Obscure Grace escrita por Ahelin


Capítulo 20
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Hey, pudim!
Como vão as coisas na Terra?

Eu vim aqui pra trazer mais um capítulo e avisar que Obscure Grace está em sua reta final!
Sim, restam cerca de dez capítulos contando com esse e o Epílogo.
Estou programando esse quase uma semana antes porque quero que vocês sofram um pouquinho hahaha

Me perdoem de verdade pela demora, tive muitos problemas nessas férias e espero que ela não tenha feito vocês desistirem de mim. Muito obrigada a você, que continua aqui. Te dedico esse capítulo com todo o carinho do mundo.

Até lá embaixo :3



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William.

Enquanto caminho com Leo à procura de qualquer coisa que possa ser uma chave para o próximo estágio, o nome ressoa na minha mente repetidas vezes. Num primeiro momento, chego a acreditar que estou pensando nele por causa da preocupação, mas parece mais urgente... Quase um chamado, um pedido de socorro.

No mesmo instante em que tento falar com meu amigo a respeito disso, tudo silencia e sinto um grande alívio. Talvez seja só a imaginação fértil outra vez.

A rua é estranha e sombriamente idêntica à de verdade. As pessoas nela andam depressa, cada qual seguindo seu caminho, e todas elas parecem ter um propósito na cabeça.

— Ei — chamo. — Ninguém aqui é real?

— Não — responde Leo. — Apenas projeções. Quando você morre, vai pro seu céu particular, que é entrelaçado com o de outras pessoas muito próximas a você. Enquanto elas estão vivas, seus lugares são ocupados por memórias suas até que essa pessoa também morra, e aí ela toma o lugar da respectiva ilusão. Mas essas outras pessoas, todo esse turbilhão de gente... — Ele faz uma pausa, buscando as palavras certas, e franze a testa. — Sabe, seria complicado manter tantas pessoas reais num lugar só, interagindo umas com as outras. Toda a estrutura iria ruir. É muito mais fácil para os anjos dividir todo mundo em pequenos grupos e preencher todo o resto com projeções-padrão.

Assinto, um pouco mais fascinada do que surpresa.

— E o que acontece se esse céu for destruído? — arrisco. Ele para de andar por um momento e coça o queixo, parecendo pensativo.

— Ninguém sabe de verdade — admite, por fim. — Minha família acredita que isso pode nos libertar e abrir o caminho para o verdadeiro céu, aquele que Deus projetou. Talvez isso O traga de volta, também.

Penso em perguntar sobre isso, mas desisto da ideia rapidamente. É melhor não levantar questões quando não estou certa de querer saber a resposta. Mesmo assim, as palavras ficam no ar: talvez isso O traga de volta. Para onde Ele pode ter ido?

Deixo que o silêncio se instale entre nós e continuo perdida em pensamentos, ao passo que ele parece estar se concentrando muito na tarefa.

— Como vamos achar a chave? — murmuro, quando a busca começa a me frustrar.

— Você vai se sentir diferente perto dela — instrui Leo. — Preste atenção a uma coceira no nariz, um comichão na bochecha ou qualquer coisa assim. Posso encontrar o lugar onde ela está, a energia fica bem mais forte, mas achar o objeto em si é com você. Por aqui, tenho certeza! — Ele entra em disparada numa loja de decorações para festas infantis, quase fazendo o senhor de idade que está atrás do balcão morrer do coração.

Dou de ombros e o sigo, não sem antes checar com o canto do olho se o velhinho ainda está respirando. Mesmo que não seja real, só a ideia de ver alguém tendo um ataque é suficiente para me arrepiar.

Em que estágio estamos agora? O primeiro foi aquele em que eu estava na minha casa, confere. O segundo foi o do acidente de Rafa. Depois, veio aquele na escola com Paula, meu aniversário de namoro com Miguel, a casa da vovó, mas não sei qual foi a memória importante lá, e agora aqui. Estamos ainda no sexto estágio, e precisamos chegar ao décimo. Meu cérebro de humanas calcula que temos que fazer mais quatro travessias. Durante o tempo que levo pra fazer essa conta, Leo já vasculhou toda a loja e parece inquieto.

— Não sente nada esquisito? — pergunta, frustrado, e se senta no degrau que dá de frente com a calçada. Balanço a cabeça negativamente e sento com ele. — Era pra ser aqui... Não entendi. Você fez alguma coisa esquisita por aqui?

— Lembra do acidente do Rafa? — conto. Ele merece saber que eu fiz merda. — Era a memória do segundo estágio e eu meio que empurrei ele pra longe quando ia acontecer.

— Ah! — Ele riu. — Uau, isso é bem bizarro. Sabe, os anjos têm um céu-molde, toda vez que uma pessoa morre o subconsciente dela preenche os estágios com memórias importantes. Resumindo, eles não têm trabalho nenhum, porque até as projeções são criadas por ela mesma. Você... alterou o curso de uma memória um pouco antiga e o resto se moldou de acordo com isso.

— Ou seja — concluo. — Eu quebrei tudo.

— Só pra variar, você quebrou tudo! — concorda Leo, e abraça meus ombros de forma carinhosa. — Senti sua falta, sabia? E eu tô muito puto por terem te trazido aqui desse jeito. Ainda não é sua hora, e eu prometo que vou te ajudar a voltar. Confia em mim.

Recosto a cabeça em seu ombro e me permito fechar os olhos por um momento. Enquanto estamos ali, posso imaginar as risadas de Rafael e Cibele com tanta clareza que parecem até reais. Preciso sair dessa, por eles.

— Tem uma coisa que eu não entendo... — comento, mais para quebrar o gelo do que por qualquer outra coisa. — Sempre achei que o motivo de eu fazer ballet fosse aquela tarde no hospital com o meu irmão, mas mesmo que ela não tenha acontecido eu continuei dançando.

— Com tanta coisa acontecendo, é isso que intriga você? — Pelo seu tom de voz, posso deduzir que está sorrindo por causa do meu comentário bobo.

— Sei que não é grande coisa — empurro-o de leve com meu cotovelo. — Só me faz pensar bastante. Se não foi por causa do Rafa, então por quê?

— Não seria surpresa se você tivesse criado esse gosto sozinha — argumenta ele. — Cresceu assistindo Caverna do Dragão e As Doze Princesas Bailarinas. Com cinco anos, suas brincadeiras favoritas eram colocar um pano de prato na cabeça pra fingir que era invisível e sair dando piruetas pela casa. Por que será?

A explicação dele é mais do que o suficiente para me acalmar. É perfeitamente plausível que eu esteja exagerando nisso, colocando muito significado onde não há. No momento isso pode esperar, o que eu preciso de verdade é de foco e concentração no objetivo real.

Me desvencilho de Leo e levanto. Ele me encara e passamos um momento assim, só observando um ao outro. A sensação de tê-lo tão perto é ao mesmo tempo reconfortante, por matar minhas saudades, e assustadora, por cada segundo a seu lado carregar consigo o risco de ser o último em muito tempo.

— Vem cá, baby — chamo, estendendo a mão. Ele a pega e se levanta junto comigo. — Vamos fazer rolar algumas cabeças.

Entramos outra vez na loja e resolvo confiar nos instintos dele. Deve ser coisa de anjo. Rodeamos prateleiras e mais prateleiras repletas de decorações coloridas para festas de todo tipo, e em certo momento desisto de ser séria. Isso nunca vai funcionar pra mim!

Pego um chapéu de aniversário da Peppa Pig e coloco. Agora vai. Vamos lá, Peppa, pensa comigo... Se eu não sinto nenhum comichão, como ele disse que aconteceria, deve ser uma parte do céu que não vivi de verdade, ou seja: a parte que eu mudei. Tem que ter uma ligação entre algo nessa loja e as falsas memórias, algo que me dê uma pista de qual é o próximo estágio...

Miguel! Ele disse que nos conhecemos no meu aniversário de dez anos. Só pode ser essa a nossa próxima parada!

— Ei, ache alguma coisa das doze princesas bailarinas que eu colocaria na minha festa de aniversário de dez anos — ordeno. — Já sei qual é o próximo estágio. Você tem certeza de que a chave está aqui?

— Positivo, capitã! — Ele bate continência e marcha até o outro lado da loja, e não consigo conter o riso diante dessa cena.

Começo a procurar entre as prateleiras do meu lado, fazendo sem querer uma grande bagunça. Grande parte dos enfeites com personagens diferentes fica escondida atrás dos mais famosos, mas as cores predominantes (azul para as decorações "de menino" e rosa para as decorações "de menina", a coisa mais estúpida que já inventaram) me ajudam a organizar as ideias mais facilmente.

É incrível como não há nada que meu eu de dez anos usaria aqui! Estou começando a achar que o chapéu da Peppa é o mais perto que chegarei do objetivo.

Caminho entre a prateleira de pratinhos, copos e talheres, procuro entre as velas e finalmente as bexigas, mas ainda assim nada funciona.

— Lis! — Leo vem correndo com um pacote de convites em formato de sapatilha. São azuis, fofos e têm um logotipo da Barbie também azul atrás. Definitivamente isso é algo que eu adoraria. No mesmo instante, sinto o nariz coçar e arregalo os olhos. Ponto pro Leo!

— É isso! — Quase pulo de alegria. — Faz aí o seu pirlimpimpim pra gente ir embora!

Ele se concentra outra vez, como fez com a sapatilha de ponta no último estágio, e de novo nada impressionante acontece.

— Vai, agora tira essa porcaria — manda ele, rindo. Balanço a cabeça negativamente e, reunindo toda a minha maturidade, mostro a língua. — Ok, você é quem sabe. Agora é só a gente achar...

Ele não consegue terminar sua frase, porque no mesmo instante algo lá fora chama nossa atenção. Um estrondo muito alto, gritos e uma luz cegante fazem parte do pacote, e são suficientes para me arrepiar por completo. Alguém nos encontrou e cruzo os dedos para que seja Will.

Há uma poeira densa e alta bloqueando minha visão da rua, ela faz parecer que algo caiu de uma altura considerável no asfalto. Quando ela baixa, posso ver que ele está rachado no raio de alguns metros e, bem no centro, tem um homem ajoelhado. Sua cabeça está baixa, e os cabelos castanhos perfeitamente penteados exibem alguns fios grisalhos. O terno risca-de-giz só contribui para tornar seu visual ainda mais sério, e sua postura rígida impõe respeito. É o tipo de pessoa que merece ser chamada de traste, mas que você não tem coragem de dizer isso na frente dela.

Raziel se levanta e bate as mãos nos joelhos, espanando dali uma sujeira inexistente. Depois, com calma, vira o rosto na minha direção. Posso ver um sorriso de escárnio torcendo sua expressão.

Leo se coloca na minha frente num impulso, mas sei que ele não pode nem tentar lutar com um anjo tão poderoso. Dá pra sentir a tensão se formando no ambiente.

— Ora, ora, ora — sua voz fria e áspera corta o ar. — Finalmente nos encontramos. Sabe, senhorita Oliveira, devo confessar que tudo aqui está uma bagunça por sua causa. Meus parabéns! — Para evidenciar o que disse, ele bate palmas. Leo e eu estamos igualmente paralisados diante de seu monólogo. — Ninguém imaginou que uma moça tão pequena chegaria tão longe, mas olhe para você aqui! — Então, sem aviso, seu tom debochado muda para um mais sério: — Foi divertido para todos, demos umas boas risadas, mas agora o parquinho está fechado e é hora da criança ir dormir. Chega de brincadeiras, você está tirando meus oficiais do sério. Seja uma boa menina e não se mexa. Prometo que não vai doer... — O sorriso de escárnio volta a nascer no canto de seu lábio. — Não muito.

Ele ergue sua mão para frente e eu fecho meus olhos por instinto. Acabou, é isso. Estou me sentindo muito mal, com medo e tristeza me atormentando ao mesmo tempo.

— Eu acho que não — outra voz diz, e ela é seguida pelo som de vidro se estilhaçando, que dispara meus batimentos cardíacos e quase me faz cair de susto. Viro o rosto para procurar pelo responsável, com a respiração mais acelerada do que eu gostaria. Will está de pé bem ao meu lado, com o braço estendido na direção de Raziel. Ou melhor, de onde Raziel estava. Em seu lugar, agora há apenas um carro com o para-brisas destruído. — O nome é Oliviera. — Ao dizer isso, ele olha para mim, e não consigo deixar de reparar que desta vez está usando uma camisa normal. Nada de mangas compridas. — E sabe de uma coisa? Ela tem uma altura ótima.

Meu primeiro impulso é correr e abraçá-lo por me salvar outra vez, mas assim que dou o primeiro passo Leo me puxa pela mão.

— Precisamos ir! — fala, e sei que é verdade mesmo antes de um homem de terno dar sinal de vida atrás do carro. Precisamos sair daqui o mais rápido possível.

Lanço um último olhar para Will, que sorri.

— Corre, Lis — pede ele. — E não olha pra trás. Eu te encontro daqui a pouco.

Sorrio de volta e sigo Leo pela rua. Ele entra em um jardim, pulando com facilidade o minúsculo muro que só chega à altura de seu quadril, e me ajuda a fazer o mesmo. Depois, corremos até a porta da casa no fundo do terreno. Ele passa a mão na maçaneta devagar, sem abrir.

— Ainda tem os convites? — pergunta.

— Sim! — Ergo o convite que guardei, e só nesse momento me lembro de estar com um chapéu de aniversário da Peppa Pig no meio de toda essa confusão. Raziel deve ter achado que eu tenho seis anos.

Giro a maçaneta e a porta se abre lentamente, revelando em seu interior uma luz branca muito forte. Desobedeço Will e olho para trás uma última vez. Ele também está olhando pra mim, e sorri quando nossos olhares se encontram, sinalizando que tudo vai ficar bem.

Com esse alegre pensamento, dou um passo adiante, cada vez mais perto de ter minha vida de volta.


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Notas finais do capítulo

Ei, eu gostaria de pedir a opinião de vocês nesse capítulo.
O que está bom?
O que eu posso melhorar?
Me sinto um tanto solitária esses dias haha

Não precisa ter vergonha de mim, juro que não mordo =3
Além do mais, se não se sentir confortável, não precisa comentar aqui embaixo. O que eu quero não é um número maior de comentários, e sim saber como a minha história te faz sentir. Pode me mandar uma MP, ou mesmo me adicionar no Facebook! Mesmo nome, mesma foto. Adiciona, chama lá e vamos trocar uma ideia c:

E era isso. Daqui a exatos dois dias, no mesmo horário, o capítulo estará aqui.
Beijinhos ♡



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