Alma de Coordenadora Pokémon - Fita da Vida escrita por Kevin


Capítulo 5
Dor


Notas iniciais do capítulo

Galera!

Como anda a folia de carnaval?

Prometi que tudo mudava depois daquele tapa, né? Então vamos conferir como Mirian vai agir depois dessaQ



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Alma de Coordenadora Pokémon
— Fita da Vida -
Episódio 04: Dor

 

 

 

Dor. Sensação desagradável, que varia desde desconforto leve a excruciante de ordem física, mental ou emociona. Eu não consigo sequer entender o que descreveram sobre dor nesta tentativa de explicação. Quem pode realmente definir o que é dor? O dicionário com suas palavras e função de exemplificar? A pessoa que está sofrendo com ela naquele momento? A pessoa que já sofreu?

Eu nunca havia sentido tanta dor na minha vida, mas acho que nada nunca se comparou ao que estava vivendo ali, naquela maldita jornada. Em casa eu me cortava com a faca, em um momento de desatenção, ou com o papel num momento atrapalho. Ralava alguma parte do corpo em um tropeço ou queda. Nunca havia me chocado contra tantas árvores e pedras ou tive algo perfurando minha perna com tanta violência.

Mas, acho que a perna e as outras dores eram pouco diante a dor que senti ao levar o tapa na cara. A mão de Angel era pesada e senti arder minha face, mas não era a dor física que me abalava, mas a emocional. O significado que o tapa tinha. Eu nunca apanhei, nem da minha mãe. Quando brigava com meu irmão ele não me agredia para valer, fisicamente, queria me irritar. No mundo a única vez que levei um tapa na cara foi quando defendi Maurício, meu melhor amigo, e ainda assim não me senti abalada por aquilo, foi apenas uma tentativa falha de me humilhar. Mas, Angel não estava tentando me humilhar, se é que eu poderia ficar mais humilhada do que já estava.

Eu havia ofendido-a de uma forma muito profunda e vil. Ela me agraciou com confiança, atenção, cuidados e a gentileza dela, sem pedir nada em troca. Mas, eu fiz questão de pagar com mentiras que quase os colocaram na cadeia. E daí que eram assassinos de pokémon? Fizeram aquilo para me salvar! Agora achavam que eu era uma mentirosa e encrenqueira. Sim, além de idiota, louca, inconsequente e as outras coisas que eu não tinha coragem de repetir.

 

— Pretende ficar aí por muito tempo? - A voz me era desconhecida, mas tinha um certo tom de autoridade. - Se a chuva cair vai ficar doente. -

 

Olhei e identifiquei que era a policial. Olhei em volta e vi que a população havia se dispersado de uma vez e que os céus estavam com nuvens bem mais escuras. Ao longe, no horizonte, eu via alguns pequenos clarões que indicavam que a tempestade estava a cair em algum lugar. Acho que eu não poderia ficar muito tempo ali mesmo, mas a primeira coisa que faria era pedir desculpas a Aries e Angel. Não me importava de passar mais vergonha, contando a verdade sobre minha jornada e nem se eles pouco quisessem escutar. Eu só precisava pedir desculpas para me sentir melhor. Eu não era de contar mentiras, eu não era mentirosa. Mas, olhando ao redor eu não via Angel ou Aries em parte alguma.

 

— Viu Aries e Angel? -

 

Questionei a policial ainda sentada na calçada. Ela me olhou por alguns instantes avaliando-me, ou talvez tentando imaginar quem eram as pessoas que eu acabei de citar.

 

— Se forem aqueles dois que estavam com vocês, eles me perguntaram a uma meia hora qual o caminho para Tim, que é onde tem o centro pokémon mais próximo... EI! -

 

Eu levantei num salto ao escutar aquilo. Não era possível que eles haviam ido embora e me abandonado ali, em Pallet. Na verdade, até era sim! Não nos conhecíamos, não tinham nenhum compromisso comigo e eu menti para eles fazendo-os voar para uma outra região a troco de nada.

Mas, se não bastasse, minha mochila não estava em minha volta e só então lembrei que Aries estava a carregá-la. Eles não podiam ter levado minhas coisas com eles. Se isso tivesse acontecido eu estava perdida. Eu não teria uma roupa, um mísero equipamento de jornada ou o mais importante, minha identificação.

Lembrava de Aries soltar as mochilas para encarar Toody na porta do laboratório, então tomei a direção de lá, subindo as escadas, agora numa débil tentativa de corrida já que a perna estava doendo bastante. A policial gritou para que eu parasse, mas eu não podia. Eu precisava ter certeza que eles não haviam levado minhas coisas.

Quando cheguei ao topo achei que minha perna estava a sangrar, mas como a calça já estava toda suja, inclusive de sangue seco, não tive como ter muita certeza. Naquele momento fui novamente inexperiente, se tivesse sido atenta ia identificar sangue fresco, molhado. Eu já estava sangrando novamente devido ao esforço com a escada. O professor estava do lado de fora, com várias pokebolas e olhou na minha direção, especialmente porque a policial chegava correndo atrás de mim.

 

— Minha mochila! - Eu disse desesperada para mim mesma. - Eles levaram minha mochila! -

 

Eu não conseguia acreditar naquilo. Aries era louco, mas se mostrou uma pessoa preocupada com os outros ao me salvar e arriscar ao próprio pokémon para me defender. Angel era uma pessoa doce, calma e controlada que visivelmente estava preocupada com meu bem estar. Não acredito que minha mentira possa tê-los feito querer me abandonar e me roubar. Não havia nada de valioso na minha mochila, já que a fita preciosa de minha mãe continua em meu bolso.

Por outro lado, eu não podia esquecer que eles chacinaram mais de trinta pokémon e comeram seus corpos. Aries jogou-se contra um enxame inteiro de Beedrills, mexeram nas minhas coisas sem permissão, me trouxeram a Kanto sem me consultar e por fim agora haviam desaparecido com minha bolsa. Eles poderiam ser tanto boas pessoas quanto criminosos. Salvaram-me e ajudaram-me diversas vezes, mas eu não tinha nada de valor comigo, que eles soubessem. Então, quando falei do pokémon inicial do professor Carvalho, poderiam simplesmente estarem a espera de eu recebê-lo para poderem roubá-lo.

 

— Compreendo! - A policial disse chamando minha atenção. - Vou passar um rádio avisando que foi roubada! -

 

Não! Aquilo não podia acontecer. Eu não queria colocá-los em encrenca. Eles salvaram a minha vida e por mais que tudo dissesse que eles armaram para me roubar, eu ainda queria acreditar neles, eu ainda devia um pedido de desculpas a eles. Pedido que jamais aconteceria se eles fossem presos ou desaparecessem por Kanto.

Respirei fundo tomando coragem para fazer o que eu precisava. Eu não acreditava que estava prestes a fazer aquilo, mas não havia alternativa. A policial veio até mim e de repente a empurrei para cima do professor Carvalho e saí correndo para os fundos do laboratório. Ao longe eu via um morro com bifurcações, ali deveria ser o caminho que levava a tal cidade de Tin. Pela cidade eu jamais saberia chegar naquele ponto. No entanto, se eu cortasse o vasto pasto do laboratório eu chegaria a bifurcação.

Corri sentindo a perna latejar, mas o restante do corpo corresponder. Ao que parecia adrenalina realmente ajudava a mascarar as dores. Cheguei a um cercado e tentei pular, consegui chegar ao outro lado, mas caindo de cara como se eu tivesse tentado, desesperadamente, beijar o chão. Talvez Aries tivesse razão quanto ao meu namoro com o chão.

Levantei-me apressada ao escutar um estrondo. A chuva agora estava se aproximando, aquele havia sido um relâmpago que caíra muito perto, pois tudo estava tremendo em volta. Já escutava os gritos do professor Carvalho e da policial. Corri, ali por aquele pasto, percebendo que era o habitat de vários pokémon, muito provavelmente eram todos cuidados pelo professor. Um novo estrondo e senti que a terra ficou a tremer continuamente, olhei para trás e vi, alguns pokémon correndo desesperados atrás de mim. Eu não sabia se fugiam ou me perseguiam, mas eu não gostava da expressão que estavam fazendo.

Tauros eram fáceis de reconhecer, apesar da tonalidade da pele deles poder mudar de acordo com cada região e tipo de vida que leva. Não é um pokémon muito visto em concursos, ao menos nenhum dos vídeos que vi com minha mãe mostrou um Tauros em palcos, e olha que foram muitos. Mas, existia um motivo! Eram quadrupedes truculentos, com seus músculos avantajados, cheiro estranho, que atacavam quase sempre abaixando a cabeça, sempre apelando para os chifres e quando se movia poderia fazer o chão tremer.

Em meu caso, vários deles estavam criando um terremoto e vindo todos de cabeça baixa com aqueles chifres apontados para mim. Minha dificuldade de correr só aumentava a cada instante, não bastava os tremores do meu próprio corpo agora eu tinha os tremores de terra. Mas, eu já estava conseguindo ver a cerca que me levaria a bifurcação. Faltava tão pouco!

Senti que me alcançaram e ao invés de me pisotear acertaram-me nas nádegas e me vi sendo lançada para frente, passando por cima da cerca e colidindo com alguém que estava passando de bicicleta. Eu estava naquele dia aprendendo o que significava dor, felizmente o destino não quis me ensinar por meio dos chifres, pois foi apenas a cabeçada. Espera, eu disse apenas?

Cair sobre uma pessoa e uma bicicleta após ser acertada por um Tauros não era algo a ser dito como apenas. Eu sentia tanta dor que quando consegui voltar a me mexer, com alguém xingando-me de louca e não sei quantas outras, sorri aliviada.

A pessoa no entanto, parou de me dar atenção. Olhei para entender o motivo e vi que era o Toody, assistente do laboratório. Também entendi perfeitamente o motivo pelo qual eu não era mais tão interessante naquele momento para ser alvo de seus xingamentos, os Tauros continuaram a corrida e agora se dirigiam para destruir a cerca. Só então percebi, invadi o espaço daqueles pokémon e talvez por isso estivessem tão bravos. Céus, eu devia mesmo ter tara por ninhos!

Levantei-me com dificuldades, agora eu tinha consciência que minha perna sangrava, bem como meu braço esquerdo. Escutei os gritos chamando pelo meu nome. Cambaleei e soube que não iria muito longe naquelas condições, arqueei as penas indo me sentar, preparando-me para desistir da tentativa de alcançar Aries e Angel, quando me dei conta da bicicleta. Eu havia ido longe demais para desistir ali. Ergui-me novamente, agora trazendo a bicicleta comigo. Tentei, por três vezes montar e pedalar. Por três vezes eu caí, mas levantei-me quando pensei ter escutado a voz de Angel e Aries. Eles estavam me chamando. Eu tinha que conseguir chegar a Tin!

Fui pedalando em direção a bifurcação, ritmada por gritos que eu escutava da cidade, minha cabeça projetando o som de Aries e Angel me chamando e os trovões que ecoavam por todo o ambiente. A bifurcação fala de várias cidades em uma direção especifica e a única que me parecia familiar era Veridiana, mas para o outro lado só havia Tin e era a que me interessava. Vi, não muito distante, uma placa dizendo que havia uma rota, para caso não quisessem caminhar pela estrada de carros.

Eu não parei de pedalar, eu sentia dor por todo meu corto e eu desconfiava que estava deixando um rastro de sangue, o meu sangue, por onde estava passando. Mas, parar significava não mais pedalar. Então tomei o caminho da estrada, eu já havia encarado um ninho hoje, não iria encarar outro. Certamente Angel e Aries teriam ido voando, caso não estariam na rota. Mas, se eu entrasse na rota e desmaiasse, não iria ser encontrada. Na estrada tinha mais chances.

Pedalei, sentindo meus músculos queimarem e pedindo para eu parar. Nunca fui uma atleta e os poucos exercícios que fazia estavam longe da carga que era pedalar, por quilômetros, com força e pressa, ferida. Talvez por isso meu corpo pesava a cada novo instante. Minha mente era uma confusão, doendo e fazendo minha cabeça pulsar e gritando para eu parar. Cada parte do meu corpo estava mandando eu parar. Engraçado, então porque eu continuava pedalando?

 

— Você precisa de ajuda? -

 

Talvez eu tivesse passado direto se ele não tivesse falado comigo, eu sequer tinha o visto. Era uma visão confusa, havia um garotinho de cabelos verdes ao lado de uma barraca armada a beira da estrada. Demorei tanto para acreditar naquilo que cai, eu não sabia se aquele pequeno acampamento era real, ou outra tentativa de minha mente de falar para eu parar com aquela loucura.

Desta vez eu não consegui levantar sozinha. Mas, felizmente não era minha mente que criou aquele acampamento. O garotinho ajudou a tirar a bicicleta de cima de mim e sentou-me. Respirei fundo, minhas dores eram tantas que eu estava quase chorando, mas acho que a visão do garotinho assustado comigo me paralisou. Afinal, se ele estava com medo por mim, eu devia estar pior do que eu pensava.

Escutei os trovões fortes e o vento frio e forte soprando ali. Olhei em volta e pude ver que a chuva já começava a cair ali, de forma tímida escondendo a real força que teria logo mais. Tentei levantar e ele apenas me acompanhou com os olhos. Sacudi a cabeça rapidamente e olhei para a barraca dele, algo estava em movimento na barraca, era verse e eu não tinha certeza do formato que estava vendo. Imaginei que fosse o pokémon dele, mas aquilo não importava.

 

— Pre... - Não imaginei que minha voz estivesse tão longe. Eu estava exausta. Respirei fundo. - Sair daqui! - Resolvi encurtar as falas. - A tempestade vai destruir qualquer coisa que não abrigada. -

 

Ele pareceu entender e olhou para a barraca dele e depois olhou para os céus, como quem considerava se eu realmente estaria certa quando aquilo. Pensei em falar para ele que mesmo que a barraca iglu dele aguentasse os ventos e a água, não teria como ele sobreviver a estrada. Ele montara a barraca no que seria o acostamento daquela estrada de terra, sem iluminação ele seria um alvo fácil para qualquer carro durante uma madrugada, ainda mais numa madrugada chuvosa. Mas, a fala seguinte dele me fez desistir de falar algo.

 

— Não posso! Estou comprometido com minha carreira de coordenador e para isso preciso do parceiro ideal para meu Bulbassaur. - Ele apontou para a floresta. - Existe um pokémon noturno nessa floresta que será perfeito para o meu grupo e eu vou capturá-lo essa noite. -

 

Um coordenador. Eu não imaginaria que aquele garotinho, que deveria ter 10 anos com seus cabelos verdes com estilo de cuia, seria um coordenador e que estivesse com um pokémon e agora procurando um pokémon especifico para seu grupo. Eu ainda estava tentando conseguir meu inicial enquanto ele já ia para o segundo, eu ainda estava tentando conseguir sobreviver enquanto ele parecia confiante em todo o planejamento dele que para mim só podia acabar em tragédia.

Levantei a bicicleta, não importava o que eu dissesse, ele não me escutaria. Ele tinha o olhar de minha mãe quando falava de torneio. Ele tinha um sonho e ninguém poderia convencê-lo do contrário. Montei na bicicleta, mas ele entrou na bicicleta, impedindo-me de tentar pedalar.

 

— Você está muito ferida. Fique aqui comigo essa noite e pela manhã vamos a Pallet ou a Tin em busca de ajuda. Vai anoitecer logo e a estrada não tem iluminação. -

 

Ele tinha razão. Um garoto de dez anos parecia mais maduro e sensato do que eu. Minha mente manda eu ficar, meu corpo mandava eu ficar, a natureza, meio aos trovões e as gotas de chuva que já caiam me molhando, mandava eu ficar e agora o destino colocara alguém para me fazer parar. Mas, algo dentro de mim me mandava seguir em frente e continuar. Não pelo fato de o acampamento do garoto ser uma bomba relógio, mas porque eu precisava encontrar Aries e Angel e pedir desculpas. Meu coração precisava disso!

 

— Preciso ir! - Eu o tirei da frente com o braço direito. - Preciso ir! -

 

— Então morra sozinha! -

 

Eu já tinha conseguido começar a andar, mas parei e olhei para trás, na direção dele. Eu havia derrubado-o. Eu achei que só havia removido-o da frente, mas eu realmente o levei ao chão. Mas, as gotas finas já haviam ficado mais grossas e pareciam pedradas em meu corpo dolorido. Deixei-o para trás com seus planos e sonhos.

A noite caiu e eu ainda pedalava. A chuva engrossou e eu ainda pedalava. Escureceu impedindo que visse mais do que um metro a frente e eu ainda pedalva. A chuva tirou minha visão de um metro a frente fazendo com que eu não conseguisse ver mais nada a minha frente e eu ainda pedalava. Eu não entendia como eu conseguia pedalar, nem sabia mais para onde eu estava indo. Já tinha sentido a mudança do solo barroso, mas não sabia onde estava.

Eu sentia aquele sentimento ruim dentro de mim, consumindo-me pelas mentiras, por ter deixado as coisas irem tão longe. Queria consertar tudo, mas para isso eu tinha que alcançar Aries e Angel. Se isso ia resolver alguma coisa dentro de mim eu não sabia, mas eu tinha esperanças que sim. Mas, agora pedir desculpas era secundário, eu tinha que pedalar para chegar em algum lugar, desesperadamente! Não podia simplesmente parar em meio a escuridão e ficar tomando chuva. Eu precisava me secar, eu precisava me aquecer, eu precisava descansar.

Choquei-me contra algo, cai e senti a bicicleta caindo contra mim. Tentei me levantar, mas a bicicleta prendia minha meu braço bom e o machucado não parecia ter forças para sequer empurrar a bicicleta. Eu estava presa, no meio da escuridão e exposta a chuva. Então eu fiz o que meu corpo tanto pedia, relaxei fechando os olhos e deixando o cansaço levar os meus sentidos embora.

 

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Meus olhos se abriram lentamente, antes mesmo que minha mente processasse que eu estava acordando. Talvez não houvesse sensação melhor que dormir numa cama quentinha sentido a maciez dos lençóis na pele, o corpo até poderia tentar acordar, mas a mente teimaria em ficar mais alguns instantes adormecida. Porém, meu corpo estava tentando desperta-me devido a sensação gostosa do lençol que estava em todo o corpo.

Tomei um susto ao perceber tal fato, a visão turva ganhou nitidez e não reconheci nada daquele estranho teto ou do quarto que estava em minha volta. Tremi de medo com mais essa informação para lidar. Eu estava num quarto que eu não conhecia, deitada numa cama confortável que não sabia de quem era e para completar eu estava nua. A sensação de maciez do tecido por todo o corpo só podia ser por eu estar nua, ou teria o tecido na minha roupa impedindo todo o canto.

Acho que apenas não saltei de imediato da cama porque senti que não conseguia, ao tentar realizá-lo todo o corpo doeu fortemente e desisti do mesmo. Respirei fundo tentando compreender o que estava acontecendo. Eu simplesmente queria achar uma resposta lógica, racional e que não envolvesse um tarado.

Com o tempo comecei a escutar chuva, mesmo que fraca, batendo em um vidro. Olhei para trás e percebi uma cortina fechada. Forcei-me a sentar na cama, enrolando-me nos lençóis como se fosse uma manta. Percebi que meu braço esquerdo, estava com alguns pontos e a perna direita estava enfaixada. Sorri com aquilo, eu talvez não estivesse em tantos apuros, mas precisava confirmar. Fiquei de pé, os músculos estavam doendo, mas consegui dar alguns passos até a cortina e afastá-la um pouco. Era uma janela que tinha seus vidros molhados por uma forte chuva que caía do lado de fora.

As recordações vieram de imediato ao presenciar a tempestade que caia do lado de fora, no meio da noite. Eu pedalava a caminho de Tin, em meio a escuridão e tempestade. Lembro de ter caído e ficado ali, sem conseguir me levantar. Alguém provavelmente me encontrara, trouxe-me para esse lugar e cuidou dos meus ferimentos. Se tivessem feito algo de ruim comigo eu certamente sentiria dores a mais em locais que não doíam e não estaria com os machucados, os principais ao menos, tratados.

Olhei em volta e analisei o quarto, em busca de algo que me dissesse onde eu estava ou quem teria me ajudado. Mas, não havia nada para nenhuma das duas coisas que eu procurava. O quarto era retangular, em uma parede ficava a cama encostada e na sua oposta, do outro lado do quarto, que possuía carpete, existiam duas portas que davam uma para o banheiro, pois estava aberta e eu podia vê-lo todo branco e arrumado de forma simples, e outra que estava fechada. Na parede de frente para a cama havia uma poltrona com um armário para roupas aberto e vazio. A parede atrás da cama a parede continha uma janela com um pequeno criado mudo onde havia um abajur e uma fita destruída.

Eu fiquei estática quando tive aquela visão a ponto de deixar o lençol escorregar pelo meu corpo e deixá-lo cair no chão, sem que eu fizesse nada para recuperá-lo. Eu conhecia aquela fita, olhei tanto para ela por quase minha vida toda que mesmo, cheia de lama, com o cetim todo desviado, seu metal amassado e sua pedra trincada, eu reconheceria a preciosa fita rara de minha mãe. Eu deveria estar no meu terceiro dia de jornada e havia destruído a fita que roubei de minha mãe. Eu não podia acreditar naquilo, o que eu ia dizer para ela? O que eu ia dizer para ela?

Meus olhos encheram-se de lágrimas. Aquele havia sido um dia catastrófico e pior do que o primeiro e era apenas o segundo. Eu fui caçada por dois grupos de pokémon, desmaiei por duas vezes, menti para duas pessoas que tentaram me ajudar e acabei ficando sem minha mochila e minhas coisas. Agora estava em um local desconhecido, nua e dependente do bom coração da pessoa que havia me socorrido naquela tempestade no meio da noite.

Caminhei para o banheiro, querendo ver se encontrava algo para vestir ou ao menos limpar as lágrimas. A luz já estava acesa, era ela quem iluminava o quarto, e quando cheguei de frente para o espelho acabei começando chorar ainda mais. Era um espelho grande, que me permitia me ver de corpo todo e a visão era horrível. Eu cheguei a dar passos para trás e devido as dores acabei caindo sentada.

Dor. Eu não tenho certeza se alguém realmente pode definir o que é isso, mas eu tenho certeza que estava sentindo naquela hora. Dor física era terrível e dor psicológica era avassaladora. Mas, eu estava aprendendo naquele momento que dor física que gerava dor psicológica era destruidora.

Aquela que o espelho refletia não era eu. Não podia ser eu! Não tinha como ser eu! Cabelos danificados a ponto de faltar pedaços. Rosto com um ralado que se não viesse a deixar uma cicatriz seria um milagre. Marcas roxeadas pelo meu corpo todo, inclusive nos seios. Alguns lugares chegava a estar inchado deixando a área deformada. Eu chorei de soluçar com a visão e fui me afastando do espelho, ainda no chão, sem conseguir encarar aquela imagem!

Em dois dias de jornada eu não havia apenas fracassado como coordenadora e pessoa, não havia apenas perdido todos os meus pertences a ponto de ficar nua em um local desconhecido, não havia apenas destruído a fita da minha mãe, eu havia destruído o meu corpo.

Se no primeiro dia eu havia perdido bens materiais, no segundo perdi a autoestima.


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Notas finais do capítulo

Se com dois dias ela já perdeu tudo isso, o que ela vai perder no terceiro dia? ^^

Este Episódio marca o último episódio da introdução. O próximo trará o momento que todos esperam... A revelação de qual será o pokémon inicial dela.

E nem precisaram esperar uma semana. Quarta feira de Carnaval teremos o episódio extra prometido para comemorar a primeira recomendação da fic! ^^



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