Nostro Impero escrita por Yas


Capítulo 32
Capítulo 32


Notas iniciais do capítulo

Um dia? Uau, estou ficando boa, não é?
É que eu estou tão abalada com os acontecimentos, que tive que escrever.
Mas não vou enrolar muito aqui.
Só digo uma coisa: preparem os lenços porque tá triste, eu chorei muuuuuito enquanto escrevia.
Boa leitura!



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Amar pode curar
Amar pode remendar sua alma
E é a única coisa que eu sei
Eu juro que ficará mais fácil
Lembre-se disso em cada pedaço seu
E é a única coisa que levamos conosco quando morremos

Photograph - Ed Sheeran

Capítulo 32

As mãos de Elena tremiam quando ela segurou a maçaneta da porta e entrou na pequena sala hospitalar. O cheiro de remédio e o branco por todo o lado a estavam deixando tonta, ainda mais por saber o motivo de estar ali.

Seus olhos rodaram até encontrar a pequena mesa de metal, sobre ela o cachorro de porte médio e pelo marrom. Elena se aproximou, seu coração pesando, não conseguia mais conter as lágrimas que agora caiam livremente, limpando a cara borrada da maquiagem. Ela se debruçou sobre o corpo fraco, notando que ele lhe encarava. Archie possuía o olhar mais descansado e amável de toda sua longa vida.

— Oh, Archie – Ela suspirou, a voz tremendo em um soluço. Acariciou o pelo curto, deixando a mão pousar sobre sua cabeça. Archie choramingou, abrindo a boca, mas nenhum som saiu dela. Os olhos escuros da dona caíram sobre a intravenosa em sua pata, onde o remédio mortal caia lentamente, em gotas fracas. Notou, ao olha-lo melhor após limpar as vistas embaçadas, que ele lutava para se manter acordado, lutava com suas ultimas forças – Está tudo bem, Archie, não se preocupe mais conosco. Você foi incrível, o melhor cachorro, o melhor amigo, o melhor guardião. Nenhum outro seria tão maravilhoso como você foi. Estamos bem, Archie, vamos ficar bem, você cumpriu sua missão, meu menino. Vá em paz, e nunca se esqueça de nós!

Enquanto falava, a expressão de Archie foi ficando cada vez mais descansada, como se sua dor cessasse, até que, dois minutos depois, ele fechou os olhos, e o coração parou.

Elena arfou, jogando-se sobre o corpo agora já mais sem vida. Seu choro foi desesperado, aterrorizado. Tantas coisas passavam em sua mente: como viveria seu ele? Como diria para as crianças? Como seria dali pra frente?

O choro e os gritos de saudade podiam ser ouvidos do corredor. Todos que passavam por ali sabiam o que tinha acontecido: alguém havia perdido um grande companheiro.

xXx

Foi estranho explicar para as duas pequenas grandes almas onde estava Archie. O olhar preocupado, a postura hesitante, a ansiedade nas palavras... Archie era o guardião daquela família, parecia errado ter que dar a noticia de que ele não estaria mais os guardando. Usar as frases ele se foi ou Archie está em um lugar melhor parecia distante do que ele realmente merecia.

— Onde está o Archie, mamãe? – Dante perguntou, a voz tremendo, e os olhos arregalados como se ele quisesse chorar. Elena engoliu em seco, segurando o próprio choro mais uma vez.

— Vem cá, crianças, sentem aqui – Ela os colocou no sofá e sentou-se no chão diante deles – O Archie já era um cachorro velho, vocês sabem, não é? Ele já tinha quinze anos, muitos cachorros não vivem nem isso. Mas o Archie... ele é um guerreiro. Mas ele... ele tinha uma doença nos rins e nós não sabíamos, ele estava sofrendo muito e...

— O Archie... morreu? – Eleanor fez um beicinho, ele tremeu ligeiramente até se transformar em um choro baixinho e desesperado, escondendo o rosto nas mãos. Elena não se aguentou ao vê-la daquela forma e deixou as lágrimas virem novamente.

— Eu sinto muito, querida – Elena abraçou o corpinho pequeno de sua menina, sentindo-a tremer em seus braços – Dante? – Ela o encarou.

Dante possuía o olhar vago, as mãos fechadas em punho, a postura reta. Elena se preocupou, segurando a mão pequena na sua. Tendo novamente seu olhar nela, Elena o puxou para o abraço, acariciando sua cabeça enquanto via as próprias lágrimas caírem nos cabelos negros. Mas Dante não tremeu, não chorou, ela não viu nenhuma reação dele.

Elena olhou o relógio horas mais tarde. Oito da noite. O jardim estava com algumas velas depositadas, para iluminar o local além da luz da sacada. Embaixo de uma árvore – a preferida de Archie –, a terra estava marcada, mostrando que ali havia um buraco, agora tampado por pedras depositadas uma em cima da outra. As crianças a olhavam de perto. Dante segurava a irmão que ainda chorava protetoramente nos braços, e acariciava os cabelos longos.

Elena respirou fundo, se levantou e bateu as mãos na roupa, tirando a poeira.

Minutos antes, Eleanor havia depositado junto ao corpinho do animal seu fiel companheiro: o coelho de pelúcia remendado várias vezes por Elena, era o preferido de Archie quando ele queria algo para morder e rasgar. Eleanor se lembrava de várias vezes que brigou com ele sobre isso, agora se lamentava.

Já Dante havia colocado um CD de música infantil. Sempre que o cd tocava, Archie se animava para brincar e os dois dançavam juntos, a dança sempre acabava com os dois no chão, brincando de lutinha. Era rotina. E Dante sentia seu coração apertar por saber que não seria mais.

O presente de Elena havia sido uma carta escrita a mão com uma letra arrastada e tremida. Havia escrito enquanto chorava, lembrando-se de muitos momentos com o fiel amigo.

Era isso. Agora aquela família possuía apenas três integrantes.

Ninguém disse nada, cada um lidava com a sua dor silenciosamente. Eles entraram em casa e se sentaram no sofá. Elena olhou para os filhos. Ambos estavam quietos lado a lado e de mãos dadas, encarando um ponto na parede em sua frente. A mãe imaginava como estava a cabecinha infantil de cada um. Não era fácil para ela, por quinze anos Archie foi seu filho e de repente, ele não estava mais ali, para eles era ainda mais difícil.

Ela suspirou longamente.

Elena se levantou e se sentou no meio do filho, observando o olhar confuso deles. Sorriu.

— Eu vou contar uma história para vocês – Ela disse.

— Não quero ouvir histórias – Dante resmungou.

— Era uma vez, uma garota solitária que havia acabado de deixar a casa dos pais. Ela estava confusa, não tinha ninguém para conversar, não tinha objetivo algum. Até que um dia chuvoso, quando voltava para o apartamento pequeno e frio em que morava, ela ouviu além do barulho da chuva um choro fraquinho. Ela seguiu o som até um beco e no meio de várias caixas de papelão, encontrou um bolinho, que mais tarde descobriu ser um filhote de cachorro. Ele era magrinho, medroso e... lindo. Tinha grandes olhos pretos e um pelo escuro e sujo. A garota não teve coragem de deixa-lo ali, a mercê do destino. O segurou nos braços, não se importando se sujaria a roupa e o levou para casa. O alimentou e o banhou, descobrindo que o pelo dele era marrom e brilhante.

— Quem era, mamãe? – Eleanor perguntou, atenta na história.

— Ela tinha dito para si mesma que seria apenas um lar temporário, cuidaria dele até o ver saudável e depois o daria para adoção, afinal ela não tinha como cuidar de um animal, não cuidava nem dela mesmo direito. Mas conforme o tempo foi passando, o cachorro se tornou um grande companheiro e amigo. Ele sempre estava com ela, a ouvia, a acalentava, até dava conselhos, acreditam? Seu latido era forte e ele era animado, não tinha tempo ruim. O cachorro cuidava dela como ninguém jamais fez. Em alguns meses, eles se tornaram melhores amigos, e a garota logo soube que nada os fariam se separar. Anos mais tarde, quando ela decidiu tomar um rumo na vida, ele a seguiu, meio velhinho, mas sem nunca abandonar a promessa de que cuidaria dela para sempre. Quando ela descobriu que ia ser mãe, o cachorro estava ao seu lado e ao mesmo tempo que comemorou com ela, se preocupou, encaixando a cabeça em suas pernas e a encarando com aqueles grandes olhos, como se lhe dissesse ei, vai ficar tudo bem. Com o parto próximo e estando sozinha, a garota largou os estudos para dedicar-se apenas a si mesma. O cachorro estava sempre com ela, ele pegava tudo para ele como se fosse adestrado a vida toda para isso. Quando o momento do parto chegou, ele pegou o telefone e levou até ela. Seguiu a ambulância o mais rápido que pôde, e se manteve na porta do hospital pelos próximos dias, não deixando que ninguém o tirasse dali.

— E ele não ficou com fome? – Dante perguntou, achando aquela história um pouco absurda. Pensou que se fosse Archie, talvez ele conseguiria, mas nenhum outro cachorro seria capaz disso. Foi então que sua mente deu um clique, e então ele sabia quem era o cachorro e quem era a garota.

— Oh, ele ficou morrendo de fome. Quando a garota saiu carregando dois bebes e o viu ali, se surpreendeu, mas soube que era o instinto de nunca a deixar sozinha. Os primeiros dias foram os mais difíceis, ela não sabia como cuidar de dois bebes, não sabia como administrar vinte e quatro horas para duas crianças. O cachorro foi essencial, sem ele, ela não teria conseguido. Quando ela precisava sair, ele ficava as olhando. Quando ela estava longe e algo acontecia, seu latido forte a avisava. O cachorro passou de seu melhor amigo, para o guardião daquelas duas crianças que haviam parado com uma mãe inexperiente. Com o tempo, as coisas foram se ajeitando e o cachorro se adaptando. Ele brincava, cuidava, dava até bronca, acreditam? Foi o melhor professor que elas tiveram e o melhor amigo também. Ele foi o melhor até o fim.

— Até o fim? Tipo o Archie? – Eleanor comentou amuada, agarrada a mãe, sentindo as lágrimas voltarem. A história era linda e seu coração romântico misturado a toda situação, não aguentava aquilo.

— O cachorro ficou doente, mas nunca demonstrou. Ele se preocupava demais com a família e não queria os vendo sofrer, doía nele imaginar suas duas crianças sofrendo. Tudo que ele sempre prezou, foi o sorriso e alegria das crianças. Ele se foi depois de muitos anos sendo o melhor em tudo, o melhor amigo, o melhor guardião, o melhor cachorro para todos aqueles que tiveram a honra de conhece-lo.

— Eleanor, é o Archie na história – Dante sussurrou para a irmã, mas sua expressão dizia que ela já havia percebido.

Elena se levantou e se sentou diante deles no chão. Segurou uma mão de cada um e as apertou nas suas, sorrindo.

— Está tudo bem sofrer pelo Archie, meu amor. Ele é da família, o grande irmão mais velho de vocês, está tudo bem chorar e está tudo bem dizer que o ama. Ele não vai voltar, mas as memórias nunca nos deixarão. Dante, meu querido, não precisa segurar as lágrimas quando você quer chorar. Segurar os sentimentos e trancá-los apenas nos faz mal, as lágrimas não te fazem menos homem, te fortalecem como ser humano. Entende isso?

Dante assentiu, se jogando nos braços da mãe de repente. Elena arfou pelo susto, mas o apertou quando sentiu as lágrimas molharem sua blusa. O corpo pequeno tremia pelo choro desesperado, logo Eleanor se aproximou e a pequena família aproveitou o momento de luto por aquele ente querido.

Querido Archie,

Faz tempo que tento te dizer, mas acho que com a correria do tempo, não disse.

Você sabe o quanto foi essencial em minha vida, o quanto eu te amei e o quanto sou grata, minha vontade era repetir isso até o fim dos meus dias, com você ao meu lado, seu focinho gelado encostado na minha bochecha. Infelizmente, a idade chegou para você e quem se despede sou eu.

Te ver sofrendo era a ultima coisa que eu queria, você sempre foi tão incrível e cheio de luz, uma alma tão boa assim não merece nenhuma dor.

Sinto muito se algum momento não demonstrei meu amor, se eu gritei demais, se eu dei broncas demais... tenho certeza que você me perdoa, não é, Archie? Porque eu te perdoo por todas os sapatos comidos, os brinquedos caros destruídos e as meias enterradas. Hoje eu sei que cada memória valeu a pena.

Você foi e sempre será meu pequeno e mais velho filho, aquele que me ensinou a amar sem barreiras, que cuidou de mim quando eu me senti sozinha e que nunca me abandonou.

Sou grata até o fim da minha vida, não por qualquer coisa, mas por ter tido a honra de ser sua dona, sua melhor amiga – acho que perco para os seus irmãozinhos.

Vá em paz, meu querido. Viveremos com as boas lembranças do seu jeito alegre. Viveremos sua alegria com prazer, sem nunca esquecer dos seus ensinamentos.

Com amor,

Sua eterna fã,

Elena.


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Notas finais do capítulo

E então? Estão sofrendo como eu?
Eu me sinto uma pessoa horrível por ter feito isso, meu coração doí como se eu também tivesse perdido alguém da família, porque é assim que eu me sinto com os meus personagens. Nunca antes eu havia criado um animal tão presente na história, Archie foi quase um protagonista e com certeza eu nunca me esquecerei deles.
Pra quem perguntou do Damon, é provável que no próximos os dois se encontrem.
Beijos.



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