Julgamento de uma Ilusão escrita por Mirai


Capítulo 8
Reencontro


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente, como vão?
Tá ficando complicado de postar toda semana. Semana que vem e na outra eu tenho provas, provavelmente não vou postar.
Mas, sem delongas, espero que gostem!



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Minhas férias passaram bem mais rápido do que o normal e, embora tentasse imaginar o porquê, eu não estava ansiosa pela volta às aulas, seria um dia normal como todos os outros. O dia antes tão aguardado por mim amanheceu frio, assim que vesti um casaco cinza que minha mãe comprou durante as férias, coloquei minha mochila nas costas e, antes de sair de casa, passei em frente a um espelho e observei meu reflexo nele.

Eu estava bem mais confiante assim.

Corri para o veículo com meus cabelos balançando com o vento e, assim que entrei, notei que ele estava bem mais cheio do que de costume. Precisei me sentar quase no fundo do ônibus, o que quebrava um pouco a rotina. Coloquei meus fones de ouvido, a conversa das outras pessoas não me interessava. Fechei os olhos por um instante e pensava no que me aguardaria esse ano. Desejava que tudo fosse tranquilo.

Abri os olhos, lentamente, e comecei a observar o trajeto, já estava perto de onde Vicente subia. Sorri discretamente enquanto lembrava de quando conversávamos no ônibus e do último dia de aula do ano anterior. Todas aquelas lembranças me faziam sentir viva.

Senti o ônibus parar. Já era o ponto de Vicente. Discretamente e com dificuldade, consegui vê-lo procurando algo ou alguém nos bancos da frente. O vi passar para o fundo do ônibus com um misto de decepção e confusão no rosto. Consegui observar que seu cabelo estava mais comprido do que de costume, as mãos com pequenos machucados. Ele parou por um momento e me fitou, confuso, me fazendo ficar um pouco triste.

Ele não estava me reconhecendo? Eu mudei tanto assim?

Sem forças para chamá-lo, eu virei o rosto para a janela. Nunca pensei que meu próprio amigo não conseguiria me reconhecer, mas estava determinada a falar com ele quando chegasse na escola. Parece que, só por isso, a viagem pareceu bem mais longa.

Desci do ônibus, tentando driblar a multidão e encontrar Vicente. A quadra estava cheia de alunos novos, não conseguia sequer pensar com clareza.

Em meio à minha busca, esbarrei em um rapaz. Dei meia volta para me desculpar e percebi que aquele rosto não me era tão desconhecido.

— D-Desculpa, eu não estava prestando atenção… — eu disse, tentando decifrar o porquê da sensação de nostalgia ao ver aquele rosto.

— Não precisa se desculpar, querida. — ele disse, com uma enorme doçura na voz, tirando uma mecha castanho-claro da frente de seus olhos cor de mel — A propósito, sabe onde fica a sala 1001? Eu realmente estou perdido por aqui, é uma escola tão grande!

— A gente não precisa se preocupar com sala antes da separação das turmas. Eles organizam aqui na quadra quem vai ficar em cada turma e um professor nos guia. — respondi, tentando expressar normalidade na voz. A pessoa com quem ele parecia… não podia ser.

— Ah, sim, obrigado. E antes que eu me esqueça, qual é seu nome?

Antes que eu pudesse responder, Vicente se aproximou.

— Bia? É você mesmo?! Eu não te reconheci no ônibus! — ele sorriu, escancaradamente — Eu fiquei com medo de você ter saído da escola, a gente quase não se falou… — Vicente foi interrompido pelo som do rapaz limpando a garganta.

— Quanta arrogância, não acha? Estava falando com ela primeiro, não sabe esperar? — o de cabelos claros se dirigiu ao de olhos bicolores com deboche — Então, Beatriz, certo? Meu nome… — ele tossiu levemente — … é Alexandre. É um prazer te conhecer, princesa.

Meu corpo congelou, ao mesmo tempo que meu rosto ferveu. Respondi um rápido “o prazer é todo meu” e ele se retirou, normalmente. Eu não acreditava que esse Alexandre era aquele Alexandre, mas suas características físicas correspondiam. Até seu jeito de falar era semelhante.

— Arrogante… — Vicente ajustou os óculos, levemente irritado — Você o conhece? Bia? Ei, seu rosto está um pouco vermelho, está com febre?

— Hã? — despertei de meus pensamentos — Ah, não, sim, eu não sei. Pode repetir a pergunta?

— Você o conhece? — ele repetiu a pergunta, mais devagar que o normal. Eu não sabia se mentir era a melhor opção, mas…

— Eu acho que eu já o vi na outra escola. — disfarcei.

— Você está bem?

— Estou sim, não precisa se preocupar! — forcei um sorriso — Mudando de assunto, que machucados são esses nas suas mãos?

— Esses? — ele apontou para um curativo em sua mão esquerda — Fiquei ajudando meu tio no trabalho, mas acabei me machucando. Não tive muito tempo para descansar nessas férias. Por outro lado, posso dizer que certa pessoa ficou bem melhor agora! — ele fez uma leve carícia em meus cabelos — Por que os cortou? São tão bonitos…

— Porque eles não eram assim! — ri de sua inocência — Quis mudar, só isso.

— Com certeza não é “só isso”… — ele disse, em um tom mais sério — Sabe, no final do ano… a Mariana mexeu tanto assim com você?

Engoli em seco. Era incrível a capacidade de Vicente de saber quando eu estou mentindo.

Mas ainda bem que ele não percebeu que eu menti em relação ao tal Alexandre.

— Mais ou menos, o problema não era bem ela, era eu mesma. — respondi, sendo sincera — Quando parei para prestar atenção, notei que eu já não era mais tão criança, não podia mais fingir que o tempo não estava passando. Eu só ia gerar problemas para mim e para todos que tentassem se aproximar…

— Eu… acho que entendo… — ele coçou a cabeça, parecia procurar uma maneira de se expressar — Mas também acho que você não vai precisar se preocupar tanto com ela esse ano.

Antes que perguntasse o porquê, pude ver Mariana falando com Alexandre. Ela apoiava sua mão nos ombros dele, que, por sua vez, deixava sua mão deslizar pelas costas até os quadris da garota. Tal cena me dava nojo.

Esse Alexandre não era aquele Alexandre, que havia dispensado meninas até mais bonitas que Mariana, é?

— É, eu acho que esse ano não vamos nos preocupar tanto com ela…

A voz do diretor ressoou pelas caixas de som da escola, pedindo para que todos se reunissem na quadra principal para separar as turmas. Respirei fundo e me dirigi, na companhia de Vicente, para o local pedido. Era ali que eu teria certeza se aquele rapaz vazio havia sido, algum dia, meu melhor amigo. A hipótese já me fazia estremecer.

Conversei com Vicente enquanto esperava a separação das outras turmas. Tentava controlar a ansiedade, mas era fácil perceber que eu estava preocupada. Quando, finalmente, iniciou-se a separação da turma 1001, pude ouvir seu nome completo.

Não restavam dúvidas agora. Era ele.

Logo após seu nome, o diretor disse o meu nome completo. Uma expressão de surpresa surgiu no rosto do rapaz. Nos entreolhamos por um momento.

Conseguiríamos conviver no presente com tal memória do passado?


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