Obscure Grace escrita por Ahelin


Capítulo 19
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Hey, pudim! Como vão as coisas na Terra?

Me perdoa, sei que teria que postar na semana passada, mas estou passando por uns problemas familiares aqui e estive sem internet :(
A boa notícia é que o Mare Responde já está gravado e eu só tô editando o vídeo!

Sem mais enrolação. Não, pera, tem mais!
Nesse capítulo algumas coisas vão ficar mais claras sobre o Will, e OS SHIPPERS DE WILLIS PIRAM
Parei.

Espero que goste :3
Até lá embaixo o/



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As ilusões que tenho podem ser bem cruéis, às vezes. A sensação de estar sendo observada a cada passo, ouvir alguém caminhando ao meu lado e ver com a visão periférica que há mesmo alguém ali, mas depois olhar diretamente e perceber que não há nada talvez seja uma das piores, mas não supera a que estou experimentando agora.

Enquanto tento prestar atenção no plano de Leo para ultrapassar cada estágio, o perfume de Rafa toma conta de todo o quarto e tenho que me esforçar pra não ficar tonta. Parece até que algo puxa minhas pálpebras pra baixo, entorpecendo meu corpo e tentando arrastá-lo para um sonho.

Só pode ser a saudade falando alto, ou então estou ficando louca. Deus queira que a opção correta seja a primeira.

— Lis? — Will balança a mão na frente do meu rosto. — Você ouviu alguma coisa?

— Não — admito, dando de ombros. — Desculpem, eu estava pensando em outra coisa.

Leo solta uma risadinha que não entendo e Will suspira.

— Lembra de quando eu falei das três formas de passar de estágio? — continua ele. — Estávamos girando a estrutura, mas Leo não tem nenhum sigilo que o prenda, então ele pode te fazer passar por cima.

— Sigilo? — Sento no chão, junto com os dois. Quase esqueço a seriedade da situação e seguro as mãos deles para dizer "agora fechem os olhos e rezem pro Sassá", como fazia na escola toda vez que o pessoal da minha sala se organizava em um círculo por algum motivo. — Como esse que você tem nas costas?

— Exatamente.

Leo está olhando de mim para Will e então para mim de novo, como se estivesse assistindo a uma partida de pingue-pongue. Assim que não faço menção de continuar a conversa, ele se pronuncia:

— Dá pra pular direto de um estágio pra outro, mas isso consome muita energia. Ela se dispersa e é tão forte que se torna visível aos olhos treinados, como um enorme sinalizador. Com isso, eu ficaria exausto a ponto de ter que descansar por horas até fazer de novo, e nós seríamos localizados facilmente. Foi assim que encontraram você aquela vez que Will tentou pular contigo. Uma pessoa pode passar tranquilamente, mas carregar outras consigo é muito mais complicado, e não podemos arriscar a sorte agora. Uma opção mais viável seria encontrar a porta, mas isso leva ainda mais tempo que manipular as estruturas. Esse terceiro método, o que você veio fazendo até aqui, é eficaz, mas barulhento... Tudo nesse lugar é monitorado, o tempo todo, e não tem como algo tão ruidoso passar despercebido. — Ao ver o olhar de "mato você" que estou lançando ao ceifeiro, ele prossegue: — Mas era a única coisa que você poderia fazer sozinha, e com esse sigilo pintado nas costas o Nico di Ângelo loiro aí não iria muito longe.

Para a minha surpresa, Will ri alto. Ele entendeu a referência? Impossível.

— Então o que você sugere?

— Podemos construir um banquinho pra nos ajudar a pular o muro sem muito esforço, como você diria. Toda memória tem vários pontos-chave, que são muito mais fáceis de encontrar do que a "válvula de escape" do estágio, e ela pode ser usada como alavanca para nos levar ao outro lado se tiver o estímulo certo.

— Como a Paula fez — explica Will.

Assinto, e acho que estou entendendo. Parece bem simples.

— O que estamos esperando? — solto, e os dois me encaram. Não aguento ficar parada por muito tempo, talvez sejam os resquícios das aulas de ballet. Por isso, levanto e começo a estalar os dedos. Leo segue, e o silêncio que se instala entre nós é quase palpável.

Nisso tudo, vejo apenas um problema: não conheço grande parte dessa realidade, então será bem difícil encontrar qualquer chave importante dessas memórias.

— Lis, eu acho que você vai querer ver isso aqui — diz Will, e só agora percebo que ele também saiu de seu lugar. Está do outro lado do quarto, num ponto um pouco camuflado pela porta, por isso não notei quando entramos. Pendurado num gancho na parede, há um par de sapatilhas de ponta muito usadas.

Me aproximo e olho com atenção, só pra ter certeza. Achei que o motivo de eu querer fazer ballet profissionalmente, no fim das contas, fosse aquela tarde que passei com meu irmão no hospital... Se ela nunca aconteceu, então por que é? Will me lança um olhar que faz parecer que ele está pensando na mesma coisa.

— Leo, isso serve? — pergunto, e ele se aproxima de nós e tira as sapatilhas do gancho.

— Acho que sim. — Observo enquanto ele fecha os olhos e espero que a sapatilha comece a brilhar ou voar ou explodir como fogos de artifício, mas nada acontece. Que decepção. — Pronto, agora coloque. Vou pegar algumas coisas que a gente talvez precise. — Depois disso, ele sai para a cozinha e me sento na cama.

Will se aproxima e senta no chão à minha frente, com um sorriso maroto no rosto. Ficamos nos encarando por um momento até que ele toma as sapatilhas da minha mão e começa a desamarrar o cadarço de um dos tênis.

— O que você acha que vai fazer, Liam? — A última parte apenas sai, e fico com medo de que ele recue, mas seu sorriso só aumenta.

— Eu conheço a história da Cinderela, madame. Sou da época dos irmãos Grimm.

Rio alto enquanto ele luta com o cadarço e acabo ajudando a desamarrá-lo. Voltamos a olhar um para o outro, meus olhos de brigadeiro refletindo no mar de estrelas dele. Nesse momento, ele tira sozinho meu outro tênis e coloca delicadamente cada sapatilha. Estendo a mão para puxar as fitas e amarrá-las no tornozelo, mas ele me segura e faz isso por si mesmo. Num movimento habilidoso, faz um laço e começa a trabalhar no outro lado, sem quebrar o silêncio. Em menos de um minuto, quando está tudo terminado, ele se levanta e me puxa pela mão para que eu faça o mesmo.

— Dê uma volta — pede, e eu subo na ponta dos pés para fazê-lo. Seu sorriso aumenta, em aprovação, e sinto que estou sorrindo involuntariamente também.

— Que tal assim?

— Você está ótima.

Leo chega segurando uma mochila de escola, e Will se afasta um passo, escondendo seu sorriso com uma habilidade que eu obviamente não tenho.

— Agora é só você abrir a porta e atravessar, se eu tiver feito certo — ri meu amigo, e fecha a porta do quarto. — Presta atenção, com certeza vamos aparecer em lugares diferentes do estágio, mas carregue isso com você e eu dou um jeito — completa, me entregando meu celular.

Assinto, soltando o ar que estava preso no peito. No mesmo instante, há um estrondo muito familiar lá fora, e as frestas da janela são iluminadas da mesma forma que aconteceu quando Raziel me perseguiu. Por instinto, seguro os braços dos dois para que me acompanhem, mas um deles não se move.

— Vão na frente — diz Will. — Vou ganhar tempo.

É inútil discutir com ele, sei disso por experiências anteriores. Assinto, abro a porta e puxo Leo comigo para a luz que inunda o restante do quarto. Dessa vez, parece diferente. Dou mais alguns passos e o que acontece é a última coisa que eu esperava: um palco de madeira, muito iluminado.

Sinto o cabelo sendo puxado no familiar coque alto e uma música muito alta começa a tocar. Há todo um elenco de bailarinas vestidas de branco esperando pela deixa. Uma mão toca meu ombro por trás e quase morro com o susto.

— Pronta? — diz a moça com um sorriso, enquanto ainda estou tentando entender tudo isso. — Você entra em menos de um minuto.

Por sorte, reconheço a melodia e relaxo com o alívio. É Lago dos Cisnes, e Mirela nos passou essa coreografia inúmeras vezes. Já estive em apresentações antes e sei improvisar se for preciso, apenas tenho que manter a calma. Qual era mesmo a introdução? Ah, lembrei! A dança começa com um duo, e assim que entro no palco um homem aparece do outro lado.

Os movimentos são leves, lentos e exigem mais força do que alguém da plateia pode imaginar assistindo, mas me concentro o suficiente e, como minha antiga professora mandava, apenas fico me lembrando de respirar fundo e não sorrir. A música invade cada célula minha, o que me lembra o quanto amo ser bailarina. Dançar ballet é ficar na ponta dos pés para tocar o céu sem sair do chão.

É o suficiente para me fazer esquecer de tudo isso por um tempo. No fundo, sei que não devo me distrair com isso, mas essa vontade é maior que eu. Pouco tempo depois, quando tudo termina, me sinto muito mais leve e preparada para enfrentar o que vier. Os bailarinos formam uma fila na frente do palco e agradecem, e as pessoas na plateia aplaudem. Na segunda fileira de poltronas, posso ver um Rafa radiante batendo palmas de pé e sorrio involuntariamente com a ideia de abraçá-lo, mas logo lembro que não é meu irmão de verdade e toda a alegria vai embora. Em seu lugar, surge determinação. Posso vê-lo de novo, e vou.

Depois disso, saio pelo camarim de dançarinos. Tem muitos outros grupos reunidos aqui e ali, esperando para serem chamados, e um estalo clareia minha mente: é o festival do Troféu Vaudeville. Aconteceria três meses depois que eu saísse da Hollister, no Rio, e eu fiquei sonhando com isso durante todo o ano. Acabei de estrelar O Lago dos Cisnes no I Troféu Vaudeville.

Uau. Esses anjos não brincam em serviço... Se eu não soubesse de toda a verdade, seria realmente agradável ficar aqui.

Troco a roupa da apresentação e encontro meu celular em cima da mochila que vi Leo arrumar mais cedo, então pego os dois. Com certeza ele não precisa saber que perdi tanto tempo me apresentando de mentirinha. Mas como vou falar com ele? Dou um jeito, ele disse. Bom, Leo, acho que já passou um pouco da hora de você dar seu jeito.

Alguma coisa vibra no meu bolso de trás e me assusta. Ao contrário do que muitas pessoas podem pensar, isso não é nada agradável. Pego o celular e uma mensagem pisca na tela de bloqueio.

Número desconhecido: Tô vendo você, olha pra trás. O ponto de ônibus à esquerda. Vem logo pra cá, acho que o seu amigo ceifeiro tá com problemas e nós também vamos ter alguns daqui a pouco.

Passo mais tempo do que devia olhando para a tela, mas o resto da mensagem além de Will estar com problemas parece embaçado. Não por uma simples preocupação; ele sabe muito bem se cuidar sozinho. É algo um pouco mais... profundo que isso.

É tudo culpa minha. Não posso deixá-lo com problemas e ir embora.

Caminho por metade do espaço que me separa do tal ponto de ônibus onde Leo está, mas ainda não o vejo e isso é mais que suficiente para que eu comece a correr. Obrigada, fôlego de bailarina, não sei o que eu faria sem você.

— Tá querendo imitar Bolt? — debocha meu amigo, me segurando pelos ombros.

— Você disse que Will estava com problemas — despejo de uma vez, para não perder tempo respirando no meio da frase.

— É óbvio que ele está com problemas — responde ele. — Com aquele sigilo, ele não deve ter um histórico muito bom, e agora está ajudando você a escapar da prisão celestial. Não sei por que diabos, mas se você confia nele é o suficiente. Pra melhorar, ele é o neto do Raziel, o primeiro nefilim a permanecer no céu. A única coisa que o protege é a trégua, mas mesmo assim ele é torturado pela maldição do avô todos os dias. Além de tudo isso, ele esconde os outros nefilins dos anjos de Natanael com a própria vida. Esse cara é nosso herói, Lissa. Todo mundo da família sabe o nome dele e o agradece todos os dias. Só não conta pra ele, certo? Meu avô seria o primeiro a ter um ataque de fangirl se ficassem frente a frente e nós não queremos isso.

Sorrio. Não conhecia essa parte da história... Mesmo com tudo que já descobri, ainda achava que ele fosse uma peça insignificante no tabuleiro, o que está muito longe da verdade, de acordo com o que Leo me contou.

— E isso significa que ele sabe como se cuidar, né? — sugiro.

— Com certeza. Mas, se um dia ele não for forte o suficiente, o que eu acho impossível... Bom, vai ter muita gente pra ajudar ele a levantar.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostou?
Críticas, sugestões e afins vão melhorar minha vida ♡ adoro saber sua opinião!
Beijinhos ♥