Obscure Grace escrita por Ahelin


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Hey, pudim!
Como vão as coisas na Terra?
Antes de tudo, queria agradecer o feedback INCRÍVEL que vocês estão dando :3 sério, me anima muito!
E, nesse capítulo, é introduzido um novo personagem. Vai amá-lo? Odiá-lo? Só o tempo dirá!
Espero que goste.
Até lá embaixo o/

AH, E LEIAM AS NOTAS FINAIS! TEM UM AVISO IMPORTANTE!



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É de se esperar que algum dia você quebre uma unha, ou tenha cólicas, ou mesmo que coloque fogo na frigideira tentando fritar um ovo. Talvez até jogue água por cima e o resultado disso seja o fogo subir até o teto.

Não, é claro que nunca aconteceu comigo! E não, isso não tem nada a ver com a mancha negra no teto da cozinha, precisamente acima da quarta boca do fogão.

Mas, com toda a certeza, não é de se esperar que uma pessoa, com a vida toda pela frente, e objetivos, e sonhos... morra. E vá para o céu, que supostamente devia ter unicórnios voadores, mas não tem!

Admito que eu tinha uma imagem muito diferente do céu, talvez parecida com o conceito de "lugar sobre as nuvens cheio de homens com asas". Realmente não esperava que fosse um mundo criado pra parecer real. É quase como se quisessem me fazer pensar que ainda estava viva.

Tudo isso tem que acabar. Eu preciso sair daqui. Preciso encontrar Rafa e dar nele uns belos tapas para fazê-lo parar de chorar, ver Cibele ser pianista na Orquestra Estadual, comer o bolo de veludo vermelho de mamãe até minha língua cantar "Aleluia!", brigar com papai por ter derrubado minhas prateleiras. Preciso conseguir.

De manhã, acordo com a bateria toda. Levanto o mais rápido que consigo e corro pra cozinha (erro o caminho três vezes, mas isso não vem ao caso). Por incrível que pareça, tem tudo que eu preciso no armário pra fazer um ótimo café preto.

Chego até a comer algumas torradas com margarina e orégano que estão em cima da mesa, quentes, e por um segundo acredito que Will pode ter deixado tudo isso aqui. Não, isso não aconteceria. É mais fácil acreditar que foram trazidas por gnomos do que admitir que ele as preparou.

Assim que termino de comer a sexta torrada, me encaminho pro banheiro. Para a minha surpresa, encontro em cima da pia uma escova de dentes, um tubo de pasta (daquelas infantis cor de rosa com sabor de tutti-frutti, minhas favoritas) e um sabonete com cheiro de morango, tudo ainda dentro da embalagem. Ao lado, um pedaço de papel que parece ser uma folha de caderno com as palavras "Não se esqueça de lavar atrás das orelhas" escritas a lápis com uma letra redonda e bonita.

Primeiro pensamento: Definitivamente isso é a cara do Will.

Segundo pensamento: A letra dele é mais bonita que a minha. Ai.

Terceiro pensamento: Não tem toalha. Será que ele espera que eu me seque com a língua?

Como resposta a esse último, vejo uma toalha amarela e fofinha repousada no suporte. Ainda tem uma etiqueta nela.

Meu cérebro começa a raciocinar que Will pode ser rico ou algo assim, mas aí me lembro de que nada aqui é real e imagino que ele, sendo uma espécie de divindade da morte, pode fazer brotar dinheiro de uma roseira.

Tomo um banho rápido e muito quente, organizando as ideias. Tenho uma lista mental de lugares pra ir, lugares em que eu estaria se não tivesse mexido com tudo.

No momento, a lista consiste em:

"1 - Hospital onde o Rafa ficou internado depois do acidente que aconteceu por causa de um real; 2 - Decido depois, se o item 1 não der certo."

E é isso. Minha organização é impressionante, não?

Ao sair do chuveiro, pego a toalha e me seco. Embaixo dela, encontro uma muda de roupas limpas, o que só reforça a minha ideia de que o senhor ceifeiro super gostoso é na verdade um stalker psicopata (o que infelizmente não o torna menos gostoso), pelo simples fato de ele saber meu número.

Visto a blusa verde e os jeans, que cabem perfeitamente nos meus quadris exuberantes. E, resistindo a vontade de chupar a pasta, escovo os dentes para acabar com meu hálito horrível. Cibele costumava dizer que, se um homem aceitar se casar comigo, vai ter que dormir com uma máscara de gás.

Ao lembrar disso, sinto uma enorme saudade dela... Adiciono mentalmente o item "Cibele" à minha lista de motivos pra voltar. E, antes que alguém pergunte, eu realmente adoro listas.

Assim que termino toda a rotina matinal, corro os dedos pelo cabelo pra tirar os nós e prometo pra mim mesma que, se sair daqui, vou pintar as pontas de azul e cortar uns bons três dedos assim como Cibele quer.

Não tranco a casa ao sair, nem lembro de pegar minhas roupas anteriores. Isso não é importante. Apenas começo a correr na direção do hospital, quase caindo duas ou três vezes por quarteirão, ao tropeçar em ladrilhos ou pedras salientes. A rotina de bailarina me deu um belo fôlego e muito pique, pois em menos de dez minutos consegui chegar a meu destino sem nem ofegar. Paro por um momento em frente ao prédio enorme e imponente, me sentindo pequena perto daquilo tudo. Mesmo que Rafa e Cibele se odeiem mais que gelo e fogo (o que é um perfeito trocadilho com os olhos dele e o cabelo dela, diga-se de passagem), ambos adorariam fazer uma piada sobre o fato de eu "me sentir pequena".

Balanço a cabeça para afastar esses pensamentos antes que eles me deixem com ainda mais saudade, e entro. Minha cabeça automaticamente deduz que, como nada disso é real, posso fazer o que quiser, e por isso simplesmente entro na ala dos quartos sem nem dar satisfação à recepcionista.

— Posso ajudar? — Pergunta um enfermeiro que deve ter o triplo do meu tamanho, daqueles que te fazem querer ter uma saúde de ferro pela vida toda, me tirando de meus pensamentos. Espio rapidamente na prancheta que ele carrega.

Um fato rápido: sou ótima em bisbilhotar. Procuro com o olhar o quarto 226, que foi onde Rafael ficou. Consta que está vago.

— Vim ver Eduardo Marques — respondo, cheia da razão, apontando o paciente do 225. — Sou irmã...

— Ele tem 64 anos — o Sr. Armário Ambulante me interrompe, fazendo uma carranca.

— ...da sobrinha dele — completo. — Sou irmã da sobrinha dele.

— Então por que não disse que era sobrinha dele? — Ele parece cético, erguendo uma sobrancelha.

— Sou adotada — digo, o que finalmente parece derrubá-lo. Sua carranca se desmancha na hora, talvez por ele ter discutido aasuntos de família com alguém adotado. Ninguém se sente confortável nessa situação, ao que parece.

— Quarto 225, à esquerda no segundo andar — murmura, saindo da minha frente.

Percorro o mesmo caminho de tanto tempo atrás, lutando contra a onda de memórias que tenta me invadir. Subo rapidamente os oito lances de escada até o segundo andar, e admito: isso me cansou pra caramba. Parece outra das aulas da Mirela, mas prefiro qualquer coisa a entrar em um elevador.

Abro devagar a porta do quarto 226, com medo de encontrar algum agente do FBI dos anjos me esperando por lá. Isso não acontece, pra minha sorte. Os anjos têm FBI?

Não sei ao certo o que esperava no quarto. Talvez um guarda-roupa de madeira com uma placa em néon na frente com a palavra "Nárnia" nela e um par de setas coloridas apontando para ele.

Mas não. No primeiro momento, parece um quarto de hospital comum. E no segundo, no terceiro, e no quarto. Examino cada milímetro de tudo, desde os lençóis e o travesseiro até o piso porcelanato de um branco que quase chega a refletir minha imagem. Não encontro nada de interessante, e acabo me sentando na cama para refletir por um minuto. Assim, recosto na parede, e sinto uma beirada saliente que me incomoda um pouco. Virando pra examiná-la, percebo uma ponta de tinta descascando ali. Cada pedacinho restante dessa e das outras paredes é perfeito.

Puxe, diz algo em minha mente. Puxe.

Faço a coisa mais sensata que vem à cabeça: enfio o dedo no buraco entre a tinta e a parede e começo a puxar. Ela não oferece resistência, saindo facilmente da parede. Puxo, puxo e puxo mais um pouco. Perco a noção do tempo por alguns minutos e chego a arrastar a cama pra longe, para poder descascar a tinta mais um pouco. Depois, me afasto, e não consigo deixar de ficar boquiaberta com o resultado. Uma porta, atrás da pintura, que chega à altura dos meus quadris. Não tem maçaneta, então a empurro.

Ela se abre gentilmente, sem exigir muita força, e passo por ali sem pensar duas vezes.

Meus olhos são ofuscados pela luz forte durante não mais que uma fração de segundo. Logo em seguida, reconheço o lugar em que estou: Escola Marília Ribeiro, o lugar onde cursei o tão horrível Ensino Fundamental.

O pátio que se estende à minha volta está vazio, provavelmente por estarmos no horário da aula, exceto por um homem sentado de costas pra mim em um dos bancos. Seus cachos dourados e rebeldes são mais do que fáceis de reconhecer.

Me aproximo, espiando por cima do ombro de Will, e encontro-o concentrado em mandar mensagens em um iPhone de última geração. Qual é, até o cara que busca almas tem um iPhone e eu não tenho!

Ok, não consigo me conter e leio as mensagens. O nome do contato é "Traste". Traste pergunta a Will sobre uma série de nomes que não reconheço, e este responde sempre a mesma coisa: Alma colhida e direcionada, chefe.

— Uau — rio, e ele pula de susto ao perceber que estou ali, desligando o celular prontamente. — Traste. Você adora seu chefe, não é? É um dos anjos?

Ele fica em silêncio por um momento, então arregala os olhos.

— Fica quieta — diz, se levantando e começando a me puxar pra longe. Quando faço menção de perguntar que diabo ele está fazendo, sua mão cobre minha boca antes que ela emita o primeiro som.

— Você por acaso gosta dessa mão? — Reclamo, a voz saindo abafada.

— Apenas fique quieta — Will sussurra, me empurrando para trás de uma parede e ficando perigosamente perto. Seus olhos de céu estrelado estão a centímetros dos meus. — Sabem que estamos aqui.

— Quem? — Não estou nem um pouco confortável com toda essa invasão de espaço.

Em resposta à minha pergunta, um homem atravessa o pátio, seus sapatos fazendo toc toc toc. Se fosse pra escolher o que estava errado naquela escola, seria ele. Usa terno risca-de-giz e uma gravata vermelha, e seu cabelo castanho é levemente marcado por uns poucos fios grisalhos, sua postura é perfeitamente reta e rígida, e, sinceramente, ele me dá um pouco de medo. É o tipo de cara que merece ser chamado de traste, mas que você não tem coragem de dizer isso na frente dele.

Passa direto por nós, sem nos ver, mas mesmo assim Will aperta seu corpo contra o meu e vejo seu rosto ficar pálido, e ambas as coisas continuam por longos minutos depois do estranho desaparecer.

— Quem era? — Pergunto assim que ele se afasta de mim.

— Lis Oliviera, você acaba de conhecer o traste — ele range os dentes. — Meu querido patrão.

— Um anjo? — Arregalo os olhos. — Me disse que eram energia pura.

— Exceto quando precisam infernizar um subordinado — seu olhar é de pura raiva. — Daí precisam de uma forma humana. Mas se consideram bons demais pra se vestir normalmente, então é fácil reconhecê-los. — Seu tom de voz se torna mais baixo. — Se me pegarem ajudando você, vou ter um belo castigo.

— Como assim? — Finalmente saímos de trás da parede e caminhamos em direção ao gramado da escola. Quero muito ver que dia é esse, que foi tão importante na minha vida.

— Inferno, baby — ele dá uma risada amarga.

— E... Como é lá? — Não posso controlar minha curiosidade. Will me olha como se eu fosse completamente louca.

— Ah, toda hora é hora do chá! Como na casa do Chapeleiro Maluco. — Detecto um quê de ironia nisso.

— Sério? — Fico surpresa com a resposta. Ele revira os olhos e confirmo minhas suspeitas.

— É claro que não! — Então, parece se dar conta de que paramos no gramado. — Vem — ele começa de novo, me puxando quando ouvimos o sinal do intervalo e dezenas de crianças famintas saem correndo das salas como loucas. Procuro por Lis-versão-infantil com os olhos por um momento, mas Will a encontra antes de mim e vai na direção dela. — Vamos sair daqui.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostou?
Se sim, do quê? Se não, como posso melhorar?
Deixa seu review, me ajude a crescer como escritora :3 responderei a todos!
E era isso. Beijinhos ♡

P.S.: AVISO IMPORTANTE
Eu pesquisei por aí, e realmente tem muitas histórias e outras coisas com o mesmo nome que a minha :(
Bom, minha não, nossa, pois sem vocês eu não sei ao certo se ela existiria.
Então, por isso, NO DIA 11/02/2016 ESTAREI MUDANDO O NOME DE "DARK PARADISE" PARA "OBSCURE GRACE", E TAMBÉM A CAPA ESTARÁ COM O NOVO NOME.
Obrigada pelo auxílio, galera. E NÃO HAVERÁ ALTERAÇÃO NA HISTÓRIA OU NA SINOPSE.