Todo mundo quer ser legal
Sim, eles querem
Eu sou igual a eles
Mas eu não vou ser uma boba

Meghan Trainor - Close Yours Eyes

Eu acordei completamente disposta no dia seguinte, apesar das dores nos pés depois de tanto seguir Damon – para no final ele estar apenas me enrolando.

Astrid e Archie estavam embolados pela minha cama e me deixaram com apenas um pequeno espaço, talvez esse seja um dos motivos pelo qual eu levantei cedo, mas com certeza a disposição era por causa de Damon.

Eu me sentia em um desafio. Damon negou veemente que não me contrataria, mas eu estava realmente disposta a convence-lo, nem que tivesse que infernizar sua vida até lá.

Archie me olhou chateado quando percebeu que eu iria sair e choramingou sobre as patas no pé da porta. Astrid estava indiferente enquanto se lavava com a própria língua.

– Estou indo conquistar o pão de cada dia, Archie, daqui a pouco eu volto, prometo.

Beijei sua cabeça e saí de casa, trancando a porta atrás de mim. Comecei a caminhar até o restaurante, o que deu uma boa caminhada, o que não era difícil para mim, já que eu vivia andando por ai atrás de emprego. Sorri brilhantemente quando cheguei na porta, e entrei, vendo que hoje o movimento estava ainda maior que ontem. Me sentei na mesma mesa do dia anterior, estrategicamente posicionada para não tirar os olhos de Damon, que novamente estava concentrado trabalhando, se movendo como um rei pela cozinha.

– Elena, você de novo! – Stefan não parecia satisfeito ao me ver ali, ignorei isso e sorri para ele, colocando os cotovelos na mesa e fazendo minha melhor cara de santa.

– Olá, Stefan – Eu disse, vendo-o dar um sorriso forçado – Como vai?

– Bem, obrigado – Ele respondeu – O que vai querer?

– Como faz para se candidatar ao emprego de auxiliar de cozinha? Ou até de garçonete? – Perguntei educadamente, realmente interessada.

– O que? – Stefan me olhou um pouco chocado – Mas nós não estamos contratando.

– Olha, eu, como uma boa cliente, estou dizendo que vocês precisam de mais gente. Olha só para o movimento: cheio, mas não há pessoas suficientes atendendo. Vocês deveriam abrir vagas – Respondi piscando os olhos e falando com uma voz verdadeiramente sabia, o que, claro, eu não era.

– Elena...

– Stefan! – Uma voz feminina nos interrompeu, era uma garota da mesa ao lado – Nosso pedido está demorando.

– Está vendo? – Sorri vitoriosa – Você não concorda que o restaurante precisa de mais atendentes? – Indaguei para a moça, enquanto Stefan ainda nos observava.

– Sim, eu estava pensando nisso. Adoro esse lugar! – Ela disse. Mantive o sorriso vitorioso nos lábios para Stefan, ele bufou e saiu para a cozinha, parecendo irritado comigo. Ué, eu só disse a verdade!

Ele saiu, mas logo um garçom veio me atender, ele parecia afobado e me atendeu apressadamente. As coisas estavam tão corridas que o atendimento começava a cair de nível, Damon era tão orgulhoso assim para não notar?

Mais uma vez eu fiquei ali até tarde, observando como todos se dividiam em mil para atender e servir os clientes, Damon parecia estressado e até teve uma discussão com o cozinheiro negro, que o respondeu à altura, sem faltar o respeito.

– Elena, já vamos fechar – Stefan parecia cansando, ele falou com a voz baixa e alisando as têmporas.

– Quero falar com o chef, sabe, elogiar a comida – Respondi sorrindo.

– É, ele sabe que você adorou, não saiu daqui o dia inteiro – Ele disse, com um meio sorriso, mas ainda parecendo cansado.

– Calunia! Eu fui ao banheiro algumas vezes – Respondi de braços cruzados.

– Depois de tanta água para ter uma desculpa para ficar, com certeza você foi – Ele debochou – Mas sério, já vamos fechar.

– Onde está o Damon? – Perguntei novamente, vendo ele revirar os olhos.

– Elena, ele não...

– Tudo bem, Stefan, deixa comigo – Finalmente Damon se fez presente, parecendo tão cansado quanto o irmão. Stefan assentiu e saiu, mesmo não querendo. Damon deu um longo suspiro e se sentou na cadeira a minha frente – O que você quer?

– Se eu falar o que eu quero de verdade, você vai se assustar – Eu sorri, gesticulando com as mãos – Mas eu realmente amaria ser contratada aqui, eu sou muito eficiente, juro.

– Aham – Ele disse como se não acreditasse, o que eu não duvidava – Tudo bem, você tem uma semana para se mostrar útil, se for, eu te contrato – Damon parecia em um dilema: me contratar e sua vida virar uma bagunça, ou não me contratar e perder clientes, eu também escolheria a primeira opção.

– Ótima escolha, chef – Me levantei dando pulinhos de felicidade, eu fui abraça-lo em agradecimento, mas ele desviou e me olhou como se eu fosse estranha – Ok, nada de contato. Apareço amanhã às sete da manhã, você não vai se arrepender.

Eu sai do restaurando pulando de felicidade, quase nem sentindo o vento frio das seis da tarde. Olhei para trás quando eu estava no fim da rua, vendo Damon na frente do restaurante falando ao telefone e me encarando, ele balançou a cabeça e desviou o olhar, virando-se para fechar a porta do restaurante. Eu sorri animada, fazendo meu caminho para casa.

– Archie! – Gritei quando cheguei em casa – Sua mãe é incrível! – Fiz uma dancinha estranha na frente dele que começou a pular, se agitando com a minha animação – Eu consegui o emprego! Eu consegui! Consegui! Damon finalmente me contratou! Próximo passo: fazê-lo se apaixonar por mim! Isso ai!

Archie continuava a pular e a latir, completamente contagiado por mim. É, é bom ter um cachorro que não é nem um pouco normal, assim como eu, claro.

Fui até a cozinha e comecei a fazer algo para comer, acabei me animando e fiz uma panqueca, o que não deu muito certo, a massa grudou na frigideira e acabou queimando. A cozinha ficou enfestada com o cheiro de comida queimada e eu sabia que não demoraria para o sindico ligar para mim reclamando que eu era muito desastrada para morar sozinha. Joguei aquela panqueca no lixo e fiz outra, ela saiu melhor, mas não tanto assim. Recheei ela com patê e comi acompanhada de uma vitamina de banana. É, eu nunca disse que minha “dieta” era normal!

Coloquei a comida de Archie e Astrid e fui limpar a “sujeira” deles, se é que me entendem. Archie acompanhava cada movimento meu, enquanto Astrid brincava com uma bolinha de papel jogada pelo chão, ela dormia o dia inteiro, mas quando chegava a noite... ela virava a senhora destruição.

Tomei o banho mais feliz da minha vida, com direito a uma dancinha no chuveiro e uma cantaria desafinada. Archie latiu do outro lado da porta, fazendo-me rir. É, acho que ele não era o maior fã da minha voz.

Me enrolei na toalha e saí. Coloquei meu melhor pijama, um cheio de aviões, era bem infantil na verdade, Katherine dizia que eu tinha que joga-lo fora, mas ela não entendia o quanto eu amava aquele pijama.

– Astrid, você acredita na mamãe, né? – Eu a peguei no colo, encarando aqueles enormes olhinhos claros e arrogantes – Você acha que eu consigo? Quero dizer... claro que consigo, bobeira, mas... eu adoraria uma segunda opinião – Em resposta, ela miou e se agitou, querendo sair do meu “colo” – OK, ok, pode descer. Mas eu sei que você concorda.

A coloquei no chão e sorri orgulhosa, indo me deitar feliz da vida.

Admito que foi muito difícil dormir naquela noite, Archie resmungava ao meu lado toda vez que eu me mexia, acordando-o de seu sono bom, enquanto Astrid fazia barulhos em sua aventura noturno com os olhos esbugalhados e toda animada.

É, a noite realmente foi difícil e cheia de acontecimentos!