Rei colocou a lanterna acesa sobre o colchão e virou a página do livro.

Ler se tornara algo tão raro quanto deitar em uma cama. Naquele momento, Rei fazia os dois.

Bem, na verdade ele estava sentado em uma cama de casal, e Nagisa dormia ao seu lado com a testa encostada na lateral de sua coxa.

Uma estante bloqueava a escada, e uma escrivaninha impedia que a porta do quarto fosse aberta pelo lado de fora.

Eles jantaram atum enlatado e pêssegos em calda, e se deitaram logo que escureceu.

Rei estava lendo um dos vários livros que encontrou naquela casa, que falava sobre química orgânica. Ele gostaria de ler um pouco mais, mas suas pálpebras estavam pesadas e ele precisava descansar.

Nagisa se mexeu, resmugando e puxando a perna da calça de Rei de leve. Mesmo com todo o cansaço, ele ainda era agitado durante o sono.

— Rei-chan... — Nagisa murmurou. — Eu não quero desistir...

Rei sentiu um aperto no peito ao ouvir aquilo.

Quando sua mãe e irmãs decidiram ir para a cidade vizinha, cerca de um mês depois do aparecimento dos lobisomens, Nagisa pensou em desistir. Ele já estava muito abalado com o fato de seu pai ter se transformado naquela noite, e ficou ainda pior quando sua mãe pediu que ele ficasse em Iwatobi com Rei e sua família.

Nagisa não queria viver em um mundo caótico como aquele, e Rei o entendia, de certa forma.

E quando ele se separou de sua família, Rei entendeu o desespero que Nagisa sentiu.

— Eu sei, Nagisa.

Ele fechou o livro e o colocou no chão junto com seus óculos, bem ao lado da espingarda. As cobertas já estavam quentinhas com o calor de Nagisa, e entrar debaixo delas o fez perceber que seus pés estavam gelados. Rei se deitou de lado e abraçou-o junto ao peito, beijando sua testa e seus lábios entreabertos.

— Nós não desistiremos.