Obscure Grace escrita por Ahelin


Capítulo 24
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Hey, pudim!
Como vão as coisas na Terra?

Tava aqui pensando na vida e resolvi trazer mais um capítulo procês.
Vão preparando o corassa1 pro final, estamos quase lá.
Prevejo teorias, prevejo gente querendo me jogar de um prédio, prevejo muita coisa.

Ah, só mais um recado: se tu faz parte dos 164 acompanhamentos, dos 195 comentários, das 10 recomendações, ou mesmo se está aqui lendo isso sem fazer parte de nenhum, obrigada. OG não seria nada sem ti.
Tô muito feliz com esse projeto e cê faz parte dele =3
Dedico esse capítulo a você.

Até lá embaixo o/



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A luz, dessa vez, parece receptiva e calorosa como nunca pareceu antes. Porém, por mais que eu me esforce, não consigo me lembrar de ter estado nesse lugar; é um canteiro de grama à beira de uma estrada, e está quase anoitecendo. No centro dele tem uma garota pequena que está estudando com suas mãozinhas uma caixinha de música repousada em seu colo sobre a saia do vestido amarelo. Ela a abre, e uma delicada bailarina começa a rodopiar conforme a música toca.

Atrás dela, na estrada, há dois carros que aparentemente se chocaram um contra o outro. Me aproximo o suficiente para ver um casal abraçado em frente a um grupo de paramédicos. Os dois têm apenas alguns arranhões, mas estão desesperados olhando para a garotinha de cachos pretos deitada no chão entre os homens. Ela não parece respirar nem dar qualquer outro sinal de vida, seu cabelo está coberto de cacos de vidro e há cortes feios em seu rosto.

Mas essa não é a maior surpresa. Esta acontece quando outro Will, idêntico ao que está do meu lado exceto por sua camisa de mangas compridas, aparece e vai se sentar perto da garotinha. Acho que sou eu.

— Olá — diz ele, e nenhum dos dois tem noção da nossa presença. — Você sabe o que aconteceu?

— Não sei — ela responde simplesmente, encarando-o. — Eu estava com meus pais no carro, mas não lembro de nada depois disso. — Ela fala com a voz aguda e insegurança nas palavras, como se tivesse medo de errar alguma. Bom, desde que eu me lembro, sou um papagaio com vestido de bailarina, deve ter algo errado.

Atrás deles, a confusão toma forma e cresce. A mulher começa a chorar, desesperada, e busca refúgio nos braços do homem, enquanto os paramédicos colocam uma máscara no rosto da menina.

O outro Will pega seu celular, que ainda é o mesmo iPhone, e procura algo nele por um tempo. Sua testa está franzida e sua expressão mostra que está preocupado com algo.

— Não — suspira depois de terminar e guardá-lo de volta no bolso. — Não era pra você estar aqui. Eles erraram de novo. — Ela faz menção de olhar para trás, na direção do acidente, mas ele segura seu rosto para que não faça isso. — Olha pra mim, tá bom? Vou dar um jeito nisso.

— Cadê minha mãe? — A pequena menina fita o homem à sua frente com seus enormes olhos cor de amêndoa, e isso me derrete.

— Vou te levar pra ela logo, está bem? — Ele sorri, mostrando sua covinha, ao que Lis responde enfiando seu polegar na bochecha de Will.

Rio, mas mesmo assim nenhum dos dois me nota, da mesma forma que o casal e os paramédicos parecem não ter ideia de que estamos aqui.

— Qual é o seu nome? — pergunta ela, inclinando a cabeça.

— Meu nome é Will — ele pisca algumas vezes, um pouco surpreso, como se ninguém nunca lhe perguntasse isso. — E o seu?

— É Melissa! Quer ser meu amigo?

— Claro que eu quero. — Ele está sorrindo tanto que me faz sorrir também.

Ela descansa a caixinha no chão por um momento e bate palmas de felicidade, mas para ao reparar na camisa dele, mangas compridas até os pulsos.

— Não tá um pouco quente pra usar isso?

Ele inclina a cabeça.

— Talvez um pouco.

— Devia tirar.

O outro Will joga a cabeça para trás e dá uma gargalhada gostosa, que me faz duvidar que seja o mesmo ceifeiro que conheço.

— Ok, senhorita-sabe-tudo, vou fazer isso — diz ele, abrindo os botões da camisa e tirando. Sobra apenas uma camiseta branca sem mangas, idêntica à que o Will original está usando agora. Busco sua mão e a seguro, ao que ele responde apertando a minha.

Lis fica olhando para os antebraços dele, fascinada com as marcas ali, e chega a deslizar as pontas dos dedos por elas.

— O que é isso? — pergunta, reunindo toda a sua inocência de criança.

— São cicatrizes — conta ele. — Não gosto delas.

— Por quê? — Ela arregala os olhos. — Parecem aqueles brilhos que o mar tem quando o sol bate nele! São tão legais!

— Obrigado — agradece ele, tão derretido pela garotinha quanto eu. Olho para o Will original, e ele está ostentando um sorriso enorme e fofo.

— O que está fazendo aqui? — Ela troca o assunto.

— Eu trabalho aqui.

— Ah. — Ela dá corda na caixinha e a pega outra vez. — É legal? Posso trabalhar também?

— Não muito, acho que você não ia gostar — confessa ele. Fico um pouco triste no início, mas o meu Will aperta novamente minha mão e uma onda de calor me atravessa.

— Então por que não vai embora?

Ele ri.

— É que eu não posso — admite para ela. — Digamos que estou preso aqui.

— Ah... — A pequena Lis suspira. — A gente não vai mais se ver então?

— Claro que sim — sorri ele. — Você é legal. E é minha amiga, não é?

— Sou! — Ela abre um grande sorriso, satisfeita com a resposta. — Então eu vou voltar pra te buscar.

Ele fica em silêncio por um longo tempo.

— Você gosta de dançar? — pergunta e morde seu lábio inferior, apontando com o queixo para a caixinha, para desviar o assunto.

A garotinha concorda com a cabeça.

— Tem aulas de dança perto da minha casa — responde. — Gosto de usar a saia pra dançar.

— E como é que vocês fazem, me mostra? — pede ele.

— A gente sempre conta até oito! — Ela se coloca de pé num pulo. — E mexe os braços e as pernas assim, olha — completa, enquanto rodopia os braços desajeitadamente.

Tanto o Will perto de mim quanto o que está com ela riem baixinho, e não consigo evitar uma pequena risada também. É fofo.

— Certo, isso foi muito bonito. — Ele se levanta também e pega a mãozinha dela. — Vou te pedir um favor. Pode fechar seus olhos e contar até oito? Quando terminar, vai ver sua mãe outra vez.

— Tá bom! — Ela fecha seus olhos e é puxada pela mão até a estrada. — Um, dois, três... — O outro Will a leva direto para o corpo estendido no chão. Um dos paramédicos está lhe fazendo massagem cardíaca. — Quatro, cinco...

— Deita aqui, e não para de contar — instrui, e ela se deita sobre o corpo, desaparecendo dentro dele.

— Seis, sete...

Ele coloca a mão em sua testa e sorri.

— Até logo, Melissa.

— Espera! — Ela se senta de novo e interrompe a contagem. — Promete que vai me esperar aqui até eu voltar?

— Prometo.

— Então até logo.

— Oito — termina ele, e tudo desaparece.

Só resta um lugar completamente branco, igual ao que eu achei descendo pelo alçapão naquele primeiro dia. Parece que já faz tanto tempo...

— Você teve uma EQM — começa ele, e fico em silêncio. — Experiência de quase morte. Foi por causa de um acidente de carro quando tinha quatro anos, enquanto seu irmão estava fora. Um motorista bêbado bateu em vocês, bem do seu lado, e você foi parar fora do carro. Ficou por aqui cerca de meia hora, sem seu corpo dar sinais de vida, mas não devia morrer ainda, não estava na lista. Eu te levei de volta e apareci duas ou três vezes pra ver como você estava.

— Eu vi você — interrompo. — Lá na escola.

— Sim, todo mundo achava que eu era um amigo imaginário. — Ele ri. — Menos a sua mãe. Ela começou a te levar a psicólogos e psiquiatras, achando que tinha algo errado contigo. Você tomou alguns remédios bem fortes, foi diagnosticada com esquizofrenia, e eu decidi te deixar em paz.

Consigo facilmente imaginar isso: minha mãe, com seu Transtorno Obsessivo-Compulsivo, acreditando que havia algo errado com sua preciosa menina. Eu, inocente, devo ter contado a ela e aos médicos que tinha um amigo que ninguém mais podia ver.

— E como eu não lembro de nada disso? — pergunto. — Eu não era tão nova assim. Não faz sentido.

— Sim, você era. Na última vez que nos vimos, você mal tinha seis anos, tinha acabado de entrar na escola. Algumas meninas eram más com você e eu te dei dinheiro pra comprar um doce.

Sorrio.

— Foi essa memória que eu vi — digo, e ele sorri de volta. — Ainda assim, não acho que eu teria esquecido de você.

— Na sua terceira consulta, sua mãe implorou para que o médico lhe receitasse alguma coisa que te fizesse parar de ver pessoas que não estavam lá. — Ele abandona sua posição do meu lado, se vira para mim e toma minhas mãos entre as suas. Elas são um pouco maiores que as minhas e um pouco ásperas também. — Ela pediu tanto que ele receitou uma temporada de Clonazepam, um antidepressivo que auxilia em várias áreas, mas tem um efeito colateral.

— Perda de memória — deduzo, ao que ele assente. — Então eu simplesmente esqueci você?

— Parei de te visitar pra não te causar mais problemas — conta, enquanto travo meu olhar em cada traço de seu rosto. Como eu pude esquecer dele? — E, como você nunca mais me viu e nem ao menos se lembrava de mim, consideraram que foi só um trauma causado pela EQM.

— E todo esse tempo eu achei que estava me ajudando porque eu me pareço com a sua antiga namorada — brinco.

— Você nem se parece tanto assim com ela — responde. — Só o seu cabelo. E o homem com quem ela casou era legal, também. Ela seguiu em frente, e isso foi ótimo, porque olhe só pra você aqui. É uma descendente dos dois.

Rio baixinho.

— Tem alguma forma de eu te tirar daqui? — Brinco com um dos cachos rebeldes dele, e uma tristeza bem grande me invade. E se...?

— Não sei — suspira Will.

— Talvez os anjos possam abrir uma excessão — sugiro. — Descobri que alguns são seus fãs. Se a gente pedir um favor, quem sabe...

Uma porta surge perto de nós. Ela é branca como todo o resto, tanto que quase não dá pra diferenciá-la, mas com certeza está aqui.

— Essa é sua saída — diz Will. — É hora de ir.

— E quanto a você? — reluto. — Não quero te deixar sozinho outra vez.

— Ei, olha. — Ele me puxa para um grande e apertado abraço. — Você não tem ideia do quão feliz eu fiquei por te ver aqui de novo, tão crescida, e quão bravo também por terem errado contigo outra vez. Você voltou, do jeitinho que prometeu, mesmo que não tenha sido por intenção. Agora volta pra lá, é o que você merece.

— Você prometeu que ia embora comigo — reclamo. — Não tem como negar, eu vi isso cinco minutos atrás.

— Ok, e o que sugere que eu faça?

Não me solto dele, nem ele me solta. Se esse momento pudesse durar para sempre, seria ótimo.

— Pega minha mão e vamos atravessar a porta juntos — peço.

— A gente não sabe o que pode acontecer se eu sair desse jeito, sem mais nem menos — retruca ele.

— Quem se importa? É uma tentativa válida.

Will se afasta alguns centímetros e seus olhos encontram os meus. Eles estão sorrindo tanto quanto seus lábios.

— Tudo bem. Vamos fazer isso. Respiro fundo, feliz e amedrontada ao mesmo tempo.

— E se a gente nunca mais se encontrar? — sussurro. Pela segunda vez, ele fecha os olhos toca seus lábios nos meus. Não sei quanto tempo isso dura, mas queria que fosse pra sempre.

— De um jeito ou de outro, nós vamos — responde, no mesmo tom. Depois disso, segura meu rosto entre as mãos e me dá outro beijo estalado na boca. — Eu prometo. Agora fecha os olhos e conta até oito.

Fecho os olhos e sinto que ele está me puxando.

— Um, dois, três... — Seu braço enlaça minha cintura e ele beija minha testa. Sorrio. — Quatro, cinco, seis, sete...

— Oito — termina ele, sussurrando no meu ouvido, e nesse momento atravessamos juntos a porta.


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Notas finais do capítulo

Estamos quase lá!
E aí, gostou? Sim, não, por quê?
Me conta :3
Beijinhos ♡