Arrependimentos escrita por StardustWink


Capítulo 1
Capítulo único.


Notas iniciais do capítulo

Isso é o que acontece quando você acha um prompt no tumblr, decide escrevê-lo com o novo ship do fandom que você se viciou recentemente e transforma uma história que você bolou pra ser engraçada numa com angst.

...Eu não sei como isso aconteceu, juro. owo' Maaaas eu fui tendo ideias e mais ideias até que esse monstro de fic nasceu, hehe. Prometo que vocês não terão motivo nenhum para me matar no fim da fic, tho!!!! ... Eu acho.

É a primeira vez que eu escrevo para Miraculous, então eu espero que todos os personagens estejam feitos direitinho :> Boa leitura para vocês!



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Tudo o que ela pode ver é cinza.

A poeira levantada pelos escombros da construção onde ela estava há segundos atrás traz uma neblina que a faz estreitar os olhos. À sua volta, pessoas começam a acordar, levantando confusas num cenário pós-desastre.

Normalmente, ela já teria feito tudo voltar ao normal - só uma frase, um movimento com seu ioiô, e toda aquela destruição se desfaria num passe de mágica.

Mas ela não é Ladybug - ela é Marinette, roupas sujas e só mais uma pessoa por entre as outras, Tikki desacordada desde o baque que ela tivera contra o asfalto e escondida por entre suas mãos. A preocupação, que já se infiltrou nas batidas rápidas de seu peito, soma-se à alegria e alívio quando a realidade começa a ser absorvida por ela.

Eles venceram. Depois de quase três anos, nenhum cidadão de Paris corre mais o risco de se tornar um akuma novamente.

De repente, uma voz a chama por entre as outras, cortando o ar. Ela não precisa se virar para reconhecer seu parceiro, alegria entoando seu chamado, procurando por ela. Seus pés dão um passo instintivo para frente, um sorriso contagiado puxa os cantos de seus lábios para cima.

Para depois parar, o rosto congelando-se em sua expressão.

Tikki ainda está por entre suas mãos, desacordada, provavelmente exausta da batalha contra Hawkmoth. Ela não é Ladybug no momento - apenas Marinette.

A voz de Chat ressoa novamente, passando por pessoas, aceitando agradecimentos brevemente enquanto repete seu nome.

Ela é apenas Marinette, com uma parte de Paris ainda destruída pela batalha contra Hawkmoth nas últimas horas, uma kwami que precisa descansar e sem uma máscara vermelha e preta para esconder o seu rosto. Sem a sorte que ela traz, a confiança nas implicações sempre presentes na ponta de sua língua.

Como se percebesse o que estava acontecendo, ela ouve o tom de voz de seu parceiro mudar; de alegria para preocupação, para receio. Se estreitar os olhos, ela consegue vê-lo andando pelas outras vítimas a poucos metros de distância.

Está tudo bem. Ela só precisa esperar Tikki acordar, alimentá-la, e consertar aquela bagunça antes de ir comemorar. Chat sobreviveria alguns minutos.

Ela não estava pronta para encará-lo sem sua máscara ainda.

A garota dá meia volta e corre na direção oposta, sem saber que aquele seria o último dia em que seriam vistos os dois heróis de Paris.

xxx

Marinette gostava de dizer que conseguira realizar muitos de seus desejos em sua vida.

Seguira seu sonho de infância até a faculdade, em que cursava a melhor universidade de design e moda de Paris. Nunca deixara de se impor pelo que acreditava, nem que isso lhe houvesse custado embates com a filha do ex-prefeito da cidade. Dava seu melhor para se destacar em sua turma, usar suas criações em seu dia a dia, ajudar seus pais na confeitaria nos fins de semana.

Talvez fosse porque ela sabia o que era o peso de um arrependimento. Sua eu de três anos atrás sentira isso por longos, árduos meses, e aquela era uma experiência que ela nunca queria repetir.

A verdade era que a jovem havia perdido dois de seus melhores amigos num único dia, e a data ainda queimava bem no fundo de sua mente. Sua melhor conselheira para todas as horas, e seu braço direito, desaparecidos para um lugar que ela não podia alcançar.

Marinette havia pelo menos tido tempo para se despedir de Tikki. Mal tivera tempo de voltar para o prédio da padaria dos seus pais, desviando-se com desculpas breves para enfiar-se pela porta da cozinha, quando sua kwami começara a cintilar.

Uma cidade em que a energia negativa transformava moradores em akumas precisava de heróis para defendê-la, mas uma Paris sem um inimigo com o qual lutar não precisava mais de Ladybug; ela dissera, lágrimas pequenas brotando em seus olhos azuis. Tikki teria de voltar a um sono profundo, esperando pelo dia em que precisassem de poderes novamente. Sua kwami havia a abraçado uma última vez, se despedido, e desaparecido em pó de estrela junto com seus brincos pelo céu, retornando a cidade ao seu estado original.

A garota só havia se lembrado do óbvio depois que já fora tarde demais. Ela nunca havia contado seu nome para Chat. Não havia possibilidade de encontrá-lo fora de suas transformações.

Ela correra até o local dos destroços, onde pessoas ainda se aglomeravam para comentar sobre o último ataque, mas não conseguira ver nenhum rastro de preto, nenhum cabelo loiro com orelhinhas por cima. Depois de quase duas horas procurando sem sucesso, ela desistira.

Era horrível justo o quanto aquele gato estúpido fazia falta em sua vida.

Marinette passara uma semana bem, tentando se acostumar a uma rotina isenta de atos heroicos, até que um trocadilho idiota sobre patas tinha sido demais para aguentar. A garota passara uma noite inteira trancada em seu quarto, e mais dois dias não desejando sair dele.

Tinha sido sua falta. Marinette ficara com tanto medo de não ser suficiente para o garoto de trás da máscara que havia estragado a última chance que ambos haviam tido para se encontrar. E o pior de tudo era que ele devia achar que ela queria isso, o que era o mais longe possível da verdade.

Talvez a perda realmente fizesse as pessoas perceberem o que tinham; porque Marinette tinha se acostumado tanto com a constância de Chat Noir em sua vida que não conseguia achar seu equilíbrio quando ele havia sumido.

Ela deveria ter o dado uma chance; deveria ter acreditado nele quando possível. Era tão necessário manter sua identidade em sigilo quanto sua eu mais nova pensava? O garoto com o qual passara mais de dois anos salvando a cidade realmente iria deixar o seu lado quando descobrisse quem ela era? A jovem temia saber a resposta de que não, ele nunca faria isso. No fim, sua própria insegurança tinha sido sua ruína.

E, agora, a jovem mal podia chegar perto daquela maldita data de Julho que as memórias voltavam à superfície, a lembrando exatamente da dor que era se arrepender de algo que nunca fizera.

Então não, Marinette não queria ter mais arrependimentos em sua vida.

Aquele poderia ter sido o motivo para ela aceitar o convite de Alya naquela noite para ir numa festa. No dia em que tudo acontecera, talvez sair e tentar esvaziar sua cabeça fosse a ajudar a seguir em frente. Ela já tinha passado tempo o suficiente ficando triste quando esse dia se aproximava; já não era o bastante?

Aparentemente não. Pois mesmo reencontrando Kim e Juleka no clube, vindo com seu vestido favorito de um tecido azul escuro que ela quase não conseguira comprar na loja e ouvindo algumas de suas músicas favoritas tocarem em sucessão na pista, a jovem não conseguira passar mais de dez minutos dançando antes de dar uma desculpa e se recolher para o bar.

Não queria preocupar sua melhor amiga numa hora daquelas, mas aquela era uma data que ela nunca pudera explicar. Eram coisas demais para serem contadas, segredos que ela jurou manter para si mesma. Talvez Alya ficasse magoada por saber que sua melhor amiga escondera sua identidade secreta de sua maior fã por tanto tempo. Ela não queria perder mais alguém.

Mas a falta de uma pessoa para desabafar tinha seu peso. Marinette estava sozinha numa bancada de um clube, um drinque meio acabado à sua frente, e nunca se sentira mais solitária.

Talvez vir tivesse sido realmente uma má ideia. Se fosse tarde, ela poderia inventar uma desculpa de ter que terminar um projeto no dia seguinte? A garota puxou o celular de sua bolsa, olhos procurando as horas antes que fossem atraídos para a imagem de fundo.

Era uma foto que Alya e ela haviam tirado na noite de sua formatura. As duas ainda usavam suas becas, um braço de sua melhor amiga a envolvendo pela cintura enquanto o outro estava enroscado no de Nino, que tinha sua mão puxando Adrien de última hora para a foto.

Fora uma das poucas vezes em que o modelo não saíra com um de seus sorrisos perfeitos, os lábios puxados para um lado numa risada súbita enquanto seus olhos olhavam confusos para a câmera, e ela e os outros dois fizeram graça dele pelo resto da noite por causa disso. Marinette gostara tanto da foto que decidira colocá-la como capa, e não tinha a tirado desde então.

Adrien. Aquele era um dos outros problemas de sua vida. Depois da batalha contra Hawkmoth, as coisas não continuaram as mesmas entre os dois. Ele havia ficado abatido por alguns meses pela perda de um parente e, assim como ela, recebera visitas inusitadas de Alya e Nino e convites para sair dos dois numa tentativa de melhorar seu humor. De tantas saídas juntos ao longo dos meses e com suas perdas ainda pesando em seu peito, Marinette não tivera ânimo para ficar nervosa perto do garoto e, com o tempo, eles haviam se aproximado até uma amizade desabrochar.

Ela pensara em se declarar para ele algumas ocasiões depois disso, mas aquela não parecia ser a coisa certa a fazer. Não queria dar ao loiro mais uma preocupação para sua aparentemente grande lista de problemas, e seu próprio coração não estava mais lá para tentar.

Se por um milagre eles ficassem juntos, como a mesma explicaria sua tristeza repentina todas as vezes em que aquele mês se aproximava, de sua falta por duas pessoas que ela não podia nem dizer que haviam existido em sua vida? Além disso, aquilo tudo parecia uma traição a Chat, mesmo que ambos nunca haviam tido nada juntos. Fugir de seu parceiro ignorando os sentimentos dele só para se declarar para sua queda de escola parecia mesquinho demais para se fazer. No fim, meses se passaram, e ela tinha tirado aquele pensamento de sua cabeça.

Fora aquilo que a ela de meses antes tinha decidido. A Marinette de agora, no entanto, sentia uma sensação amarga em sua boca com a memória. Mesmo que tudo aquilo tivesse acontecido, fora mesmo justo consigo mesma nunca ter contado para ele? Ela passara tanto tempo desejando por sua atenção, pela coragem de dizer o que sentia, e quando tivera sua chance optara por desistir.

Por que ela sempre desistia? Por que não conseguia ser verdadeira consigo mesma pelo menos uma vez em todos aqueles anos?

Não. A mão que segurava o telefone apertou-o mais, e ela estreitou os olhos para a tela. Eu não posso continuar fazendo isso.

Com essa decisão em mente, Marinette destravou o aparelho, seu dedo deslizando para o botão de ligar e digitando o número que sabia de cor mesmo depois de todo aquele tempo. Ela levou sua bebida esquecida na bancada para a boca, esperando.

Ainda estava indecisa sobre como começaria a ligação. O que ela sequer falaria para ele? Será mesmo que Adrien Agreste, modelo mais popular entre as garotas parisienses que devia receber milhares de cartas de fãs todo mês, gostaria de ser acordado para ouvir uma declaração boba dela? Marinette sentiu a familiar revirada de nervosismo em seu estômago, seguida da vozinha de que aquilo talvez não fosse uma boa ideia.

Mas até onde mesmo sua insegurança tinha a trazido até agora? Nunca se declarara para Adrien, e não poderia ver Chat nunca mais. Ignorando a ardência repentina de seus olhos, ela voltou sua atenção para o telefone.

— Alô? - De repente, a voz dele soou pelo aparelho, tom grave e tão excruciantemente familiar que a jovem quase perdeu todo o ar de seus pulmões em um só segundo.

Ela não conseguia achar as palavras que queria, boca abrindo-se, mas não fazendo nenhum som. Não esperava que fosse voltar a perder as palavras perto dele naquele momento.

—... Marinette? - A voz chamou, de novo, e ela não pôde evitar a arquejada de surpresa dessa vez.

Era bobo pensar que ele não tinha seu número; ela o passara para Adrien durante um projeto de escola de ambos alguns anos antes. A garota ficara tão feliz no dia, dançando e pulando pelo seu quarto com Alya até que ambas haviam caído na cama, rindo descontroladamente. Tinha feito biscoitos com Tikki para comemorar. Até Chat comentara sobre seu bom humor durante um ataque mais tarde.

Ah, fazia muito tempo mesmo em que ela era afetada por Adrien daquele jeito. Desde quando suas palavras haviam parado de se embolar quando falava com ele?

— Oi. Desculpa por te ligar tão tarde. - A memória, de um modo, lhe deu confiança para continuar. Se ela fosse fazer algo até o fim, que fosse aquilo, pelo menos. - Você... Eu não te acordei, né?

— Ah, não, eu... - Ele se interrompeu por um momento, como se quase tivesse dito algo que não queria. Ela o ouviu limpar a garganta antes de continuar. - Eu não fui dormir ainda. ...Aconteceu alguma coisa?

— Na verdade, não. - A jovem sorriu ironicamente para si mesma; só um acontecimento urgente a faria ter coragem de ligar para ele, mesmo. Sua voz saiu mais clara dessa vez, determinada, rastros da heroína que um dia fora a dando coragem. - Eu só pensei que, bom, meu dia não podia ficar pior que isso. O que eu poderia perder sendo confiante pelo menos uma vez na minha vida?

Ela sabia que o mesmo deveria estar surpreso, aonde quer que estivesse. Marinette nunca fora tão direta com ele; era sempre movimentos cuidadosos e palavras tímidas. Francamente, estava cansada daquilo tudo.

—... Sabe, Adrien, tem uma coisa que eu nunca te disse. Há cinco anos, por quase todo o tempo em que estivemos na escola, eu estive apaixonada por você.

A jovem ouviu com clareza o momento em que as palavras o atingiram - a arfada de ar seguida de uma repetição baixa da palavra do outro lado da linha. De alguma forma, aquilo só serviu para impulsioná-la ainda mais.

— Eu poderia te contar todos os momentos em que quase te falei isso, em que eu me esqueci de assinar cartas ou desisti de última hora. Acho que não havia um dia naquela época em que eu não pensava em contar. Só que eu era tímida demais pra dizer alguma coisa.

Marinette não iria parar de falar, não agora. Mas a emoção que ameaçava tomar conta de seu corpo já subira pela sua garganta, e sua visão estava ficando embaçada. Engolindo em seco, ela tentou se controlar.

— Sabe, toda essa paixonite que eu tinha por você acabou interferindo com a minha relação com outro garoto, também... Talvez, se eu não tivesse te conhecido antes, eu teria dado uma chance a ele. Talvez eu não tivesse que estar te fazendo essa ligação agora.

Estaria ela apaixonada por Chat todos aqueles anos atrás, mesmo não admitindo para si mesma? Marinette não sabia. Queria ter Tikki ali ao seu lado com sua voz doce que sempre falava as coisas certas para lhe dizer a resposta.

— Eu não consegui me decidir, não consegui confiar em mim mesma, e eu perdi uma pessoa insubstituível na minha vida. Até hoje, nesse dia, eu não consigo passar um minuto sem me perguntar o que teria acontecido se eu tivesse pensado que talvez ser Marinette fosse o suficiente. Mas eu perdi ele, e depois disso, eu perdi a vontade de correr atrás de você também. Como eu poderia quebrar o coração do meu parceiro duas vezes, fugindo dele naquele dia e me declarando para a minha queda de escola logo depois como se nada tivesse acontecido?

Ele começara a falar alguma coisa, provavelmente palavras para acalmá-la ou uma desculpa para desligar, mas Marinette tinha de falar tudo. Pelo menos uma vez na vida, ela tinha que parar de desistir de última hora.

— Eu deixei os dois únicos garotos que eu mais me importei na minha vida irem porque eu agi como uma idiota, e eu não quero mais isso. Você merece saber, assim como o Chat também merecia. Me desculpa, Adrien.

A jovem realmente deveria ter se esforçado para ouvir o jovem no outro lado da linha quando seu tom começou a beirar o desespero. Mas ela estava tão cansada agora, tinha finalmente dito tudo que queria, e já podia sentir as lágrimas descendo em filetes pelo seu rosto. Depois que tudo estava acabado, ela podia se dar ao luxo de não ter que ouvir a rejeição dele, não podia?

Uma voz familiar a chamou então, soando tão perto dela e tão real, o ‘minha lady, por favor’ ressonando por dentro de sua alma e trazendo ainda mais memórias que ela mantivera escondidas para a superfície. Fora exatamente o que ele dissera naquele dia, a última coisa que ela pudera ouvir antes de correr. Marinette não pôde evitar mais as suas lágrimas.

Ela tirou o telefone do ouvido e o desligou, não se preocupando em se despedir, sua outra mão subindo para abafar um soluço. A garota não se importava com os olhares que devia estar recebendo, com as possíveis consequências das suas ações. Só enterrou a cabeça entre os braços, alheia às vozes, ao vibrar de seu telefone na bancada, a tudo.

Ela sentia falta dele. Por deus, ela sentia tanta falta dele. Dos trocadilhos sem graça, dos sorrisos tortos, do cabelo bagunçado e da mania idiota de se meter em perigo por causa dela...

Pelo menos, agora, ela podia dizer que fizera justiça a Chat, a Tikki. A Marinette de antes não iria deixar mais suas próprias inseguranças a evitassem fazer o que queria, não depois do que ela teve que perder.

A voz de Alya chegou aos seus ouvidos um pouco depois, um “o que eu vou fazer com você” suspirado em um tom preocupado que a fez querer chorar ainda mais. Ela se jogou contra o abraço da melhor amiga, não se importando mais com o que poderia estar acontecendo à sua volta.

Só queria sair dali, e esquecer que aquele dia existira de uma vez por todas.

xxx

 

Ela acordou para um travesseiro que não era o seu, num quarto ainda escuro da madrugada, e concluiu que alguma coisa dera muito errado para se encontrar naquela situação.

Era a mão de Alya a balançando do colchão em que ela costumava ficar que havia a acordado, parecendo urgente. Espremendo os olhos para tentar afastar a dor de cabeça que a desorientou por um momento, Marinette voltou-se para a amiga.

— Alya...?

— Eu realmente queria ter impedido ele de vir, mas o Nino deve ter dado o meu endereço.

Quê? A mente da jovem estava nebulosa demais para entender. Do que ela estava falando? O que o namorado dela tinha a ver com isso?

— Mas? Que horas...?

— Umas três e quarenta da manhã? Não faz muito tempo desde que a gente chegou. Acho que ele deve ter me ligado umas cinco vezes antes de eu atender.

Quem?— Marinette levantou o rosto de vez, encarando o que achava ser o rosto de sua melhor amiga na penumbra da madrugada.

— Adrien. O que você falou para deixar ele daquele jeito?

Em um segundo, todos os traços de sono clarearam de sua mente, deixando aflição e medo em seu lugar.

Ah, não. Ela tinha parado de pensar no que estava falando depois de um tempo no bar, então não sabia exatamente o que dissera depois da declaração. Mas ela definitivamente mencionara Chat, e podia já prever o interrogatório que viria em breve.

Será que ele tinha descoberto quem ela era; quem ela um dia fora? E se ele estivesse vindo para confirmar, para contar para Alya o que sua melhor amiga escondera por mais de cinco anos enquanto a mesma tinha um blog inteiro voltado para seu alter ego?

E por que ele não podia esperar nem amanhecer para fazer isso?

— Quando ele...?

— Não sei. Não me surpreenderia se ele batesse na porta daqui a alguns minutos. - Agora que estava mais focada que antes, podia enxergar a expressão aflita da morena enquanto ela a fitava com os braços cruzados. - Eu não devia ter te deixado sozinha, Marinette. Você se declarou, não foi?

Ela não via motivos para negar, não agora que a verdade seria revelada em tão pouco tempo. A garota apenas assentiu, direcionando os olhos para o travesseiro.

Não queria ver o rosto surpreso de sua amiga, ou as perguntas que viriam. Ela havia convencido Alya que tinha superado sua paixonite há muitos meses atrás, não queria ter de explicar porque decidira voltar atrás agora.

— Ah, não fica assim. - Alya, no entanto, pareceu entender seu silêncio. Ela se inclinou para abraçá-la de novo, breve, e depois a segurou pelos ombros. - Se ele tentar fazer algo com você, Agreste ou não, eu vou dar um soco bem no meio da cara dele. Tudo bem?

Isso conseguiu fazê-la sorrir; era engraçado imaginar aquela cena, por mais que sua ocorrência real não fosse ser tão cômica. Mas Marinette ainda encontrou forças para negar, sentando-se melhor na cama e ajeitando o vestido que já estava todo amarrotado por não ter sido tirado.

— Ele não faria isso. Não sei o que ele veio fazer aqui, para falar a verdade. - Ela admitiu, dando de ombros.

— Mari... Você já parou para pensar que ele possa estar vindo dizer sim? - A voz hesitante de Alya trouxe seus olhos azuis de volta para os dela, não conseguindo evitar sua surpresa.

Adrien, gostando dela? Depois de todos aqueles anos? Aquilo era quase inimaginável. Marinette nunca havia dado motivo para ele se apaixonar por ela nesse último tempo que passaram juntos na escola; mesmo conversando normalmente, a amizade deles não se desenvolvera muito além das saídas em grupo.

Mas... A possibilidade ainda estava ali. E se ele fosse dizer sim? A jovem tinha certeza que sua paixão pelo modelo tinha diminuído com o tempo desde a batalha contra Hawkmoth. O que ela tinha ainda seria o suficiente para correspondê-lo? Ela ainda queria fazer isso?

No entanto, uma parte pequena de si mesma que ela pensou haver enterrado há muito tempo ainda desejava ser correspondida. Marinette ficara tão triste por tanto tempo; não podia ficar presa para sempre no passado. Talvez, se ela fosse se permitir finalmente ir atrás do garoto que amava, conseguiria enfim superar aquele maldito dia.

Aquilo não era, porém, estar usando ele para seu próprio proveito? Adrien não merecia isso. A mesma honestamente não sabia o que responderia caso ele tivesse vindo para se declarar.

O bater insistente numa porta que foi ouvido a disse que ela não teria tempo para se decidir. Assentindo levemente para Alya, a garota se levantou com ela, seguindo-a para fora do quarto. Por um segundo, ela pensou num borrão vermelho zunindo perto de seu ombro, murmurando encorajamentos, e suspirou fundo.

O rosto de Adrien foi avistado por ela assim que a porta se abriu, expressão obviamente frustrada mesmo com a falta de luz no apartamento. Marinette viu sua amiga permanecer firme junto à entrada, perguntando algo que ela não pôde ouvir, mas a resposta que ele deu pareceu convencê-la. Alya deu um passo para o lado, deixando-o passar, e seus olhares finalmente se encontraram.

Ele não havia mudado muito naquele tempo em que não se viram. Continuava alto, com traços firmes que desenvolvera ao longo dos anos e que sempre apareciam nas revistas de moda que comprava. Mas seus olhos verdes estavam vidrados em sua direção como ela nunca os vira antes, e Marinette pôde jurar que pareciam vermelhos mesmo na escuridão da sala. Seu cabelo loiro, parecendo ter sido revirado para os lados por uma mão frustrada, a lembrou demais de outra pessoa e a trouxe de volta para a revelação que fizera.

Marinette sentiu seu coração acelerar, e deu um passo temeroso para trás.

Mas ele não teria aquilo, não mais. Adrien avançou com passos largos até ela, a segurou pelo pulso e a puxou na direção de um quarto qualquer, parecendo ignorar o som de surpresa que escapou de sua garganta.

Alya não parecia ter se movido de sua posição; ela não ia ajudá-la? Será que ele tinha falado algo para convencê-la a deixar os dois a sós? A jovem não sabia. Só pôde deixar ser conduzida até que ele entrasse em algum quarto, acendendo a luz enquanto passava, revelando o escritório que sua amiga costumava usar quando faziam trabalhos juntas.

Marinette teria perguntado para ele o que estava acontecendo, mas o jovem não a deu tempo para falar nada. Ela só teve o tempo de vê-lo se virar, ver as olheiras em seus olhos e expressão firme que adornava seu rosto, antes que ele a puxasse para frente em um abraço apertado.

Adri-?

— Eu pensei que eu nunca conseguiria achar você de novo. - A voz dele a interrompeu, vacilante, rouca, e todo seu raciocínio congelou em seu cérebro. Adrien tinha acabado de enterrar seu rosto na dobra do pescoço dela, falando aquela frase como se ele quase houvesse a perdido para sempre, e a mesma não conseguia entender o porquê.

Do que ele estava falando? Não é como se ele não soubesse onde ela morava; e tinha seu telefone também. Então o que ele queria dizer com achar-

Ah.

Aquilo... aquilo não podia ser possível. Era impossível, não era? Que a pessoa que ela tanto procurara por todo aquele tempo, que o garoto que ela amara por tantos anos e o seu parceiro insubstituível eram o mesmo? Que ele estava ali, naquele momento, e não perdido em um passado que ela não podia mais alcançar?

Ela achara que sua sorte tinha a deixado desde o dia em que seus brincos haviam sumido. Como os dois garotos mais importantes de sua vida poderiam ser a mesma pessoa?

Marinette impediu a esperança de instalar-se de vez em seu corpo; ela não podia deixar-se levar por uma possibilidade, tinha de ter certeza primeiro.

A jovem hesitou, mãos subindo para segurar o suéter dele num toque quase imperceptível, e abriu a boca para chamar por um nome que não usava em voz alta à muito, muito tempo.

— Chat?

A estremecida que ela sentiu percorrer o corpo dele e a risada baixa e incrédula que Adrien deixou escapar enquanto a abraçava mais forte foram suficientes para acabar com suas dúvidas. Nada mais importava; que ela poderia estar parecendo horrível naquele momento, que Alya poderia entrar a qualquer minuto pela porta.

Ela o encontrara. Chat- não, Adrien estava ali, bem à sua frente, e Marinette queria segurá-lo em seus braços e nunca mais deixá-lo ir.

— Eu... Me desculpa, eu não queria, só que eu pensei que... - As palavras começaram a tombar para fora de sua boca, enquanto ela tentava evitar o soluço que parecia de repente querer irromper por sua garganta. Uma mão larga subiu para passear seus dedos pelo cabelo solto dela, tranquilizadora, e a mesma se viu apertando-o ainda mais contra si.

— N-não tem problema. Eu também... - Ele murmurou de volta, voz abafada por sua posição, e o jovem se afastou para segurar a bochecha dela com uma das mãos. Daquela proximidade, Marinette sentia-se ainda mais idiota por não ter percebido as semelhanças. Os olhos eram iguais, a curva do nariz, e a franja dele até caía por sua testa da mesma forma agora.

— Como eu não vi que era você? - Adrien deu voz à pergunta que ela fez para si mesma, um sorriso que era tanto bobo quanto exasperado em seu rosto.

— Também não sei. - A jovem abriu um sorriso vacilante para ele, uma lágrima descendo de seu rosto, e fechou os olhos quando ele se inclinou para beijar levemente o rastro molhado que ela deixou.

Ele estivera a seu alcance durante todo esse tempo, na cadeira da frente de sua sala por todos aqueles meses em que o procurara pelas ruas de Paris. Marinette sentia a vontade de rir e de bater em sua própria cabeça. Como fora tão cega?

De onde quer que estivesse, Tikki definitivamente estaria rindo daquela situação toda. Eu te disse, a sua sorte nunca veio de mim, ela diria. Talvez Marinette devesse ter escutado mais sua kwami enquanto ela ainda estivera ao seu lado.

— Plagg definitivamente estaria rindo da minha cara agora. - O comentário baixo dele chamou sua atenção, e a jovem levantou seus olhos para piscar confusa para ele. Adrien abriu um sorriso pequeno. - Meu kwami.

— Ah. - Ela devolveu o sorriso, olhando para suas mãos que tinham se movido para o peito dele. Estava começando a processar justamente o quão perto estavam, e o quanto ele tinha ficado maior que ela depois daquele tempo, seu corpo curvando-se sobre o dela para envolvê-la o máximo possível. - Eu pensei a mesma coisa.

Tikki havia sumido na mesma noite que o kwami dele. Adrien havia ficado mal durante vários meses depois daquele dia, perdido um parente próximo. Ele sempre considerara ela e Plagg como parte de sua família.

— Marinette...? - A voz hesitante dele chamou sua atenção. O jovem tinha voltado seus olhos para o chão, expressão pensativa. Ela inclinou a cabeça para o lado, tentando achar seu rosto.

—... Naquele dia, - Os olhos azuis dela se arregalaram, sabendo o que viria em seguida. - Por que você fugiu de mim?

Escombros, pessoas demais, uma cidade a ser consertada. De repente, tudo aquilo parecera pequeno demais perto da voz que a chamara naquela noite.

—... Eu estava com medo, acho. - Marinette direcionou seus olhos para o tecido do suéter dele. - De que você fosse se decepcionar depois de descobrir quem eu realmente era.

— Mas eu não-

Ela colocou o dedo na frente dos lábios dele, interrompendo-o, um sorriso gentil em seu rosto.

— Eu sei, foi um pensamento idiota. Mas eu tinha só quinze anos e deixei minha insegurança falar mais alto. Sem falar que eu provavelmente estava apaixonada por você, e uma possível reação negativa sua também seria demais para mim.

— Princesa. Marinette.— O apelido que Chat a dera todos aqueles anos atrás a fez arregalar os olhos, encarando a expressão séria do loiro à sua frente. - Como eu sequer poderia ficar decepcionado que fosse você?

...Quando ele falava daquele jeito, com tanta certeza em sua voz, como ela poderia achar que era mentira? Mas, não, aquilo era rápido demais, e tinha passado tanto tempo...

—... Eu não sou como a Ladybug, Adrien. Eu não consigo ser confiante como eu era com aquela máscara, muito menos salvar Paris sem os meus poderes! - A garota tentou argumentar, mas dessa vez, ele que a interrompeu.

— Você não precisava da máscara para se impor, Marinette. Acha mesmo que eu não lembro das vezes que você foi contra a Chloe todos esses anos? - Adrien abriu um sorriso meio torto, um traço de seu antigo alter ego transparecendo em sua expressão, e ela sentiu suas bochechas esquentarem com a lembrança.

— M-mas aquela era a Chloe. Alguém tinha que ir contra ela.

— E quem mais além da presidente de turma que sempre pensava nos sentimentos dos outros? - Ele rebateu o argumento dela com facilidade, e a jovem de repente soube que aquela seria uma discussão que ela não poderia ganhar. - Você sempre me confundiu antes, para falar a verdade. Podia falar com todo mundo da sala como se não fosse nada, mas não conseguia dizer um pio quando falava comigo. ...Eu cheguei a achar que você só não gostava de mim e era legal demais para não me evitar de vez.

Marinette piscou, tentando processar o que acabara de ouvir, antes das palavras voltarem a tombar para fora de sua boca.

— N-não gostar de você? Como assim, e-eu nunca odiei você Adrien, eu-!

...E parou, vermelho intensificando-se em seu rosto quando percebeu o que quase dissera na frente dele. Eu sempre gostei de você, por todo esse tempo.

— É, bom, agora eu sei que era o contrário. - Ele completou, olhos verdes brilhando numa felicidade mal contida, e as palavras sumiram de sua boca quando ela percebeu que, é mesmo, ela tinha se declarado para ele naquela noite. Adrien sabia dos sentimentos dela, tanto por ele quanto por Chat.

...Marinette adoraria ter um lugar para esconder seu rosto agora.

—... Mas, Lady? Eu não estava mentindo quando eu falei aquilo antes. - Uma mão levantou seu rosto pela bochecha, delicada, atraindo azul para verde. - Como eu poderia ficar decepcionado que uma garota incrível como você seja o amor da minha vida?

Ela não poderia esperar menos de Chat para murmurar uma frase melosa como aquela; mas aquele era Adrien, sua voz estava séria, quase terna, e de repente Marinette ficou agradecida por ele estar a segurando pela súbita fraqueza de suas pernas.

— Adrien... Você não pode falar uma coisa dessas. - Ela desviou seus olhos azuis para o lado. - Nós ainda... Nós nem nos conhecemos direito.

Se tivesse o conhecido um pouco melhor, teria visto por trás da máscara antes. Aquelas pequenas ocasiões durante a escola e com Alya e Nino em que ele sorrira de um jeito familiar ou fizera uma piada sem graça deviam ter acendido uma faísca de reconhecimento em sua mente.

Mas ela estava procurando nos lugares errados, naquela época. Talvez, por ter tanta certeza de que ela conhecia o garoto por quem se apaixonara, Marinette havia se recusado a enxergar o óbvio. Adrien era gentil, controlado, e um pouco solitário. Chat era desordem em forma de garoto, todo movimentos imprudentes, trocadilhos sem graça, emoções estampadas sem filtro em seu rosto.

Aparentemente, ele sempre fora os dois. Ela podia realmente dizer que havia amado Adrien, que havia conhecido Chat, depois de nunca ter descoberto?

— Talvez. - A voz do jovem a puxou de suas indagações internas, seus olhos parecendo ver por sua incerteza. - Mas eu ainda não consigo me ver amando alguém como eu amava você, minha Lady. ...Como eu poderia amar você, Marinette.

Ela comprimiu os lábios, as lágrimas que já haviam inundado seu rosto ameaçando voltar. O rosto dele estava pincelado de vermelho, denotando o nervosismo que contrastava com a absoluta clareza que era sua voz. Se ele continuasse usando aquele tom, a garota temia aceitar tudo o que ele fosse dizer como verdade inegável.

Podia vê-lo fazendo isso. Aquele gato estúpido, bobo e precioso faria de tudo por ela, desde cinco anos atrás, até hoje. Ele provavelmente ligara para toda Paris até encontrá-la, não esperara nem amanhecer para ir atrás dela. Adrien devia perder o sono naquele dia, todos os anos, assim como ela.

As mãos de Marinette deslizaram o envolverem por cima dos ombros num abraço apertado que o trouxe ainda mais para perto. Ela viu quando o olhar dele se suavizou, seu rosto se inclinando levemente para o lado.

— Você me daria essa chance? - Ele murmurou, respiração batendo em seu rosto, mantendo sua distância.

Aquela provavelmente não era a melhor decisão se eles queriam se conhecer melhor primeiro, uma vozinha comentou em sua mente, mas a jovem se encontrou não dando a mínima no momento. Salvara Paris com aquele garoto sem sequer saber seu nome; se apaixonara por ele duas vezes sem nem perceber que eles eram um só.

Os dois já estavam acostumados a pular alguns passos.

As mãos que haviam se enroscado no pescoço dele o puxaram para baixo, e ele a encontrou no meio do caminho. Os lábios dele eram macios, deslizando sobre os dela com uma insistência que ela viu retribuindo com fervor. Seu mundo estava resumido ao sentimento de tê-lo por entre os braços, das mãos que a envolviam pela cintura.

Uma de suas mãos subiu para passear pelo cabelo loiro do garoto, unhas riscando levemente um caminho até sua nuca, e ela não conseguiu reprimir o sorriso com o som indubitavelmente felino que ele deixou escapar em resposta. Mas ele retaliou puxando seu lábio inferior entre os dele, mordiscando, e dessa vez ela sentiu a fraqueza de suas pernas, inclinando-se mais para perto dele, quase demandando que ele chegasse ainda mais perto-

Uma pessoa limpando a garganta teve os dois se afastando num pulo, braços ainda envoltos um ao outro e rostos pincelados de vermelho. Alya tinha uma expressão um tanto divertida no rosto, encarando ambos com os braços cruzados e uma sobrancelha arqueada.

— Pelo visto, vocês conseguiram se entender. - A morena afirmou, encarando a posição em que ambos estavam, e Marinette ficou com vontade de enterrar seu rosto no pescoço de Adrien e se esconder ali para sempre.

O jovem, por sua vez, parecia não conseguir esconder o sorriso de seu rosto mesmo com as bochechas pintadas de vermelho. Ele puxou Marinette mais para perto, fazendo-a corar mais e arregalar os olhos, e lançou um olhar de agradecimento para Alya.

— Desculpa por usar seu escritório desse jeito. Eu consegui falar tudo o que eu queria. - Ele falou para ela, enquanto Marinette ficava alternando seus olhos azuis entre os dois, confusa.

— Eu vi que você conseguiu. - Alya direcionou um último olhar na direção dela, um claro sinal de que elas estariam falando sobre isso depois, antes de virar na direção que viera. - Bom, como eu sei que ninguém aqui vai dormir tão cedo, vou fazer café para a gente. Vocês... Façam o que tem que fazer aí.

A jovem suspirou ao ver sua melhor amiga desaparecer pela porta, rosto ainda quente e silenciosamente a agradecendo por não ter perguntado mais. Marinette ainda queria permanecer naquele escritório por mais um tempo, tentar se acostumar com a realidade em que se encontrava agora.

Ela não queria sair dos braços do loiro à sua frente também; não ainda.

Adrien ficou silencioso por alguns segundos, desfrutando da proximidade entre os dois tanto quanto ela provavelmente estava. Depois, sua voz voltou num tom levemente implicante e ainda assim animado, seus olhos verdes brilhando.

— Então, você tinha dito algo como estar apaixonada por mim desde aquela época...

— Sim, por vocês dois, eu já disse isso. - Ela devolveu o olhar dele com um falsamente irritado, para depois piscar. - Quer dizer, você. Eu não me acostumei com isso ainda.

— Tudo bem, você tem tempo. - Adrien devolveu seu sorriso com um divertido. - Não foi como eu, que teve tudo isso jogado na minha cara no meio de uma ligação.

A garota piscou, processando a frase, antes que vermelho explodisse em seu rosto quando lembrou o que tinha feito. Ela tinha se declarado para ele, revelado que conhecia Chat de um jeito que ficava óbvio que ela era Ladybug, e desligado sem sequer ouvido o que ele tinha para dizer.

...Mas então aquela voz que ela ouviu naquela hora, será que era ele tentando chamar sua atenção e não uma- Ah, deus, ela era uma idiota.

— D-desculpa... Eu provavelmente te fiz quase ter um ataque do coração daquele jeito.

— É, que bom que eu tenho nove vidas. - O sorrisinho junto à piada foi demais para ela; a jovem soltou uma risada, afundando seu rosto no peito dele e sentindo as vibrações quando ele riu de volta.

— Você não mudou nada mesmo, não é gatinho? - Ela deixou escapar o velho apelido, cativada quando as bochechas dele se coloriram de vermelho. - Continua com esses trocadilhos horríveis.

— Você perdeu três anos de estoque deles, minha Lady, eu tenho muito mais de onde esse veio. - Adrien aumentou seu sorriso, a beijando na bochecha e apertando seus braços em volta dela.

— Que bom. Espero que eu também não pare de ouvir eles tão cedo. - Ela comentou, encostando a testa contra o suéter dele.

— Não se preocupe, princesa. - A voz familiar dele ecoou reconfortante em seu ouvido, - Não planejo tirar as minhas patas de você nunca mais.

A garota riu, o trazendo mais para perto. Naquele dia antes repleto de despedidas, ela nunca esperaria um começo. Mas lá estavam eles, juntos no escritório de sua melhor amiga na madrugada e prontos para enfrentar o que quer que seja que o futuro tivesse em estoque para os dois.

Talvez não fosse ser um caminho fácil, mas ela não se importava. Tinha o garoto de sua vida nos braços, seu parceiro gentil e impulsivo que ela mal poderia esperar para conhecer e se apaixonar tudo outra vez. Ela não havia o perdido ainda.

E, se dependesse de Marinette, nunca o perderia de novo.

Fim.

 

...

 

Em algum canto do espaço-tempo, duas criaturas, vermelha e preta, assistem à cena.

— Finalmente, já estava achando que precisaria voltar lá eu mesmo para resolver isso.

Uma bufada.

— Não minta, Plagg. Você voltaria primeiro para ter mais queijo.

— Bom, óbvio. Queijo é muito menos complicado que romance. E gostoso!

Uma pausa. Olhos grandes e verdes se voltam para o loiro.

—... Ainda assim, já estava na hora.

Olhos azuis o acompanham, depois se voltando para a jovem.

—... Sim, estava mesmo.

Um sorriso.

Foi como eu disse, Marinette. A sua sorte nunca veio de mim.


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Notas finais do capítulo

A ideia dos kwamis desaparecerem no fim é triste, eu sei, mas até que ela faz sentido..... MAAAAS NADA DE TRISTEZA, QUÊ ISSO, TUDO VAI DAR CERTO!!!! Eu tenho que parar de inventar headcanons assim, deus :'v. Enfim, espero que vocês tenham gostado!

Vou admitir que fiquei um pouco em dúvida sobre até onde levar o relacionamento deles no final, com algumas interpretações do fandom de que o Adrien e a Mari talvez tenham se apaixonado por "máscaras" um do outro e não como eles são ~de verdade~. Por mais que eu concorde em parte com isso, ainda acho que os dois aprenderiam a aceitar isso juntos e a continuar se gostando mesmo assim. ...E, pelas circunstâncias da fic, acho que não teria problema em pular alguns passos do reencontro :^)

Bom, até mais! ♥