você usa, Bel? — Digo, quando isso acontece novamente. São sete. — Seu cabelo está delicioso! — Debocho.

— Doente — ela revira os olhos cor de âmbar e me encara. Eles estão brilhando. — Quero ver os elefantes. Nunca vi um elefante.

É sete de setembro do nosso segundo ano no colégio, porém o feriado é curto demais pra pegar a estrada pra casa durante três horas. Na ida e na volta, já são seis, eu mal aproveitaria. Então, tiramos a conclusão mais óbvia: quinze minutos de ônibus até a cidade e depois mais vinte a pé até o bosque municipal!

(Eu cheguei até aqui tranquilamente, mas Cibele ficou vermelha até a raiz dos cabelos e ofegou tanto que achei estar tendo uma crise de asma. Essa é a diferença básica entre uma bailarina e uma pianista: a pianista fica sentada.)

Admito que deixei Cibele escolher o passeio de hoje, porque eu queria mesmo visitar uma Starbucks, mas ela ficou tão encantada quando viu uma reportagem sobre elefantes no zoológico daqui que eu me sentiria um monstro se não tivesse vindo com ela.

— Onde ficam os elefantes? — Ela praticamente se joga em mim.

— Elefantes? — Pergunto, olhando o folheto que pegamos na entrada. — Bel... Não tem elefantes — minto.

— Não me chame de Bel — ela reclama, com uma expressão forçadamente zangada. — É Cibele. C-I-B-E-L-E. Eu gosto do meu nome e não vou deixar você ficar cortando ele como se fosse um bolo de cenoura.

— Ok, C-I-B-E-L-E — rio. — A relação que mantenho com meus bolos de cenoura não lhe diz respeito.

— E me dá isso aqui — termina, arrancando o papel de minhas mãos com brutalidade. — Sua mentirosa, tem um elefante! — O brilho em seus olhos aumenta enquanto ela lê as informações, e de repente me sinto muito feliz por ter vindo pra cá com ela. — Dois! Uma fêmea e um filhote! Foram trazidos de um circo nos Estados Unidos e sofreram maus tratos, mas estão sendo reabilitados e já se recuperaram. Que fofo, nós temos que ver!

Assim, sem que ela me dê tempo pra tirar um cacho rebelde dos olhos, sou puxada violentamente para a ala dos mamíferos, e logo depois o lar dos elefantes. É enorme, cheio de grama e com algumas árvores, tornando o cenário muito bonito. Bem lá no fundo, um elefante enorme cuidava de outro muito menor.

— São lindos — solto um suspiro, fascinada, e leio a placa à minha frente. — A elefanta Elie e seu filhote Tommy, trazidos de um circo americano.

— Será que se sentem bem no clima do Brasil? — Cibele parece ainda mais fascinada que eu. — Você sabe, é tão quente...

Observo os dois brincando juntos, jogando água do laguinho um no outro, e quase acabo chorando. É a coisa mais linda que já vi em toda a minha vida.

Mas isso acaba rápido. É como se eu fosse puxada pra longe, do jeito que acontece quando se está acordando de manhã e deixando o sonho pra trás, que ironicamente é o que acontece. Abro os olhos de repente, com uma estranha sensação de dejá vù, e ao que parece estou de novo em minha cama. Dessa vez, pareço fazer parte da memória, como aconteceu com a primeira.

Levanto e acendo a luz, olhando no calendário atrás da porta. Sete de setembro de...

Engraçado, penso comigo mesma. É o meu segundo ano na Hollister. Por que estou em casa?

Visto algo que não me faça parecer uma perdida e saio do quarto, dando de cara com um Rafael bem humorado.

— Bom dia, margarida — cantarola, alegre. — É hoje, espero que tenha preparado algo muito bom. — O quê? — Ah, tenho certeza que ele preparou.

— Quem? — Esfrego os olhos com as costas da mão, sonolenta. Às vezes Rafael não faz nenhum sentido.

— Mãe, ela esqueceu do aniversário de namoro — ele grita. Mamãe aparece dois segundos depois, prendendo os cabelos castanhos em um coque bem feito.

— Ela comprou o presente do Miguel ontem, espero que ele se lembre — diz ela, franzindo os lábios.

— E eu espero que ele tire a Lis daqui o dia todo pra eu poder ver minha maratona de Star Wars em paz — retruca ele.

— Será que alguém pode me explicar o que está acontecendo? — Interrompo, sem entender absolutamente nada.

— Vai acontecer que o Miguel vem te buscar às duas, então vê se não enrola e vai vestir algo decente, você tá parecendo uma perdida — ele e mamãe me empurram pro quarto, e ela me faz colocar um vestido azul com desenhos brancos.

— Que Miguel? — Pergunto.

— Muito engraçado, querida — sorri ela e passa a escova por meus cabelos sem misericórdia, arrancando alguns milhares de fios. — Pronto, acho que assim está aceitável. Ah, a campainha! — Ela corre pra atender o interfone e eu fico por um minuto olhando meu reflexo no espelho da parede. Meu cabelo está bem mais curto do que eu lembrava, os cachos chegando apenas à altura dos ombros, e uma franjinha espessa que Mirela arrancaria na unha se visse. Fora meu quadril que está alguns centímetros mais largo, que droga é essa?

— Mel? — Uma voz masculina pergunta e há uma batida na porta. — Posso entrar?

Mel?

— Hm, pode — digo, juntando as sobrancelhas. A porta se abre e um moço surge ali. — Oi... — Não tenho tempo de dizer mais nada antes que ele me puxe pela cintura para o que considero o maior beijo de toda a minha vida.

Metade de mim está gritando: É um beijo, um beijo, um beijo, UM BEIJO, SOCORRO!

E a outra metade é um pouco mais racional: Tem um cara que eu não conheço me beijando. É um beijo, UM BEIJO, SOCORRO!

Ok, eu estou querendo encher meu subconsciente de tapas agora.

— Feliz aniversário, amor! — Sorri ele, e fico parada por um tempo observando seus olhos castanhos brilhantes e seu belo sorriso de comercial de pasta dental. O cabelo louro-escuro e liso era comprido o bastante apenas para cair em seus olhos e ser incrivelmente atraente. Uau.

— Feliz... Aniversário? — Fico em dúvida se devo incorporar o papel ou sair correndo e gritando como uma louca.

Assim, faço mentalmente as considerações sobre o caso: Eu mudei a memória, lá atrás, e aparentemente isso ferrou tudo por aqui também. Esse cara, muito bonito por sinal, parece ser meu namorado. Vou seguir o fluxo pra não parecer uma retardada até achar um jeito de sair daqui.

— Parece que faz um ano? — Ele ri, me girando pelo quarto. — O tempo contigo passou tão rápido...

Aniversário de um ano de namoro. Corro os olhos pelo quarto procurando o presente que minha mãe me disse que eu comprei pra ele, e encontro uma caixinha embrulhada com capricho em papel verde-escuro.

— Pra você — entrego, lendo antes o nome escrito no cartão. Miguel. É um lindo nome, também.

— Ei, eu disse que não precisava comprar presente — o sorriso dele se torna ainda maior quando abre o embrulho e dá de cara com um porta-retratos de madeira branco e azul com desenhos fofos talhados nele. Na foto, estamos abraçados e sorridentes na frente de uma cerejeira enorme, e rodeados de flores. É a coisa mais linda que já vi em toda a minha vida. Não parece ter muito significado pra mim, mas os olhos dele se enchem de lágrimas no mesmo instante. — Eu fiz esse porta-retratos na quarta série e te dei de aniversário. Você guardou... É o melhor presente do mundo, Mel.

— É claro que eu guardei — digo, hesitante. Estou cada vez mais curiosa pra entender o que aconteceu depois do dia que mudei tudo. E se Rafa realmente não tivesse sido atropelado?

— Vem, eu tenho um lugar pra te levar — ele segura minha mão e me puxa pela casa até a porta de entrada.

— Tchau, Miguel, tchau, Lis — Rafa já está jogado no sofá.

— Divirtam-se — ouço a voz de mamãe gritar. Miguel se despede e continua me puxando até um carro parado na frente da calçada. Nota mental: ele é mais velho. Entro do lado do passageiro e copio seu gesto quando ele afivela o cinto de segurança, e por um momento me sinto parte daquilo tudo. Não sei dizer, parece tão... real. Mas eu sei que não é.

Meu suposto namorado dirige em silêncio, me lançando sorrisos misteriosos por todo o percurso, e dá a volta no carro pra abrir minha porta depois de estacionar em frente ao teatro municipal. "Grande apresentação da orquestra hoje", é o que diz o cartaz.

— Eu sei que você gosta de música clássica, então... — Ele sorri, fazendo suas sobrancelhas se arquearem levemente. — Surpresa.

— Uau — é só o que consigo dizer, boquiaberta. O cara realmente me conhece, lembrou no nosso aniversário de um ano e pensa no que eu gosto na hora de escolher o presente. Vou perguntar a Will como ele está no mundo dos vivos, e cruzo meus dedos pra que esteja ótimo.

— Você lembra como nos conhecemos? — Arrisco, depois que entramos e tomamos nossos lugares. Ele não para de segurar minha mão nem por um segundo que seja.

— Faz tempo — ri ele. — Mas eu lembro. Foi na sua festa de aniversário de dez anos. Jogamos aquele videogame de sapos e você virou minha melhor amiga. Desde então, a gente não se separou mais, e no ano passado...

— Sim — sorrio, repostando a cabeça na poltrona, quando o que quero de verdade é chorar. Minha mente demora pra encaixar tudo, mas quando termina, é algo parecido com isso:

Rafael nunca sofreu o acidente, e nunca foi para o hospital. Nunca pediu que eu lhe ensinasse a dançar, e eu nunca tive algo que realmente me motivasse. Desisti do ballet, ao que parece, e nunca fui pra Hollister. A parte que mais dói em tudo isso é que, nessa realidade, não conheci Cibele.

Meus pensamentos são interrompidos quando a música começa, alta e clara, me inundando. Sempre amei o estilo clássico, e todo o meu corpo relaxa enquanto as notas chegam com cada vez mais força, enchendo meus ouvidos. Por um segundo, fecho os olhos, e não consigo evitar um sorriso bobo no rosto quando sinto que Miguel está me observando. Ele é incrível, de verdade. O conheço tão pouco, mas a ligação que temos nessa realidade é tão forte que posso sentir na pele... E ele me olha como se me amasse de verdade.

Assim que abro os olhos, algo chama minha atenção. Um pontinho vermelho atrás do piano, o topo da cabeça de alguém. Estico o pescoço e meu coração dá pulinhos de alegria ao ver isso, e quero conseguir ver seu rosto também, mas não dá. Apenas quando ela ergue a cabeça, meu sorriso murcha ao ver ali uma garota ruiva que de cabelos em um corte Chanel, que definitivamente não é Cibele. Sinto tanta falta daquela louca que poderia abraçá-la até que ficasse roxa.

— O que há? — Miguel sussurra no meu ouvido, parecendo preocupado.

— Nada, nada — suspiro, sussurrando de volta. O resto do espetáculo não me parece mais tão emocionante, até os cinco minutos finais.

Ah, que saudade de quando eu achava minha vida parada demais... Se eu sair daqui, prometo nunca mais reclamar dela.

— Miguel — chamo, atônita. Devo ter algum apelido carinhoso pra ele, porque este arregala os olhos como se eu o tivesse xingado. Sei disso porque é basicamente minha reação quando me chamam de Melissa, e nem me faça citar as pessoas que insistem em pronunciar meu sobrenome como Oliveira.

— Algo errado? — Ele pergunta. — Você não parece bem.

— Precisamos sair daqui — respondo, puxando-o por entre as poltronas e ignorando as reclamações das pessoas nelas, antes mesmo que esse possa protestar. Isso porque, ao lado do palco, está o homem que conheço apenas por "Traste". Tenho duas considerações para fazer sobre esse suposto anjo que mal conheço e já desconsidero tanto: a primeira é que ele não parece nada feliz.

A segunda é que acho que ele está procurando por mim.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostou? Me conta, vai :3
Sentiu falta do Will aqui? Eu senti, mas logo ele volta.

No próximo capítulo, vai ter perseguição HEHUEHUE pobre Lis. Continue ligado!

E era isso. Beijinhos ♡