Obscure Grace escrita por Ahelin


Capítulo 25
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Hey, pudim!
Como estão as coisas na Terra?

Brotei aqui com mais um capítulo pra vocês.
Só um aviso: prevejo tretas quanto ao conteúdo dele, MAS eu adorei escrever e realmente espero que gostem também :3
Até lá embaixo o/



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O que encontro atrás da porta é um jardim ensolarado. Ela desaparece assim que se fecha. Me vejo rodeada por grama e flores, e algumas borboletas estão voando por aí. Parece um sonho.

Will, é claro, não está mais aqui, mas eu já imaginava isso.

A alguns passos de distância tem uma árvore enorme, à beira de um rio. Repousada em sua sombra, há uma mesinha branca e delicada de metal com cadeiras no mesmo estilo ao seu redor. Pendurado num galho grosso está um balanço de pneu que segura um homem, de costas para mim.

Ele gira o balanço e abre um sorriso radiante para mim. Posso ver seus olhos castanhos brilhando daqui.

— Vem cá! — chama. Sua voz é gostosa de ouvir. — Senta aqui, vamos conversar. Eu tava te esperando.

Meio relutante, caminho até onde ele está e sento numa das cadeiras. Seu sorriso não vacila por um segundo sequer.

— Desculpe, mas quem é você? E que lugar é esse? — pergunto. Tudo nesse lugar parece brilhar de um jeito quase artificial.

— Tenho muitos nomes — diz ele ao cruzar as mãos sobre seu colo e esticar as pernas. — Alguns me chamam de Senhor ou Deus, às vezes Senhor Deus, mas eu acho muito formal. Quanto a esse lugar, gosto de me referir a ele como jardim, mas pode chamá-lo de céu se assim preferir.

Me engasgo com a resposta. Será que ele é mesmo... Deus? Tipo, o Deus?

— Mas você é... — minha voz falha. — Quer dizer, o senhor...

— Relaxe, Lis. — Ele estende a mão e segura a minha. — Não precisa me chamar de senhor e todas essas formalidades. Somos só dois amigos tendo uma conversa, certo? Está livre para perguntar o que quiser.

Assinto, sem coragem pra responder em voz alta, mas logo começo a me acalmar. Isso é simplesmente fantástico.

— Então você não desapareceu? — recomeço, com cuidado.

— Na verdade, não... — Seu sorriso se torna triste por um momento. — Eu apenas lhes deixei evoluir. Sabe, Lis, por muitos séculos eu estive mais presente. Respondia preces, orações, punia os desobedientes, mas onde isso levou a humanidade? Decidi lhes dar espaço e deixei que meu bebê desse os primeiros passos sozinho. Deu certo, não nego. Vocês cresceram um bocado.

Respiro fundo.

— E nos abandonou por todo esse tempo? — digo, sem pensar nas consequências, e me arrependo assim que termino.

— Não, é claro que não. Eu nunca saí de perto de vocês. Toda vez que alguém chora e pede conforto, quando precisam de esperança, quando desejam algo de todo o seu coração e colocam esse desejo em minhas mãos, eu estou presente. Sabe por que você está aqui? — Balanço a cabeça negativamente. — Porque seu irmão me pediu pra te trazer de volta. Claro que você correu contra o tempo para achar as saídas, mas... Quem você acha que as colocou lá?

Prendo a respiração. Tudo isso é tão... uau.

— Então por que há tanto caos e por que nós vamos para aquela prisão quando morremos? — questiono pela última vez.

O homem suspira lentamente.

— Estão satisfeitos assim, quanto àquele lugar — responde ele. — Dei-lhes a opção de escolher o que querem. Seus maiores sonhos são realizados lá, e apenas quem realmente quer sair consegue isso, como você. Mantive seu corpo vivo e abri o caminho, mas foi trabalho seu atravessá-lo. Agora, sobre a Terra...

Rugas de preocupação marcam sua testa.

— Já sei — completo por ele. — Não pode ajudar alguém que não queira ajuda.

Ele assente e curva os lábios num sorriso novamente.

— Originalmente todos os homens viriam pra cá — recomeça. — Mas tudo se tornou frio e calculado. Assim que perceberam minha ausência, meus anjos resolveram engavetar almas para benefício próprio, uma vez que eles não as têm. Isso me machucou por dentro de uma forma que não se pode imaginar, mas os humanos escolheram continuar assim. Não posso ir contra o direito de escolha que lhes dei de presente.

Apenas assinto. Há tanto que quero perguntar, sobre Raziel, o que acontecerá com o céu agora, Will, mas não sei se devo.

— Tudo ficará bem — diz ele, antes mesmo que eu abra a boca. — Não haverá mais nenhum conflito, cuidarei pessoalmente disso. Chega de mortes. Tenho certeza de que algumas boas mudanças serão feitas. Fique em paz, Lis, tenho bons ajudantes por lá. Quanto a seu amigo ceifeiro, ele foi injustiçado e merece uma segunda chance de viver. Quer que eu cuide disso?

Assinto outra vez, boquiaberta.

— Sim, por favor...

— Só terei que tomar algumas precauções — avisa. — Não posso permitir que ele seja atormentado por tudo que vivenciou.

— Tudo bem — concordo. Não tenho palavras para descrever a sensação ótima que percorre minhas veias nesse momento.

— Agora volta pra lá. — Seu sorriso aumenta de novo e sua mão solta a minha. — Já é hora de você continuar de onde parou.

Ele estala os dedos e a luz se apaga. Não vejo mais nada.

Estou tonta, e de momento em momento sinto vontade de vomitar. Por mais que tente, não consigo me mover um milímetro que seja. Parece que estou dentro de uma caixa que foi abandonada no mar, ao sabor das ondas.

Vez ou outra, alguém tira a tampa da caixa e consigo ver um par de olhos azuis me observando, mas não dura muito. Ela se fecha bem mais rápido do que abriu, e volto a mergulhar na escuridão.

Não tenho ideia de quanto tempo se passa assim. Talvez horas, dias, quem sabe? Minha boca está seca e tenho sede o tempo todo, mas não consigo pedir água. A roupa de hospital é áspera e faz barulho.

Às vezes, o perfume do meu irmão me atinge e sinto uma nova onda de náusea. Quero abrir os olhos, me levantar, mas simplesmente não consigo.

Na primeira vez que isso acontece de verdade, a única coisa que identifico de início é o barulho da chuva. O mundo que se estende no meu campo de visão está borrado, mas aos poucos as formas contidas nele vão se tornando mais nítidas. Lá está a janela, mas não conheço o quarto a que ela pertence. Sentado em frente ao vidro e olhando com para as gotas d'água que batem nele, está um Rafa descabelado e sonolento. Repousada no peitoril, tem uma xícara de algo quente o bastante para embaçar a janela.

Tento chamá-lo, mas a voz não sai, então vou ficar com os olhos abertos o máximo que puder. Vamos, Rafa, vira pra cá! Minhas pálpebras estão cada vez mais pesadas, não aguento muito. Por favor, Rafa... Seu queixo continua apoiado na mão. Ele não se vira, e tudo fica escuro outra vez.

Ouço vozes. Uma delas é do meu irmão, outra parece ser da minha mãe, mas não sei direito a quem pertencem as outras. Mesmo assim, sinto que conheço todas elas. São apenas ruídos pra mim, não há nenhuma palavra audível.

Elas mudam de tom rapidamente. Às vezes altas, às vezes baixas, mas nunca param.

Consigo abrir os olhos outra vez, mas a única pessoa no quarto é uma enfermeira. Ela abre um sorriso brilhante e me encara de volta. "Flávia", diz o crachá.

— Você quer algo, meu bem? — pergunta, piscando a luz de uma pequena lanterna no meu olho. Faço que sim com a cabeça, e meu pescoço dói com o movimento.

— Água — resmungo. A voz sai estranha, rouca e irregular, tanto que parece até o que acontece quando estou com gripe.

Talvez ela esteja acostumada a entender resmungos de seus pacientes, pois sai e volta em poucos segundos com um copo descartável de água. Ergo a cabeça alguns centímetros e a moça derrama um pouco na minha boca, aliviando assim a sensação horrível de antes.

— Consegue deixar os olhos abertos? — Flávia sorri. — Vou chamar o seu irmão.

Depois disso, ela sai, e uma eternidade parece correr. Quando vejo meu irmão aparecer na porta, com um sorriso grande o suficiente para fazer parênteses surgirem dos lados de sua boca, o cansaço me vence e apago outra vez.

Sinto calor. Meu rosto, meu peito e meus braços ficam quentes de uma forma agradável por um bom tempo. Além disso, consigo ouvir risadas que preenchem meus pensamentos, o que é reconfortante.

Não consigo sonhar, apesar de tudo; é apenas silêncio e solidão.

Desperto outra vez, e movo os dedos dos pés. Sucesso! Subo contraindo os músculos das panturrilhas e das coxas, e depois dos braços. Consigo me mover perfeitamente. Está escuro, mas tem uma mão encaixada na minha. Reconheceria esse perfume a quilômetros de distância: Rafa.

Tento chamá-lo, mas a voz fica entalada na garganta de novo. Em vez disso, aperto sua mão. Ela desaparece rapidamente e logo a luz é acesa.

— Lis? — chama ele, e sorrio. Minhas bochechas doem, mas vale o esforço. — Lis!

Meu irmão praticamente voa em cima de mim e me dá o maior abraço de urso da história dos abraços de urso.

— Ai — murmuro por reflexo quando algo espeta meu braço, e ele se afasta na hora. Tem um fino tubo de soro enfiado aqui.

— Desculpe — sussurra, e meu coração dá um salto quando vejo que ele está chorando. A última vez que vi isso foi num funeral.

Ergo a mão e limpo desajeitadamente as lágrimas que estão escorrendo, mas isso só o faz rir e chorar mais ainda. Rio junto e acabo chorando também quando ele encosta a bochecha na minha mão e fica me olhando em silêncio.

A felicidade é tanta que quase chega a arder no coração. Rafa deita o rosto no meu peito e ficamos ali, chorando juntos de alegria.

— Oi — sussurro. Ele ri de novo e beija a palma da minha mão.

— Oi — sussurra de volta.

Em algum ponto de tudo isso, acabamos dormindo. Dessa vez, sonho. Só sei disso pela sensação boa que eu tenho ao acordar, porque não lembro de nada nele.

Uma enfermeira, que por sinal não é Flávia, abre as cortinas e o Sol estende seus braços. Ele toca meu rosto com seu calor. Olá, Sol.

— Quer que eu o acorde? — pergunta a moça, apontando para o meu irmão com o queixo. Balanço a cabeça negativamente, é melhor deixá-lo em paz.

Rafa ainda está deitado no meu peito, roncando. Nunca na vida — como é uma delícia pensar desse jeito. Vida, vida, vida! — agradeci tanto por ele não babar. Ficou mais fácil me mover, me sinto mais forte. Ergo a mão e mexo no seu cabelo, e isso o faz abrir os olhos no mesmo instante.

— Lis, sua mão — reclama. — Ela tá no meu cabelo.

— É, ela tá — retruco. Com certeza ele vai ter que me aguentar bagunçando seu cabelo por muito tempo.


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Notas finais do capítulo

E aí?
Ah, tá achando que acabou?
Claro que não!
Sem querer dar spoiler (mas já dando), é agora que a pomba começa a girar e as teorias da conspiração chegam com tudo!
Vou ficar ansiosa pra receber as teorias que vocês formularem haha
E era isso, até daqui a pouco.
Beijinhos ♡



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