As Desventuras do Caos escrita por Reet


Capítulo 7
CAPÍTULO VII — EX-NAMORADOS


Notas iniciais do capítulo

Quero agradecer a Ana Beatriz Rajaram (ID: 477882) pela recomendação muito fofa que fez.

Betagem feita por Ladybug (ID: 693356).

Por favor, se encontrar algum erro na história, ficaria grata se apontar nos comentários. Boa leitura ♡

(22/07/16) EDIT: Descrições do quarto de Cold e Shannon.



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O vulto que agarrou Cold era um cara. O cabelo castanho com undercut e as tatuagens alternativas eram características marcantes de Hans, o garçom do Café Retrô. E agora eu me lembrava de onde o reconhecia. Ele estava em todas as fotografias do porta-retratos do corredor. Era ele quem estava com a cara riscada em algumas delas e, em outras, agarrado com um dos gêmeos amigavelmente.

No momento em que Cold foi segurado, Shannon deslizou seu corpo pela parede até o chão e eu corri até ele, segurando-o pelos ombros antes que batesse a cabeça. Os olhos que antes se encontravam prestes a se fecharem de dor se arregalaram e ele sustentou, por longos segundos, a testa franzida e a imprecisão nebulosa no olhar que parecia demonstrar um misto de confusão e surpresa. Parecia perplexo com a minha atitude e a surpresa deu lugar à negação assim que ele tentou — falhando miseravelmente — me empurrar com um dos braços. Percebi que as últimas forças que ele tinha estava usando para se esquivar de mim.

— O que eu disse para vocês dois na semana passada? — Hans gritou na cara de Cold, e ele revirou os olhos. — Olá, Dawn! — Sorriu e voltou a fuzilar Cold com o olhar. — Olha essa merda! O que você espera que eu faça?

— Ele começou com isso! — Cold resmungou.

— Foda-se vocês — murmurou Shannon ao meu lado, passando a mão pelo nariz e limpando um pouco de sangue.

— Com que frequência isso ocorre? — indaguei assustada.

— Tecnicamente, eles estariam dois dias atrasados se mantivessem o ritmo.

— Você acha que eu deveria chamar uma ambulância? — perguntei a Hans, que naquele momento, se assegurava de que Cold não era mais uma ameaça.

— Não mesmo — respondeu Hans. — Eu estudo enfermagem, se lembra? Sou eu que geralmente cuido desses dois.

Hans empurrou Cold no chão e ele ficou lá, e então, foi até Shannon e estendeu a mão com uma cara nada amigável.

— Vamos logo, idiota. — Aparentemente, Hans não ia com a cara de Shannon. Bem, quem ia? Shannon fez um rouco barulho com a garganta e foi cambaleando até o banheiro guiado pelo cara mais baixo. Eu os segui, deixando Cold para trás. — Hoje eu fiquei surpreso. Geralmente é o Cold que fica todo arrebentado.

— Qual é o motivo de tudo isso?

— Parece que os dois começam a discutir por qualquer coisa e tentam resolver na porrada, mas no fundo, Shannon tem inveja de Cold por ele ser mais popular e afins. Ele sempre traz mais garotas e recebe mais atenção, mas Shannon não é a pessoa mais solitária do mundo.

— Eu não tenho inveja daquele idiota! — Shannon grunhiu, Hans revidou com um tapa repreensivo na cabeça dele.

— É claro que não — disse com sarcasmo. Ele pegou a maleta de primeiros socorros e colocou em cima da bancada. Agarrou o cabelo longo e loiro de Shannon, fazendo o rapaz contorcer a face e soltar um rouco gemido, e o empurrou até o gêmeo tropeçar na banheira e cair sentado. Fiquei levemente surpresa pela forma que ele era tratado como um animal, mas imaginei que era isso que ele merecia a maior parte do tempo. — À propósito, Dawn, eu me esqueci de falar uma coisa com você mais cedo.

— O que você queria falar? — perguntei. Só de me lembrar do emprego, eu sentia minha cabeça latejar.

Isso — disse, apontando para os gêmeos. — Isso era o que eu queria te alertar. Eu não sei onde eu estava com a cabeça quando te dei o número! Até parece que esqueci que isso é um campo de batalha.

— Ah! — exclamei pasma. — Esse era o quarto vago que você falou!

— Exatamente, e eu sinto muito por isso. O que eu sei é que não é seguro ficar no meio dos dois. — Assim que ligou o chuveiro, Shannon grunhiu de dor no que a água batia em sua cara e encharcava sua camisa preta, deixando-a ainda mais escura. — Segure-o aqui para mim, por favor.

— Por que não é seguro?

Shannon se debateu e tentou tirar minhas mãos de seu cabelo quando eu segurei sua cabeça debaixo d’água, mas ignorei suas recusas — ele estava fraco demais para isso — e observei enquanto Hans trazia Cold para dentro do banheiro sem o mínimo de esforço.

— Eles sempre vão brigar por alguma idiotice. Qualquer um que estiver no meio vai sofrer as consequências, e Shannon é o mais agressivo. Ele quer brigar com todo mundo — disse Hans, reprovando Shannon com o olhar. — Uma vez Cold chamou um amigo meu e eu para jantarmos aqui, e esse animal apareceu e enfiou a porrada no Akira do nada! Dá para acreditar?

— Ele não era seu amigo, Hansel Green! E ele mereceu! — Eu enfiei a cara do loiro debaixo d’água. Ele engasgou e consequentemente calou a boca. Estava começando a gostar disso.

— Até o seu ataque de imbecilidade, ele era — retrucou Hans com um olhar de censura e desgosto na voz, como se aquele acontecimento tivesse um significado maior do que aparentava. — Quero dizer, não dá para confiar na sanidade mental de gêmeos que precisam ter as maçanetas das portas arrancadas para não se matarem, não é mesmo? Eu costumava vir mais vezes na esperança de encontrar o corpo de algum deles, mas desde que Cold e eu... — Hans se virou para Cold com os olhos apertados, o dedo indicador na sua direção. — Não espere que eu volte para você como um cachorrinho, Cold. Eu não sou seu escravo.

— Isso significa que está tudo bem entre nós?

— Você é meu amigo. — Hans revirou os olhos na tentativa de não deixar um excesso de emoções escapar. — Melhor amigo. Eu não poderia simplesmente deletar você da minha vida sendo seu vizinho. Não agora. — Ele esguichou soro fisiológico na cara de Cold, que pressionou os olhos e reprimiu um gemido de dor, e pegou uma gaze para estancar o sangue, fazendo-o segurar em seguida. — Eu posso arranjar um quarto em outro apartamento, se precisar-

— Não! — Rapidamente, Cold segurou o braço de Hans. Encarei-o com um pouco de surpresa estampado na minha cara, mas preferi fingir que era só uma desculpa para ter alguém arrumando a casa. — Não é necessário.

— Não acho que você está em posição de decidir isso, Cold. — Hans ajeitou a gaze no ferimento do amigo.

— Eu vou me comportar — murmurou prolongando-se no comportar. — Prometo.

— Se precisar de alguma coisa, qualquer coisa, eu moro no andar inferior — disse, dando uma piscadela na minha direção. — Afinal, como isso aconteceu? — Hans se virou e me encarou por um momento. — Você veio ver o quarto e eles começaram a brigar?

— É um pouco mais complicado do que eu poderia explicar... — admiti. — Simplificando da forma mais ridícula possível, Cold me alugou o quarto e Shannon, aparentemente, me odeia.

— “Aparentemente”, não — disse Hans, virando a cabeça para mostrar um singelo sorriso no rosto. — Ele te odeia de verdade. Assim como o resto da população mundial.

— É consolador saber que não sou a única — ironizei. — Me sinto menos mal.

— Ainda sem emprego? — perguntou, certificando-se de que o que ocorrera pela manhã não havia tido progresso.

— Ainda sem emprego — afirmei, balançando a cabeça.

— Eu acho que vou cair fora do Café para pegar a oportunidade de um estágio supervisionado, embora não seja necessária supervisão depois de todos os primeiros-socorros que eu claramente obtive êxito aqui — murmurou mais para si mesmo do que para mim e os outros. Hans deu de ombros e desligou a água do chuveiro, passando uma gaze no rosto de Shannon que pressionou os olhos. Fez o curativo com esparadrapo, parando o sangramento da testa e fechou os arranhões com um líquido de iodo antisséptico. Ele voltou ao assunto anterior repentinamente: — Se você conseguir aguentá-los, acho que vai se dar bem aqui. — Hans jogou os objetos sujos no lixo e colocou a mão na cintura, encarando os gêmeos. — Andem, o que estão esperando para tirarem essas roupas ensanguentadas? Preciso dar um banho nos dois de novo?

O de novo da frase me preocupou, mas eu apenas ri mentalmente, imaginando o quanto os gêmeos Lane eram dependentes do vizinho. Todavia, assim que Cold e Shannon começaram a se despirem eu senti meu rosto esquentar. Os músculos definidos e a forma física estupidamente semelhante eram impressionantes demais para sustentar o olhar sem surtar. Era muita testosterona num lugar só e eu me retirei do banheiro.

— Dawn, pode buscar toalhas e roupas para Shannon e Cold? — gritou Hans, fazendo com que sua voz me alcançasse no corredor. Respondi um “claro” e entrei no quarto de Shannon.

Eu achei curioso que as estantes estivessem abarrotadas de livros e comecei a pesquisar pelos títulos, descobrindo algumas ficções populares, como O Senhor dos Anéis e Harry Potter, e também alguns autores de terror e mistério, como Stephen King e Agatha Christie. Fiquei ainda mais surpresa com a presença de autores clássicos de várias épocas: Alighieri, Shakespeare, Erasmo de Roterdã, Victor Hugo, Hemingway, Fitzgerald, Orwell... A lista só se estendia à medida que eu passava o dedo pelas prateleiras. Eu reconhecia-os de antigas leituras minhas; havia ganhado esse hábito da minha mãe, Carol Firewood, pois ela era uma leitora assídua de romances.

O quarto tinha uma escrivaninha abarrotada de folhas, papel timbrado amassado e canetas com o logo de um jornal famoso da cidade, sem falar nas caixas vazias de cigarros espalhadas. Entretanto, o ambiente não tinha nenhum cheiro de cigarro, diferentemente do de Cold. Apressei-me em pegar uma toalha de banho no guarda-roupa, mas a parte mais difícil foi encontrar moletom e camisetas na bagunça que se encontrava suas roupas. Muitas estavam fedendo como se tivessem sido usadas por semanas seguidas. Joguei as roupas sujas no chão, decidida a voltar para lavá-las.

Com as peças debaixo do braço, fui até o quarto de Cold, mas parei ao me lembrar de ele ter dito para eu não entrar no quarto dele. Antes de encostar a mão na maçaneta, ouvi a porta do banheiro bater e tive um sobressalto. E outro maior ainda ao me dar conta de quem estava parado no meio do corredor era Shannon, e por sua toalha se encontrar em minhas mãos, ele estava completamente nu.

Eu arfei e desviei o olhar o mais rápido possível, mas a imagem já estava entalhada no meu cérebro. Merda. Merda. Merda.

— Você é muito devagar — Shannon resmungou, puxando a toalha e as roupas das minhas mãos e se trancando no próprio quarto. Eu respirei fundo, nervosa. Era nudez demais para mim por um século.

— Ei, Dawn! — Escutei a voz de Hans me chamar. Ele saiu do banheiro com uma toalha de rosto secando as mãos. — Você poderia ir à barraca de tacos lá embaixo e comprar alguns para jantarmos? Eu acho que ficarei aqui essa noite.

Prontamente, estendi a mão para pegar o dinheiro que ele me entregou e saí do apartamento. Peguei o elevador do prédio sentindo aquela tensão de que as luzes que piscavam era um sinal de que ele iria parar a qualquer momento. Saindo do prédio D, dei-me conta da pouca movimentação na rua quando não estava chovendo ou nevando. Havia uma barraca de tacos na frente do prédio com o nome de Taco Fiesta. O homem que servia era o mesmo que preparava e contava o dinheiro, ele estava um pouco acima do peso e trajava um sombreiro com avental sujo de pelo menos cinco tipos de molhos. Tentei evitar que meu problema com higiene se mantivesse vivo naquele momento e me foquei no cardápio. Isso. Cardápio. O mesmo cardápio de metal pregado à carrocinha, cheio de musgo ou gordura — eu não saberia distinguir —, parecendo velho e com fotos menos realistas do que os tacos reais. Respirei fundo e pedi:

— Quatro tacos de camarão, por favor.

— São duas libras, senhorita — disse o homem, espirrando e limpando a mão no avental. Oh. Céus. Eu queria empurrá-lo em um tanque de lavar roupa e esfregá-lo com dois litros de cloro.

— Você se importa de lavar a mão antes de fazer o meu pedido? — perguntei, na iminência de que ele fosse realmente compreender minha certeza de vigilância sanitária.

— Sim — respondeu grosseiramente e enfiou a mão nas massas de tacos.

Encolhi-me, esperando que os tacos saíssem logo para que eu pudesse esterilizar meu cérebro com álcool em gel.

Assim que eu peguei a sacola, subi o prédio pelas escadas o mais rapidamente possível, arrombando a porta do apartamento onde Shannon, Cold e Hans estavam na cozinha. Eles conversavam sobre alguma coisa, mas logo pararam quando eu cheguei. Shannon estava isolado no canto como se a presença de Hans o incomodasse.

Distribuí os tacos e fomos para a sala, onde eu me sentei na poltrona do canto com lençol de cama depois de empurrar algumas roupas, que estavam em cima dela, ao chão.

— Caia fora.

Eu tive que levantar os olhos para ver quem estava falando comigo e esse alguém era Shannon, com certeza.

— Como é?

— Essa é a minha poltrona.

Então a poltrona com lençol pertencia a ele.

— Você pode sentar em outro lugar, tem espaço...

— Apenas caia fora, Firewood.

Levantei contra minha vontade e fui até o outro sofá, afastando algumas folhas da seção de cinema de um jornal.

Felizmente, os tacos tinham um considerável tamanho família que era suficiente para encher o estômago dos três pedaços de testosterona que ocupavam os espaços dispostos na sala. Eles começaram a comer como trogloditas e suas caras enchiam de salsa, tomate e guacamole. Eu nem mesmo sei se camarão com guacamole é uma boa combinação, mas contanto que satisfizesse minha fome, eu comeria.

— Ei, Dawn — disse Hans, segurando a garganta com as mãos como se tivesse engasgado. — Do que são esses tacos? — Sua voz falhou.

— Camarão — respondi rapidamente.

Shannon e Cold pararam de comer naquele instante, arregalando os olhos como se eu fosse de outro planeta ou como se eles tivessem acabado de encontrar um criminoso. Eu posso garantir que nenhuma das afirmativas eram verdadeiras. Hans largou o taco e começou a coçar as mãos de uma forma agoniada.

— Hans! — Os gêmeos gritaram em uníssono e atacaram na direção do rapaz. Enquanto Cold batia em suas costas, Shannon se agachava na sua direção.

— Hans é alérgico a camarão, sua estúpida! — Shannon gritou comigo, cuspindo as palavras como se eu fosse lixo. Ok, isso foi cruel. Tanto a escolha do sabor quanto o "estúpida" da frase. — Como você não sabia disso?

— Eu acabei de chegar aqui! Como você sabia disso? — retruquei indignada, porém, preocupada. De qualquer forma, eu não sabia se o choque anafilático de Hans era maior do que o choque que eu recebi em seguida:

— É uma das coisas mais óbvias a se saber sobre um ex-namorado!


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Perguntas:

1. Finalmente estamos avançando na história. Qual a nota geral você daria para o capítulo?

2. *SURPRISE, BITCH* Cold alega que Shannon "odeia mulheres" e acabamos de descobrir que Shannon namorava Hans. Qual a sua opinião sobre a sexualidade do personagem? Qual você acha que é o interesse sexual dele? No que você acha que isso muda em relação ao rumo da história?

Obrigada por estar acompanhando! Espero que esteja gostando. ♡