Obscure Grace escrita por Ahelin


Capítulo 11
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Hey, pudim!
Como vão as coisas na Terra?

Cheguei com mais um capítulo quentinho, saído do forno!
Não vou enrolar muito nessas notas, só queria agradecer a vocês pelo feedback maravilhoso que estão me dando. Sério, fico muito animada ♥

E hoje saiu no dia certo fslksks
Enfim, ao capítulo :3 Boa leitura.

Até lá embaixo o/



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Os passos das pessoas furiosas podiam ser ouvidos facilmente, e iam ficando cada vez mais audíveis.

— Estão se aproximando — Liam se colocou na frente da mãe, protetor. Não ia admitir que nada de mal acontecesse a ela.

— Abra! — gritou uma voz masculina, batendo na porta com força. Pelo seu tom, dava pra perceber que não era um pedido.

Os dois permaneceram em silêncio, e por um tenso instante os gritos cessaram. Era como se todos estivessem à espera da bruxa se render, o que não aconteceu. E, então, os gritos e os golpes na porta recomeçaram com força total, castigando a madeira sem piedade.

— Deixe que eles entrem — pediu Edlyn ao filho, quando este tentou segurar a mesa para que não fosse arremessada longe.

— A senhora entende que vão matar a nós dois? — A razão começava a desaparecer da cabeça dele, dando lugar à raiva. Como pode existir tanta insanidade? As pessoas matam simplesmente por não compreender.

Finalmente, tanto a porta quanto a mesa e a força de Liam cederam diante da multidão. Um homem corpulento, o ferreiro, quebrou a frágil madeira com um pontapé, e com outro mandou pra longe tudo o que estava em seu caminho, inclusive Liam. Uma gota de suor escorreu por sua têmpora, deixando uma trilha molhada na pele negra. Era visível que não queria estar lá, mas todos sabiam que discordar do padre seria uma heresia sem tamanho.

— Edlyn — disse, com a voz grave preenchendo o local. — Me perd... — Não teve tempo de terminar a frase, sendo interrompido pelo rapaz que se lançou sobre ele. Como era serviçal na abadia do monge Afir, estava acostumado a carregar toda a sorte de coisas pesadas, o que havia lhe conferido uma força mais do que surpreendente considerando-se um homem tão jovem. Além desta, uma energia sobrenatural que ele nunca notara antes tomava conta de seu ser. Assim, Liam conseguiu sem esforço derrubar o enorme adversário no chão, deixando este preso entre seus joelhos.

— Fique longe dela! — gritou, enquanto fechava a mão e acertava o queixo do ferreiro com violência, sentindo os ossos deste rangerem contra os nós de seus dedos. Ele tentou se defender, mas o enorme hematoma que se formava em seu rosto doía tanto que quase o deixava imobilizado. — Você e os outros!

Liam sentia que aquela força descomunal não se devia ao trabalho pesado, mas não sabia ao certo a quê atribuí-la então. Ela apenas estava ali, presente, desabrochando rápido num momento de necessidade. Seus sentidos estavam aguçados; podia ver, ouvir e sentir tudo de uma maneira que nunca tinha experimentado antes. Isso o deixava, ao mesmo tempo, maravilhado e apavorado.

— Pare! — Edlyn se pronunciou, segurando o punho do filho que estava a meio caminho de outro soco poderoso. — Tem que ser assim.

Em dois segundos de distração, Liam dirigiu um olhar confuso à mãe. Ela exibia a expressão cansada de quem queria desistir de tudo, porque já tinha sofrido demais. Os lábios, sempre vermelhos e cheios, estavam pálidos e apertados, e havia rugas de preocupação em sua testa. Porém, seus olhos... Eles continuavam calmos e quase pediam para que ele também ficasse. Tudo vai ficar bem, repetiam em silêncio.

Infelizmente, esses dois segundos bastaram para que o ferreiro se livrasse de Liam, que percebeu tarde demais o chute que seria dado em suas costelas. Claro, tentou se desviar, mas não foi rápido o suficiente, visto que foi atingido na lateral do tronco. No mesmo instante, a dor que lhe invadiu fez seu corpo inteiro gritar por socorro, pois algo o arranhava de dentro pra fora. O maldito tinha quebrado algum osso seu! Edlyn nada podia fazer senão observar, horrorizada com a cena à sua frente, como em um transe.

— Eu não queria que fosse assim — disse o homem, passando o braço em volta do pescoço de Liam e apertando.

— Vocês fizeram com que fosse assim! — respondeu ele, com sua voz sufocada, usando seu peso para se livrar do golpe e caindo com um baque no chão. Quando conseguiu, o mundo à sua volta já estava levemente borrado, girando, tremulando, e um rio de sangue embebia sua camisa de algodão. Estava a ponto de perder a consciência, mas não poderia dar a todos eles o prazer de desistir. Assim, reuniu até a última força que restava em seu corpo e secou as gotículas de suor que pontilhavam suas têmporas.

— Desista. — O ferreiro mostrou os dentes, com desdém. Lá fora, gritos impacientes começaram a ser ouvidos, a sede de sangue do povo só aumentava.

— Só quando as coisas acontecerem do jeito certo — cuspiu, já com mais raiva do que podia controlar. Uma injeção de adrenalina o percorreu dos pés à cabeça, e um sorriso escapou de seus lábios. — Não vai ser agora. Não vou deixar que matem minha mãe.

Nesse momento, três outros homens entraram na casa. Um deles, o mais velho, ainda estava segurando sua tocha acesa, que usou para atear fogo nos restos da porta e no piso. As chamas creditaram alegremente e não demoraram a se espalhar pelas paredes e pelos móveis.

— Não! — Edlyn gritava, entrando em desespero. — Não!

Outro dos homens, que usava roupas de monge, foi até ela e a prendeu entre seus enormes braços, impedindo-a de se mover enquanto esta continuava se debatendo freneticamente.

— Não toque nela! — Liam, vendo a cena, partiu para cima do homem, ignorando toda a dor que sentia. Conseguiu acertar um soco na lateral de sua cabeça, tão forte que deixou-o atordoado por tempo suficiente para que sua prisioneira escapasse. As labaredas avançavam rápida e silenciosamente, como um predador à caça de sua presa. O último homem, um fazendeiro que ainda tinha terra em suas mãos, ajudou o ferreiro a agarrar Liam.

— Deve ser outro bruxo — disse o velho, que depois de colocar fogo em tudo ficara bem quieto. — Não protegeria tanto essa aberração se não fosse igual a ela.

— Mamma, diga a eles! — Toda a força se esvaía aos poucos do corpo do rapaz, escorrendo por seus membros e indo parar no chão, arrastando-o pra baixo junto com ela. Sentia que já tinha perdido a batalha, e aos poucos se tornava consciente da dor dilacerante que voltava a perfurar sua pele. — Diga a eles a verdade sobre os anjos, diga!

Edlyn, por sua vez, mantinha a cabeça baixa. Já tinha desistido de se debater, gritar e protestar. Deixou que lhe arrastassem para fora sem oferecer resistência. Liam observava, juntamente com a mãe, sua casa se desfazer em meio ao fogo. Tudo que tinham, todas as coisas que haviam acumulado valor sentimental com o tempo, perdidas.

No gramado, a multidão observava, estática, enquanto os dois eram arrastados pelos homens.

— Essa é a bruxa? — perguntou uma mulher à outra do seu lado, baixinho.

— Que desperdício, um rapaz tão bonito — comentou outra.

Liam mal conseguia ouvir essas coisas. Toda a sua energia havia sido sugada de si. No instante que ultrapassou a porta, pôde ver os dois troncos secos fincados no chão e toda a lenha em volta deles. Com tristeza, percebeu que já planejavam queimar os dois sem aviso prévio. Foram amarrados de joelhos nos troncos, e os homens se certificaram de que tinham apertado bem as cordas.

— Boa sorte no inferno — disse o velho, cuspindo nos pés do rapaz.

— Nos encontraremos lá — respondeu ele, cínico. As farpas arranhavam seus pés, e sentiu uma pontada de enjoo quando percebeu uma ponta saliente que insistia em aparecer na lateral de seu corpo: um osso quebrado.

— Está tudo bem, tesoro — sorriu Edlyn. — É o que precisa acontecer. Não tenha medo, nós vamos ficar bem.

— Amo você, mãe. — Seus olhos estavam marejados, mas ele não ia chorar. Se manteria forte, porque as mãos trêmulas da mãe mostravam o contrário do que diziam suas palavras.

— Também amo você, filho. — Então, ela baixou a cabeça e fechou seus olhos. Estava pronta.

— Soltem os dois! — Uma voz feminina gritou, e sua dona veio correndo em direção a eles. Era uma jovem, de altura pouco surpreendente, que se aproximava a passos largos, lutando com o vestido que continuava entrando em seu caminho. Por outro instante tenso, os gritos silenciaram, e todos pararam para observar o que ia acontecer. A garota se lançou aos pés do rapaz amarrado no tronco, sorrindo ao mesmo tempo que chorava. — Grace! — disse, enquanto as lágrimas rolavam por seu rosto e caíam sobre os cachos negros. — Achei que não ia ter tempo...

— Você tem todo o tempo do mundo, Oliviera — Liam sorriu de volta. Com toda a dor e agonia que estava sentindo, era como se a simples visão daquela moça fosse o maior dos remédios. — Agora saia daqui, sim? — Sua voz soou estranha, talvez emocionada, talvez com medo, ou uma mistura de ambos. — Não quero que façam mal a você.

— Grace, me escute. Você precisa sair daqui agora. Lute... — Ela colocou as mãos sobre suas bochechas, e ele pôde sentir o calor delas.

— Não consigo mais. — A frase veio baixa e sem ritmo, como um pedido de desculpas. Não tinha mais forças para resistir, e não tinha certeza se essa seria sua reação se elas voltassem.

— Shh. Não fale, então. — Os dedos da moça tocaram seus lábios, e ele viu que os olhos dela ainda estavam cheios de lágrimas.

— Liv — chamou ele, com o apelido carinhoso que se devia ao sobrenome dela. — Não somos bruxos...

Liv aproximou seu rosto do dele lentamente, e assim mesmo selou seus lábios, envolvendo-os num beijo quente e carinhoso, emoldurado pelas chamas que devoravam a casa atrás deles e coloriram os céus de fumaça escura. Tão doce, pensava ele.

— Você tem gosto de vinho — sussurrou ela quando se separaram, com um sorriso divertido.

— Apenas me prometa que vou encontrar você de novo. — Ele queria poder segurar a mão dela, mas as suas estavam amarradas atrás do corpo.

— Está prometido. — Finalmente, as lágrimas cessaram. Estariam juntos de novo, em breve.

— Saia, mulher tola! — Uma mão musculosa agarrou o ombro de Liv e a jogou para trás, para o desespero do casal.

— Não faça mal a ela! — gritou ele.

— Não faça mal a ele! — gritou ela, ao mesmo tempo.

— Seria tocante se ele não fosse um adorador do demônio. — O homem segurava uma tocha acesa, e seus olhos azuis como o céu à noite brilhavam de raiva. — Vocês foram julgados — bradou o homem que um dia Liam chamara de pai, incitando a multidão. — E o clero os considerou culpados por bruxaria e adoração ao diabo. Queimem na fogueira!

— Queimem na fogueira! — Entoaram todos.

Ele acendeu primeiro a lenha aos pés de Edlyn, que nem se moveu. Era quase como se já estivesse morta. Depois, desceu sua tocha para o tronco de Liam, incendiando tanto a madeira quanto seu corpo.


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Notas finais do capítulo

Gente, queria a opinião de vocês sobre essa cena, porque eu claramente não sei lidar com violência. Ficou bom?

Espero de verdade que comente e diga o que está achando :3
Até o próximo, gente.
Beijinhos ♡