DeBrassio escrita por Lola Baudelaire


Capítulo 10
Capítulo 10 - Antes


Notas iniciais do capítulo

Olá,
sim, aqui estou postando o segundo capítulo em menos de um mês. Yay! Eu quero agradecer a todos que continuam lendo e apesar de não comentarem eu posso ver pela estatística. Olha, esse capítulo vai é um pouco comprido porque eu vi a necessidade de responder algumas perguntas antes de começar aparecendo com mais. E eu estava percebendo que a narrativa estava ficando um pouco fragmentada então resolvi dar uma adiantada caso contrário meus leitores vão acabar perdendo o interesse com tanta enrolação. Esse é o terceiro maior capítulo que eu escrevi na minha vida, mas não quer dizer que daqui pra frente vão ser todos assim. Esse capítulo que foi um caso extraordinário porque eu percebi que vocês precisavam de respostas e é agora que o Antes começa a se conectar com o Agora. Mas enfim, espero que gostem.



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Nós nunca gostamos do Shawn. Eu poderia ter seis ou sete quando minha mãe o trouxe para casa pela primeira vez. Laurel não gostou nem um pouco. Eu só achava legal quando ele trazia ursinhos e sorvete de baunilha. Tá, ele nos levava no carrossel, mas sua cara quando o interrompíamos era feia. Dava um pouquinho de medo.  E agora ele corta o tomate em cubinhos com precisão, e em breve cortará a cebola, a pimenta e a carne. Vai despedaçar a carne e ela vai bem pequeninha, e depois que comermos ninguém vai se lembrar que um dia já foi um ser vivo algum dia. Tá, Erin, chega de viagem! Mas é desconfortável, por mais que eu tente ignorar o medo, não tem como. Não tem como. Eu estou numa casa sozinha, com meu padrasto que na real, nunca gostou da minha presença. Eu sinto medo agora. Mas pelo menos ele comprou os ingrediente para preparar burritos. Nossa única opção para um domingo à noite.

 Observo-o pelo canto do olho enquanto seguro a frigideira que em instantes refolgará tudo em fogo baixo e logo depois recheará as tortilhas pré-cozidas, trazidas do mercado por ele hoje de manhã. Eu o evitei desde que voltara para casa, na segunda-feira. Poderia ter sido na terça, eu acho. Mas enfim, não consegui dormir na casa dos Whalen essa noite. Gwen disse que não seria muito legal porque a mãe dela iria dormir em casa essa noite. Provavelmente a mãe dela vai fazer perguntas demais; como está minha mãe? Porque eu vou estar dormindo fora? Bem, eu não sei. Mas é domingo, tudo bem dormir fora no domingo, não é? Pelo menos é melhor do que dormir sozinha em casa, com um homem no quarto ao lado. Minha mãe não iria gostar muito da ideia. Então por que ela foi embora e me deixou aqui mesmo?  Ela não parece ter pensado muito bem antes de sumir e levar a comida toda junto.

Não quero parecer intimidada; seguro o cabo da panela com firmeza enquanto termino de dourar as últimas tortilhas. Isso não é legal. Não é nem um pouco legal. Talvez eu tranque a porta do quarto antes de dormir. Vou dar duas voltas na chave e vou deixar a janela trancada também. Olha só como ele corta a carne. Ai meu Deus, ele está sorrindo. Coloco a última tortilha em um prato e a cubro com papel toalha. Depois de ter gritado comigo naquele dia, ele não disse nada à respeito. Nem mencionou a comida desaparecida também. Agora ele corta a pimenta em tiras bem finas, com a mesma precisão que poderia fazer tiras com a pele de alguém. E se ele tiver a apunhalado pelas costas com essa mesma faca de aço inox. Ela pode estar fatiada no fundo de um canal de esgoto da cidade. Mas calma, Erin! É claro que ele não a matou, caso contrário teria feito o mesmo com você.

Seu celular toca e sem terminar o que está fazendo ele o pega do bolso e se vira para mim.

— Não desliga aí — ele diz —eu já volto para gente terminar.

Então ele sai pela porta do fundo e eu permaneço segurando o cabo da panela, ainda em cima do fogão. Eu já tinha desligado, na verdade. Mas vou ter que acender de novo. Não quero que Shawn grite comigo de novo. Dá para vê-lo pela janela. Seus passos inquietos de um lado para o outro do lado no gramado me deixam desconfortável. Não tem como ouvir a conversa daqui, entretanto, seus gestos nervosos denunciam uma maré de descontentamento a caminho. Incriminam o que pode ser verdade. Então ele para; nossos olhos se encontram ao atravessar o vidro. Sob a luz da lua e da lâmpada fraquinha em cima da porta eu vejo; a fúria escorrendo pelos poros.

Depois de se casar, Laurel gritou com a minha mãe. Todo mundo ouviu quando ela disse que Shawn era um homem mal intencionado, insensível e nefasto. Nefasto, palavra engraçada. Nós ouvimos e Gwen riu comigo. E de fato, minha irmã estava certa. Nós deveríamos ter escutado, porque a medida que ele se aproxima da porta, com seus olhos fixos em mim, deixando o celular esmigalhado para trás. Eu me afasto do fogão e me agarro com mais força ao cabo da frigideira. A porta é aberta com tanta força que bate com força na parede. 

E é o meu pescoço a primeira coisa que ele aperta. Meu braço despenca ao lado do corpo. Sinto minha saia derreter com o calor da janela se fundindo com a minha pele. Não dá para respirar direito, eu não consigo pensar direito. Ele vai me matar. Pelo amor de Deus, alguém me explica o que está acontecendo.

— Onde ela está? — esbraveja, e aperta meu pescoço com força — ela levou todo o meu dinheiro. Se ela não voltar aqui e entregar o que é meu, eu vou matar as duas.

Eu o acerto e ele me solta. Ele grita e eu me encho de ar. Ele cambaleia para trás, com as mãos no pescoço e eu, um pouco ofegante empunho a panela ainda quente. E se ele chegar mais perto vou acertar bem na cabeça. Shawn se aproxima, dá para ver a dor pela sua expressão. Ele me encara e vai me atacar de novo, mas não acho que ele vai tomar a frigideira da minha mão. Então ele para e respira, isso deve ter doído bastante. Minhas pernas tremem também. Então se levanta e vai embora. Que ele não volte então.

Espera! Eu não entendi ainda. Ele poderia ter me batido mais, porque uma hora a panela iria esfriar. Mas enquanto eu me apoiava no armário da cozinha, procurando coragem para levantar, ele sobe as escadas, faz barulhos no quarto e depois vai embora. Apesar de ofegante, eu me sinto aliviada. Tem um buraco na minha saia e tecido derretido misturado com pele queimada. Tá ardendo tanto que dói a perna inteira e eu não consigo levantar. É noite e duvido que alguém tenha ouvido essa bagunça. Minha garganta também dói, não dá para esquecer disso também. Por favor, sente-se aqui e esclareça o que acabou de acontecer.

Pelo menos não vou precisar dormir sozinha com Shawn. Mas também vou estar sozinha. E ele pode muito bem voltar. Ele tem a chave, né. Erin, deixa de ser idiota. Ele pode voltar a hora que quiser. Talvez eu deva mesmo dormir na Gwen. Se bem que está bem tarde para poder fazer alguma coisa sem ninguém desconfiar. Acho que vai chegar um ponto que vai ficar complicado esconder e explicar o que está acontecendo. Eu mesma quero que alguém sente aqui e me explique tudo o que está acontecendo. Primeiro minha mãe some, depois o marido dela tenta me matar. E parece que a minha mãe é a única que está em vantagem nisso tudo. Ela levou a comida, e se Shawn estiver certo, provavelmente está cheia do dinheiro. Talvez não, Shawn não tem cara de ter muito dinheiro. Pelo menos eu vou ter burrito para o resto da semana. Mas corre o risco de não durar muito. Quanto temos aqui? Quatro, cinco sei e olha, são oito. Estou faminta. Vamos ver quantos eu consigo comer.

...

Minha pele não se fundiu com o pedaço da saia como eu pensei. Era só o poliéster encolhendo com o calor. Posso apostar que ficou um pedaço grudado na panela, não na minha pele. Não virei meta-humana dessa vez. Dou uma risadinha tosca enquanto jogo as roupas na máquina de lavar. É tarde, eu sei. Tentei dormir, mas não tive sucesso; mesmo depois de verificar se tudo estava trancado. E do que adianta isso tudo de Shawn tem a chave? Então minha melhor decisão fora trazer o cobertor para o porão. Eu posso dormir enquanto a máquina lava e seca minha roupa e ainda usar o computador. Minha mãe costumava trabalhar aqui embaixo quando éramos pequenas; isso antes de resolver trabalhar fora. Daí ela trancava a porta por dentro e podia fazer sabe lá o que sem ser incomodada. Laurel dizia que era para assistir Sex and the City livre da gente, mas eu prefiro acreditar que era só o trabalho dela de jornalista mesmo. Olha só, se ela é jornalista alguém poderia tê-la sequestrado, não é mesmo? Digo, jornalistas são sequestrados e ameaçados de morte o tempo inteiro. Mas minha mãe escreve sobre dinheiro e essas coisas chatas. Não é como se o que ela fizesse ameaçasse a carreira de alguém ou algo do tipo. É só economia, é chato. Mas o porão ainda é um bom lugar para passar o tempo. É grande, porém dividido por um cobogó azul, daquelas paredes falsas cheia de buraquinhos. De cerâmica, eu acho. Mas eu posso passar a noite por aqui, trouxe o colchão da minha cama então talvez eu consiga pegar no sono. Mas não é uma certeza absoluta.

Consegui ajeitar meu colchão num lugar bem quentinho para dormir, sem acender a luz do “lado do escritório”, apenas com a luz da lâmpada em cima da máquina de lavar. É burrice, reconheço isso. Então, aproveitando para ligar o ventilador de teto, acendo a luz para ter certeza de que não vai ter nenhum bicho em cima de mim depois que eu dormir. O piso marfim amplia o efeito da luz, já que as janelinhas que dão para o lado de fora não servem para muita coisa a não ser para deixar o lugar menos abafado. Elas ficam rente ao gramado, no lado de fora; e são bem pequenas mesmo, não dá para muita coisa. Mas está tudo organizado. Bem, tirando o meu caderno de álgebra que ficou lá desde a última vez que tentei resolver os exercícios de álgebra, e da caneca que esqueci de lavar; está tudo certo. Tudo certo exceto pelo arquivo de metal preto com quatro gavetas brilhantes encostado na parede. Passo por cima do colchão para chegar mais perto. Dá para ver a plaquinha gravada como patrimônio da minha escola e a fechadura no topo arrombada também. Agora eu vi. O que mais falta acontecer ainda? Porque já não é o suficiente eu ser esganada pelo meu padrasto e a minha mãe sumir; o negócio roubado tinha que estar na minha casa. De todos os lugares do mundo ela tinha que estar aqui. É brincadeira, não é.  Só podem estar de brincadeira com a minha cara.

Respiro fundo e estendo a mão para tocá-lo. Já que está aqui mesmo, e não tem ninguém para reclamar. E se tivesse nem teria o direito de vir reclamar comigo, porque das três pessoas que moram aqui, eu sou a única inocente. Todo mundo fugiu e me deixou aqui. Então encosto no puxador da gaveta e imediatamente meu braço é jogado para atrás com um choque que o deixa dolorido. Certo, certo. Dou uma volta através do móvel e tomo cuidado para não encostar novamente.  Depois da asfixia e da queimadura, um choque é a última coisa que pretendo me interessar. E então é isso, há um fio descendo do teto que encosta na parte de trás do arquivo, que no caso é de metal e conduz eletricidade.  Olha só, sou boa em física, só que aprendi do pior jeito. Eu tenho quase certeza de que isso não estava aqui da última vez que desci para estudar e também não me lembro de ter visto esse fio pendurado. Não tinha nada disso antes. Nem fio, nem arquivo de metal e nem buraco no forro. A pessoa que teve a brilhante ideia de trazer isso para o meu porão provavelmente pensou nisso; alguém munido de curiosidade com toda certeza tentaria ver o que tem dentro do arquivo. Bastante previsível, Erin. Tudo bem, se não é para tocar eu não toco. É melhor ser obediente, não quero levar outro choque.

Desejo que com o girar do ventilador tudo isso se misture e transforme em uma resposta que eu possa entender. Agarrada no cobertor que Laurel costumava usar sinto a sua falta. Ela saberia como resolver isso tudo; porque é para isso que as irmãs mais velhas servem. Mas decido que talvez não seja uma boa ideia. Laurel chamaria a polícia que me encheria de perguntas. E se eu não consigo entender o que está acontecendo, imagina aquele bando de gente que sempre desconfia de tudo. Eu seria a principal suspeita e a cidade inteira ficaria sabendo de que as pessoas que deveriam ser responsáveis por mim me deixaram só. Eu sei que é drama. Eu tenho dezesseis anos e deveria saber me virar, mas eu não gosto de ficar sozinha. É algum crime querer ter alguém responsável que te tire das confusões? Mas isso tudo é culpa da minha mãe também. Já que ela planejava poderia pelo menos ter me ensinado como não surtar. Foi ela que nunca me deixou ficar sozinha enquanto ela viajava. Eu nunca precisei passar por isso, como não vou ficar apavorada. Talvez se eu forçar meus olhos a ficarem fechados eu consiga dormir. E se eu quiser continuar fingindo que não há nada de errado é melhor que eu durma mesmo porque amanhã tem aula.

...

         Não encontro o carregador do meu celular em lugar nenhum, ele vai descarregar em breve. A casa não está mais tão limpa quanto minha mãe deixou. Não dá para encontrar nada aqui. Eu tenho uma hora para ajeitar tudo antes de ir para escola se eu quiser manter tudo limpo e achar o carregador. Só tem eu para limpar a casa então é melhor não acumular. Pela janela fechada vejo um homem de terno entrar no nosso gramado. Ele se aproxima da porta com passos pesado. Guardo as cobertas dobradas no armário e me aproximo da janela para olhar mais de perto, tento ficar escondida entre as cortinas. Apesar de ter quase certeza que a visita não possa me ver, eu ainda consigo observa-lo após tocar a campainha. O cabelo está penteado para trás e ele usa óculos escuros. Parece o Jake Gyllenhaal, na verdade. Não no Donnie Darko, mas um Jake Gyllenhaal barbudo com cara de hipster. Não deve ter mais que trinta e cinco. Não faz sentido algum alguém está vestido assim à essa hora da manhã; são o que, seis? E o pior é que eu nunca vi essa pessoa na minha vida e isso não melhora as coisas. E olha só, temos um hipster ameaçador que tira uma arma comprida do bolso do terno. Ele quer matar alguém. Como assim? Era só o que estava faltando. Ele toca a campainha mais uma vez, e então eu posso ver que é só uma arma comum com um silenciador, ou seja... Ai meu Deus, ele me viu. Eu corro, não sabendo onde ir.  O lugar mais seguro é no porão. Porque está bem claro que se eu me esconder no armário ou embaixo da cama ele vai me achar.  Ele pode estar procurando outra pessoa, mas eu estou sozinha aqui então sou o único alvo. Um alvo bastante fácil. Ouço a fechadura da porta cair no chão. Sim, ele entrou e não dá para passar pela escada sem ser vista. No desespero acabo batendo o braço nos vasinhos de plantas que minha mãe colocou no corrimão, no topo da escada. Olho para baixo e vejo o chão coberto de terra preta. Poderia ter caído na cabeça daquele hipster nojento, mas não. Ele está aí me procurando.  Então eu corro, na verdade, cambaleio escada a baixo. Consigo ouvir mexer nos armários do escritório de Shawn, onde já foi o quarto da minha irmã. Ah, sim, ele sabe muito bem aonde procurar.

Provavelmente vai me ignorar, deve estar atrasado. Ou virá me pegar depois. Corro para o porão, meu destino inicial, bato a porta e agacho no espaço entre a mesa do computador e a parede. Não é o melhor lugar para se esconder, eu sei. Mas parece bom. Tento não respirar muito alto, no entanto, isso é impossível; meu coração está tão acelerado que não consigo controlar. Céus, o que eu vou fazer. E é aí que os passos ficam mais altos e a porta é empurrada. Se eu tivesse trancado isso não teria acontecido, é claro. Meu corpo todo treme.

— Se você me disser onde está eu não vou te machucar, Barbara — o homem diz com um sotaque esquisito — eles sabem que você guarda em casa. Eu não imaginava o quão estúpida você é, Barbara.

Ele continua com uma voz pesada, porém rouca; voz de quem fumou o bastante na vida, apesar de parecer jovem, e vai me matar agora. Porém, ele acende a luz primeiro e caminha tranquilamente de um jeito barulhento. Sim, sinto vontade de gritar que ele está procurando a pessoa errada. Não sou Barbara, meu nome é Erin. E apesar de estar um pouco apavorada não sou estúpida. Eu não tranquei a porta, eu não tranquei a porta. Droga! Eu tenho tanta raiva disso tudo que se não tomar cuidado eu vou gritar a ponto de quebrar todos os vidros dessa casa.

— Dara quer te ver, mas todos vão ficar surpresos quando verem que você ainda tem a mesma cara de menina. — sua voz parece uma cobra matraqueando o rabo para acalmar sua presa — vamos meu bem, me diga onde está. Eles te querem viva. Infelizmente não posso te machucar, sua vaca desgraçada.

Por um momento sinto esperança ou algo do tipo. Tem uma grande chance dele não me achar. A luz em cima da máquina de lavar não é muito potente, o que é uma vantagem para mim. Por ser um cômodo grande boa parte dele fica escuro; e apesar do cobogó estar ao lado da lava-e-seca e permitir a passagem de um pouco de luz, eu ainda estou no escuro por estar encolhida na outra extremidade. Certo, ele não pode me enxergar aqui, o canto é apertado e na minha frente tem uma estante o que deixa apenas um pedaço para eu passar. É engraçado porque já me escondi aqui antes, Laurel e Gwen nunca me encontraram. Só a minha mãe, quando eu me escondia da hora do banho. Meus olhos lacrimejam, e eu tampo a boca com a mão para não fazer barulho. Se a minha mãe estivesse aqui isso nunca teria acontecido. Nunca em um milhão de anos. Ela não me carregaria para banheira, é claro. Eu não estaria sozinha. Minha mãe jamais me deixaria sozinha.

Ele chega mais perto e para — provavelmente deve ter visto o arquivo — e gargalha. Eu não sei o motivo do deboche, no entanto as coisas parecem fazer um pouco de sentido agora.

— Você, Barbara, não é tão esperta quanto Dara diz ser.

Vejo-o guardar a arma no bolso e se aprontar para pegar no arquivo. Isso é bom porque ainda não me viu. Provavelmente não vai me ver. Ele que não é tão esperto quanto pensa ser. Eu levanto devagar; ele vai estar bastante ocupado procurando o que quer no arquivo e estamos à quase dois metros de distância. Começo a levantar devagar, não quero fazer barulho.

— Mas quando Dara completar o serviço, eu vou colocar minhas mãos em você e vou...

Ao passar entre a mesa e a estante acabo encostando na xícara, fazendo a porcelana se arrastar pela mesa. Seguro para que não faça mais barulho, mas é tarde demais. O homem começa se virar e eu não tenho escolha; jogo a caneca na sua direção e logo percebo que ela está cheia de água. De início eu não entendo exatamente o que acaba de acontecer. Eu não o acertei na cabeça como pretendia. Não dá para enxergar muito bem porque a luz começa a oscilar. Ele grita, mas duvido que alguém vá nos escutar. Eu não grito. Não consigo me mover. Nunca nem imaginei uma cena como essa que chega a ser engraçada. Ele vira para mim no mesmo momento em que sua mão fecha ao redor do puxador do arquivo e com seu braço molhado a resistência elétrica é ainda melhor. Ele vai morrer, isso já está bem claro. Duvido que seu sapato não tenha borracha no solado e seus músculos estão se contraindo e a terra a sua mão vai se fechar ainda mais ao redor do puxador. Eu que não vou tirar ele de lá, porque tem chances de que eu seja eletrocutada também. Sei lá o quanto de energia está passando nesse circuito, mas não importa. Uma hora seu coração vai parar então ele não vai machucar Barbara e nem a mim. Bem feito.


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Notas finais do capítulo

Oi, eu sei que tem hora que eu viajo legal nas coisas, mas espero que tenham gostado e se divertido. Até a próxima



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