Alma de Coordenadora Pokémon - Fita da Vida escrita por Kevin


Capítulo 2
Sou uma Idiota


Notas iniciais do capítulo

Bem vindos de volta aos palcos queridos leitores!

Sou grato a todos que leram, especialmente aos que comentaram!

Espero que gostem deste episódio!



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Alma de Coordenadora Pokémon
— Fita da Vida -
Episódio 02: Sou uma Idiota

 

 

 

— Você é idiota? -

 

Um simples “não” seria ineficaz. Um olhar sério e gélido faria a pessoa ser colocada no lugar dela. Mas, a mão na cara dele seria mais rápido e eficiente. Infelizmente, a última opção talvez não fosse tão fácil. Eu estava no chão e o meu interlocutor em pé parecendo ser bem alto. Além disso, essa resposta seria um atestado de idiotice. Não se bate na cara de quem acabou de te salvar! E mesmo que se bata, acho que não tenho coragem.

A segunda opção foi realizada, mas não me sai bem. Minha tentativa de olhar sério e gélido acabou sendo uma expressão de choro com meus olhos enchendo-se lágrimas e transbordando. Com isso certamente eu permaneceria como idiota, mesmo havendo motivos para chorar.

Uma hora eu estava sentada junto a uma árvore, em outra era atacada por pokémon tentando me devorar. Talvez seja exagero de minha parte, Spinaraks e Ariados não comem carne humana, eu acho. Mas, são venenosos e imagino que trinta deles tenham veneno suficiente para matar uma garota como eu.

 

— Deixe-a em paz Aries! Ela ainda não se refez! -

 

A voz era quase angelical. Não sabia de quem era, mas acalmava-me. Principalmente porque ela tinha razão, ainda não havia conseguido me refazer. Ter aquele cara me chamando de idiota não iria ajudar, não era a primeira pessoa a me chamar de idiota naquele dia!

Saí de casa antes das sete da manhã, certa do inicio da minha jornada pokémon. Era tudo muito básico, ir a New Bark falar com o professor Elm e assim conseguir meu primeiro pokémon para minha rápida vida de coordenadora.

Como “bom dia” fui chamada de idiota pelo meu irmão que não concordava com a jornada. Como despedida meu melhor amigo foi a rodoviária e fez o mesmo, chamou-me de idiota, acrescentando que eu me arrependeria de traí-lo. Adormeci no ônibus e perdi o ponto por duas cidades, o motorista riu perguntando se eu era alguma idiota enquanto parava no meio do nada para deixar-me ali. Eu mesma me chamei de idiota ao perceber que durante meu cochilo alguém roubou meu celular, a maior parte do meu dinheiro e alguns pertences da mochila.

Eu preferi ignorar que uma calcinha também sumiu da bolsa, era melhor pensar que coloquei uma a menos na mochila, mesmo tendo revisado cinco vezes seu conteúdo.

Cheguei a New Bark as oito da noite, após caminhar por não sei quanto tempo e pegar carona com algumas pessoas bem enjoadas. A recepção foi altamente calorosa: “Você é idiota?” foi o que escutei do maldito assistente ruivo, de óculos, magricela e cheio de espinhas no rosto, que atendeu a porta quando falei que estava lá para pegar um pokémon. Ele entrou em crise de risos em seguida, levando bons vinte minutos rindo da minha cara.

Por que ele ria? O professor saira em expedição a uma tarde, logo depois de entregar o último pokémon disponível para os jovens iniciantes. Ele se ausentaria por dois meses e assim nem no próximo mês eu receberia um pokémon. Minha jornada estava chegando ao fim antes mesmo de começar e como resultado havia conseguido ser idiota por maioria de votos, ser roubada e ter um tarado cheirando minha calcinha em algum lugar de Jotho.

Queria dizer que fui madura o suficiente para entender, me despedir e voltar para casa. Mas, eu chorei compulsivamente como uma criança.

 

— Já era para ela estar melhor, está na mesma posição a uma hora! E olha que já a examinei e limpei de cima em baixo. - Escutei uma risada. - Soubesse tinha aproveitado! -

 

Encarei o dono da voz, pela primeira vez, durante alguns instantes e acabei arrepiando-me. Ele havia examinado-me e limpado? Como não percebi? Não havia como não o notar me tocando. Era um rapaz alto e de feições grossas e cabelo preto todo espetado. Usava calça e jaqueta de couro preto, assim como suas botas, camisa vermelha e algo estranho estava pendurado em seu pescoço. Seus olhos azuis acinzentados eram quase brancos, altamente assustador!

Nunca havia visto olhos com aquela tonalidade e muito menos um olhar como aquele. Era um olhar louco. Imagino que talvez eu estivesse apenas muito assustada, mas a feição dele era de quem estava deliciando-se com a cena que via, e eu era a cena.

 

— O... O que aconteceu? -

 

— Você não se lembra? -

 

Ouvi novamente a voz angelical e sentei-me tentando localizá-la. Pisquei um pouco, pensando que minha visão me traia, eu estava tendo a visão de um anjo. Loira, olhos tão azuis quanto o céu em dia ensolarado sem nuvens, um vestido branco que se prendia pelo pescoço e delineava bem os seios, um pequeno cinto preto onde via pokebolas penduradas e que indicava que possuía uma cintura fina, uma calça preta de um tecido que eu não podia identificar e uma sandália de couro preto. Eu não imaginava que uma treinadora poderia ser tão elegante, bonita e bem vestida no meio de uma floresta.

Olhei para mim fazendo a comparação inevitável. Ela deveria ter uns dezenove anos com aquele belo corpo, enquanto eu tinha meus meros dezesseis com um corpo que não deveria se desenvolver muito mais a ponto de ficar chamativo. Mas, a julgar pelo estado que eu me encontrava, não faria diferença mais ou a menos corpo no momento.

Eu estava toda suja de lama e cinzas. Mal podia identificar o verde de minha blusa e sequer lembrava a cor de minha calça jeans ou tênis. Esperava que meu cabelo castanho escuro estivesse em melhores condições. Cheguei a me perguntar o que o tal Aries pensava ter limpado, mas então percebi, não havia nenhuma teia.

Parei na primeira clareira que encontrei, para descansar e passar a noite. Não conseguia ver muito mais do que dois metros a minha frente e estava exausta. Eu não sou idiota! Posso ter chorado como criança após tudo dar errado, mas respirando fundo e colocando a cabeça no lugar percebi que minha tentativa de voltar para casa seria um fracasso, também. Eu não tinha experiencia em florestas e tudo piorava por eu estar sozinha, sem pokémon e no escuro. O melhor era parar e esperar amanhecer.

Eu só gostaria de ter escolhido outra clareira. Não se passaram dois minutos e comecei a sentir fios de algo pegajoso caindo sobre meu corpo. Sem conseguir me livrar deles, procurava, de um lado para o outro, de onde vinham. Debatia-me acabando mais presa nas teias. Olhei para cima encontrando inúmeros Spinarks e um grande Ariados. A escuridão total, o barulho do guinchado de teias sendo lançadas, o Ariados começando a se aproximar. Eu havia entrado em um ninho!

Não fui madura para manter a calma. Uma coordenadora iniciante gritaria por socorro o máximo que pudesse, tentando se soltar e fugir. Eu preferi parar de me debater, chorar e berrar como criança. Nunca passei tanto medo em minha vida, nunca tinha sido atacada por um pokémon, do que dirá por vários deles.

Não fosse minha reação de entrar em pânico eu teria morrido. Meu escândalo chamou a atenção de alguém, pois escutei vozes e segundos depois vi labaredas de fogo cruzarem o céus. Mas, todo o resto ficou confuso na minha mente.

 

— Acho que desmaiei! Não lembro de nada além de vozes e chamas. -

 

— Sou Angel e ele é Aries. - A jovem fez uma pausa. - Como é o seu nome? -

 

— O nome é Idiota! -

 

Aries falou aquilo me dando um sorrisinho sacana. Mas, percebi que ele não estava me chamando de idiota atoa. Enquanto deitada, estava em posição fetal, e mesmo depois que sentei, permaneci assim. Até eu me chamaria de idiota.

Ajeitei-me e pude perceber as coisas em minha volta. Estava bem escuro, enquanto apenas o local onde estávamos era iluminado pela fogueira. Isso explicava o porquê do cheiro de cinzas que estava sentindo, inclusive no meu corpo.

 

— Sou Mirian Miller. Obrigada por me salvarem! - Eu disse finalmente e ambos acenaram com a cabeça sorrindo.

 

Angel veio até mim abaixando-se onde eu estava sentada e me estendeu um cantil.

 

— Vou explicar algo e no final farei uma pergunta. Conforme sua resposta, até pedirei desculpas por chamá-la de idiota! -

 

Aceitei o cantil por impulso. Estava com morrendo de sede e ainda confusa com tudo aquilo. Tentei observar Aries, mas o olhar dele parecia faiscar, como se o que ele fosse falar fosse mais louco do que ele aparentava ser. Cheguei a tremer o corpo! Por isso virei o cantil sem pensar duas vezes, afim de não ter que falar nada a ele.

 

— Existem dois tipo de pokémon: com parceiros humanos e os sem parceiros. Os sem parceiros podemos classificá-los em dois tipos, também: aqueles que aceitam aproximação de outras espécies o que chamaremos de sociáveis e os não sociáveis, aqueles que por instinto atacam quem se aproxima deles, especialmente se invadem seu território ou no nosso caso, ninhos. - Ele deu um sorriso debochado. - Na escola ensinam que não se pode entrar na mata ou zona de vegetação, mesmo que seja um pequeno gramado do parque de sua cidadezinha, sem um pokémon para proteção por causa dos não sociáveis. - Ele estava de pé e parou diante de mim com aquele sorriso louco. - Então, se Mirian entra numa floresta, a noite, sozinha e sem nenhum pokémon para protegê-la, ela é o que? -

 

Fiquei parada sem dizer nada enquanto ele me olhava ansioso por uma resposta. Talvez, todos os outros estivessem equivocados, mas Aries não. Qualquer pessoa sabe que não se pode entrar na floresta sem um pokémon ou não terá como se defender.

 

— Sou uma idiota! - Respondi em meia voz fazendo com que ele revirasse os olhos como se aquilo fosse alguma novidade. - Como sabem que eu não tenho pokémon comigo? -

 

Na verdade, nem precisava que respondessem. Fui atacada e não usei nem um pokémon, eu não podia ser tão idiota! Apenas estava apreensiva com os dois, mas não me pareciam más pessoas. Acho que se quisessem me fazer mal, aproveitariam enquanto eu estava em choque.

 

— Você lembra que te examinei a pouco menos de uma hora atrás? - Aries me encarou como se eu realmente fosse idiota. - Ajude-me com esses assados! -

 

Olhei para Angel e ela estava a comer algo que havia num espeto. Ambos estavam comendo com bastante vontade. Olhei para a fogueira e via mais de trinta espetos. Fiquei surpresa pela quantidade e não consegui esconder que realmente estava com fome. Este foi outro motivo para eu ter parado de caminhar durante a noite, estava faminta e não tinha nada para comer. Queria ver se a fome ia embora se eu dormisse.

 

Levantei-me indo até a fogueira e fiquei encarando o formato gozado que havia naqueles assados. Peguei um e assoprei, ainda ali perto do fogo, afim de esfriá-lo para não queimar a boca. Quando finalmente mordi, achei o gosto diferente de tudo que já havia comido.

 

— Acabando com esse Spinarak, experimente um pedaço do Ariados! -

 

Congelei! Ele havia dito Spinarak e Ariados? Olhei para o espeto e o formato estranho começou a ficar mais nítido em minha mente. Era um Spinarak e eu havia mastigado e engolido sua patinha. Olhei para a fogueira e via vários dos aracnídeos sendo assados e pedaços grandes de algo que certamente faziam parte do Ariados.

Comecei a tossir sentindo o coração disparar. Cuspi o que ainda estava na minha boca e dei passos para longe da fogueira. Identifiquei no chão, vários corpos carbonizados dos meus antigos algozes! Em minha mente veio a visão de algo negro e quadrupede a cuspir fogo, carbonizando aqueles pokémon, enquanto Aries e Angel fincavam em espetos aqueles que ainda não estavam apenas cinzas.

Então compreendi. Eu ainda estava na clareira que fui atacada! Aquelas imaginas era o que eu havia assistido, mas em choque, não consegui entender naquela hora. Eles chacinaram os pokémon daquele lugar e estavam comendo-os! Que tipo de pessoa fazia aquilo? Como fui parar com assassinos de pokémon?

 

— Mirian! -

 

Naquela situação reagi como qualquer outro! Corri e gritei para o meio da floresta escura! Escutei-os gritando por mim, mas, fugi deixando até a mochila para trás.

Idiota, conforme o dicionário, é uma pessoa que carece de inteligência, tem problemas para discernir e realiza ações tolas, estupidas e sem sentido. Avaliando meu dia com base nessa premissa, tenho que admitir, eu sou uma idiota!


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Notas finais do capítulo

Quem faria que nem a Mirian, e fugiria de Aries e Angel? :)



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