Julgamento de uma Ilusão escrita por Mirai


Capítulo 28
Chance de recomeço


Notas iniciais do capítulo

Depois de 80 e poucos dias adivinha quem voltou?
Eu! Haha!
Desculpem o atraso e espero que gostem! Estamos na reta final!



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Abri os olhos vagarosamente, incomodada com a claridade do Sol que invadia levemente meu quarto, assim como o cheiro de café. Levantei-me, preocupada com o evento que teria nessa noite, com tudo que teria que fazer e o que não deveria também, mas logo tirei esses pensamentos de minha mente, afinal, não adiantaria de nada pensar nisso agora.

Dirigindo-me à cozinha, encontrei minha mãe sentada à mesa, em silêncio, analisando algo na tela de seu celular enquanto bebia uma xícara de café. Ela estava diferente, os cabelos mais curtos. Assim que me viu, sorriu e disse:

— Bom dia, dorminhoca. Você não ia cortar o cabelo? Mudou de ideia por quê?

— Bom dia, mãe. — respondi com um sorriso — Ia, mas o Matheus e a cabeleireira me fizeram mudar de ideia e deixar ele assim. Só vai dar trabalho para cuidar.

— É? Interessante… — ela bebeu um gole do café em sua xícara — O Matheus também te convenceu a comprar aquela roupa?

Céus, a roupa. Eu não tinha ideia de como era a roupa!

— Na verdade ele comprou pra mim, eu nem vi como era, não faço ideia do que seja e…

— Ele comprou pra você? — ela olhou, assustada — Mas o que aconteceu, filha?

Tentei explicar tudo o que havia acontecido de uma forma rápida para que aquele semblante de preocupação se evaporasse logo. Claro que demorou, afinal, estamos falando da minha mãe.

— Céus, vocês dois realmente são enrolados… — ela disse, respirando fundo — Mas até que foi uma boa decisão dele te levar nesse salão.

— Hã? Por quê? — questionei surpresa. Ela com certeza sabia alguma coisa e não queria me contar.

— Na hora você descobre. — ela riu — E sobre a roupa… não tem nada de mais, ele tem bom gosto. Agora se adianta, toma café e vamos arrumar os salgadinhos.

— A gente vai levar como da outra vez? — perguntei enquanto colocava um pouco de café para mim.

— Não, não vamos levar, nem fritar, ainda bem! — ela disse, sorrindo, e confesso que comemorei internamente: quanto menos trabalho melhor! — A mãe do Matheus disse que ia pedir para alguém vir buscar aqui, assim teremos tempo para nos arrumar.

Sem enrolar, terminei meu café da manhã para começar as arrumações. A verdade era que nem consegui comer muito, estava começando a ficar ansiosa demais para a cerimônia e queria deixar tudo o mais organizado possível para não ter imprevistos, afinal, a sensação que eu tinha não era apenas ansiedade: parecia que alguma coisa diferente ia acontecer lá.

Quando começamos a arrumar os salgadinhos, as horas passaram muito mais rápido e só tivemos tempo para almoçar. Quando finalmente terminamos, o alívio era grande, afinal, tínhamos cumprido com nossa palavra e isso era o que mais importava.

— Finalmente! — exclamei, sentando na cadeira mais próxima para descansar — Foi muita coisa!

— É… e olha que só arrumamos para a entrega, imagina se tivéssemos que fritar? — minha mãe respondeu, se sentando em uma cadeira ao lado da minha — Descansa uns cinco minutinhos e comece a se arrumar, eu entrego as coisas.

Assenti rapidamente, começando em seguida a me organizar. A hora estava chegando e eu poderia finalmente encarar o que estava me deixando nervosa há dias. 

… 

— Filha? Já terminou de se arrumar? — minha mãe perguntou, abrindo a porta do quarto e me encontrando de frente ao espelho, com a expressão mais indecifrável do mundo — O que foi?

— O que o Matheus tem na cabeça?! — eu exclamei, perplexa.

— E o que tem de errado na roupa? Se quiser reclamar não é comigo, é com ele.

— Mas isso não faz o estilo de roupa que eu vestiria! — disse, olhando mais uma vez para meu reflexo no espelho. Um vestido cor vinho que ia até os joelhos, de uma alça só e com detalhes brilhantes tanto na alça como na cintura. As sandálias eram prateadas, com um salto bem mais alto do que eu costumava usar. Provavelmente cairia.

— Não é uma coisa que você escolheu. — ela disse, por fim — E não sei porque não gostou: fica bonito em você. Por que não deixa de se preocupar com isso e tenta se divertir essa noite? Você deixou o Matheus contar com você, vai decepcioná-lo?

É, realmente eu tinha uma promessa a cumprir… mas não ia apenas por obrigação. Estava mais do que na hora de eu começar a encarar as coisas como algo além da “parte chata”.

Por que eu me privava tanto de ser como as outras pessoas? Eu nunca fiz nada errado para me castigar assim.

— Não vou decepcionar ninguém essa noite! — exclamei, andando levemente pelo quarto e, por incrível que pareça, com mais facilidade do que pensei — Olha, até que não é tão difícil!

— Viu? — minha mãe disse, com um sorriso discreto — Você tem que parar de ver só os lados ruins das situações. Queria eu poder ter tido uma oportunidade dessas na sua idade… mas vamos deixar pra lá! Chamei a Lorena, nossa vizinha, pra fazer sua maquiagem enquanto eu me arrumo, venha logo pois você não é a única cliente!

 

— Só mais uns detalhes… isso! — a moça finalmente disse, orgulhosa — Foi um dos meus melhores trabalhos, tira uma foto depois e me manda? Vou fazer a da sua mãe agora!

— Tudo bem! — eu assenti, surpresa com a felicidade da moça. Assim que ela saiu do quarto, corri para a frente do espelho para ver como havia ficado e não pude conter a surpresa.

Era como se eu fosse uma pessoa totalmente diferente!

Ao mesmo tempo que estar provavelmente irreconhecível para muitos fosse algo um tanto assustador, a ideia de passar desapercebida por conhecidos meus me parecia muito boa. Eu já tinha feito isso daquela vez que dei o azar de reencontrar o Alexandre… mas não a aproveitei direito. Mas as chances de encontrar muita gente conhecida eram poucas. Talvez só a Mariana, mas ela não é um grande problema. Se fosse há um tempo atrás, eu já estaria me acabando de medo dela.

Respirei fundo, olhando mais uma vez meu reflexo no espelho e sorri. Agora era só esperar minha mãe se arrumar, afinal, também era uma comemoração que significaria para ela: ela reveria as pessoas de seu círculo de amizades, incluindo a mãe de Matheus, que a ajudou durante bastante tempo.

Para a minha sorte não demorou muito: a vi sair do quarto junto da moça, que estava felicíssima com sua nova obra de arte, fazendo até mais perguntas do que havia feito para mim.

Minha mãe estava realmente linda.

Assim que a pagou, se despediu e a viu voltando pra casa, ela não pôde deixar de comentar:

— Essa moça realmente é falante, viu?

— Com certeza é! — eu concordei, rindo em seguida — Mas e agora, estamos prontas?

— Ansiosa pra ver ele? — ela me deu aquele sorriso travesso, me fazendo corar um pouco — Brincadeira, estamos prontas sim. Vou chamar um táxi agora.

Assenti prontamente e ela pegou o celular para fazer a chamada. Pra meu alívio, o carro chegou bem rápido. Peguei o presente que ia entregar a Matheus e outros pertences essenciais que estavam dentro de uma bolsa e entrei no carro junto de minha mãe. A viagem não era muito curta, mas, dessa vez, não ia passá-la com os fones de ouvido.

 

— Olha só como está cheio! — minha mãe exclamou assim que pagou o valor ao taxista e desceu do carro — Eu não deveria mais me surpreender com as festas que essa doida arruma, ainda mais quando são para o filho dela.

— Matheus é bem mais popular do que ele diz… — murmurei, observando a quantidade de gente entrando no local e reconhecendo uma delas — Aquele dali é ele?

— Você é namorada dele e não o reconhece? Céus, Beatriz, você é muito desnaturada! — minha mãe caiu na risada.

— Mãe! — eu exclamei, cruzando os braços e fingindo estar chateada, mas acabei rindo — Depois dessa eu acho que arrumo um óculos.

Fomos andando em direção à entrada, enquanto, para minha felicidade, comentávamos sobre outras coisas não relacionadas à festa, o que me fez relaxar um pouco. Assim que entramos, fomos recebidas por ninguém menos que Matheus.

— Estava esperando vocês. — ele disse e logo nos cumprimentou cordialmente.

— Mas e seus parentes, Matheus? Não vai os ver? — questionei, preocupada se ele não havia ficado muito tempo nos esperando, ainda que soubesse que não estava atrasada.

— Já os vi, os cumprimentei, falei da minha viagem, perguntaram por você… — ele comentou, despreocupado, me fazendo ficar um pouco tensa — Mas tenho certeza que vão te receber com carinho!

— Não imaginava que você já ia ter falado sobre mim pra eles… — comentei, um pouco surpresa.

— Até parece que fui eu que falei… — Matheus respondeu, desviando o olhar para uma figura conhecida nossa: a cabeleireira — E isso aí, é pra mim? — ele perguntou, olhando para o presente.

— É sim. — eu disse, entregando-o a ele — Eu espero que goste, de verdade. Mas só abre na viagem!

— Ah, não precisava… — o de cabelos escuros disse, tentando adivinhar do que se tratava o presente antes de abri-lo e logo riu — Desisto. Então, vamos entrar?

Assenti e, junto de minha mãe, fomos caminhando até a entrada. Para o meu azar, a mãe de Matheus chamou a minha e as duas se dirigiram à cozinha, conversando, me deixando a sós com ele. Senti vários olhares em nossa direção, me fazendo ficar um pouco nervosa.

— E agora, o que vamos fazer? — questionei, olhando para o de cabelos escuros.

— Vou te levar para conhecer minha família. — ele disse, com um belo sorriso.

— M-mas já? — questionei, aflita — E se não gostarem de mim?

Ele segurou firmemente a minha mão e aproximou o rosto do meu, sussurrando para mim:

— Não precisa ficar nervosa. É impossível alguém não gostar de uma garota perfeita como você.

Algo no tom de suas palavras fez meu rosto ficar corado, mas tentei deixar isso para lá antes que ficasse da cor do meu vestido.

 

Depois de conhecer os tios, os primos, os avós e outros parentes de Matheus, estava me sentindo um pouco cansada. Foram tantos rostos, nomes, elogios e perguntas como “quando vocês começaram a namorar?”, “como vocês se conheceram?”, entre outras, que deixaram minha cabeça rodando. Ele tinha uma família grande!

— Você deve estar cansada, não? — Matheus quebrou o silêncio, rindo — Minha avó realmente fez muitas perguntas. Ela quem ficava colocando na cabeça da minha mãe que eu tinha que arrumar alguém e, quando ficou sabendo que a gente estava namorando, ficou louca para te conhecer.

— Entendo… — respondi, imaginando o quão decepcionada ela ficaria se descobrisse que não se passa de uma mentira.

— Quer ficar no jardim para relaxar um pouco? Meus familiares não vão passar por lá, você vai poder ficar tranquila. — ele disse, provavelmente tentando me acalmar.

— Mas e você? — questionei, um pouco curiosa.

— Eu vou ver os outros convidados, cumprimentar todos, essas coisas! — ele respondeu, com uma leve risada — Assim que eu terminar, irei ao seu encontro.

— Certo. A gente se vê depois então!

Afastei-me em direção à saída enquanto ele fazia o trajeto contrário ao meu. Passando por algumas janelas, pude ouvir uma voz conhecida, o que me fez parar imediatamente.

— Cruzes, mãe! — ouvi-a dizer, em um tom reprovador e assustado — Tem hora que a senhora fala cada coisa horrorosa!

— Entenda uma coisa, filha, você não vai ser bonita pra sempre e, se continuar se comportando como uma garotinha boba, vai morrer sem nada, entendeu? — ouvi outra voz, parecia ser de uma mulher mais velha, a advertir. Não contive a curiosidade e me aproximei um pouco mais da janela para ver quem eram essas pessoas.

— Mas isso é um absurdo, mãe! — vi a garota de cabelos loiros dizer, totalmente desnorteada — Eu estou com ele porque gosto e não por interesse.

— Mariana, cala e me escuta! — a mulher disse, levantando a mão direita de forma ameaçadora, fazendo a garota se encolher um pouco, com medo — Que palhaçada é essa agora? Você prefere um fracassado e sem futuro como o Alessandro…

— Alexandre! — ela corrigiu a mais velha, que pareceu se conter para não agredir a filha.

— Não importa! — ela disse, em tom mais baixo, quase em um rosnado — Tá fazendo espetáculo pra quem? Acha que alguém vai acreditar na sua “história de amor?”

A loira ficou em silêncio, permitindo a mais velha continuar seu discurso. Já não tinha mais nenhum pingo de felicidade, nem ira no rosto da moça. Apenas arrependimento.

É, eu estava começando a sentir pena da Mariana.

— Enfim, você prefere um fracassado a alguém que pode te dar um futuro. Eu não te criei pra isso, Mariana. Você nem parece ser minha filha.

— Chega, mãe. — a garota respondeu, com total descontentamento — Você sempre me ensinou a “ir atrás das pessoas que você ama”, todas essas babaquices e agora diz que eu sou um fracasso?! — ela estendeu o indicador em direção ao rosto da mãe e o balançou violentamente — Você acha mesmo que eu vou ficar me humilhando para o Matheus só por dinheiro contando que ele vai ficar um ano fora e eu não suporto a cara dele e muito menos a da namoradinha que ele arrumou? Olha só o nível que eu vou ter que me rebaixar, tendo que ficar mandando “mensagenzinha pra namoradinho que viajou pra sei lá que lugar” — ela disse, fazendo aspas com os dedos e tentando imitar minha voz. Quase saí do meu esconderijo pra dar uns tapas nela — e ficando na carência? Fala sério, sua interesseira!

— Suficiente. — a mais velha, disse, por fim — Se pra você é interesse garantir seu futuro, sim, eu sou interesseira. Esperei seu pai por 3 anos para conseguir te dar todo esse luxo que você está acostumada e podendo me cuidar para continuar assim, com várias pessoas achando que sou sua irmã em vez de mãe. Tá vendo? Acha mesmo que eu teria tudo isso se ainda fosse uma mera balconista de mercado, seu projeto de vadia?!

— Então você nunca gostou dele!? Acho que sou um projeto de vadia mesmo, nunca chegarei no seu nível.

— Projeto de vadia e, ainda por cima, burra. — a mais velha disse, cruzando os braços. Aquilo estava tão interessante que nem conseguia pensar em sair dali — Se usasse mais essa coisa que chama de cérebro, saberia que podia enrolar o Matheus na viagem e ficar com o fracassado. Pra mim pouco importaria, desde o momento que vocês não fizessem nada na minha casa. Preciso ser mais direta? Agora aproveita que seu fracassado foi correr atrás de alguma empregada e que aquela garotinha “nojenta”, que é mil vezes mais esperta que você, não tá perto do Matheus e arruma alguma coisa com ele, é uma ordem dessa vez.

A mãe de Mariana começou a andar para a direção oposta à da filha. Virei-me para continuar meu trajeto, mas acabei esbarrando em alguém.

— Ah, me descul… — eu comecei a me redimir pelo esbarrão com um sorriso sem graça, mas quando reconheci a pessoa, ele desapareceu completamente.


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