Expresso escrita por moonabel


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Meu deus, demorou um pouco ;-;
Finalmente, espero que gostem ♥



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Algo que eu amava fazer era observar pessoas. Eu gostava de analisar diferentes estilos, diferentes sotaques. Não que alguém prendesse minha atenção como ele, mas  eu gostava imaginar o que passava na cabeça delas.

     Grupos de amigos entravam, fazendo o sino balançar diversas vezes. Esse tipo alegrava bastante o ambiente, rindo e falando alto.  Há também aquele tipo de pessoa que só pede um chá e logo abre o laptop, focado em responder emails. Casais apaixonados, casais que se apaixonariam mais cedo ou mais tarde, ou casais que se apaixonaram e não sabiam. Famílias e colegas de trabalho. Todo tipo de pessoa tem seus encantos.  Corações em pedaços, mentes avoadas, mentes abertas. Cada personalidade parecia gostar de um tipo de bebida.

 Algumas eram educadas, outras passavam o dia de mal humor. Resmungavam quando eu demorava o pouco que fosse, não se davam ao trabalho de levantar nem os olhos para falar comigo. Outras, apenas sorriam para mim. Pequenas coisas me deixavam feliz, por mais cansado que estivesse.

Minha mão começou a doer de tantas vezes apertando tantos botões. Apoiei-me no balcão de mármore, esticando os braços. Era em torno do meio dia, então Ruby saiu para almoçar. Eu não estava com fome, então apenas comi um sanduíche que estava a venda na geladeira do café, para não precisar sair.

 O movimento acabou diminuindo por volta das duas horas. Ele se tornava meio morto, apenas voltando a encher o ambiente por entorno das sete da noite.

—------

     Sorrir para os clientes mesmo morrendo por dentro era difícil. Lavei pratos, limpei mesas e recolhi pratos. Enquanto minha colega apenas conversava. Não me sinto bem falando que ela é inútil, se o café dependesse apenas de mim, não estaríamos nem perto do que estamos hoje. Um café iluminado que funcionava 12 hrs por dia, ocupando um lugar em destaque bem na avenida principal. Não que fosse uma rua enorme, por morarmos em uma cidade pequena. Pessoas comentavam sobre a gente, comentavam da qualidade do café. Isso era bom. Organizei novamente as prateleiras que decoravam o espaço. Reguei as margaridas da janela, arrumei as flores de plástico das mesas. Suspirei extremamente entediado.

O tempo passava mais devagar quando se conta os minutos para chegar às seis horas.

—-------

Deus, como eu parecia uma garotinha de quinze anos com seu primeiro namorado quando ele me pedia o café. Meu rosto ficava vermelho quando a melodia de suas palavras chegava à mim. Minha mão tremia ao  entregá-lo a bandeja. Meus olhos ficavam atentos quando ele me contava algo.

Era sempre alguma coisa especial, que eu guardaria na mente, por mais ridículo que fosse. Eu queria saber. Que seja uma matéria que ele leu no jornal mais cedo, que fosse um segredo que ele guardava há anos. Eu queria ouvir.  Alguns dias se passaram, e cada vez mais eu me apaixonava.

 Porém, nessa tarde, ele preferiu não falar.

— Você tem licor? - ele me pediu, sentando-se no balcão.

Andei até ele, segurando a bandeja de plástico contra o corpo. Fiz um sinal positivo com a cabeça.

— Me vê qualquer coisa aí. - ele abaixou a cabeça, escondendo o rosto com as mãos - Por favor.

Não pude evitar sentir uma dor no peito. Não pude conter minha preocupação ao notar o quão mal agasalhado ele estava, mesmo num frio daqueles. Minha mente estava cheia de perguntas. O que aconteceu com ele? Olhei de relance para Richard, enquanto fazia esforço para abrir a garrafa de vidro.

Era errado sentir tantas emoções assim? Percebi que suas mãos tremiam. 

Percebi também, pela primeira vez, que ele não usava mais aliança no anular.

Servi-lhe o pedido, sem conseguir desviar meus olhos dos dele.

     Eu agradecia toda vez Ruby por cuidar dos outros clientes naquele curto período de tempo. Não lhe expliquei nada, mas ela pareceu entender logo de cara, me respondendo apenas com um sorriso malicioso.

— Dia difícil?- perguntei-lhe num impulso.

Que imbecil de sua parte, Gabriel. Você não deve se intrometer assim.

Eu me torturava, mordendo o lábio.

— Todos os dias são. Só hoje que passou dos limites.

Ele levou o copo a boca, bebendo devagar. Suspirou aliviado, provavelmente sentindo-se aquecido pela bebida. Eu também me aqueci, de certa forma.

Não falou mais nada. Apenas pediu outras doses, uma atrás da outra. Não senti coragem de perguntar-lhe mais nada. O tempo em que ele demorou para beber tudo aquilo se seguiu silencioso.

— Põe na conta, pago amanhã - pediu-me numa voz rouca e cansada, se levantando. Colocou sua bolsa de couro nos ombros, andando até a saída, cambaleante.

— B-boa noite - disse-lhe num tom baixo.

Senti uma vontade enorme de apenas segui-lo. Ter absoluta certeza que chegaria bem em casa.

Recolhi a louça suja, com o coração acelerado.


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