Julgamento de uma Ilusão escrita por Mirai


Capítulo 21
Brincadeira perigosa


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada por todas as visualizações! ♥



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Acordei disposta para começar uma nova semana, dessa vez com um novo olhar sobre as coisas. Fiz minha rotina pré-escolar e fui para o ônibus, escolhendo um banco mais para o fundo do veículo e pegando meu celular para me distrair um pouco durante a viagem. Estava ansiosa para a entrega das provas e na esperança de que, ao ver as notas, o falatório constante da festa da Mariana cessasse.

Fiquei observando a paisagem pela janela, mas, dessa vez, sem os fones de ouvido. Sentia o balanço do ônibus e ouvia os poucos ruídos das conversas ao redor de mim.

E caramba, pode até não parecer, mas eu estou no 2º ano!

Eu fiquei lembrando de alguns dias dos anos anteriores: dos dias que passei ao lado daquele Alexandre que era meu amigo, do dia que conheci a Karol e o Vicente, os últimos dias de aula… tantas coisas mudaram.

Tantas coisas mudaram e eu ainda nem conversei com o Alexandre sobre aquilo.

Dei um leve sorriso quando percebi que, novamente, eu estava começando a aceitar a companhia do de cabelos claros. No final das contas… será que ele foi culpado mesmo?

Meus pensamentos foram cortados pelo vibrar do meu celular em minhas mãos. Era uma mensagem de bom dia de Matheus e, antes que eu pudesse respondê-lo, eu recebi uma mensagem de voz do mesmo. Vasculhei minha mochila à procura do meu fone para que pudesse ouvir o que ele havia mandado e, quando finalmente o achei, senti o ônibus parar e um leve murmúrio tomar conta do veículo. Olhei pela janela: aquele lugar não me era desconhecido.

Ainda que quisesse saber o porquê da parada repentina, eu apenas coloquei os fones e ouvi o áudio de Matheus, que não era muito longo.

Avisa quando for o intervalo, o.k.? Preciso falar com você.”

Curiosa, apenas mandei um “O.k., a gente se fala!”. Antes de tirar os fones, eu ouvi uma espécie de suspiro que passava uma irritação tremenda. Estava preparada para dizer um “Qual o problema?” em alto e bom som, mas, assim que me virei, dei de cara com aqueles olhos.

Não era possível. Sem chance que esse garoto é o Vicente!

Aquela postura um pouco descuidada foi substituída por uma mais madura. Dessa vez, ele não tinha apenas a mochila em seu colo, mas também seu capacete. No mínimo, a moto que ele tanto gostava deu defeito. Pra ser sincera… bem-feito!

Virei-me apressadamente quando percebi que, dessa vez, quem estava me analisando era ele. Virei o rosto, incomodada com a presença dele. Tantos bancos vazios pelo ônibus e ele senta justamente ao meu lado?

Voltei a mexer no meu celular, mas estava quase impossível de me concentrar em alguma coisa. Tentei manter a calma e ignorar a presença de Vicente, mas eu não conseguia. Mais lembranças das vezes em que nós conversávamos vinham à tona, mas, dessa vez, as recordações das vezes em que ele ignorou totalmente a minha presença e, principalmente a do dia em que ele disse, na minha cara, que ia “pensar no meu caso”. Mas por que eu não consigo mais sentir ódio dele?

Olhei discretamente para ele, com medo de que ele percebesse que eu estava o encarando. Ele estava com o rosto apoiado no capacete e virado para a minha direção, mas mantinha o olhar fixo no chão. A franja estava caída sobre os olhos, mas, diferente de como era no passado, ela não era mais tão reta e ele não usava mais óculos. No final das contas, acho que, nem se a gente se reconciliasse, nós voltaríamos a ser como antes.

Nós mudamos muito durante esse tempo em que estivemos distantes. Talvez eu nem tenha mudado tanto quanto ele, que já trabalha, tem uma moto e, inclusive, compromisso.

Parece que eu fui realmente deixada para trás.

Dessa vez, quem respirou fundo foi eu, enquanto virava meu rosto em direção à janela novamente. Não é hora de ficar se lamentando pelo que já aconteceu.

O ônibus parou vagarosamente em frente à escola, fazendo com que muitos levantassem. Grata pela tortura ter acabado, eu esperei um pouco para que aquele indivíduo se levantasse do meu lado e descesse do ônibus, mas quando ele se pôs de pé, apenas fez um sinal para que eu passasse em sua frente. Não perdendo tempo, levantei-me para descer do ônibus, mas ouvi quase que um sussurro próximo de mim.

— Sabe… eu sinto sua falta…

Olhei para trás, incrédula. Era realmente assim que Vicente se sentia?

— Eu… — tentei responder, mas logo fui interrompida por outra voz.

Vicente! — a garota que sempre andava com o de olhos bicolores gritou, saindo de algum canto do ônibus. Eu nem tinha a visto entrar! — Vamos, ainda temos que tentar ligar para alguém ir consertar sua moto, não podemos perder tempo!

— Lara… — ele disse, cabisbaixo — Sem gritar, tá?

— Mas se eu não lembrar você esquece das coisas! — ela disse, irritada, mostrando a ele o capacete em suas mãos — Anda, Vicente, o que você tá esperando?

Sem acrescentar nenhuma palavra, ele apenas passou por mim. A tal Lara foi atrás dele, mas, antes de descer do veículo, me olhou fixamente e deu um sorriso irônico.

— Menina desagradável… — murmurei, antes de descer do ônibus. Essa, com certeza, foi uma das viagens mais bizarras que já tive.

Durante a aula eu consegui me focar nos estudos, mas estava determinada a fazer um pouco diferente no intervalo. Quando o sinal tocou, fui uma das primeiras a descer para a quadra e, quando cheguei ao meu destino, me sentei e tirei meu celular do bolso para avisar Matheus que já estava no intervalo.

Enquanto esperava uma resposta, olhava pela quadra, à procura do rapaz de olhos bicolores. Aquela atitude, tanto dele como da tal Lara, foi estranha e estava me deixando um pouco confusa.

— Bia? — ouvi uma voz conhecida me chamar — Você estava… me procurando?

Alexandre estava de pé ao meu lado, com o braço apoiado na parede. Ainda que ele estivesse com aquele sorriso galanteador estampado no rosto, seus olhos expressavam um misto de preocupação e tristeza.

— Claro que estava! — eu disse, sorrindo, ainda que não fosse verdade.

— S-Sério? — ele disse, surpreso, e logo murmurou — Eu ficaria feliz…

— Sério mesmo, Alex! — continuei mentindo e, em seguida, vi Vicente passando com a Lara. — Vem, senta do meu lado!

Alexandre parecia incrédulo, mas se sentou do meu lado em seguida. Falamos sobre algumas coisas banais no começo até que ouvi meu celular vibrar. Tirei-o do bolso e chequei a mensagem com cautela para que Alexandre não a lesse.

— Matheus? — Alex murmurou — Quem é?

— Ah, ele? — eu apontei — É um amigo meu. Por que?

— É que… — ele abriu a foto de perfil do rapaz de olhos cinza — … vocês parecem bem íntimos, né?

— Igual a você e a Mariana, né?

— Quê? Não, nada a ver! — ele respondeu, tentando se defender — Eu e a Mariana não somos nada disso.

— Mesmo? É o que parece, sabe? — eu ri e baguncei de leve seus cabelos.

— Nem tudo é o que parece, né, princesa? — ele disse, fazendo o mesmo comigo.

— Não faz isso!

Começamos a rir juntos e eu acabei apoiando a cabeça em seu ombro, tentando me recompor. Foi aí que notei que Vicente estava me encarando diretamente e, quando notou que eu o fitei por um momento, desviou o olhar e falou com a Lara.

Se vocês gostam de brincar comigo… eu brinco com todos vocês!

Por um instante, lembrei das palavras duras de Karol. Tenho quase certeza de que ela tinha razão.


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