Se você não quer ser deixado para trás, faça conexões
Diga suas ambições em voz alta
Esvazie os ecos no silêncio
O que você acredita ser valioso é, na verdade, sem importância
Apagar eu mesmo significa uma nova vida

NU'EST - Big Deal

Eu corria pelas ruas cheias, tentando chegar no horário no tal restaurante. Era o terceiro reencontro da minha turma depois de oito anos após sair do ensino médio. Me perguntava porque o lugar tinha que ser tão longe. Não poderiam escolher um lugar mais perto do meu prédio? Bufei indignada, jogando os cabelos para trás e ajeitando a alça da bolsa no ombro, meus pés sobre os saltos protestavam pela corrida.

Suspirei de alivio quando finalmente avistei o restaurante, puxando ar violentamente para os meus pulmões. Depois de tanto correr, eu precisava de água.

O restaurante possuía uma fachada um pouco antiga, toda de madeira. Na frente possuía uma lousa com os pratos principais do dia, ao lado uma escadinha de quadro degraus e finalmente a entrada de porta dupla. No alto, o nome “Nostro Impero, ristorante italiano” chamava a atenção.

Eu, uma pessoa que cresceu em restaurantes por meus pais serem chefs famosos, gostei bastante da entrada ­– eu entendia bem do assunto, por incrível que pareça.

Com um sorriso no rosto eu entrei. O interior não era muito diferente. Tudo era rustico e simples, mas incrivelmente bonito e confortável. Mas como sempre, eu não tive muito tempo para observar além ao ouvir meu nome ser chamado.

– Elena Gilbert! – Suspirei, me preparando para o pior ao ouvir a voz de Kol Mikaelson, meu... bom, ex-namorado – Quando tempo!

Sem outra opção, abracei Kol de volta, sentindo-o rodear os braços na minha cintura. Quando pareceu que ele estava demorando muito ali, bati em suas costas para que ele me soltasse.

– Me desculpe, é que eu estava com saudade – Ele disse, piscando um olho. Quase revirei os olhos, mas depois de oito anos, eu havia ficado um pouquinho mais educada.

– Claro – Sorri forçado.

Não estava todo mundo da turma, claro, eram apenas aquelas pessoas que costumavam serem os populares. Eu com certeza me encaixava nessa categoria, mas diferente do que você pode pensar, não era porque eu era bonita ou líder de torcida. O ensino médio era uma época da minha vida que eu gostaria de esquecer.

– Elena, querida, como é bom te reencontrar – Rebekah, aquela vaca. Rebekah sempre foi a mais popular da escola, a rainha, quem ditava as regras. Ela possuía mais bunda do que cérebro, claro, mas naquele mundo, era isso que contava.

– Verdade, eu estava morta de saudade – Eu disse completamente irônica, retribuindo o abraço falso que ela me deu. Rebekah me odiava com todas suas forças!

Rebekah não mudou muito. Seus cabelos estavam maiores e ainda mais loiros, ela continuava com o corpo de miss e os olhos azuis brilhantes que sempre pareciam estarem em busca de algum desafio.

Na mesa estavam, respectivamente: Rebekah, Hayley, Tyler, Matt, Kol, Vicki, Bonnie e Caroline. Na outra extremidade da mesa estava ninguém mais que minha irmã gêmea, Katherine. Por que diabos ela veio?

Sentei-me ao seu lado após cumprimentar todos. De todos eles, os únicos com quem eu mantinha contato eram Bonnie e Caroline, que sempre foram minhas amigas. Na verdade, Bonnie era também minha cunhada. Ela se casou há um ano com o meu irmão mais novo.

– Então Katherine, o que você faz? – Perguntou Hayley, que desde a escola sempre foi... amiga, eu acho, de Rebekah.

– Design de moda – Katherine, bebendo um pequeno gole da grappa. Ela me encarou e só pelo seu olhar eu soube que ela estava odiando aquilo – E você, Hayley?

– Me formei em engenharia – Arregalei os olhos e quase deixei meu queixo cair. Hayley era boa na matemática? – Elena, você deve ter feito uma grande faculdade, não é? Como sua irmã.

Vadia, nojenta, idiota! Minha vontade era agarrar os lindos cabelos escuros de Hayley e os puxar até bater sua cabeça no chão, mas como já disse, minha educação melhorou muito. Eu sorri para ela, roubando a taça da mão da minha irmã e bebendo um gole daquela bebida que desceu queimando por minha garganta. Sério, como Katherine conseguia tomar aquilo antes do almoço?

– Vocês já pediram o almoço? Eu estou realmente com fome – Pigarreei, tentando mudar de assunto.

– Já, pedi Tortellini de Bolonha para você – Katherine respondeu, a voz passiva como sempre – A Elena ainda não se especializou, ela estava...

– Viajando – Completei sua frase com um sorriso orgulhoso. Uma das coisas que eu mais amava na minha vida era minha relação com a minha irmã gêmea.

– Viajando é? – Tyler sorriu, mordendo uma bolacha – Eu juro que vi você esses dias no restaurante do seus pais – Desde quando ele frequentava o restaurante dos meus pais, pelo amor de Deus?

– Acho que você viu a Katherine, Tyler – Bonnie interviu – Mas vocês parecem tão interessados na vida das duas, que nem falaram sobre si mesmos.

– Eu me tornei advogado – Tyler respondeu, orgulhoso de si mesmo – Você sabe que sempre foi meu sonho, gatinha – Ele piscou um olho para Bonnie que revirou os olhos, erguendo a mão e mostrando a aliança de casada.

– Ah meu Deus, você casou, Bonnie? – Vicki praticamente deixou o queixo cair em surpresa, os outros não estavam muito diferentes. Caroline soltou uma risadinha baixa ao seu lado, ajeitando o cabelo loiro.

– Casei com o irmão da Katherine e Elena, Jeremy – Bonnie explicou.

– Eu me lembro dele – Disse Matt, franzindo o cenho – Ele não é mais novo?

– Dois anos mais novo – Disse Bonnie, não se abalando – Mas dois anos não é muito tempo.

– Mesmo assim, é estranho – Vicki fez uma careta.

Eu estava pronta para defender meu irmão e minha cunhada/amiga quando o garçom chegou, trazendo nossos pratos.

– Me desculpem pela demora – Ele sorriu simpático.

Só então percebi que o restaurante estava vazio, havia apenas nosso grupo. Virei-me para Katherine e sussurrei em seu ouvido:

– Reservaram o restaurante inteiro?

– Rebekah e Tyler queriam se amostrar, provavelmente – Ela respondeu também em meu ouvido.

Meus olhos se voltaram para o garçom. Ele possuía olhos verdes e cabelos castanhos, notei que ele era alto e forte, e que Katherine não tirava seus olhos dele. Oi? Sorri maliciosa para minha irmã alguns segundos mais velha.

– E então, Elena – Kol tentou usar um tom sensual em sua voz, mas só tentou mesmo – Você namora?

Revirei os olhos, batendo o garfo no prato.

– Kol – Fechei os olhos, tentando me controlar – Se passou oito anos. Oito anos! – O encarei – Desiste! Eu não vou voltar para você.

Em oito anos, Kol já havia tentado várias abordagens comigo. Mesmo depois de tanto tempo, ele não se tocava que eu não queria nada com ele.

Matt riu baixo, enfiando o garfo na boca, olhando de soslaio para o antigo amigo.

Acho que depois de tudo isso deu para notar que ninguém aqui era amigo de ninguém. Rebekah e Hayley sempre foram as cobras, Bonnie era a que proporcionava a paz nas brigas, Caroline era a que atiçava, Katherine sempre foi foda-se para tudo e se enfiava nos livros quando havia alguma briga. Eu? Eu batia mesmo, talvez seja por isso que Rebekah não gostava muito de mim e sempre acabava de excluindo de tudo, ou então porque seu irmão era completamente apaixonado por mim naquela época. Sim, para piorar a merda toda, Rebekah e Kol eram irmãos. Matt era bem calmo, como Bonnie, e Tyler sempre foi muito metido para sequer ganhar minha atenção. Vicki apenas participava disso tudo por ser irmã de Matt, ela estudava com a gente por ser um ano adiantada na escola.

Enfim, era tudo muito chato, um enfiando a faca no outro, mas mesmo que minha vontade fosse enfiar a faca na Rebekah, eu nunca fiz, mas ela já perdeu muitos fios de cabelos pelas minhas mãos. Essas sim eram boas lembranças.

Enquanto comíamos, notei os olhares de Caroline para Tyler. Acho que não mencionei, mas no segundo ano do colegial eles namoraram e Caroline acabou saindo machucada porque Tyler era um tremendo galinha.

– Caroline – Tyler a chamou. Vi Caroline erguer o olhar lentamente para Tyler – O que faz?

– Trabalho com a Katherine – Ela respondeu fria e cortante, voltando a comer.

Tyler bufou e revirou os olhos, inconformado. Ele estaria chateado porque não era mais o centro das atenções?

– Por que escolheram esse restaurante? – Perguntei.

– Nossos pais o indicaram – Katherine respondeu – Eles conhecem o dono e chef.

O clima começou a pesar e ficar tenso. Estava claro que nem todos ali se gostavam. Rebekah lançava olhares fulminantes para mim e apertava o garfo com força. Sério que ela ainda era birrenta e guardou magoa por oito anos?

Quando todos terminaram, pudemos ouvir a porta da cozinha ser aberta por causa do silencio que se pairava sobre nós, e... Perdi a fala!

Cabelos negros, olhos azuis, pele branquinha, alto e forte... Isso era uma boa descrição? Meu queixo só faltou cair com tanta beleza. Se eu não acreditava em amor à primeira vista, comecei a acreditar no exato momento em que ele se aproximou de nossa mesa e sorriu simpático e gentil.

– Espero que tenham apreciado o almoço – Ele disse – Eu sou Damon Salvatore, o chef do restaurante. É um prazer recebe-los.

– O prazer é todo meu – Rebekah ajeitou sua postura na cadeira, piscando para o chef, praticamente se oferecendo para ele. Revirei os olhos, mordendo o lábio inferior de raiva.

– Vocês vão aceitar a sobremesa? – Ele indagou, ignorando completamente Rebekah que ao notar isso, bufou irritada – Hoje é por minha conta.

– Obrigada, Damon – Katherine sorriu simpática, algo que raramente ela fazia – Mas eu já estou indo. Você vem, Elena?

– O- o que? – Eu ainda não estava muito recuperada após tanta beleza. Não queria sair dali nunca, mas o olhar autoritário da minha gêmea me deixou incapaz de dizer que ficaria para a sobremesa. Por acaso, a sobremesa poderia ser ele? Involuntariamente sorri maliciosa, recebendo um beliscão de Katherine, que me olhou feio – Ok, ok, vamos!

– Foi ótimo esse tempo com vocês – Só que nunca! – Mas temos compromissos, espero que nos entendam.

Sério, por que Katherine era tão cordial? Parecia uma mulher de quarenta anos, se não fosse por sua beleza, e eu só digo isso porque somos idênticas.

Nos despedimos de todos, e saímos do restaurante, apesar de eu querer muito ficar.

Mãe, acho que encontrei minha alma gêmea!