Obscure Grace escrita por Ahelin


Capítulo 18
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Hey, pudim!
Como vão as coisas na Terra?

Tô de volta aqui pra trazer mais um capítulo!
Ele é pequeno e tranquilo, mas digamos que seja a calmaria antes da tempestade. Daqui pra frente, as coisas ficarão bem agitadas!

Ah, mais uma coisa: postarei semana sim, semana não, pra conciliar Obscure Grace com meu novo trabalho, Asas de Borboleta. Obrigada por ter paciência comigo =3

Até lá embaixo o/



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Algumas coisas são mais fáceis do que parecem: fouettés, panquecas de banana com canela e historiografia, por exemplo.

Definitivamente morrer, descobrir que o céu não é um paraíso, tentar escapar dele e pra isso precisar da ajuda de um ceifeiro e um amigo que morreu há quase cinco anos não estão entre elas.

Will olha para nós dois com uma intensidade que não entendo. Leo parece tão fascinado comigo quanto estou com ele. Então, como se todos já esperassem por isso, o ceifeiro se aproxima e coloca a mão no meu ombro.

— Eu vou cuidar do resto. Sei que consegue explicar tudo pra ele.

Depois disso, ele desaparece sem mais nem menos. Jogar a responsabilidade nas minhas costas é o que se espera de qualquer um, e estou muito irritada com ele por realmente ter feito isso.

Agora estou sozinha com Leo. Ele sorri e procuro sorrir de volta. Fico mais tempo que seria aceitável olhando pra ele, buscando um indício de que vai desaparecer outra vez.

— Eu te daria um abraço se não estivesse preso — reclama, me encarando de volta tão cheio de sentimentos quanto o meu deve estar.

A essa altura já vi tanta coisa que deveria ser normal reencontrar alguém que morreu, não é? Bom, na prática é um pouco mais complicado que na teoria.

Pergunto o que ele passou até agora desde que nos separamos, tão automaticamente que nem presto atenção nas palavras que estou usando.

Ele umedece os lábios antes de começar, e nós dois nos sentamos outra vez.

— Espera, preciso saber até onde já te contaram. Sabe sobre os humanos com sangue celestial, sobre a Guerra Civil? — Assinto, deixando-o continuar. — Certo. Pode parecer ridículo, mas no instante em que acordei, soube que as coisas estavam diferentes. Dava pra sentir uma energia esquisita percorrer as veias, como se eu estivesse em casa pela primeira vez. Um cara que devia ser pouco mais velho que o Dani, na época, estava lá.

"Ele me pediu pra não ter medo e falou comigo como se eu tivesse seis anos, o que me deixou muito puto. Ficou um tempo enorme explicando algo que eu já sabia (que eu tinha morrido) e depois disse em três segundos a coisa que mudou tudo: 'Você é um anjo.'.

"Meu primeiro impulso foi achá-lo um maluco, mas algo me impediu. Incrivelmente, havia algo na conversa que fazia um certo sentido. Sabe, aquela coisa que te faz ter uma epifania e sair gritando na rua que é um estúpido por nunca ter visto as coisas por esse lado e que o mundo tem sentido agora. Então ele começou a contar aquela história do anjo Raziel, a essa altura você já deve saber, e sobre a guerra, e o câncer... Uau. Pelo que pareceram horas, ficamos lá.

"E tudo isso foi antes de eu descobrir quem ele era. Alexandre, o meu avô que desapareceu quando eu era criança, só alguns anos antes da minha mãe seguir o exemplo. Lis, agora sei o motivo e isso é quase reconfortante, porque sempre achei que ela tivesse me abandonado.

"Quando ele acabou de falar tudo e eu acabei de assimilar, vieram os outros. Primeiro, foram só alguns, para que eu conhecesse os principais membros do que eles chamam de milícia. Reconheci uns poucos primos e tios, inclusive, antes de falar com as gerações anteriores: bisavós, tataravós e milhares antes deles.

"Aprendi com eles a reverter o tempo aqui, para que passasse mais devagar do que na Terra, e a lutar pela causa da minha família. Confiamos uns nos outros, e nos defendemos do jeito que é possível, porque mesmo com uma trégua, nos perseguem, matam nossos aliados anjos e tentam nos aprisionar numa espécie de inferno dia após dia.

"Também fiquei surpreso com isso, mas é possível matar um anjo. É até bem fácil, você só precisa ter a arma certa: as adagas dos próprios anjos. Um pequeno corte com aquilo é fatal para qualquer um, mortal ou imortal. Mesmo assim, nosso lado se recusa a tirar a vida de qualquer um... Tudo o que fazemos é nos esconder e esperar.

"Pra você, eu morri há cinco anos. Pra mim, já se passaram dez, invertendo o tempo várias vezes. Fazemos isso pra conseguir mais um dia que seja."

Ouço toda a sua narrativa com atenção e não posso evitar de ver em minha mente um mini filme de tudo isso. Tudo está acontecendo rápido demais e tenho medo de não estar acompanhando. Em um minuto, ele está morto e sinto saudades, mas a memória de tê-lo já não é mais triste. No seguinte, meu melhor amigo está sentado na minha frente no meio de um círculo queimado, é membro de uma espécie de revolta num lugar que ninguém tem certeza se existe e está tentando evitar uma guerra civil que provavelmente vai mudar o futuro da humanidade.

Sim, realmente é muita coisa pra assimilar em pouco tempo considerando-se que eu não sou louca.

— Leo — chamo. — Como eu tiro você daí?

— É só raspar essa tinta e abrir um espaço — responde ele. — Se romper o círculo, eu posso passar.

Levanto e cutuco a tinta com a ponta do All Star. Ela cede fácil, descascando mais rápido que eu imaginava, e em um segundo não há mais um centímetro da superfície do meu corpo que não esteja sendo esmagado de encontro ao de Leo. Senti tanta falta desse abraço de urso... Incrivelmente, não preciso de mais nada, apenas ficar aqui e sentir o perfume até que ele tome conta de meus pensamentos, como fazia sempre que nos encontrávamos. Um abraço bem apertado é, com certeza, o melhor remédio pra acalmar qualquer um, e comigo não é diferente. Basta um minuto para que todo o desespero de antes se apague.

Não sei ao certo quanto tempo passa até que um de nós fale alguma coisa, mas parece uma pequena eternidade.

— Me conta como você chegou aqui e o que pretende fazer — pede ele.

Puxo-o para sentar de novo; é uma longa história. Então eu lhe conto tudo: a escola, o ballet, a faculdade, o acidente, Cibele. Ele me interrompe poucas vezes pra citar fatos como o motivo do pai dela ter desaparecido assim que ela nasceu, e todos os parentes que tinham morrido antes dele, tudo se encaixava como a mão em sua luva.

A linhagem direta de pessoas com sangue celestial se dividiu várias vezes, porque os anjos só podem encontrar seus descendentes quando esse sangue é "ativado". Quando isso acontece? Quando eles têm filhos.

Isso me fascina cada vez mais.

— Então... — termino. — Acho que é tudo. Preciso voltar, Leo. Preciso ver todos eles outra vez, preciso terminar o que comecei.

Ele sorri, e percebo com a visão periférica que Will está de volta.

— Prontos? — Pergunta, e tem algo de estranho em sua expressão. Parece com... ansiedade. Vou descobrir isso mais tarde.

Olho novamente para Leo.

— Preciso da sua ajuda. Podemos ser como antes? Quando o Rafa não estava e a gente colocava sal no suco de laranja dele, e nos apoiávamos e nos ajudávamos e...

— Ei — Leo me interrompe. — Tudo bem. Eu vou adorar ajudar você outra vez.

Sorrio quando ele segura minha mão, e parece que as coisas vão ficar agitadas a partir de agora.


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Notas finais do capítulo

Gostou?
Me conta o que achou =3

Beijinhos ♡

P.S.: Tem alguém com saudade do Raziel? Espero que sim!



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