Sos, presente! escrita por beckyfiuza


Capítulo 10
Novos amigos


Notas iniciais do capítulo

GENTE, ME PERDOEM PELA DEMORA! É que esse capítulo ficou beeeem longo e eu ainda não tinha finalizado, me desculpem, mas aí está ele lind e maravilhoso para vocês!



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LEELAND

   Estava andando a esmo pelo castelo há algumas horas, remoendo a culpa que sentia por tudo que tinha feito. Depois de contar a Ean e Hale o que tinha visto, os dois tinham ido até a sala da abóbada e tinham destruído tudo. Rasgaram todas os sacos de adubo, viraram todas as flores, quebraram vasos e sujaram as paredes. Queria não ter visto a bagunça que eles fizeram, queria não ter visto o rosto desesperado de Kile vendo aquilo, queria não ter ouvido as risadas dos meus três “comparsas”, queria não ligar, queria não sentir essa culpa e já tentara de tudo para fazê-la passar.

   Tentei ler, mas não conseguia me concentrar. Tentei jogar sinuca, mas me lembrava que Kile era o melhor jogador de sinuca dos selecionados. Tentei andar a esmo pelo castelo e agora estava aqui, lado a lado com a culpa, minha única companheira.

   Até que ouvi um soluço, um delicado choro feminino discreto e desesperado, cuja dona – pasmem! – era ninguém menos que a princesa Eadlyn.

   - Alteza? – falo calmamente tentando chamar sua atenção sem assustá-la.

   Ela levanta a cabeça que estava enfiada nas mãos enquanto chorava e posso ver que seus olhos cor de amêndoa estão inchados e vermelhos tal qual o nariz.

   - Oh, olá, Leeland. – ela responde com a voz ainda embargada de choro. – Eu só... E-eu...

   Antes que ela conseguisse formular o resto da frase, as lágrimas voltam a correr e ela se levanta do banco onde estava na tentativa de ir embora, mas eu a paro.

   - Alteza, a senhorita visivelmente precisa de ajuda, gostaria de me contar o que aconteceu?

   Ela balança a cabeça indicando que não ainda chorando, o guarda mais próximo parece um pouco assustado, creio que ninguém nunca viu a princesa Eadlyn, símbolo de força, verter lágrimas daquela maneira. Viro-me para ele e peço que traga um copo d’água para princesa, de modo que ficamos sozinhos. Sento-a novamente no banco e passo um dos braços pelos ombros dela numa tentativa de consolá-la, um dejavu passa pela minha cabeça e lembro-me de quando fiz o mesmo no momento em que contei a minha mãe que nosso pai tinha nos deixado.

   Subitamente tenho vontade de chorar também.

   - Sabe... – começo de forma hesitante – Eu não sei o que aconteceu com você, mas, seja lá o que for, vai ficar um pouco melhor se você contar para alguém. Você não parece ter muita prática chorando.

   Ela para de chorar e ri um pouco.

   - E o senhor presume isso com base em que?

   - Bom, a senhorita é a princesa Eadlyn, a garota mais forte e independente do reino!

   Ela dá um suspiro triste e se cala, por um segundo, temo que vá voltar a chorar.

   - Às vezes, eu só queria ser uma garota comum e poder dar importância a problemas comuns, queria que ninguém se assustasse ao me ver chorando. A primeira coisa que o guarda perguntou ao me ver foi se minha mãe tinha tido outro ataque cardíaco.

   - Bom, a senhorita tem que admitir que é raro vê-la chorando, mas vamos brincar de faz de conta. – ela franze as sobrancelhas, contendo uma risada. – Finja que não é uma princesa, que eu não sou um selecionado. Finja que sou só um amigo seu tentando lhe consolar e me diga o que poderia ter causado essa torrente de lágrimas.

   - Parece uma boa ideia, bem, por onde começar? Ah, já sei! Então, a minha vida inteira a família da minha madrinha morou aqui e ela tem um filho com quem eu nunca me dei bem, nunca mesmo, nos detestávamos! E, um dia, meu pai decide que já está na hora de eu arranjar um marido e sorteamos 35 garotos para ficarem na minha casa e lutarem até a morte pelo meu coração, enquanto na realidade eu não queria me casar... Leeland, isso é ridículo, não dá para fingir que eu sou normal!

   - Pare de prestar atenção nesses pequenos detalhes e volte a contar a história.

   Ela dá um suspiro de frustração antes de continuar.

   - Tudo bem, entre estes 35 garotos está o filho da minha madrinha e mesmo com todas as desavenças recorro a ele, porque não me sinto confortável para decidir quem será meu marido e ele poderia me ajudar a enrolar a imprensa até que eu me sentisse pronta... Ah, creio que esqueci de mencionar que tudo isso estava sendo televisionado!

   - Então aquele beijo de vocês...

   - Foi forjado, sim, o que o desespero não faz conosco, não me orgulho disso e sinto muito por ter brincado com você e os outros desse jeito.

   A culpa voltou a apertar meu coração, eu tinha um segredo pior que estava escondendo dela e também estava brincando com os outros.

   - Não se preocupe, senhorita, eu compreendo.

   - Voltando a história, algo entre nós dois mudou e estou muito confusa, sinto como se fosse vomitar toda vez que vejo ele.E, para piorar, eu estava com... Com... – ela hesitou um pouco antes de continuar – Um... Selecionado e nós quase nos beijamos e o Kile nos viu e eu fugi. Antes que eu percebesse, estava chorando e agora estou aqui sem saber o que eu sinto e o que estou fazendo ou o que vou fazer.

   Ao mesmo tempo em que ela terminara a história, o guarda voltou com o copo d’água que eu havia pedido, eu o pego e o ofereço a princesa.

   - Bem, pode começar tomando um pouco de água e respirando fundo.

   Ela pega o copo e o leva a boca e me dirige um sorriso representando um agradecimento silencioso.

   - E, além disso, a senhorita podia tentar eliminar mais alguns candidatos para ajudá-la a tomar sua decisão.

   - Ora, mas quem eu vou eliminar, Leeland? Não conheço a maioria e os que conheço não me deram motivo algum para eliminá-los.

   - Na realidade, alteza, eles deram e talvez você não os conheça.

   - Como assim?

  Então, contei a ela, falei tudo o que me perturbava e relatei todo o plano do começo ao fim, inclusive a sabotagem do projeto de Kile. O rosto da princesa ficou pálido, os olhos esbugalharam e as sobrancelhas não paravam de subir.

   - Eu sinto muito, princesa, não queria ter feito nada disso, tenho vergonha de tudo que fiz, não sou digno de ser seu futuro esposo, até porque nós dois sabemos que seu coração não é e nunca será meu. Será consolo suficiente para mim que me perdoe e ainda me tenha como amigo.

   - Leeland, se você se arrepende tanto assim... – disse ela com uma certa rispidez na voz, estava brava comigo. – Por que fez isso?

   - A história é meio triste, tem certeza que quer ouvir? – ela assentiu levemente com a expressão ainda fechada, a princesa forte parecia ter se recuperado e estava de volta – Eu fiz por causa da minha mãe, senhorita, ela foi diagnosticada com uma doença rara e não consegue mais trabalhar, fiz tudo que podia para pagar o orçamento da casa, mas passamos a viver em condições deploráveis, quase sempre faltava comida e quando não faltava comida, eram os remédios que se tornavam escassos. – ela abriu a boca demonstrando sua surpresa e pegou minha mão docemente como quem entendia o que eu estava passando e me incentivando a continuar – Mas quando cheguei aqui, a situação em minha casa mudou drasticamente, os meus dois irmãos mais novos e minha mãe ficaram tão felizes por ter alguma coisa que falar que não a doença e a renda que nos dão aqui foi suficiente para eu comprar tudo o que eles precisavam e até consegui contratar uma enfermeira para minha mãe. Depois disso, eu decidi que não mediria esforços para ficar aqui e esqueci minha honra nesse processo, mas não vai se repetir, passarei fome, mas não serei mesquinho dessa maneira novamente.

   - Leeland, eu sinto tanto, eu sinto muito mesmo. O seu pai, ele... – ela deixou a frase no ar, como se perguntado se ele tinha vindo a óbito.

   - Ele não está morto, se é isso que está perguntando, pelo menos não fisicamente. Depois do diagnóstico da minha mãe, ele foi embora e só deu notícias quando eu já estava aqui, mandou-me uma carta pedindo dinheiro, nunca respondi.

   - Leeland, eu sinto muito, mas eu não posso mantê-lo na competição se mandar os outros embora. – balanço a cabeça tristemente, sabia que isso aconteceria, mas seria difícil voltar para a realidade – Mas talvez eu ainda posso ajudá-lo, você estudava antes de vir para cá, certo?

   - Sim, eu estudava psicologia, tranquei a faculdade para cuidar da minha mãe.

   - Venha para Angeles, traga sua mãe e seus irmãos, o abrigo vai abrir próxima semana, vamos precisar de psicólogos para as crianças, posso pedir ao meu pai que providencie isso e garantiríamos que sua mãe fosse tratada por uma enfermeira do palácio. Você ainda poderia estudar em uma faculdade aqui, o que acha?

   Pensei no meu sonho de trabalhar com crianças antes da minha mãe adoecer, pensei nos meus irmãos estudando nas melhores escolas do reino, imaginei minha mãe sendo tratada pela equipe médica do palácio e todo o acesso que teríamos a tratamentos modernos devido a isso.

   - Alteza, nada me faria mais feliz.

   - Que assim seja, agora se me permite, preciso resolver uma situação delicada com alguns selecionados. – então, ela levantou-se, mas antes de ir embora continuou. – E somos amigos agora, meus amigos me chamam só pelo primeiro nome, nada de me chamar de alteza por aí.


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Notas finais do capítulo

Gente, eu simplesmente amei essa amizade, o Leeland é tão meigo! :3 E aí, queridos e queridas? O que acharam?



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