Julgamento de uma Ilusão escrita por Mirai


Capítulo 26
Confidência


Notas iniciais do capítulo

EU SEI QUE DEMOREI, ME DESCULPEM ;-;
Nas notas finais tem uma explicação do que aconteceu durante todo esse tempo. Por agora, espero que gostem do capítulo ♥



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Como de costume, meus dias de férias estavam tomados pela monotonia. Sem a necessidade de fazer salgadinhos, cada dia era mais entediante que os outros: Karol enrolava para contar a tal novidade desde o meu aniversário. Vicente estava trabalhando durante a manhã e à tarde, assim que eu não o incomodava durante a noite para que ele descansasse. Só Matheus que, de vez em quando, ainda falava comigo pelas redes sociais, mas ele parecia estar preocupado com alguma coisa.

“Ei, tem algum compromisso amanhã? Preciso conversar com você.”, ele enviou, na manhã de uma sexta-feira.

“Não. Por que? Aconteceu alguma coisa errada?”, questionei, surpresa e, ao mesmo tempo, preocupada. Não era muito a cara de Matheus fazer esse tipo de pergunta.

Não chega a ser algo errado, mas preciso da sua ajuda urgente. A gente podia fazer um lanche amanhã, umas 17:00, ou apenas conversar. Eu vou te buscar.”

Por um momento, eu senti um certo receio. Olhei fixamente para a tela do celular, em dúvida do que responderia. Eu não queria ir, mas não podia simplesmente deixar alguém que já me ajudou na mão logo na primeira vez que ele precisa de mim.

“Pode ser, mas tenho que ver com minha mãe ainda, respondi, sem ideia de o que mais poderia dizer.

Levantei um pouco nervosa para procurar minha mãe. O que ela diria?

— Mãe… — hesitei um pouco antes de perguntar — Eu posso… ir fazer um lanche com o Matheus amanhã?

— Bom… — ela pareceu me analisar de cima a baixo, provavelmente percebendo que estava um pouco nervosa — Você quer ir?

— Hum… — pensei um pouco antes de continuar a falar — Querer eu não quero, mas ele parece precisar da minha ajuda. Não posso deixar ele na mão.

— Por mim tudo bem. Ele é um rapaz responsável, vai conseguir tomar conta de você.

— Tá, obrigada. — eu respondi, um pouco desanimada — Já vou mandar o endereço.

— Não precisa. — ela respondeu — Ele já tinha falado comigo, já passei.

Um pouco desconfiada, apenas enviei que havia conseguido permissão, mesmo que, lá no fundo, pareça que eu já tinha permissão antes mesmo de saber do que se tratava. O que será que eles estavam tramando?

Algumas horas antes do tal encontro, a única coisa que eu esperava era que ele me mandasse alguma desculpa esfarrapada e cancelasse. De minuto em minuto, eu checava todas as minhas redes sociais, procurando uma mensagem dele.

Mas, claro, o Universo não iria, de uma hora para a outra, ficar a meu favor.

Exatamente uma hora antes do combinado, comecei a me arrumar. Mesmo dando meu melhor para parecer apresentável, eu nunca conseguiria estar tão elegante como ele costumava sempre estar.

— Que droga… — murmurei comigo mesma, tentando conter minha raiva.

Olhei para meu reflexo no espelho do quarto. Tão simples, mas, ao mesmo tempo, tão eu.

— O que eu posso fazer se não sou das melhores, não é? — forcei uma risada e me preparei para sair de casa, já me deparando com um carro vermelho parando em frente ao meu portão. Dele, saiu um rapaz alto, de pele clara e cabelos escuros.

Matheus.

Ao contrário do que pensei, ele não pareceu incomodado com a minha roupa exageradamente simples, pelo contrário. Ele abriu a porta do carro para que eu entrasse e, ainda um tanto sem graça, apenas fiz o que ele queria.

Assim que chegamos a nosso destino, Matheus foi comprar nosso lanche enquanto eu garantia uma mesa para nós dois, perto da vidraça. Assim que ele voltou com uma porção de batata frita para cada um, não contive a curiosidade e questionei:

— Aconteceu alguma coisa errada?

— De errado, nada. — Matheus deu um leve sorriso — Só preciso de um favor seu. É uma longa história.

— Eu não me incomodo com o fato de ser uma “longa história”. — fiz aspas com os dedos — Desde que eu possa ser útil em algo…

— Então vamos desde o começo… você sabe, eu já trabalho há um tempo e, recentemente, minha mãe começou a me encher a paciência com as mesmas perguntas: “Quando você vai arrumar uma namorada?”, “Matheus, você já está ficando velho! Quando você vai arrumar alguém?” — ele disse, afinando a voz de um jeito cômico, me arrancando uma leve risadinha — E, olha, isso já está me incomodando muito, porque… lá no fundo, eu não quero nada disso agora.

— Acho que te entendo… — respondi, sendo bem honesta comigo mesma — Ultimamente, ainda que não seja alguém me cobrando diretamente como no seu caso, eu estou me sentindo bem pressionada a ter que escolher um daqueles dois garotos que já te falei antes.

— O Alexandre e o Vicente? — ele arqueou uma das sobrancelhas.

— É. E confesso que está sendo bem desagradável. De um lado, temos o Alex que, embora esteja andando bastante com a Mariana, sempre que fala comigo insinua que está com ciúmes. Do outro, temos o Vicente, que é o responsável por causar os tais ciúmes no Alex. O problema é que o Alexandre não passa de um galinha e o Vicente, de um sem personalidade. Foi incrível como ele mudou quando conheceu a Lara e como agora ele voltou a ser parecido como era antes… no fim das contas, eu nem sei mais quem ele é.

— E você fica lá no meio, se sentindo um brinquedo disputado por dois moleques remelentos? — ele questionou, um pouco alterado — Que horror!

— Quase isso. — respondi, rindo internamente de como ele chamou os dois de “moleques remelentos” — O que mais me magoa é que eu não consigo me imaginar sendo algo a mais para nenhum dos dois.

— E por que não? — Matheus perguntou, apoiando o rosto nas mãos.

— Porque… — eu comecei, mas logo perdi os argumentos.

— Não é isso que você quer agora para a sua vida, não é?

— É isso mesmo. Acho que eu perderia meu tempo com qualquer um dos dois… — respondi, com a cabeça levemente baixa, mas logo a levantei, um pouco envergonhada — Ah, desculpa! A gente veio por causa de você e eu fiquei falando da minha vida…

— Tudo bem. — ele deu um meio sorriso — Eu precisava saber um pouco de você, afinal, o que vou te pedir é bem… incomum.

— Como assim, Matheus? — eu não pude conter minha curiosidade.

— Bom… vamos dizer que eu… — ele coçou a cabeça, sem graça — preciso que você finja ser minha namorada por um tempo indeterminado.

O quê?

— É por isso que eu precisava saber o que você achava desses dois antes. Eu temia te atrapalhar com um deles, mas, ao mesmo tempo, você é a única a quem eu poderia pedir um favor desse.

— Eu acho que entendo… — eu disse, sem graça — Mas por que eu seria a “única”?

— Eu conversei com várias garotas antes de chegar até você, mas, lá no fundo, eu não conseguia sentir firmeza em nenhuma delas. — ele respirou fundo, parecendo chateado ao lembrar da situação que contaria — Nesse meio tempo, minha mãe me apresentou três garotas. Uma delas, em menos de 2 semanas, já se dizia “profundamente apaixonada por mim” e já planejava até nome dos nossos filhos. — ele revirou os olhos, com toda a razão — As outras duas só sabiam queimar uma a outra pra mim.

Olhei-o, curiosa, me perguntando a idade dessas criaturas.

— Era até engraçado, eu confesso. As duas eram amigas, presta atenção no nível de falsidade delas: — ele disse, controlando o riso — a primeira que conheci foi um amor comigo, até a amiga dela, que ela devia achar melhor que ela, entrou no “páreo”. — ele fez aspas com os dedos — Nem preciso contar o que aconteceu, né?

— A primeira começou a falar mal da amiga dela pra você?

— Mal é pouco! — ele exclamou, visivelmente chateado — Aí quando a outra descobriu, começou a jogar a outra no fogo também. Teve um dia que eu descobri até os podres de infância de uma delas… espero que você não encontre esse tipo de amiga, porque olha… que tenso.

— Eu imagino o quão desagradável deve ter sido pra você. — eu disse, percebendo que minha porção de batatas já estava perto do fim.

— Entre passar vergonha com uma desconhecida e fazer o trato com quem já conheço, você já sabe qual é a melhor opção. — ele comentou, por fim.

Desviei o olhar, visivelmente sem saber o que dizer, mas logo olhei fixamente em seus olhos de novo, tentando passar confiança.

— Mas é só um trato, não precisa se preocupar. E você não é obrigada a aceitar e…

— Não é isso! — exclamei, o interrompendo — A verdade é que… isso veio em boa hora. Eu já não sabia como fugir deles, não tinha nenhuma desculpa para mostrar para eles que não é isso que quero para mim. Eu aceito a proposta. — dei um sorriso tímido.

Por um momento, a expressão do rapaz de cabelos negros pareceu menos tensa.

— Muito, mas muito obrigado. — ele disse, em um quase sussurro — Eu não sabia o que faria se você recusasse.

— Tanto que você até falou com a minha mãe antes? — perguntei, de brincadeira.

— É. — ele deu uma leve risada — Eu lembro de ter falado “Se ela não quiser ir, por favor, tenta convencê-la, eu realmente preciso conversar com ela!”

Descontraímos e conversamos sobre outros assuntos, ainda que tivessem um pouco de relação com o objetivo daquele “encontro”. Matheus contou que, em breve, faria uma viagem e que esse era o motivo de sua procura por uma “namorada de mentira”: fazer sua mãe ficar tranquila durante esse longo tempo que ficaria fora. Eu, por outro lado, contei, a pedido dele, um pouco mais sobre Alexandre e Vicente, de como eles estavam se portando recentemente, da Lara e da Mariana.

— Ah, então quer dizer que o senhor Alex ainda não falou nada com você? — Matheus disse, batendo de leve os dedos na mesa — E que o senhor Vicente está trabalhando que nem boi ladrão e vocês não conversam pra ele descansar? Bom, posso dizer que você não tem do que reclamar.

— Por enquanto não, mas ano que vem deve unir as duas turmas e, serei sincera, ter que conviver com Mariana e Lara na mesma sala está me preocupando mais que Alexandre e Vicente.

— Mas a loira do banheiro não deve ficar na mesma turma que você, nem na mesma escola. Esqueceu da festa? Ela ainda tá pagando.

E não é que eu tinha esquecido?

— Pode ficar tranquila que isso eu confiro depois e te mando. — ele sorriu — Mas o que me preocupa mesmo é essa Lara estar perto de você. Aí junta ela e os dois moleques, mesmo que possivelmente não tenha a Mariana, eu garanto que ainda vai ser tenso.

É, ele tem razão. Mesmo que tenha uma possibilidade da Mariana não estudar comigo, ainda era horrível imaginar como seria lidar com a Lara todos os dias.

— Mas vamos trocar de assunto. — eu disse, com um meio sorriso — Falar dessas pessoas está me deixando deprimida.

Entendendo o meu lado, começamos a falar sobre como executaríamos o plano. Tiraríamos uma foto para colocar no perfil, trocaríamos o nome do contato no celular por algo mais “bonitinho”, começaríamos a agir como um “casal normal” para, assim, enganar quem precisava. Com tudo feito, nosso assunto mudou, tendo como foco principal nossos gostos. Coisas além das perturbações causadas por outras pessoas.

— Isso me faz lembrar… — ele disse, um pouco após ter iniciado uma conversa sobre nossos livros favoritos — Tenho que ver se o livro que eu quero para ler na viagem já chegou.

— Ah, tudo bem, eu vou lá com você.

A caminho da livraria do Shopping, percebi que recebíamos olhares de vários grupos de moças e rapazes. Mas isso não me acovardava.

Provavelmente notando a mesma coisa que eu, Matheus segurou levemente a minha mão, me deixando ainda mais relaxada. Era engraçado e, ao mesmo tempo, assustador pensar que uma pessoa atrai mais a atenção das outras estando acompanhada.

Quando chegamos em nosso destino, ele questionou a atendente pelo livro desejado, que apenas respondeu que só chegaria no próximo mês.

Mas espera, eu tenho esse livro!

Antes de dizer algo para Matheus, senti como se alguém estivesse nos vigiando com maior intensidade, o que me fez encolher levemente os ombros, me sentindo um pouco incomodada com essa “atenção” indesejada.

— Você está bem? — Matheus questionou, parecendo preocupado.

— É só uma sensação estranha de que eu tô sendo vigiada… entende? — disse, tentando disfarçar meu desconforto.

— Eu pensei que só eu estava sentindo. — ele comentou, parecendo procurar quem poderia ser o responsável por isso — Mas engraçado, não tô vendo ninguém conhecido por aqui.

Caminhamos lentamente até o carro para que ele pudesse me levar de volta para casa. Com nossos assuntos resolvidos, eu poderia dizer que meu dia encerrou aí, mas ainda tinha uma dúvida.

Será que realmente tinha alguém nos vigiando?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, mesmo tendo demorado tanto.
A verdade é que estudar de tarde tem me tirado muito tempo que eu tinha pra escrever. Fora a quantidade absurda de trabalhos que acumularam recentemente, me fazendo sentir nenhum tipo de disposição pra escrever... pra nada, na verdade.
Agora que estou de férias, pretendo acelerar mais a frequência de capítulos.
Obrigada por acompanharem e por terem paciência ♥



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