Obscure Grace escrita por Ahelin


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Hey, pudim!
Como vão as coisas na Terra?
~eu voltando da escuridão por mais um capítulo~
Cara, tô adorando ver tantos reviews *o* Obrigada Obrigada Obrigada!
Agora, agradeçam ao meu querido amigo Biel (aka Baelson Fedorelson ou Night Fury aqui no Nyah!, como queiram chamá-lo) por ser tão incrível e me ceder o computador pro capítulo ficar bonitinho e ~batam palmas~ COM PARÁGRAFOS!
Adoro parágrafos, mas pelo celular eles não ficam. Pô, Nyah!
Sem mais delongas, aproveitem o capítulo!
Até lá embaixo o/



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Imagine a seguinte situação: Você está preso ao teto por um elástico muito grande e está cuidando da sua vida quando o chão simplesmente desaba sob seus pés.

O elástico estica e te deixa cair, fazendo com que você experimente a sensação horrível de uma queda livre, e quando você finalmente pensa que vai bater em algo e dar fim a tudo isso, o elástico te puxa de volta para cima.

Mas isso não te faz parar. Pelo contrário, apenas faz com que você caia mais uma vez. Queda livre, elástico. Queda livre, elástico.

É melhor encontrar o chão e morrer do que cair de novo e de novo, sentindo sempre o mesmo desespero.

Às vezes o chão desaba sob seus pés e cair não é uma opção. Você tem que ser puxado pra cima para achar que cai.

É assim que me sinto agora. Não demorou tanto para a verdade me atingir como um soco no estômago.

E ai. A verdade consegue bater bem forte.

Você está morta, são as palavras que ecoam sem parar em meus ouvidos.

— Isso é verdade? — É tudo que consigo dizer para o homem que me encara.

Seus olhos de céu estrelado à meia-noite me parecem tristes. Ele inclina a cabeça, como se tivesse pena da pobre garota à sua frente.

— Sim — suspira ele, me deixando surpresa ao estender a mão para mim.

Fico confusa pensando se devo apertar a mão dele ou chutá-la e sair correndo, mas nesse momento o ambiente todo muda.

Estamos em um quarto de hospital, muito agradável. As cortinas são impecavelmente brancas e tudo tem cheiro de flores, por causa do enorme vaso cheio delas que repousa num criado-mudo ao lado da cama.

Debruçado nesta, tem um rapaz vestindo jeans e uma camiseta verde. Seu rosto está escondido entre os braços cruzados sobre a cama. Seus ombros sobem e descem rapidamente.

Ele está chorando.

— Ei, tudo bem? — Pergunto, por reflexo. Ele não se vira, como se não percebesse que estou aqui.

Entendo o porquê disso logo depois. A pessoa que está deitada na cama sobre a qual ele está chorando sou eu.

— Somos fantasmas? — Arregalo os olhos.

Metade de mim pensa: Dá pra ficar pior?

E a outra metade pensa: Fantasmas! Isso é tão legal!

— Não — o cara loiro que vou apelidar de senhor ceifeiro super gostoso diz, acabando com toda a graça. — Nós somos reais, o quarto não é. Não passa de um reflexo do que está acontecendo com seu corpo.

Meu corpo?

O rosto e os braços da Lis deitada na cama estão tão horríveis, machucados e esfolados que ergo a mão pra tocar meu nariz, tentando checar de está tudo ok. Parece no lugar.

Mas... O monitor de batimentos está fazendo bip. Bip. Bip.

Meu coração está batendo, então... Não posso estar morta.

— Você bateu a cabeça no vidro do carro — diz o ceifeiro, como se adivinhasse meus pensamentos. — Teve uma hemorragia cerebral e, depois de alguns minutos, morte cerebral. Eu sinto muito.

— Rafa — chamo baixinho, sentindo vontade de chorar também. — Rafa, eu tô aqui...

Ele não se mexe. Claro que não me ouve. Quero tanto abraçá-lo... Quando tento chegar mais perto e tocar seu ombro, toda a imagem do quarto tremula, desaparecendo aos poucos.

Caio de joelhos, com o coração despedaçado. Nunca tinha visto Rafael chorar daquele jeito e a culpa era minha.

— Eles não vão desligar os aparelhos — diz o senhor ceifeiro super gostoso. — Seu irmão não deixou.

Assinto, levando um momento pra assimilar tudo isso. Eu morri. Mas, de alguma forma consegui escapar de onde estava.

Sinto uma brisa fresca e me surpreendo novamente ao ver que estamos numa praia. Não pode ficar mais louco que isso.

E nesse momento, algo me ocorre. Não posso continuar chamando o senhor ceifeiro super gostoso de senhor ceifeiro super gostoso.

— Você tem um nome? — Pergunto, baixinho. Ele dá um sorriso enorme e brilhante.

— William — diz. — Pode me chamar de Will.

As ondas chegam até onde meus joelhos estão, molhando a areia.

— Então, Will — começo, sem a menor vontade de levantar. — O que é aqui?

Ele demora um pouco pra responder, talvez pensando em como fazer isso. Por fim, encontra um graveto e desenha um círculo grande na areia.

— Este é o seu céu, Lis — começa. — Não é nada mais que uma cela. Um pequeno quarto com uma cama, só por precaução. E esses — continua, desenhando uma série de círculos, cada um dentro do anterior. — São o que chamamos de estágios. Você estava aqui — aponta para o menor círculo, no centro. — Seu primeiro estágio.

— Não tô entendendo nada — suspiro. Posso ser bem burra às vezes.

— Melissa — ele se senta do meu lado. — Esquece tudo que você aprendeu sobre o céu. Não é um lugar acima das nuvens com portões dourados e unicórnios voadores.

Ninguém nunca me disse nada sobre os unicórnios voadores, mas ia ser legal.

— O que é, então?

— Bom... — A expressão de Will fica triste. — Não posso te contar, vai ter que descobrir sozinha. Tudo que tenho permissão pra dizer é que cada pessoa tem seu próprio céu, que não passa de um mundo construído com memórias. Seu céu é um lugar que te faz sentir bem. A partir do momento que sai de um estágio, entra em outro. Cada estágio é baseado em um momento importante da sua vida, que ajudou a te tornar quem você é agora. Está entendendo?

Assinto, prestando atenção. Ele continua:

— Não tem uma ordem cronológica pros estágios, ou seja, não estão organizados na ordem em que aconteceram. É tudo completamente aleatório.

Escuto risadinhas em algum lugar bem longe. Quando me viro na direção do som, vejo um Rafa de mais ou menos catorze anos e, ao lado dele, uma Lis que deve ter dez. Eles estão correndo na minha direção, chutando água e areia um no outro e rindo muito alto.

Essa é a praia perto da cidade onde meus pais moram, e eu vinha aqui com meu irmão todos os fins de semana.

Os dois passam por mim e por Will, lançando olhares, e Rafa sussurra algo no ouvido da minha versão mais jovem.

Will aponta com o graveto para o segundo círculo, contando de dentro pra fora.

— Agora estamos aqui. Seu trabalho, se quiser voltar, é achar uma forma de chegar aqui — completa, apontando para o maior círculo, que ele disse que é um tipo de cela.

— Voltar pra onde? — Junto as sobrancelhas.

Ele ri, divertido. O som da sua risada me faz ver estrelas brilhando em seus olhos.

— Pra sua vida, é claro.

Meu coração bate mais forte por um segundo. Quer dizer, então... Que eu posso voltar?

— E como eu faço isso?

— Lembra do tapete? — Pergunta ele, e eu assinto. — Você conseguiu sair de lá porque encontrou algo errado, que não se encaixava. Os anjos sempre deixam essa saída de emergência, caso aconteça algo errado.

Os anjos?

— Então eu vou ter que desfiar mais tapetes? — Rio, sem graça.

— Figurativamente falando, sim. Precisa encontrar o que está errado e dar um jeito de sair. Normalmente são cerca de quinze estágios, então... Boa sorte. Vou tentar vir te encontrar algumas vezes pra ver se precisa de ajuda. E, o mais importante... — ele morde o lábio inferior e uma ruga de preocupação surge em sua testa. — Você precisa fugir dos anjos a todo custo.

— E como vou saber que vi um anjo? — Penso um pouco. — Caras com asas?

A expressão de Will é a de quem precisa explicar o ABC para uma criança de dois anos.

— Os seres com asas que vocês humanos adoram desenhar não são anjos, Melissa — quase não consigo prestar atenção em suas palavras porque estou observando seus lábios. Ops. — São ceifeiros, na verdade. Quando um homem com asas enormes aparece pra alguém em um sonho, isso quer dizer que essa pessoa está próxima da morte.

— E onde estão suas asas? — Isso está começando a ficar interessante.

— Eu posso te mostrar, mas você vai ser vaporizada na hora. Mortais não podem ver a forma real dos imortais.

— Ah — faço uma careta. — Eu nem queria mesmo. Então o que são os anjos?

— Energia pura — Will se levanta e bate a mão nas coxas pra tirar a areia da calça jeans. Sou educada o bastante para não transmitir meus pensamentos enquanto olhava pra bunda dele. — Se você perceber uma luz muito forte, se esconda dela e não deixe que ela te encontre. Se isso acontecer, você volta para o primeiro estágio, e não vai ser tão agradável. Agora eu preciso trabalhar. Boa sorte.

Assim, sem mais nem menos, ele me deixa, simplesmente desaparecendo.

Deito na areia, enquanto meu cérebro tenta entender o que está acontecendo. Ainda tenho muito pra viver... Eu preciso voltar. E vou conseguir.

As versões jovens de Rafa e Lis ainda estão correndo juntas, e vejo algo de familiar nisso.

Um homem oferece um saco de pipoca ao meu irmão, mas ele recusa.

— Nunca aceite nada de um estranho, Lis — ele ri pra mim, ou... Pra Lis do lado dele. É confuso.

— E se eu pegar e sair correndo? — Ela pergunta, divertida. Como resposta, Rafa joga um monte de água em seu rosto.

— Não, não vai pegar e sair correndo! — Ele gargalha. — Vamos tomar um sorvete.

Ela vai atrás dele, passando pelo calçadão cinza e preto com vários coqueiros aqui e ali. Era meu lugar favorito em todo o universo. Sigo-os, atravessando a rua. Lis-modelo-infantil se abaixa no meio do caminho, bem no meio da avenida.

— Rafa, achei um real! — Ela solta um gritinho agudo de alegria. Não dá pra acreditar que eu fiquei assim por um mísero real.

Ele revira os olhos e continua até o outro lado. Agora me lembro desse dia... Foi quando Rafa ganhou a cicatriz na parte de trás do pescoço.

Ouço uma buzina e, novamente em tão pouco tempo, o barulho horrivelmente alto que um carro faz quando tenta freiar em alta velocidade.

Os dois segundos que ele ficou parado prestando atenção na outra Melissa foram suficientes para colocá-lo nesse perigo.

Algo me diz pra não interferir, mas é mais forte que eu. Pulo, empurrando meu irmão pra longe do carro.

— Uau! — Ele ri, olhando pra mim enquanto os dois estamos caídos na calçada. Pela primeira vez sou maior que ele, e quero pular de alegria. Bom, eu pularia se não fosse tão estranho. — Obrigado, moça!

— Disponha — sorrio de volta. Os dois se despedem de mim, agradecendo.

Agora caiu a ficha de que eu acabei de ferrar com tudo! Como vou achar o que há de errado agora?

Estou por minha conta agora, e preciso fazer tudo direito.

Assim que levanto, percebo algo na rua. Essa deve ser minha passagem pra fora daqui.


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Notas finais do capítulo

Gostou?
Se sim, de quê?
Se não, como posso melhorar?
Comenta! Vou adorar ver sua opinião aqui.
E era isso. Beijinhos ♡