Obscure Grace escrita por Ahelin


Capítulo 27
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

Hey, pudim!
Como vão as coisas na Terra?

Eu tô aqui, novamente e direto de Júpiter, pra trazer o penúltimo capítulo de Obscure Grace pra você.
Tem teorias mirabolantes? Tem!
Tem encaminhamento da história? Tem!
Tem final abrupto pra deixar curiosidade? Claro que tem!

O Epílogo será postado daqui a exatamente um mês, okay? No dia 26 de setembro.
Foi muuuuuuito gostoso escrevê-lo, assim como esse capítulo. Se prepara pra Agradecimentos do tamanho de um livro hahaha

Espero que goste.
Até lá embaixo o/



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/673169/chapter/27

— Uau. Ok, espera.

Rafa se levanta da cadeira e apoia seus antebraços na mesa. A luz da lanterna em forma de abóbora que peguei do quarto dele ilumina seu rosto de um jeito bem macabre, como numa cena de filme de terror. Acabei cedendo quanto a lhe contar a verdade; nós sempre contamos tudo um ao outro, temos um círculo de confiança e não serei eu quem vai quebrá-lo.

Ainda lembro quando éramos crianças, nessa mesma casa. Acendíamos a lanterna de abóbora no chão do quarto dele, eu me aconchegava entre um monte de travesseiros e compartilhávamos segredos até mamãe bater com força na porta e gritar para que fôssemos pra cama.

Dessa vez não foi diferente, sem contar o fato de que minha mãe nem deve saber que estamos na cozinha no meio da madrugada falando sobre minha aventura no céu. O tempo deu a ela um sono muito pesado. Ainda bem.

— Por acaso o Miguel apareceu lá no quarto? — pergunto. — Não é possível que eu tenha inventado uma pessoa que existe de verdade.

— Sim, ele foi lá várias vezes. — Meu irmão suspira alto. Ficamos em silêncio por alguns minutos, ambos absorvendo as informações. A mesma sensação de antes, uma mistura de assombro e fascínio, está presente aqui.

— Acha que eu tô louca? — arrisco. Sinceramente, é o que eu acho. Ele balança a cabeça negativamente, com a testa franzida que caracteriza sua expressão pensativa.

— Você sempre foi, mas isso não vem ao caso. Olha, só há duas opções — pondera, enquanto começo a balançar as pernas por baixo da mesa. Se eu me sentar direito, meus pés não tocam o chão, e não consigo mantê-las paradas por causa da adrenalina. — A primeira é que você sonhou com tudo isso por causa do que ouviu lá no quarto. Dizem que dá pra ouvir tudo quando se está em coma. Isso faz sentido por causa do meu perfume, que você disse que sentiu, as risadas, todo o resto. Também encaixa com a sua teoria sobre os episódios de Supernatural e os filmes que eu assisti.

— Faz muito sentido pra mim — concordo, sentindo uma pontada de tristeza. Minhas pernas param de se mover. Não consigo aceitar que foi tudo um sonho, mas meu cérebro aponta essa como a opção mais lógica.

— Pra mim não é tão claro — retruca ele. — E aquele cara, o Will? A Paula, o Leo, a aparência do Miguel que é idêntica à realidade, esses anjos, esse lugar fantástico. Deus, Lis. Sua EQM. Não daria pra inventar isso. A segunda opção, e minha melhor teoria, é que os tais anjos botaram tudo aí pra você acreditar que foi um sonho. Afinal, pensa comigo. Se eles fazem algo assim tão horrível, prender pessoas pra roubar energia de suas almas, por que iriam querer que você saísse espalhando tudo por aí? Não tem lógica deixar solta por aí uma pessoa que sabe de todos os segredos sujos deles.

Penso por um longo minuto. Faz tanto sentido quanto a outra, talvez até mais. Honestamente, não sei o que pensar. Quero acreditar que foi tudo verdade, principalmente a parte sobre todos que eu encontrei lá. Leo, Will, Paula. Algo me diz que não vou voltar a vê-los por um bom tempo.

— Acho que isso não faz diferença, no fim das contas — concluo, afastando a tristeza. Seja lá o quê ou quem me trouxe de volta, devo-lhe um enorme agradecimento. Me levanto e puxo Rafa para um famoso abraço de urso dos irmãos Oliviera. — De qualquer forma, eu voltei. Obrigada, tá? Por ter me esperado.

— Não seja boba — devolve ele, desalinhando meu cabelo com os dedos. — Eu que te agradeço por ter voltado. A vida tava bem chata sem ninguém pra atormentar.

Sinto o sorriso chegar com um aperto quente no coração.

— Disponha. — Pela voz dele, dá pra notar que está sorrindo também.

Essa é, com certeza, a melhor sensação do mundo. Estou de volta. A cada dez minutes, meu cellular vibra com uma nova mensagem de Cibele, que, por sinal, não entrou para a Orquestra.”Tudo bem”, lembro dela dizendo. “Eu não vou desistir. Algum dia vão ter que me aceitar!”

Ela, mesmo sem querer, me passou uma mensagem muito agradável e reconfortante. Vai ficar tudo bem. Sim, a partir de agora, tenho plena certeza disso.

 

*~~*~~*~~*

Quando chego no ponto de ônibus, depois de correr quase cinco quarteirões, não tem mais ninguém por perto. Ah, que ótimo, eu os perdi outra vez. O ônibus e o fôlego.

Puxo o celular, com dificuldade, do bolso do jeans. Isso é tudo culpa da comida deliciosa da mamãe e dos doces divinos da vovó, que veio passar uma temporada em casa. Malditas velhas cozinheiras engordadoras de pessoas. Já ganhei uns bons quilos extras na bunda depois dessa brincadeira. Subir numa sapatilha de ponta hoje foi um sacrifício.

Digito uma rápida mensagem para Rafa avisando que preciso de carona para casa, e no mesmo instante ele responde que vem me buscar de carro. Às vezes é vantajoso ter um irmão que não desgruda do Whatsapp!

— E aí, como foi? — pergunta assim que abro a porta do passageiro. Claro que ele estaciona quase em frente ao ponto, sujeito a uma multa se passar uma viatura por aqui, caso contrário não seria Rafa. Bom, agora não é hora de reclamar dos péssimos dotes de motorist do meu irmão mais velho, apenas de entrar no carro. É isso o que faço. Procuro esconder o sorriso, mas é quase impossível.

— Eles disseram que não podem abrir uma excessão pra mim — respondo, fingindo minha melhor cara de tristeza. Pela expressão cética dele, não deu certo. Nunca consigo enganá-lo.

— Você mente muito mal, Melissa! — repreende, mas começa a sorrir junto comigo.

A lembrança do que fiz ainda está fresca, e pretendo que continue assim por um bom tempo. Acabo de sair do auditório onde dancei (melhor dizendo, dei um show) para três dos oito avaliadores do comitê de entrada da faculdade onde quero ingressar. Os testes de verdade aconteceram no fim do ano passado, mas, depois que meu irmão deu um jeito adorável nas coisas com um curto telefonema à reitora, esses gentis senhores resolveram dar uma chance “para a minha maravilhosa história”.

— Tenho duas notícias pra você. Uma delas é boa e a outra é ruim. Qual você quer primeiro? — pergunto, ao que Rafa ergue as sobrancelhas. Todo mundo sempre escolhe a boa.

— A ruim — responde, me contradizendo. Faço uma cara feia e ele ergue os ombros. — Eu sou do contra.

— Ok, senhor-do-contra, mas antes vou fazer uma pergunta: você consertou os freios do carro? — Não sei por que disse algo tão cruel. Me arrependo assim que vejo a expressão culpada em seu rosto.

— Aham — concorda. — Isso foi maldade, sabia?

Ficamos nos encarando por um momento.

— Tá, eu admito que foi. — Estendo a mão e belisco a bochecha dele com força até ter certeza de que vai ficar uma marca.

— Ai, Lis! — reclama, com uma gargalhada, e afasta minha mão. — Vai ficar roxo!

— Ninguém mandou você ser tão branco — retruco. — Nem ter bochechas tão apertáveis. Sabe que eu to brincando, bobão. Esquece isso, tá bom?

— Tá bom — diz ele, formando um beicinho infantil com os lábios. Fico surpresa quando estende o dedo mindinho na frente do meu rosto. — Estamos de bem? — Depois disso, paramos por um longo tempo. Só então ele se dá conta do que disse e abaixa o dedo. — Sabe, às vezes eu me pergunto qual de nós é o mais velho.

— Você ainda tem alguma dúvida? Enfim, vou começar pela boa notícia só porque eu quero. Eles marcaram outra audiência com o comitê de admissão completo, só pra mim! — Posso ouvir o orgulho na minha própria voz. Não consigo evitar outro sorriso enorme. É inacreditável. — A má notícia é que você tem que me levar à sede deles lá na capital, amanhã de manhã.

Rafa sorri quase tanto quanto eu e me puxa para um abraço desajeitado. Evito reclamar de como isso faz com que eu bata o quadril no câmbio do carro. Sorria e abrace, Lis, sorria e abrace.

— Agora temos duas coisas pra comemorar! — comenta. — Amanhã você vai entrar pra faculdade dos seus sonhos e completa seis meses exatos que você acordou de um coma. Sério, liga pra mãe e pede pra ela te fazer um bolo!

— De veludo vermelho? — arrisco.

— De veludo vermelho — confirma ele.

*~~*~~*~~*

 Depois que Rafa e eu fazemos o último brinde de guaraná, já é hora de deitar. Nos despedimos com um boa noite e outro abraço apertado. O cheiro do perfume dele fica na minha roupa por muito tempo depois que nos separamos. Simplesmente adoro quando isso acontece.

Deitada, fico olhando para o teto acima da minha cama. As estrelas fosforescentes que meu pai me ajudou a colar lá quando eu tinha sete anos ainda estão brilhando, alegres. No início, ele quis desenhar um coração, porque “garotas de sete anos adoram corações”. Felizmente, Rafa interferiu e pesquisou por mim várias constelações para imitarmos. Graças a ele, agora estou olhando para um não muito detalhado Órion, uma Libra meio desequilibrada, um Capricórnio torto, Peixes perfeitos (era a mais fácil) e algo que um dia foi Sagitário. Não tive um motivo especial para escolher estas, apenas as achei bonitas e quis poder olhar para elas antes de dormir.

Bom, minha primeira escolha seria deitar na laje lá em cima e adormecer sob as estrelas de verdade, mas, como minha mãe sempre achou que eu fosse pular do telhado e bater os braços tentando voar como uma pomba, tenho que me contentar com estas aqui.

 Bem no canto, um segredo dos irmãos Oliviera: nossas iniciais, R e L, pintadas de canetinha que brilha no escuro, tão pequenas que só alguém que sabe onde encontrá-las consegue ver. Colocamos num local estratégico que fizesse parecer que o céu estrelado era uma obra de arte, assim, as iniciais são a assinatura. Toda vez que meu olhar se concentra nisso tudo, sinto algo bom aquecer meu corpo.

Foco nelas por um instante, perdida em pensamentos. Tanta coisa aconteceu desde que voltei a observá-las todas as noites… Por incrível que pareça, ainda sinto que falta algo para tudo estar completo. A ultima peça do quebra-cabeça para que eu termine de desvendar o grande enigma.

Está muito frio lá fora, afinal já é inverno e a brisa do mar consegue nos alcançar aqui. Felizmente, uma barreira de cobertores me protege dela.

As estrelas estão dançando na frente dos meus olhos agora, por conta do sono. Mal consigo manter as pálpebras abertas. Poucos instantes antes de tudo ficar escuro, tenho um vislumbre de algo diferente do que eu lembrava. Uma pequena letra, marcada no teto com caneta fosforescente ao lado do meu L.

“W.

Assim que pisco, porém, ela desaparece, como se nunca tivesse estado lá.

Será que…?

Não, deve ser só bobagem. Preciso mesmo descansar. Amanhã terei um longo, importante e decisivo dia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí?
Eu tô muito ansiosa hahaha
Me conta o que achou, por favor :3 saber disso é muito importante pra mim!
Beijinhos, pudim, e até o próximo (e último) capítulo de Obscure Grace. Espero te ver nos reviews aqui embaixo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Obscure Grace" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.