Expresso escrita por moonabel


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Eu tenho que ir no starbucks do shopping toda vez que tenho de me inspirar de verdade para escrever essa história, é triste



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Minha casa era pequena, uma de muitas em uma vizinhança residencial. Caminhei até a caixa de correio, abrindo-a para encontrar apenas uns cupons de fast-food e  contas. Guardei as cartas no bolso e fui até a porta, pisando na neve que cobria um quintal de frente que eu provavelmente deixaria vazio por um bom tempo. Os tijolos avermelhados estavam úmidos, e o telhado todo branco. Girei a chave ,suspirando aliviado ao tirar o casaco.

—________________________

     Deixei a água do chuveiro cair sobre meus ombros. Todo final de dia eu ansiava tomar um banho com a água meramente fervente, organizando as idéias, que sempre me vinham tão bagunçadas e confusas. Era meu momento,  minha hora de relaxar, finalmente. Vesti uma camiseta surrada e uma calça de moletom. Na sala, liguei o aquecedor e preparei um chá, dedilhando com cuidado de cima a baixo a pilha de DVDs que eu considerei assistir nesse final de semana. Joguei-me no sofá, com as mãos em volta da xícara morna.

Senti o estofado de couro barato ranger conforme eu me mexia. Arrumando com os pés o tapete verde musgo, olhei em volta, lamentando tamanha preguiça de arrumar a casa. Os quadros estavam tortos e as prateleiras cheias de poeira, entulhadas de livros que nunca li e fotos com pessoas que nunca gostei. A madeira velha do armário da televisão fazia um destaque com a parede bege, que quase me implorava por outra camada de tinta pelo falto do desbotamento já ser bastante aparente.  Sorri, sentindo o aroma de canela que eu adorava.

  Antes que pudesse decidir o que fazer, ouvi um ruído que me fez dar um pulo, da porta sendo escancarada, esmurrada contra a parede. Apoiei a xícara no porta copos da Hello Kitty e me levantei apressado. Ao mesmo tempo em que senti medo, já imaginava quem poderia ser.

Duas silhuetas juntas se abraçavam contra a porta, num embalo de amassos. Estavam em tal ritmo sedento que não me notaram, parado próximo deles sem ideia do que fazer.  Pernas entrelaçadas no meio de risos. Eu conhecia aqueles cabelos castanhos.  Conhecia seu perfume. Senti uma dor no peito, rapidamente se transformando em raiva.

A mulher tirou o salto-alto e deixou-o cair no chão. Senti uma pontada no coração ao imaginar o risco que foi deixado no chão de madeira.

Engoli em seco e me pronunciei, na voz mais áspera que pude:

— Marcos .

Ele abriu os olhos, embriagados. Separou-se dos lábios que lhe possuíam, sorrindo para mim.

— Tem um quarto sobrando?

Estendi o braço na direção ao corredor, dando um passo para trás. Os dois correram de mãos dadas até o aposento, e de lá não saíram mais.

Voltei ao meu sofá, ligando a televisão para gastar meu tempo com algum programa besteirol qualquer. Deixei o volume alto, até o ponto em que voz da mulher cheia de silicone que eu sempre esquecia o nome era a única coisa que se ouvia.

       O celular vibrou no meu bolso incansáveis vezes, se tornando impossível de ignorar. Abri o aplicativo, lendo sonolentamente as mil mensagens que chegaram.

Eram apenas muitos oi’s e muitos xingamentos pela demora a responder.

‘’O que foi?’’ Respondi-lhe.

Em questões de milésimos de segundos, ela me mandou de volta:

’LEMBRA DAQUELE SEU PAQUERA?’’

Corei, franzindo o cenho.

‘’Que paquera o quê menina (carinha envergonhada)’’

‘’ele dá aula pra uma amiga minha!’’

Aquele sentimento em mim novamente se despertou. Desejo de saber mais.

‘’ Aonde?’’

‘’ Na faculdade oras...ela disse que ele é um gatinho! Sempre soube que você tinha bom gosto (carinha piscando)’’

Maura sempre foi meu modelo de comportamento, com sua alegria, todos queriam ser amigos dela. Mas ela gosta de mim, ainda não sei por quê. Mudei de assunto rapidamente.

Continuamos jogando conversa fora até que meus olhos começaram a pesar, e despedi-me, levantando para ir até meu quarto:

‘’Vou dormir’’

‘’Boa noite (carinha mandando beijo)’’

—_____________________________

Acordei de madrugada, com a barriga roncando, e resolvi comer algo. Chegando na cozinha, me deparei com a mulher de outrora de pé, na frente da geladeira aberta. Acendi a luz, sem conseguir ver muita coisa no escuro.

Mon dieu!—ela gritou, tapando os seios com os braços que eu tinha acabado de descobrir que estavam nus.

Fechei os olhos, num movimento brusco para trás, soltando um berro de vergonha misturada com desespero.

Je m’en fou. – a ouvi passando por mim em direção ao quarto, resmungando prováveis palavrões em francês. Balancei a cabeça tentando esquecer o que aconteceu, para então procurar algo pra comer.

Ok, aquilo não foi nada legal. Não sei o que era pior, ela estar na minha casa sem meu consentimento ou ela parecer não saber minha língua. Também não sabia que Marcos falasse francês.

Sentei-me com um sanduíche de pasta de amendoim em mãos, dando leves mordidas, desanimado.

A mulher de salto alto voltou dessa vez vestida (ainda bem). Aproximou-me de mim com um sorriso  nos lábios. Minhas tendências anti-mulher automaticamente se acionaram.

‘’Fudeu’’ foi a única coisa que consegui pensar.

Ela apenas se inclinou e me beijou na bochecha. Amarrou os cabelos ruivos em um coque, se virou para falar:

— Mande seu irmão me ligar – fechando a porta atrás de si.


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Notas finais do capítulo

hrhhh



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