Alma de Coordenadora Pokémon - Fita da Vida escrita por Kevin


Capítulo 8
Arte de Treinador


Notas iniciais do capítulo

Salve, salve!

Depois de seu primeiro concurso e uma pontuação perfeita, nossa protagonista vai descobrir que não há louros para o segundo lugar... e que sua pontuação não foi perfeita! ^^



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Eu estava animada! A uma semana fora de casa, após quase morrer várias vezes, conseguir estragar meu corpo e ser humilhada uma centena de vezes, finalmente eu tinha algo de bom para contar a minha mãe. No fundo, eu sabia que evitei pensar em ligar para casa porque estava envergonhada com tantos fracassos. Acho que tinha medo que minha mãe me chamasse de idiota. Mas, agora tudo era diferente! Eu tinha uma conquista para mostrar.

Tudo bem, não era exatamente uma conquista já que terminei em segundo lugar no concurso da noite passada, mas era uma marca que poucos alcançavam. A pontuação perfeita era algo que eu poderia dizer para minha mãe: foi por você! Por isso acordei as sete da manhã para não correr riscos de ter alguém espiando minha ligação. Eu não faria uma videochamada já que não tinha a menor vontade de deixar minha mãe preocupada com meus machucados.

 

— Filha eu estou muito contente que tenha ligado, mas podemos conversar quando amanhecer? São cinco da manhã ainda! -

 

As vezes acho que ser idiota é uma marca registrada de minha jornada. Não passo um dia sem conseguir fazer algo vergonhoso. Como eu pude esquecer que havia uma diferença de fuso horário de duas horas entre Holly em Jotho e Tin em Kanto?

 

— Desculpa mãe! Eu estava tão ansiosa para falar com você sobre o meu primeiro concurso! - Disse incerta se me despedia ou não, afinal ela já estava acordada. - Eu não ganhei, mas tive uma pontuação perfeita na apresentação! Acredita nisso? -

 

Minha mãe não dizia nada do outro lado. Cheguei a achar que ela tinha desligado ou o aparelho havia dado algum problema. Não era comum minha mãe não dizer nada, sempre foi uma mulher sorridente e animada, mesmo na doença. Até pensei em ligar a videochamada para ter certeza que tudo estava bem.

 

— Eu assisti o concurso. - Ela disse finalmente quebrando o silêncio. - Sempre assisto aos concursos que ocorrem no Complexo de Kelly Kornox. - Aquilo para mim era novidade. - Sinto que não tenha ganho filha. Mas, você ainda está começando, é muito fraca ainda. -

 

Fraca? Minha mãe me chamou de fraca? Será que não viu minha pontuação perfeita?

 

— Não fui bem na batalha, mas consegui uma pontuação perfeita na primeira fase. - Comentei um pouco contrariada. - Achei que ficaria feliz com isso. -

 

— Claro que fico minha filha! - E senti que ela falava a verdade. - Mas… -

 

Ela não falou voltou a ficar em silêncio e aquilo me corroeu por dentro. Havia acordado tão animada, esperançosa que minha conquista tivesse sido a dela também, mas ela parecia não apreciar minha pontuação perfeita.

 

— Mas? - Não havia outra coisa a não ser insistir para que ela falasse.

 

— Mas, essa pontuação perfeita é falsa. - Ela disse por fim e fazendo sentir uma corrente elétrica passar pelo meu corpo. - É só comparar com as apresentações que assistiu comigo que verá que está muito aquém do que é uma apresentação perfeita. - Ela parou por alguns instantes. - É perfeita comparada as apresentações que vieram antes da sua no concurso pokémon que só tinha coordenadores iniciantes e que parecia dominado por treinadores. Até mesmo a tal Rachel que ganhou a fita de Tin é uma coordenadora fraca! -

 

Alma de Coordenadora Pokémon
— Fita da Vida -
Episódio 07: Arte de Treinador

 

 

Nunca havia estado em uma cafeteria como aquela. Eu era de ir a lanchonetes, uma vez fui uma vez ao barzinho no meu aniversário de quinze anos, mas nada era como aquele lugarzinho modesto com clima acolhedor que parecia harmonizar com a cidade. Era um ambiente muito gostoso para passar horas e servia uma refeição de dejejum que beirava o chique e farto.

Apesar disso, eu não estava nada a vontade. Não havia ninguém nos olhando, mas Kenan estava realizando sua refeição sem tirar os olhos sorridentes de mim a nenhum momento. Não ficaria incomodada normalmente, afinal se estamos tomando café juntos, o normal é a pessoa te olhar. Mas, olhar sem falar nada por quase meia hora era estranho.

 

— Por que me deu uma nota perfeita? -

 

Ele franziu o cenho por alguns instantes e de repente começou a rir. Levou o lenço a boca, num sinal de educação, ou tentando evitar que algo de sua boca salta-se.

 

— Imagino que essa é a forma mais interessante de se quebrar o gelo num café da manhã. - Ele sorriu de forma divertida e levou uma uva a boca. - Outras pessoas teriam me perguntado sobre este misterioso convite para um café da manhã, mas sei que sabe o motivo. -

 

Eu não sabia na verdade. Após desligar a ligação com minha mãe estava indo tomar café e dei de cara com ele e Havard, o rapaz bronzeado de olhos amendoados, tendo uma espécie de discussão nada amistosa, na porta do centro. A porta de vidro não impedia as vozes deles de passar e muito menos deles perceberem-me d o outro lado. Mas, Eu estava me sentindo tão perdida e abalada com a reação que minha mãe teve que realmente não escutei nada do que ele falou.

Imagino que ele me convidou para garantir que eu nada falaria sobre o que imaginavam que ouvi. Eu ia recusar, mas então lembrei-me que ele poderia me confirmar que minha apresentação havia sido perfeita e minha mãe estava enganada. Mas, mais uma vez estava bancando a idiota, usava uma roupa, quase pijama, em lugar bonito como aquele e agia como uma pessoa totalmente sem modos.

 

— Sinto muito! - Disse suspirando. - Eu não sei porque convidou-me. Sequer escutei o que falaram, se foi esse o motivo. Eu estava distraída. Mas, agradeço pelo café. Não tomo um desses há muito tempo. Ainda mais em um lugar desse nível. - Eu ri. - A cidade toda tem esse nível, na verdade. -

 

— Realmente Tim é bem elevada para seu tamanho. Uma das melhores cidades para se viver. - Ele encarou-me. - Mas, esse convite não tem haver com a cidade ou com o que pode ou não ter escutado e sim com você. -

 

Ele sorriu de uma forma enigmática e me senti que ele falava a verdade. Só de olhar as roupas que ele estava usando percebia-se que ele havia vestido-se para algo mais do que um papo matinal pouco amistoso. Uma jaqueta azul com dourado, uma blusa preta, uma calça preta com detalhes dourados, assim como o calçado. O cordão com o pingente de K estava ali e o cabelo parecia ter sido preparado para ficar toda para cima.

 

— Eu? -

 

Levei um copo de suco a minha boca querendo ocupá-la para não dizer nenhuma bobagem. Por sinal, só naquele momento compreendi que ele estava realmente me observando durante todo o café. Senti-me ruborizada e pensei em levantar para voltar ao centro, mas acho que eu só pareceria mais idiota.

Além disso, Kenan tinha uma beleza divinal. Quando eu teria outra chance como aquela?

 

— Sim! Você me intriga e gosto de relacionar-me com o intrigante e o leal. - Ele sorriu e eu engoli um seco. - Minhas refeições são normalmente complicadas e tediosas. Mil perguntas sobre minha vida, meus pokémon, minha mãe e seus pokémon. Quando encontro alguém que parece não me conhecer ou se importar com quem sou eu aproveito para ter uma conversa saudável que o assunto não seja eu. -

 

— E queria que eu soubesse disso? - Questionei incrédula. - Mas, então não falemos de você! - Sorri. - Por que eu te intrigo e pareço leal? -

 

— Não disse que parecia leal. Disse que me intrigava. - Ele pareceu se divertir com aquilo. - Apesar de ter dezesseis anos, só agora resolveu sair para uma jornada e claramente não tinha as habilidades necessárias, a julgar pelos hematomas típicos de quem teve problemas na floresta. Você veio com uma roupa simples para sua primeira aparição em concurso pokémon mesmo tendo uma belíssima blusa azul, corsário escuro e sandália bota, tudo novo e com a vantagem que esconderiam todos os hematomas do corpo. -

 

— Como sabe? -

 

Aquela era a descrição das roupas que haviam dentro da sacola de boutique. Eu havia ignorado o embrulho até a sexta feira a noite, mas acabei por abrir. Fiquei surpresa com a roupa que ali estava. Era linda, gostosa de tocar e com as minhas medidas. Escondia bem os hematomas do meu corpo e pareciam ser muito caras. Quase cogitei usá-las, mas não costumava aceitar nada de estranhos, ainda mais coisas tão caras. Além disso existia umas duas calcinhas junto. Como alguém poderia acertar até o tamanho da minha calcinha? Resolvi não usar. Iria devolver a Joy assim que pudesse. Mas, ainda não havia tido oportunidade.

 

— Gosto da Joy porque ela está sempre protegendo-me. - Ele sorriu e percebi porque Joy disse apenas treinador local e não o nome dele. Acho que era necessário manter Kenan em segredo. - Aposto que está curiosa sobre como acertei seu tamanho. -

 

Sorri sem graça e me convenci de que foi Joy quem disse. Era a melhor opção e não gostaria de imaginar qual era a outra.

 

— Mas, agora que sabe porque a convidei, me conta o que a fez se tornar uma coordenadora? - Ele pareceu realmente interessado naquilo, pois chegou a se inclinar na mesa. - Tenho certeza que não sonha com coordenação, carreira brilhante ou qualquer coisa do gênero. -

 

— Como pode saber? - Questionei. - Está me julgando? -

 

— Estou julgando. - Ele disse convencido. - Quem sonha com esse mundo sai de casa muito cedo e se sai tarde traz na bagagem uma série de habilidades que não apresentou. - Ele sorriu. - Ou vai dizer que possui habilidades nessa área que não revelou ainda? -

 

— Você me deu uma nota perfeita, não é? - Dando um sorriso de triunfo. - Ou teve outro motivo para me dar uma nota perfeita que não minhas habilidades? -

 

E estávamos de volta a primeira pergunta. A pergunta que eu entendia que ele não responderia porque ele teria que falar sobre como é ser jurado e além de parecer antiético era ao mesmo tempo conversar sobre ele e a sua fama.

 

— Sua apresentação foi fraca. - Ele parou de sorrir de repente. - Uma apresentação teria dois minutos. A de ontem, teve um minuto e você usou apenas trinta segundos. No quesito entreter o público por um determinado tempo você fracassou. O único motivo para a plateia gostar do que estava vendo era que alguns estavam sentindo o efeito do movimento Olhos de Bebê e outros estavam entediados demais com as sete apresentações anteriores que limitaram-se em fazer demonstração dos movimentos que seus pokémon conheciam. -

 

Franzi o cenho. Lá estava aquela opinião novamente. Muito parecida com a de minha mãe. Mas, agora dita por um multi campeão de liga pokémon. Minha mãe nunca foi excepcional na coordenação e ele era um treinador. Será que eu poderia acreditar nas palavras deles?

 

— A organização dos concursos são pessoas idiotas, egocêntricas e possuem interesses muito diferentes da verdadeira arte que os concursos representam. - Ele parecia realmente aborrecido. - Não posso dizer que sei o motivo pelo qual Joy e ou o desgraçado do Sukizo tenham lhe dado notas máximas. Mas, pouco me importa o motivo deles, importa-me apenas o meu motivo. -

 

— Desculpa... - Gaguejei. - Não precisa falar sobre você se não quiser. -

 

— Não preocupe! - Ele balançou a cabeça sorrindo. - Não estou incomodado com o fato de termos caído no assunto sobre minhas coisas. É que odeio a ACP e a maioria das pessoas que estão nela. - Ele sorriu de uma forma que cheguei a me arrepiar. - Mas, falar sobre sua apresentação não me incomoda. Ela na verdade me fascina. -

 

— Fascina? -

 

Questionei não entendo o que havia de fascinante numa apresentação que ele julgava ser fraca.

 

— Sim! Você surgiu de forma simples e sem nenhuma pompa, realizando uma combinação não convencional voltada mais para uma arte de treinador do que uma arte de coordenador. - Ele virou o copo de café que negligenciou por quase todo café. - Executou perfeitamente os movimentos com uma ideia curiosa. Mereceu uma nota máxima quando somado a isso tivemos um bando de apresentações medíocres que foram elogiadas pelo Mestre de Cerimônias, sabe-se lá por qual motivo! - Ele se levantou e um garçom veio até ele rapidamente. Aquele parecia ser o fim do meu café, mas agora eu precisava conversar! - Se não for dominada pelas trevas, tenho certeza que vai conseguir alcançar seus objetivos, seja lá quais forem. -

 

— Como assim arte de coordenador e arte treinador? - Questionei me levantando alarmada. - Ser dominada pelas trevas? -

 

Ele sorriu enquanto pagava ao garçom e veio até e inclinou-se levando os lábios próximos de minha orelha direita.

 

— Se ao descobrir as trevas conseguir resistir a ela, venha ter comigo e terei prazer em te explicar o quão sombrio é o mundo da coordenação pokémon. - Meu coração gelou no mesmo instante. Não bastava o arrepio que sentia com ele falando ao pé do ouvido, ele ainda tinha que dizer algo sombrio daquele jeito deixando-me toda confusa? - Mas, quanto a arte de treinador, você pode assistir. -

 

Ele se afastou de mim e olhou para a porta da saída. Direcionei meus olhos para aquele lado e parados a porta estavam Angel e Aries.

Minha manhã encerraria de uma maneira que não tinha imaginado. Acompanhei os três sem falar nada e tentei ignorar o sorriso safado e louco que Aries me lançou querendo insinuar que algo estava rolando entre mim e Kenan. Como eu sabia disso? A única coisa que ele disse foi um sonoro “sabia que você era dessas” e logo depois olhou de forma safada para Kenan.

Um dos motivos para Aries e Angel estarem em Kanto era o Multi Campeão Kenan Kornox. Angel havia agendado uma batalha treino com ele e para dar mais liberdade e privacidade aconteceria numa campina escondida. Eu nunca havia visto nenhum dos dois batalhar, mas imaginava que Angel era uma pessoa muito forte a julgar por seu Pidgeot e Kenan não tinha vários títulos. Seria uma batalha incrível de assistir.

A campina em que fomos era aberta e no meio da floresta. Eu quase me agarrei a Angel ao caminhar, não me sentia nada segura com tantas árvores me rodeando e isso fez com que Aries começasse a rir sendo seguido por Kenan. Quando chegamos a clareira eles se saudaram uma última vez antes de cada um ficar em um canto da clareira enquanto eu e Aries ficávamos junto as árvores.

 

— Ele veio para uma luta a sério. - Comentou Aries. - Ele só aparece publicamente com esse traje quando em competições especiais e competições oficiais. Normalmente está de roupas sociais ou de viagem. -

 

Escutei aquilo pensando que essa era uma estratégia de coordenadores. Roupas mais belas e chamativas para chamar a atenção para seu lado e mostrar que tinha garbo e elegância. Imaginei no mesmo momento que ele bem que poderia ser um coordenador, mas o pior foi perceber que não tinha agradecido, ainda, pelas roupas.

As pokebolas foram erguidas, cada qual segurando-as com o braço direito esticado na direção do outro. Os olhos fixos ao adversário a frente parecia que estavam se analisando, mas eu havia escutado falar sobre aquela posição, era uma posição clássica de desafio. De repente ergueram os braços e as esferas ganharam o ar, liberando de cada lado um pokémon mais chamativo que outro.

Kenan usaria um imponente Arcanine. Um cachorro de mais de um metro e meio de altura, com pelugem laranja, passando para o vermelho fogo, com listras pretas e brancas. A maioria das policiais usavam aquele pokémon como parceiro, mas o nenhuma tinha esse porte elegante e chamava tanta a atenção. Mas, o de Angel não ficava atrás com sua coloração azul esverdeada por quase todo o copo escurecendo das extremidades das patas, rabo e orelhas. Era uma raposa muito bonita e parecia brilhar.

 

— Glaceon. - Aries balbuciou, acredito que para ele mesmo. - Má escolha maninha, má escolha! Sua raposa de gelo vai ser a caça do cão de fogo dele. - Ele completou.

 

Eu tinha pouca noção das vantagens de tipo, mas tinha certeza que gelo não era a melhor opção para se combater o fogo. Imaginava que era disso que Aries estava falando, mas angel parecia serena e confiante em sua escolha enquanto Kenan mantinha aquele seu sorriso cativante no rosto.

 

— Extrema Velocidade. -

 

Arcanine pareceu erguer a cabeça, como se estivesse fazendo uma pequena pose e de repente não estava mais no seu lugar. O vi do outro lado da clareira terminando de ajeitar a cabeça para cima com ar de superioridade. Pisquei aturdida e olhei para o local onde Glaceon estava caído e com uma grande marca em seu corpo. O que havia sido aquilo?

 

— O que aconteceu? - Questionei a Aries. - Como ele foi parar do outro lado? -

 

— Extrema Velocidade é um ataque de prioridade uma que… - Aries me olhou e sorriu debochadamente. - Estude o ataque mais tarde. Basta saber que é o ataque mais veloz que um pokémon pode dar, não importa o que o adversário queira fazer, o usuário deste movimento quase sempre o acertará primeiro. -

 

— Então é uma versão superior ao ataque rápido. - Disse tentando mostrar que eu não era tão iniciante.

 

Glaceon se levantava e sacudia o corpo parecendo estar tudo em ordem. Encarou seu adversário com aqueles olhos azuis gelados e viu que Arcanine estava com um de superioridade nítido.

 

— Agilidade, Time Duplo e Ataque Rápido! -

 

Angel comandou um combo de três ataques e vi de repente diversos Glaceons surgirem e começarem a atacar de um lado para o outro, tentando acertar a Arcanine que corria saltando e evitando a maioria.

 

— Isso é uma combinação de três movimentos muito usado por treinadores, mas que por se complementarem podemos dizer que é bem ala coordenador. - Disse Kenan que aumentou o sorriso. - Se quer assim, apresento-lhes o Raio Vermelho. -

 

Raio Vermelho. Se era assim que ele chamava Arcanine ou se era o nome de um movimento que ele inventou eu não sei. Mas, o pokémon de Kenan começou a correr mais rápido, virando apenas um borrão vermelho que deixava um rastro, como se fossem chamas pelo caminho. Cada copia do Glaceon estava sendo destruída em instantes. Angel parecia não perder a serenidade com isso, mas o campeão realmente parecia dominar a luta.

Aquele era um movimento muito legal. Eu iria ler mais tarde, com o pokémon certo poderia escrever várias coisas em um palco escuro causando um efeito muito bonito.

 

— Neblina! -

 

Angel ainda estava calma, mas seu comando foi rápido, bem como o surgimento de uma neblina por toda a clareira. Vi Kenan dar uma pequena risada e balançar a cabeça como se aquilo não fosse uma boa ideia. Vi Glaceon se mover por um mero instante no meio de toda a fumaça enquanto o Raio Vermelho havia parado e parecia que Arcanine estava tentando se encontrar.

Então percebi que aquilo se parecia com minha apresentação. Treinadores usavam neblinas para realizarem ataques surpresas diversos e eu forcei a mesma ideia para atacar o público e aos jurados com a fofura de Audino. Por isso Kenan disse que era Arte de treinador, a batalha deles pareceu-me mais artística, visualmente, do que a minha apresentação ou a batalha de um lado só de Rachel.

 

— Te peguei, Bocejo! -

 

Eu não havia entendi o que Angel havia dito até que a nevoa se dissipou e vi Glaceon parado atrás de Arcanine bocejando e o grande cachorro de fogo tombando adormecido par ao lado. Glaceon estava ainda mais abatido do que estava antes, certamente havia sido acertado pelo Raio Vermelho, mas agora Arcanine estava adormecido, o que significava que estava fora de combate.

 

— Nossa! - Falei espantada. - Angel venceu o campeão! -

 

Talvez eu tenha dito isso alto demais, pois Kenan me olhou e deu uma risada que não compreendi.

 

— Desculpe-me por isso senhorita Olimpo, Ataque Sonambulo! -

 

Poucas vezes na vida fiquei tão surpresa com algo. Não sabia que pokémon atacavam mesmo dormindo. De repente vi Arcanine se erguer, com os olhos fechados, duas vezes mais feroz que qualquer pokémon que havia visto antes e abrir a boca criando uma estrela de fogo gigante que chocou-se contra Glaceon que tentou se jogar para o lado ao escutar Angel dizendo evasiva. Uma explosão aconteceu fazendo fogo ir por todos os lados enquanto a raposa de gelo caia em meio as chamas.

 

— Ataque Sonambulo! -

 

Glaceon estava em meio as chamas, tentando sair de lá, talvez atordoado demais para escutar Angel gritar Proteção. Aquele movimento eu conhecia, era uma barreira verde de energia que surgia e protegia o pokémon. Mas, eu havia aprendido que Explosão de Fogo era destruidor e Glaceon estava levando o segundo.

 

— O que é o Ataque Sonambulo? - Questionei a Aries aflita. - Por que Arcanine está usando Explosão de Fogo se outro ataque foi comandado? -

 

— Eu não sou pokeagenda. - Resmungou Aries, mas não liguei Ele parecia preocupado com a batalha. - Ataque Sonambulo é como uma roleta mágica, o pokémon escuta a voz de seu treinador e usa um ataque qualquer. Ele não tem noção da luta por estar dormindo, então acreditam que ele ataca com o movimento que no sonho ele esteja precisando. -

 

Mais tarde eu saberia que existia uma segunda teoria para o movimento, uma que era a certa para aquele caso. Onde o pokémon dorminhoco usava o golpe que ele mais usava, pois o golpe ficava tão gravado em sua mente e músculos que quando dormia sonhava com ele. Certamente Explosão de Fogo era algo bem treinado já que Arcanine, mesmo dormindo, deu um terceiro ataque que fez Glaceon desmaiar.

 

— Como não combinamos a quantidade, pode lançar mais um pokémon se quiser. -

 

Kenan com um sorriso vitorioso no rosto parecia interessado em continuar, mas Angel balançou a cabeça indicando que não o faria e olhou para Aries que sacou um pokebola e uma grande pokémon rosada apareceu, uma Chansey pra ser mais exata.

Vi Kenan e Angel se cumprimentarem e ambos darem as costas um para o outro. Kenan foi andando para dentro da floresta enquanto Angel foi até o pokémon, ela parecia decepcionada com o resultado, mas algo me dizia que ela estava mais preocupada com Glaceon do que com a derrota. Enquanto Kenan parecia não ligar a mínima para a vitória. Eu não conseguia entender treinadores, eu havia ficado tão feliz com a minha nota perfeita, que agora eu já começava a convencer-me que talvez não fosse perfeita de verdade, enquanto eles pareciam simples não ligar. Se não era para nenhum dos dois ficarem felizes, nem mesmo quem ganhou, por que lutar?

Suspirei e fui aproximar-me de Glaceon e só então lembrei. Tinha que falar com Kenan sobre as roupas.

 

— Espere! -

 

Apressei-me em chegar até ele. Ele parecia sequer ter saído de uma batalha. Olhou-me com olhos sorridentes.

 

— Ainda não entendeu o que é arte de treinador e arte de coordenador? -

 

Arte de coordenador baseavam-se em realizar os movimentos de forma mais bela possível e se houvesse combinações elas tinham que ser com movimentos que se completassem, que possuíssem afinidades para um apoiar o outro. Movimentos de treinadores já visavam conseguir vantagem para as batalhas e o importante era efetuá-las e não a forma como seriam efetuadas. Se por ventura uma combinação acontecesse ela não tinha nenhum compromisso em ser bonita ou que os movimentos usados se completassem, eram apenas estratégias para aumentar a vantagem ou sua eficiência em derrubar o adversário.

Minha combinação era de treinadores, pois os dois movimentos que usei não se completavam. Usei os efeitos de cada um de forma individual só para conseguir o efeito que eu imaginava. Ou seja, estratégia de treinadores, ir direto ao ponto fazendo o mínimo de apresentação por cima.

 

— Entendi sim! - Eu disse. - Mas, eu queria te perguntar das roupas. Por que me deu? -

 

— Você precisava e ainda precisa. - Ele disse e novamente aproximando-se de minha orelha direita e começando a balbuciar. - Fique gatinha com ela no próximo Concurso Pokémon. -

 

Ruborizei e quando dei por mim ele já estava se afastando.

 

— Obrigada! -

 

Gritei antes dele acabar de se afastar, mas ele apenas acenou com a mão sem saber se virar. Depois fiquei até preocupada sobre ele achar que eu agradecia pelo elogio e não pela roupa. Não que fosse ficar com elas, mas o gesto de querer me ajudar num momento de necessidade era importante. Se bem que fiquei confusa, como assim ainda precisava?

 

— Sabia que você era dessas! - Disse Aries perto de mim me assustando.

 

Acabamos ficando por ali, na clareira o restante do dia. Aries havia levado uma refeição e Angel explicou que ela iria tentar realizar uma façanha improvável como treinadora, conquistar quatro títulos de campeã de liga em um ano. Meu parecia impossível, mas ela tinha um planejamento que era bem sólido quanto a suas viagens, tempo em cada lugar e o mais importante, que pokémon usaria. Se ela conseguisse o Grupo Olimpo teria a maior multi campeã já vista e por isso ela desafiou Kenan pois ele era o Multi Campeão com o recorde de duas ligas no ano, já que para muitos a Batalha da fronteira tinha o nível de uma liga.

Ela partiria assim que eu pudesse iniciar minha jornada e para o meu martírio quem iria me acompanhar por Kanto era Aries. Fiquei um bom tempo meditando enquanto Aries e Angel repassavam a viagem dela e voltei a pensar na minha apresentação e tudo o que planejei. Eu não queria admitir, mas eu parecia ser fraca não apenas no palco, mas no meu planejamento também.

Eu havia planejado minha jornada numa arte de treinadora, sem perceber. Tudo era muito semelhante ao que Angel faria. Eu estava fora dos trilhos? Eu era fraca como coordenadora?

 

— Boa noite Mirian! - Joy me recebeu com um sorriso. - Estava preocupada com você. Saiu cedo e nem… -

 

— Por que me deu uma pontuação perfeita? -

 

Cortei a mulher de cabelos rosas. Eu tinha que ter uma terceira opinião, não a opinião de um multi campeão que via o mundo da coordenação como algo sombrio, não a opinião de minha mãe que poderia estar apenas tentando me proteger. Joy tinha sido uma amiga até ali e tenho certeza que falaria a verdade para mim.

Por isso deixei Angel e Aries caminharem um pouco mais a frente na volta, entrando primeiro no centro e me dando chance de me encontrar sozinha com ela.

 

— Eu sou fraca? -

 

Questionei por fim, dando vazão ao questionamento que mais me perturbou durante o dia. Vi ela sorrir como delicadeza, virar-se para o balcão e juntar algumas coisas ali, enquanto examinava se mais alguém estaria a nos ouvir. Então virou-se par amim e olhou-me nos olhos.

 

— As sete apresentações anteriores foram tediosas. Cada coordenador só conseguiu fazer seu pokémon executar meia dúzia de golpes, alguns que nem foram executados corretamente. Então você veio com dois movimentos fáceis, incomuns realizando uma combinação totalmente incomum e com êxito. - Joy não desviou o olhar. - Sua pokémon era a mais saudável, pois todos foram com pokémon exaustos de treinos que fizeram até poucas horas antes, o Bulbassaur de Tommy por sinal sequer tinha condições de estar no palco depois da tempestade pelo qual passou. - Ela fechou os olhos sorrindo. - Foi a única apresentação a despertar algum sentimento além de tédio na plateia. Então dei a nota máxima nos meus critérios. -

 

Então era verdade. Joy apenas estava sendo sútil em falar aquelas coisas, mas Kenan falou do tédio da plateia e minha sobre a comparação de sermos todos novatos.

— Fiquei surpresa que Sukizo tenha lhe dado nota máxima também, sua apresentação é uma réplica de um pedaço de apresentações populares e conhecidas. Não acho que como Kenan ele tenha lhe atribuído mérito em achar dois movimentos que pudessem se encaixar no que queria. - Joy disse aquilo e deu uma risada e depois virou-se para o balcão. - Deixaram essa carta para você e Audino vai precisar de mais uns dois dias para conseguir se recuperar dos golpes que levou e vai ficar com os pelos chamuscados. -

 

Joy saiu para fazer algo e talvez isso tenha sido minha sorte. Eu arregalei os olhos assustada diante dos fatos. Todos sabiam que o concurso havia sido fraco, percebiam que havia arte de treinadores e não de coordenadores ocorrendo no concurso. Todos pareciam saber que minha pontuação perfeita era algo que foi fruto de uma série de fatores que não não tinham nada haver com meu esforço.

 

— Eu sou fraca! -

 

Era minha conclusão, ser fraca. Não por causa da arte de treinador, mas porque passei o dia toda preocupada com minha nota perfeita não ser perfeita e esqueci completamente de dar atenção àquela que havia sido perfeita durante o evento todo, minha Audino!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham curtido!!



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