HALE

 Ean tinha convocado uma reunião há algumas horas para discutir os detalhes do presente e as novas notícias dos corredores do castelo, havia uma sensação de que algo estava a ponto de dar errado e nenhum de nós podia contar com falhas ali.

— Então, o que aconteceu, Ean? – indagou o igualmente nervoso e apaixonado (ou abobado, encare com quiser) Fox.

— Bom, como sabem, convoquei esta reunião para saber como anda nosso progresso com o Henri, já que nosso informante não parece se preocupar em nos manter atualizados.

— Nossa, Ean, você é muito sutil, não consegui entender de quem você está falando. – respondi com a maior carga de ironia que pude. – Não há motivos para preocupações, o presente já foi arranjado e Henri está dentro, mas não creio que ele entenda que Kile está fora.

Fox e Leeland pareceram aliviados e felizes diante da minha declaração, no entanto, Ean permaneceu inabalável, algo na indiferença dele me dizia que havia problemas que desconhecíamos.

— Ean, o que houve? Por que não está comemorando? – perguntou Leeland.

— Alguém mais – disse o hesitante Ean – notou a estranha ausência de Kile nesses últimos dias?

De repente, uma epifania surgiu na minha cabeça, Kile tinha chegado atrasado durante o almoço e não apareceu para o jantar, não tinha sido visto no Salão dos Homens nos três últimos dias e a última notícia que tivemos dele é que tinha tido um encontro pessoal com a princesa nos jardins e outro nos aposentos reais com o próprio rei. Talvez tivéssemos nos precipitado em relação a ele.

— Você tem razão, caro colega, Kile anda meio sumido, devemos nos preocupar com ele também, uma parte crucial para o sucesso do nosso plano é o fracasso dele. – constatei eu, agora, um pouco preocupado, devo admitir.

— Caro colega? Há controvérsias... – murmurou Ean alto o suficiente para que só eu ouvisse.

— Você está sugerindo... Sabotá-lo? – questionou Leeland, um tanto receoso.

— Sim, estou, Leeland – eu disse.                            

— Mas...

— Mas o que, Leeland? Preza pela sua presença aqui? Então, escute-me com atenção. – disse eu -   Kile não parece ser uma ameaça direta agora, muito menos uma pessoa que lhe atingiria diretamente, mas eu posso lhe garantir que, mesmo parecendo fraco, ele tem uma grande possibilidade de crescer nas pesquisas se o plano dele der certo e, digo-lhe ainda mais, ele é o mais próximo do coração da princesa.

— Isso não é verdade! – protestou um agressivo Fox, vermelho como um pimentão, o sangue subindo a cabeça rapidamente.

— Ah, não? – ri em tom de deboche - Ele foi o primeiro a conhecer Eadlyn, bem antes de todos nós sequer pensarmos em participar disto, conhece ela desde a mais tenra infância, conhece seu passado como se fosse o dele próprio. Creio que a princesa também compartilha lembranças com ele. – os rostos de Leeland e Fox empalideceram, encarando a competição como nunca tinham feito – Vou contar um fato, meus caros, quanto mais forte Kile ficar menor é o nosso tempo aqui. Seu fracasso é necessário, mas só conseguiremos isso se todos trabalharmos juntos. O que me dizem?

Fox e Leeland se entreolharam, estavam aflitos e indecisos, divididos entre seus princípios e a vontade de permanecer na Seleção.

— Eu topo. – concordou Fox, depois de alguns poucos minutos de debate mental.

— Desnecessário dizer, mas estou dentro. – afirmou Ean.

Nós três olhamos para Leeland, esperando uma resposta.

— Tudo bem.

— Então, ao que me parece, temos trabalho a fazer.

—X-

EIKKO (ERICK)

Eu estava sentado em um sofá no canto do Salão dos Homens relendo um de meus livros favoritos enquanto Henri jogava sinuca com alguns dos outros selecionados, entre eles Ean e Hale. A suspeita proximidade dos dois unido a (falta de) presença de Kile nos últimos dias tinham sido suficientes para tirar-me o sono e eu estava exausto, mal conseguia me concentrar no livro.

— E aí, cara? Parece cansado.

— Kile? – falei surpreso pela presença dele, eu sequer tinha notado ele se aproximando – Onde você esteve? Estivemos preocupados!

— Calma, Erick! – disse ele em meio as risadas, atraindo alguns olhares hostis para ele. – Tive que resolver uns problemas relacionados à Eadlyn e ao rei Maxon.

— É, Kile, isso eu e todos os outros notamos. – diante da visível confusão dele, continuei – Eles estão achando que Eadlyn vai pedi-lo em casamento!

— Que?! Eles não poderiam estar mais enganados...

— Eu sei, Kile. Henri sabe, mas eles não, eles só sabem que em duas semanas Eadlyn só saiu com você e aí, do nada, você tem uma reunião com o rei Maxon! Eles acham que é para acertar os detalhes do casamento e que, em breve, Eadlyn vai entrar aqui e mandar todos eles embora!

— Mas não é o que parece nem um pouco, só tive um encontro com Eadlyn por mero acaso, e eu que procurei o rei Maxon para pedir ajuda em relação ao presente da Eadlyn!

De repente, sua expressão mudou, seu maxilar travou e os olhos se esbugalharam um pouco, como se tivesse dito algo que não deveria ter dito.

— O presente da Eadlyn? O que você vai dar para ela que precisa do rei Maxon?

Kile olhou para os lados, como que para ter certeza de que ninguém estava prestando muita atenção.

— Você tem que me prometer que isso fica entre nós, você não pode dizer isso nem para o Henri.

Assenti levemente e ele abriu o caderno que carregava, mostrando-me um desenho.

— Então você vai dar...Um desenho? Não acho que Eadlyn vá gostar, Kile, perdoe-me.

Kile deu uma gargalhada alta.

— É uma planta, Erick. Isso é só o projeto, eu vou dar um jardim para a Eadlyn, por isso que precisava falar com o rei Maxon, precisava da autorização dele para usar um dos cômodos vazios do palácio.

— Até que você consegue ser romântico quando quer, essa ideia é genial! E vai dar tempo?

— É por isso que estive tão sumido, estou tendo que cuidar da obra o tempo todo, mas se puder me encobrir e dizer que estou doente, eu agradeceria. Assim, eu poderia passar mais tempo cuidando do presente e aí daria tempo. Então, o que me diz?

— Pode contar comigo.